Desvendando os endereços de carteira e as alternativas de armazenamento
Edição #296 - Fechamento semanal - 02 de junho de 2023
Saber como guardar corretamente seus criptoativos, ou seja, como fazer a custódia, é tão importante quanto escolher os melhores ativos a se investir. Se, por um lado, estar em um mercado em que existe a opção de não envolver intermediários dá mais liberdade e menos burocracia aos usuários, o preço a se pagar por isso pode ser caro dependendo das circunstâncias. É importante para um investidor estar ciente de como um endereço de carteira em blockchain funciona e quais as opções de custódia disponíveis para aderir a que melhor se encaixa às suas necessidades e desejos.
Pode parecer um pouco contra intuitivo, mas quem faz a custódia de ativos digitais (seja você mesmo ou terceiros) não os armazena na prática. Isso porque eles estão registrados na blockchain de forma descentralizada. Em vez disso, o que o custodiante guarda é a chave privada que permite que o saldo contido em determinado endereço de carteira seja movimentado.
Como funciona um endereço de carteira cripto
Toda carteira de criptomoedas possui duas chaves: uma pública e uma privada.
Podemos pensar numa analogia na qual a chave pública da sua carteira funciona como o seu endereço de e-mail. Essa é uma informação pública que todos podem saber. Ninguém poderia, por exemplo, enviar e-mails se passando por você ou ler sua caixa de entrada apenas sabendo seu endereço.
Além do endereço, há também a parte privada do seu e-mail, representada pela sua senha de acesso à conta. Essa, de fato, somente você deve saber.
A ideia para uma carteira de criptoativos é bem parecida. Qualquer pessoa pode depositar criptos em uma carteira a partir de um endereço público, assim como alguém pode te enviar um e-mail apenas sabendo seu endereço. Mas o acesso à caixa de entrada ou ao envio de novos e-mails não é possível sem a sua senha, assim como não é possível movimentar criptos sem a chave privada de uma carteira.
Mas diferentemente do e-mail, em que o endereço e a senha não possuem nenhuma relação entre eles, um endereço público de carteira sempre é derivado da sua chave privada.
Isso é possível devido ao que chamamos de curvas elípticas, que nada mais é que uma técnica matemática de criptografia assimétrica.
Na prática, uma curva elíptica permite que se possa gerar uma chave pública a partir de uma chave privada, mas que não seja possível descobrir a chave privada através da chave pública.
A chance de alguém acabar descobrindo sua chave privada através de sua chave pública por tentativa e erro é praticamente impossível. Segundo o Decrypt, uma chave privada está em uma faixa de 2 elevado a 256 possibilidades. Isso significa que para se ter sucesso é necessário achar a exata chave entre todas as mais de 115 quattuorvigintilhões alternativas possíveis. Esse é um número de 78 dígitos estimado como maior que o número total de átomos no universo.
A seguir, temos um esquema que mostra como funciona o processo de geração de uma chave pública a partir de uma chave privada. Você pode acessar esse link e gerar você mesmo um hash a partir de qualquer input aleatório. Quando criamos uma nova carteira, as 12 ou 24 palavras que recebemos representam esse input e por isso são equivalentes a nossa chave privada.
Processo de geração de um endereço de Bitcoin
Agora que entendemos o quão seguro é a criptografia por trás das carteiras, fica mais fácil visualizar que o fator determinante para hacks e golpes é única e exclusivamente o processo de custódia, ou seja, a forma a qual as chaves privadas são armazenadas.
Antes de mais nada, cabe mencionar que não existe uma verdade absoluta a respeito da melhor forma de se custodiar criptoativos, todas possuem seus pontos positivos e negativos. Dessa forma, cabe ao investidor analisar qual é a forma que mais se adapta às suas necessidades.
Podemos segmentar as formas de custódia em duas grandes categorias: auto custódia ou delegando a custódia a terceiros.
Auto custódia
A modalidade de custódia própria é a mais ideológica no setor cripto e corresponde à famosa frase “not your keys, not your coins”, ou seja, “não são suas chaves, não são suas moedas”.
A ideia que a frase passa é a de que ninguém deveria depender de terceiros para assegurar a custódia de seus ativos. Delegar esse controle acaba envolvendo uma camada a mais de risco, no caso o risco do intermediário.
A importância da auto custódia ficou ainda mais evidente depois de 2022, em que grandes empresas do mercado acabaram quebrando e deixando seus clientes sem seus recursos investidos, como no caso da plataforma de empréstimos Celsius e da corretora FTX.
Mesmo assim, é necessário entender que ser seu próprio custodiante significa ter controle total sobre sua carteira e, com isso, assumir todos os riscos em caso de perdas ou hacks que eventualmente você sofra.
