Como serão as carteiras criptos do futuro

Edição de fechamento semanal - 03/12/2022

dez 03, 2022

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A última semana foi mais tranquila em relação às anteriores, porém ainda com alguns destaques importantes. O maior deles foi a aprovação do projeto de lei que regulamenta criptoativos em território brasileiro pela câmara dos deputados. O texto já havia passado na casa legislativa, mas foi alterado quando foi votado no Senado, onde alguns projetos sobre o tema foram unificados em uma única proposta. Outros destaques da semana serão mencionados a seguir.

A BlockFi entrou com pedido de falência após o contágio da FTX;

A Phantom Wallet anunciou que vai expandir seus serviços para as redes Ethereum e Polygon;

O Mercado Bitcoin lançou sua stablecoin lastreada no real braliseiro, a MBRL;

O fundador do Telegram anunciou que a plataforma de mensagens pretende lançar uma corretora descentralizada e uma carteira não custodiada;

Após o processo de falência da Alameda Research, mais de US$ 643 milhões em Solana (SOL) serão controlados por credores;

O OpenSea adicionou suporte a BNB Chain;

O OpenSea disse que os NFTs em sua plataforma geraram US$ 1 bilhão em royalties para seus donos em 2022;

A Binance alocou mais US$ 1 bilhão em fundo de recuperação de criptomoedas;

A Aave suspendeu temporariamente o mercado de empréstimo de 17 tokens;

O Banco Central Europeu disse que o Bitcoin está no “caminho para a irrelevância”;

A Kraken cortou 30% de sua força de trabalho, equivalente a 1,1 mil demissões;

O Banco Central do Japão anunciou que iniciará os testes do iene digital em 2023;

A Apple removeu o único aplicativo de carteira bitcoin restante de sua App Store;

A atividade de desenvolvimento da Cosmos (ATOM) superou as redes concorrentes, como Ethereum (ETH), Polkadot (DOT) e Solana (SOL);

O CEO da BlackRock afirmou que a tokenização é o futuro dos mercados;

A Moonpay, startup focada em Web3, contratou o presidente da Time, Keith Grossman, para liderar seus negócios corporativos;

O restaurante Paris 6 anunciou que aceitará Bitcoin como forma de pagamento;

O Banco da Reserva da Índia vai começar a testar o plano piloto da Rúpia Digital em 1º de dezembro;

A Itália planeja introduzir um imposto de 26% sobre os lucros de transações de criptoativos;

Hoje ainda é muito difícil para as grandes massas interagirem com criptomoedas. Criar e gerenciar uma conta no Facebook é muito mais simples e prático do que uma wallet com um endereço criptográfico. Um dos motivos é que seus ativos (sejam tokens, NFTs, sua identidade, etc) estão vinculados a sua chave privada. E se você perder sua chave privada, você perde tudo. Diferentemente do modelo convencional em que os usuários podem simplesmente recuperar sua senha esquecida por e-mail, as carteiras de criptomoedas não possuem nenhuma flexibilidade nesse sentido.

Agora, imagine se um usuário pudesse, por exemplo, adicionar outros endereços de confiança capazes de recuperar o acesso à sua carteira em caso de perda ou esquecimento de suas chaves privadas? Ou configurar um limite de gastos e saques diários com o objetivo de aumentar a segurança contra roubos? E que tal fornecer permissão prévia para interação com alguns endereços em específico como os de seus amigos ou de protocolos como OpenSea ou Uniswap para evitar erros de transferência? Felizmente, esses são apenas alguns dos exemplos que são possíveis através do que chamamos de Account Abstraction (AA). Nesta edição da Morning Jog, abordaremos esse conceito e quais são os principais benefícios que ele traz aos usuários.

O que é Account Abstraction?

O processo de Account Abstraction transforma as contas dos usuários em contratos inteligentes com poder de definir o que é uma transação válida, tornando eles bem mais personalizáveis a depender das necessidades individuais de seus donos. Isso traz mais segurança, flexibilidade e melhora a experiência do usuário. Dessa forma, as características de um endereço de carteira não necessariamente serão iguais as de qualquer outro usuário.

