A Morning Jog possui uma novidade exclusiva para seus assinantes. Todos os sábados, logo no comecinho da manhã, um e-mail como esse estará na sua caixa de entrada. A edição irá conter um resumo dos principais eventos da semana, um tema de grande relevância que chamou nossa atenção, análises on-chain e recomendações de leituras, para que você aproveite seu fim de semana melhor informado e plenamente consciente das mudanças do mercado cripto. Aproveite!
Fechamos a última semana com alguns acontecimentos importantes, como a inserção de NFTs na plataforma do Facebook, a integração da Polygon ao protocolo da Opensea, o Seaport, a implementação com sucesso da maior atualização da rede Arbitrum e as acusações sofridas pela Ava Labs relacionadas a compra de advogados para prejudicar seus concorrentes.
A Ava Labs, empresa por trás da rede Avalanche, teria supostamente pago advogados para prejudicar seus concorrentes e manter os reguladores afastados. Entre os prejudicados pela ação estaria a Solana, uma das redes que tem concorrência direta com a Avalanche. O CEO da Ava Labs negou as alegações e as classificou como "absurdo da teoria da conspiração". Com a acusação, o token AVAX despencou mais de 20%. Já a rede da Arbitrum implementou a maior atualização de sua história, referida como atualização "Nitro". Essa atualização visa aumentar o rendimento das transações, reduzir as taxas e simplificar a comunicação entre a Arbitrum e a Ethereum. O OpenSea anunciou hoje a integração da Polygon ao protocolo Seaport. Entre os benefícios dessa integração está a possibilidade dos usuários poderem usar o token nativo da rede Polygon, MATIC, para listar e comprar na plataforma.
A Meta passou a permitir que usuários postem NFTs e outros colecionáveis digitais na plataforma do Facebook. Até então, isso só podia ser feito no Instagram (implementado há poucas semanas).
Além disso, A Fórmula 1 se juntou ao metaverso registrando duas marcas para o circuito de Las Vegas, a província argentina de Mendoza começou a aceitar pagamentos de impostos em criptomoedas, e a Ethermine, maior pool de mineração Ethereum do mundo, lançou um serviço de staking as vésperas do The Merge.
E para finalizar, um relatório da Dove Metrics e da Messari publicado nesta semana chegou a conclusão que cerca de 40% das contas de jogos da web3 são bots. Foram analisados mais de 60 jogos e DApps para chegar a conclusão de que 40% dos usuários ativos são, na verdade, bots automatizados ou uma única entidade que controla várias contas.
Tudo isso diante de uma desvalorização do BTC e do ETH. Fechamos a semana com o bitcoin sendo cotado a US$ 20,1 mil* e o ether se mantendo na casa dos US$ 1,6 mil*.
Estamos muito próximos da primeira etapa do conjunto de atualizações que irão transformar a rede Ethereum da forma como conhecemos hoje. O The Merge está agendado para acontecer entre os dias 15 e 16 de setembro e está sendo preparado há anos. Muito se fala sobre ele, mas e depois? Quais serão os próximos passos que a rede deve seguir e como eles irão impactar os usuários e investidores? Nesta edição do Morning Jog, iremos explorar essas próximas etapas com maiores detalhes.
O conjunto de atualizações é composto por cinco fases que têm como objetivo aumentar a eficiência, escalabilidade, usabilidade da rede, além de melhorar a política monetária do token ETH. Além do The Merge, temos as fases The Surge, The Verge, The Purge e The Splurge. Elas estão sendo desenvolvidas de forma simultânea, mas com certa ordem de prioridade. O conjunto delas, antigamente era intitulado de "Ethereum 2.0", termo que foi abandonado pelos próprios desenvolvedores da rede para evitar confusões a respeito da criação de um novo token ETH.
"A diferença entre as redes Bitcoin e Ethereum revelou que enquanto os apoiadores do Bitcoin acreditam que sua blockchain está 80% pronta, os apoiadores do Ethereum acreditam que sua plataforma está apenas 40% pronta". - Vitalik Buterin
Mas antes de entrar em cada uma das fases seguintes, cabe uma breve introdução sobre o The Merge. Caso você queira se aprofundar mais sobre essa atualização em específico, recomendo a leitura de nosso texto "The Merge: a maior atualização da história do mercado cripto".