Dentro das opções de custódia própria, existem dois tipos: as hot wallets e as cold wallets.
O objetivo das hot wallets é que o usuário tenha mais praticidade no dia-a-dia para movimentar seus fundos. Normalmente, elas são soluções gratuitas e mais fáceis de usar.
Nesta modalidade de custódia, a chave privada fica armazenada em um software dentro de seu dispositivo eletrônico que possui contato com a internet, como seu computador ou celular.
Ela pode ser uma extensão em seu navegador de internet, como a Metamask, ou uma aplicação que o usuário baixa em seu computador, como a Atomic Wallet.
Ao utilizar essas soluções, o investidor deve ter um cuidado redobrado contra vírus e ataques de phishing. Além de ter atenção com os sites acessados, é importante ter um bom antivírus e conhecer o mínimo necessário de segurança cibernética. Qualquer deslize e todos os fundos podem ser roubados.
Já as cold wallets permitem que o armazenamento da chave privada seja feita de forma off line, em um dispositivo físico sem qualquer conexão externa, como internet ou bluetooth. Essas soluções são menos práticas para se usar no dia-a-dia, sendo melhores para quem faz poucas transações e deseja armazenar os ativos por períodos mais longos.
A principal forma de custodiar seus ativos de forma off line é através de Hardware Wallets, que possuem um tipo de autenticação de dois fatores para assinar novas transações. Isso diminui a chance de erro por impulso ou falta de atenção do usuário. Elas são portáteis e têm, normalmente, o tamanho de um pen-drive. As melhores soluções disponíveis atualmente são a Ledger e a Trezor.
A auto custódia pode parecer complicada e até assustadora para quem está começando. Felizmente, estamos em um processo de simplificação dessa complexidade através do que chamamos de account abstraction. Já fizemos uma edição completa da Morning Jog sobre o assunto em dezembro de 2022, mas nada mais é que a transformação dos endereços de carteiras em contratos inteligentes, para que possam ser programados de forma que melhorem a experiência do usuário.
Entre as melhorias propostas está a recuperação social de suas chaves, que tem como objetivo fornecer uma maneira de recuperar o acesso a sua conta sem necessariamente ter a sua chave privada, através da permissão do acesso a ela por outros endereços de confiança previamente escolhidos. Um usuário pode definir quaisquer regras, por exemplo, que se sua conta ficar 6 meses sem assinar nenhuma transação e movimentar recursos algum familiar ou amigo próximo possa usar sua própria conta para acessá-la.
Existe também uma forma alternativa de armazenar as chaves privadas sem qualquer conexão externa que é mais simples do que você pensa. Um investidor pode simplesmente escrevê-la, em código ou não, em uma folha de papel ou algo semelhante.
Apesar de ser uma das formas mais simples de custódia, também é uma das mais seguras contra hackers. O ponto negativo desse tipo de custódia é, fora a falta de dinamicidade para transacionar, o risco de eventuais danos causados a esse papel que o torne ilegível, como incêndios, enchentes, decomposição por fungos e roubo ou até mesmo a perda do papel. Como forma de diminuir esses riscos, existem soluções de metais, pensadas para esse exato caso de uso, como a Stackbit.
Custódia por terceiros
É importante salientar que ao optar por delegar a custódia a terceiros o investidor não possui de fato criptomoedas, mas sim está exposto a sua variação de preço.
Há duas formas de custódia por terceiros. Uma é a custódia feita por meio de corretoras centralizadas e a outra é a custódia institucional.
A custódia por corretoras centralizadas é a mais usual, principalmente para usuários novatos. Isso porque essas corretoras costumam ser o primeiro contato entre o usuário e o universo das criptomoedas, visto que elas oferecem fácil acesso à compra de criptoativos através de moeda fiduciária.
Pela comodidade e facilidade, além da semelhança com o mercado tradicional, muitos preferem não sacar para suas carteiras pessoais os tokens comprados nas corretoras centralizadas. Assim, eles ficam no endereço de carteira da própria corretora.
Entre os pontos para ficar atento em relação a esse modelo de custódia está a reputação da instituição utilizada. Existem opções mais e menos seguras.
Algumas corretoras são regulamentadas em boas legislações, como a Coinbase e a Kraken nos Estados Unidos, já outras possuem sede apenas em paraísos fiscais e são pouco transparentes, como era a FTX.
Esse é apenas um dos fatores importantes levantados em uma análise de qual corretora deixar seus tokens. Um bom ponto inicial para esse levantamento pode ser o ranking de corretoras elaborado pela Kaiko, uma das maiores casas de research do mundo. A classificação completa pode ser conferida aqui.
Definir se é vantajoso ou não esse tipo de custódia em detrimento da custódia própria decorre muito da instituição escolhida e da capacidade do usuário de investir tempo e se responsabilizar pela gestão de seus próprios ativos.