Mas antes de entrarmos especificamente em seus casos de uso, vale mencionar que hoje existem dois tipos de endereços existentes na rede Ethereum: um conhecido como Contas de Propriedade Externa (EOA) e outro chamado de Contas de Contratos Inteligentes (SC).

Contas de Propriedade Externa (EOA):

É composta por um par de chaves (pública e privada) e é a que nós usuários possuímos e utilizamos através de aplicações como a Metamask para assinar transações e movimentar e gerenciar nossos ativos. Elas possuem esse nome pois as contas pertencem a algo externo a blockchain: os usuários.

Contas de Contratos Inteligentes (SC):

São endereços controlados por um contrato inteligente e não possuem chaves privadas. São controladas pela lógica do contrato e portanto não podem sofrer interferências externas. Alguns exemplos são os contratos de protocolos, como Uniswap e Aave.

Account Abstraction pretende reduzir esses dois tipos de endereços para apenas um, personalizando o primeiro tipo de conta (OEA), a qual os usuários possuem o controle. O maior ponto de atenção no modelo de OEA é que existe apenas uma chave privada para autorizar transações e controlar a conta. Dessa forma, se ela for perdida ou esquecida, o usuário perde o seu acesso por completo e se alguém a roubar ou descobrir, mesmo mantendo o acesso ele pode perder todos seus ativos armazenados em questão de segundos por uma simples transferência. Atualmente, existe pouca margem de personalização para contornar esses problemas. Os usuários não podem criar suas próprias condições. Isso acaba atrapalhando a adoção do grande público.

Como já mencionado anteriormente, a AA pode resolver esses problemas (e muito mais) transformando as carteiras dos usuários em carteiras inteligentes. Alguns dos principais casos de uso dele serão detalhados de forma mais aprofundada a seguir.

Social Recovery:

A "recuperação social" é uma das melhorias para a experiência dos usuários que a AA oferece. Seu objetivo é fornecer uma maneira de recuperar o acesso a sua conta sem necessariamente ter a sua seed phrase, através da permissão do acesso a ela por outras wallets de confiança previamente escolhidas. Um usuário pode definir quaisquer regras, por exemplo, que se sua conta ficar 6 meses sem assinar nenhuma transação e movimentar recursos, algum familiar ou amigo próximo possa usar sua própria conta para acessá-la. Isso pode evitar que uma quantidade enorme de ativos sejam perdidos, como já aconteceu inúmeras vezes.

Multi-calls:

As Multi-calls permitem que várias transações sejam agrupadas e assinadas de uma só vez mantendo a ordem desejada. Atualmente, para cada interação on-chain uma nova transação separada é necessária. Isso é negativo tanto pela questão da praticidade, já que a todo momento se deve ficar assinando novas transações, quanto na questão de taxas da rede, que são cobradas mais de uma vez. Para montar uma pool na Uniswap, por exemplo, são necessárias três transações: uma para aprovar cada um dos dois tokens e outra para depositá-los no contrato. Isso pode ser feito com apenas uma multi-call com a AA. Ou quando se deseja adquirir mais de um NFT no OpenSea, tudo pode ser agrupado em uma única transação, economizando tempo e taxas de gás da rede.

Fonte: @hasufl

Session Keys:

Essa é uma forma de que os usuários façam várias transações dentro de um conjunto de regras em um determinado período de tempo sem a necessidade de assiná-las individualmente. O usuário antes precisa confirmar que deseja usar uma certa aplicação por um determinado período de tempo e uma vez confirmado, ao terminar o uso uma transação é assinada para confirmar todas suas ações. Esse método é bastante útil para microtransações, como em aplicações de mídias sociais descentralizadas ou em jogos em blockchain. Imagine se a cada like dado em um post ou se a cada novo item conquistado em determinado jogo fosse necessário parar e assinar uma nova transação com sua Ledger. Nesse caso, a imersão deixaria de existir e a experiência se perderia por completo. Ao invés disso, com a AA você usa a aplicação e ao terminar assina uma transação para confirmar todas as suas ações. Um usuário pode, por exemplo, delegar o poder de assinatura a determinada aplicação pelos próximos 30 minutos ou até atingir 100 transações para evitar interrupções durante sua experiência.