The Merge
A essência dessa atualização é a mudança do algoritmo de consenso para validação de novos blocos de transação, de "Proof of Work" para "Proof of Stake". Essa alteração acabará com a famosa mineração de Ethers, que dará lugar ao modelo de staking dos tokens. O modelo de mineração funciona através da solução de fórmulas matemáticas complexas por tentativa e erro, utilizando para isso um alto poder computacional e um alto gasto energético. Esse mecanismo será substituído pelo de staking de ETH por parte dos validadores. O ato de staking servirá como garantia de que os mesmos estão validando corretamente as informações - sendo que caso não o façam, perderão parcialmente ou totalmente seus tokens apostados.
Essa mudança do algoritmo de consenso será atingida através do processo de fusão de duas blockchains distintas (daí o termo "merge"), a rede Ethereum atual com a Beacon Chain - uma rede desenvolvida do zero, que já contém o Proof of Stake como consenso, exclusivamente desenvolvido para esse processo. De maneira mais técnica, o que vai acontecer é a manutenção da camada de execução da rede Ethereum e a incorporação da camada de consenso da Beacon Chain.
Ocorreram várias simulações desse evento em redes testes, todas elas bem sucedidas. O que faz os desenvolvedores estarem confiantes a respeito de seu sucesso quando ocorrer na rede principal.
As principais vantagens dessa mudança do algoritmo de consenso são:
Redução do gasto energético necessário pelos validadores para validação de novos blocos em mais de 99%.
Desincentivo a venda de tokens ganhos pelos validadores por dois motivos:
Custos operacionais menores comparados ao processo de mineração, com menor necessidade de venda dos lucros obtidos para financiar esses custos (como conta de luz ou pagamento do maquinário de mineração);
Recompensas progressivas conforme maior quantidade de tokens alocados em staking.
As emissões de novos tokens por blocos validados serão reduzidas em 90%; impacto equivalente a 3 halvings do BTC de uma vez só.
Essa atualização somada a EIP 1559 aprovada em agosto de 2021, que implementou o sistema de queima de tokens, tem o poder de alterar significativamente a política monetária do token ETH e impactar seu preço. Porém, existem outros problemas importantes para serem solucionados relacionados à arquitetura da rede. Diferentemente do que muitos pensam, The Merge não irá solucionar o problema de escalabilidade e das altas taxas cobradas aos usuários. As taxas de transação estão relacionadas à camada de execução e a atualização em questão se trata da camada de consenso da rede. Isso será atribuição das próximas etapas do conjunto de atualizações, a qual iremos falar a seguir:
The Surge
O The Surge é a segunda etapa do conjunto de atualizações. Seu foco é em escalar a Ethereum e está previsto para ocorrer em 2023. A sua estrutura será transformada de uma blockchain monolítica, para uma blockchain modular.
Atualmente, os nodes da rede armazenam todos os dados da blockchain. O que por um lado é ótimo para a segurança, por outro acaba sendo um fator limitador quando falamos de escalabilidade. Uma alternativa a esse modelo é o que chamamos de shardings. É a fragmentação da blockchain e se baseia na transformação do processo de execução linear de novos blocos em forma sequencial (em que um bloco só é criado quando o anterior já foi processado) para um modelo de processamento paralelo e simultâneo de blocos, especializando os nodes a verificarem apenas um conjunto de informações em específico. Isso aumenta a eficiência do processo. Com uma maior oferta de espaço, a ideia é que isso reduza o valor das taxas cobradas aos usuários.
A ideia inicial era que isso fosse atingido através do modelo inicial de shardings proposto, porém o roadmap da Ethereum foi pivotado e agora a forma com que a rede vai se encaminhar para se tornar uma blockchain modular pautada no "rollup-centric roadmap" será diferente. Em teoria esse novo modelo é mais simples e mais eficiente e será alcançado através de uma proposta chamada "Danksharding".
A diferença do mecanismo entre as propostas nova e antiga pode ser visualizada nas imagens a seguir.
Modelo original
Novo modelo
Basicamente, a ideia que antes era ter um modelo de 64 shards com possibilidade de expansão até 1024, de forma que as informações de cada shard passem pela aprovação de um comitê próprio. Agora, a sugestão é que todas elas sejam direcionadas para o mesmo comitê para que sejam aprovadas. Isso cria agilidade no processo.
Os impactos devem ser no tamanho e no formato dos blocos, além do formato das informações contidas neles. Esse assunto é muito técnico. Para quem tiver maior interesse em entender como funciona o processo, esse report da Delphi Digital ajuda.