Já a custódia institucional é direcionada para empresas e investidores com grandes quantidades de capital, sendo completamente inviável ao investidor do varejo. Elas são mais seguras que a custódia por corretoras centralizadas, mas, em contrapartida, possuem menos liquidez e praticidade.
O processo de diligência dessas instituições é profissional, envolvendo muitos agentes, como técnicos, advogados e auditores. Essa custódia é realizada de forma que as chaves privadas do custodiante sejam fracionadas em algumas partes (impossibilitando a movimentação dos fundos por uma única pessoa) e armazenadas em cofres ou bunkers de segurança máxima.
A maioria das alternativas do mercado oferecem seguros em caso de perda ou roubo dos recursos. Seu ticket mínimo de investimento flutua na casa dos US$ 500 mil a US$ 1 milhão.
Se você investe em cripto através de fundos de investimentos, provavelmente esse é o tipo de custódia feito pelos gestores do fundo. Nesse caso é importante estar atento ao tipo de custódia utilizado e, em caso de custódia institucional, saber quem é o custodiante. Entre os principais players do setor temos a BitGo, a Gemni e a Coinbase Custody. Essas empresas possuem seguro e são reguladas em boas legislações (EUA).
Em conclusão, a custódia adequada de criptoativos é tão importante quanto escolher os melhores ativos para investir. É essencial que os investidores entendam como funciona um endereço de carteira em blockchain e as opções de custódia disponíveis para escolher a que melhor se adapta às suas necessidades.
Como visto, cada opção possui vantagens e desvantagens, sendo importante que o investidor analise cuidadosamente qual é a melhor opção para o seu caso ou se é interessante diversificar a custódia de seus ativos de diferentes formas.
As dez notícias mais importantes da semana:
O Presidente Lula deve assinar Marco Legal das Criptomoedas nos próximos dias;
A Binance e a CBF lançaram o Fanverso do campeonato brasileiro;
A Receita Federal deve ampliar o compartilhamento de informações sobre as criptomoedas dos cidadãos brasileiros;
Os principais bancos centrais do mundo se uniram em documento sobre CBDC;
Um estudo da USP propôs utilizar blockchain para rastrear medicamentos hospitalares;
O Bitcoin se tornou a segunda blockchain mais popular para NFTs;
A Nike e a Eletronic Arts (EA) anunciaram uma parceria para incluir NFTs em jogos de esportes;
A Deutsche Telekom anunciou que vai se tornar um dos validadores da rede Polygon PoS e das Polygon Supernets;
A coleção de NFTs do Reddit conta com quase 10 milhões de usuários.
A Tether, empresa emissora da stablecoin USDT, atingiu o maior valor de mercado de sua história, superando a marca de US$ 83,2 bilhões auferida no ano anterior;
Sentimento neutro dos investidores
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual, está em 50 pontos, representando um sentimento neutro. O indicador segue relativamente estável nas últimas três semanas, tendo se mantido na faixa entre 48 e 54.
Quantidade em Staking x Rentabilidade paga
A rentabilidade paga ao se fazer staking varia de blockchain para blockchain e depende da porcentagem de oferta total de tokens travadas e/ou do número de validadores da rede.
No gráfico a seguir, podemos observar de cada rede a relação entre rentabilidade do staking e percentual do total de tokens existentes travados neste mecanismo.
Fonte: Messari
Tokens com baixa inflação, como ETH e BNB, permitem que os holders os mantenham parados em carteira sem serem penalizados, por isso o percentual total em staking é menor. Por outro lado, tokens com taxas mais elevadas de inflação acabam por incentivar mais os holders a travarem seus tokens em staking para terem rendimentos superiores à inflação.
Quais tipos de atividades geram mais taxas a Ethereum?
Fazendo um comparativo entre as principais categorias de atividade da rede e as taxas de gás pagas a cada uma delas, podemos perceber que desde meados de 2021 os NFTs estão se destacando. Mas o que chama atenção é o declínio do setor DeFi desde seu pico em 2020, quando representava cerca de 34% de todas as taxas de gás pagas na rede.
Fonte: Glassnode
Hoje esse valor varia em uma faixa entre 8% e 16%. Isso se deve em partes pela diminuição da alavancagem, que vinha forte até 2022 quando desencadeou uma onda de liquidações forçadas em todo o mercado, principalmente após o colapso do ecossistema Terra e da corretora FTX.
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“State of L1s Q1 2023” - Messari
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 27.211,00 / 7D %: +1,75%
ETH - US$ 1.903,00 / 7D %: +3,87%
USD - 4,96 BRL / 7D %: -2,13%
Cotação atualizada em: 02/06/2023 as 19:00
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