Autenticação por múltiplos fatores e aprimoramentos de segurança:

A autenticação por múltiplos fatores obriga que as contas dos usuários exijam assinaturas de várias chaves para realizar uma transação, de forma semelhante a multi sig que já conhecemos porém com mais personalização, segurança e usabilidade. Além disso, existem meios de adicionar "travas" de segurança e bloquear automaticamente endereços fraudulentos, assim como estabelecer um limite diário máximo de saques/transferências, apesar de ser possível isso ainda seja feito, caso usuário queira. É loucura pensar que um usuário comum tenha paciência ou conhecimento para investigar cada contrato que usa.

Flexibilidade nas taxas de transação:

Account Abstraction abre margem para mais opções relacionadas ao pagamento de taxas ao realizar transações. Existe a possibilidade de se pagar as taxas em outros tokens que não o ETH. Melhor ainda, existe a possibilidade de que projetos e protocolos financiem o pagamento das taxas para os usuários que interagirem com ele, o que acaba sendo um belo investimento por parte deles, visto que é um incentivo que pode resultar no aumento de atividade da aplicação em questão.

Todos esses casos de uso e muitos outros virão a ser realidade na rede Ethereum através do ERC 4337, que tem como objetivo introduzir Account Abstraction. Em seu roadmap podemos observar que a ideia é que isso seja implementado na etapa "The Splurge".

Etapa em que Account Abstraction será aplicada

Fonte: Vitalik Buterin

Apesar disso ser discutido desde 2016 e algumas EIPs terem sido propostas nesse meio tempo, como o próprio Vitalik Buterin afirmou, sua implementação não é simples e deve ser feita no médio prazo. Em paralelo a isso, soluções como a StarkNet e zkSync já estão mais avançadas nesse sentido. Como atualizações relacionadas a Account Abstraction podem ser um grande desafio na rede principal, novas soluções que estão surgindo levam vantagem por já conseguirem configurar Account Abstraction por conta própria desde o início. Um dos maiores exemplos é a carteira não custodial Argent, que possui uma versão personalizada totalmente compatível com AA que foi inspirada na EIP 4337.

Account Abstraction será um grande passo rumo à adoção em massa da tecnologia. Os usuários comuns não devem precisar lidar com gerenciamento de chaves privadas e precisam de personalização em suas experiências. Essa adoção deve ocorrer quando tivermos a simplicidade da Web2 no universo da Web3.

A intensidade dos prejuízos dos holders de bitcoin

O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual está em 27 pontos, representado pelo sentimento de “medo”. O indicador apresentou uma leve recuperação desde a queda acentuada no dia 06 de novembro, quando estava em 40 pontos e caiu para os 22 pontos no dia 10 de novembro.

Os mineradores de bitcoin passam por uma situação delicada no momento, em que muitos se encontram em prejuízo levando em conta suas obrigações financeiras como o pagamento do financiamento de maquinários e o custo com energia elétrica. Com a queda de preço do ativo e o aumento do hashrate, muitos modelos de negócios de mineradoras se tornaram insustentáveis. Essa semana houve um movimento de diminuição do hashrate, em contramão com o que vinha acontecendo desde a metade do ano. Isso pode ser consequência do desligamento de alguns maquinários que não estavam sendo lucrativos nas condições atuais.

Uma métrica interessante de ser analisada durante um bear market são as perdas realizadas de investidores de bitcoin. Acabamos de passar pelo maior mês de realização de perdas desde junho e o quarto maior mês da história. Em sete dias uma quantia de US$ 10,16 bilhões foram vendidos com prejuízos. Quantia quatro vezes maior que o pico de dezembro de 2018 e mais que o dobro que em março de 2020.

Ainda em relação às perdas dos investidores, podemos quantificar o tamanho da Perda Não Realizada. Ela é medida se calculando uma média entre os preços do bitcoin no momento das compras e os preços atuais.

Nos bear markets anteriores, os investidores estavam arcando com uma perda superior a 70% do valor investido. Atualmente essa métrica atingiu 56% de perda, que é a maior do ciclo atual até o momento.