A atualização Darksharding é bastante robusta e deve levar um tempo até ser concluída e utilizada na rede principal da Ethereum. Por isso, os desenvolvedores propuseram uma EIP (EIP 4844) para implementar o primeiro passo. Esse EIP foi chamado de proto-danksharding. Ele propõe a expansão do espaço dos blocos do modelo atual voltados a informações vindas de rollups através de um recurso chamado "blob-carrying transactions", algo como "bolhas" de informações inseridas além do espaço convencional dos blocos e que são removidas dos nodes após um mês. Os dados armazenados em um blob não são interpretados pelo EVM , mas recebem uma garantia de que estão disponíveis.
O proto-danksharding deverá implementar as etapas necessárias para ter compatibilidade com o Danksharding, mas ainda não aplica efetivamente o modelo de shardings. Ele também deve impactar em uma redução de até 100 vezes nas taxas de transação das atuais soluções de rollups, como Arbitrum e Optimism.
Hoje o espaço reservado para isso se restringe a uma quantidade de cerca de 50 a 100 kb de dados. Com o proto-danksharding, essa capacidade deve subir para 1MB. Com o Danksharding completo, para 16MB.
The Verge
O "The Verge" é a terceira etapa do conjunto de atualizações. Seu foco é em introduzir as chamadas "Verkle trees" no lugar das "Merkle trees". De forma simples, elas são a forma de armazenamento de todas as informações da rede (fazem a função de banco de dados com as informações de todas as carteiras, contratos inteligentes, saldos monetários, entre outras informações que devem ser lembradas pela blockchain). O objetivo das duas é o mesmo: otimizar o armazenamento dos dados da rede e assim torná-la mais escalável.
Através desses mecanismos, os nodes conseguem confirmar a veracidade de um grande conjunto de informações anteriores necessárias para validar novos blocos da rede através de apenas uma pequena amostra deles. Isso afeta significativamente a quantidade necessária de dados que os nodes validadores precisam possuir diretamente.
A diferença entre as Merkle trees e as Verkle trees está na eficiência com que isso é feito. A verificação através das Verkle trees chegam a ser entre seis e oito vezes mais simples (mais rápidas e com menor quantidade de dados) do que o modelo ideal de Merkle trees e até 30 vezes mais eficazes do que o modelo de Merkle trees existente atualmente na rede Ethereum, chamado de hexary Patricia trees. Essa mudança contribuirá para permitir que os nodes validem um bloco sem armazenar o estado da rede (processo conhecido como "stateless clients"). A tecnologia SNARK tem capacidade de otimizar ainda mais esse processo e reduzir o tamanho das amostras para próximo a zero. Após essa atualização, a verificação de dados da rede deve se tornar mais democrática e descentralizada e possivelmente até torne viável a validação de blocos por smartphones, segundo o próprio Vitalik Buterin.
The Purge
O "The Purge" é a quarta etapa do conjunto de atualizações. A ideia defendida é reduzir o espaço do disco rígido necessário pelos validadores de forma que eles não precisem mais armazenar permanentemente todos os blocos históricos da rede.
Atualmente, se um novo client quiser se juntar a Ethereum, ele deve fazer o download de todos os blocos passados desde o início, o que representa uma quantidade imensa de informações. Portanto, o foco desta etapa é eliminar uma série de dados históricos que não são mais necessários. Após sua implementação, dados de mais de um ano deixarão de ser armazenados pelos clients. Isso significa que os requisitos de hardware para os nodes e o volume de informações enviadas serão menores.
The Splurge
O "The Splurge" é a quinta e última etapa do conjunto de atualizações. É uma composição de diversas atualizações menores, que devem garantir que a rede funcione sem problemas após os quatro estágios anteriores, além de simplificar o uso do Ethereum e torná-la mais acessível a um usuário comum.
Após a conclusão de todas essas etapas propostas, espera-se que a Ethereum consiga processar cerca de 100 mil transações por segundo, contra a capacidade atual de apenas 13. Se essa previsão feita por Vitalik realmente se concretizar, isso será uma das maiores revoluções da indústria blockchain, pois resolverá com sucesso o problema atual de dimensionamento da rede mantendo sua segurança e descentralização e, portanto, o trilema das blockchains.
"Se tudo isso for feito e nada mais mudar depois disso, ficarei extremamente feliz. No momento, sinto que isso cobre tudo o que é necessário para o Ethereum não apenas sobreviver, mas até prosperar a longo prazo". - Vitalik Buterin
Análise on-chain:
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual, se mantém em um patamar de “medo extremo” em 20 pontos. Ele vem em uma decrescente após ter atingido 42 pontos em um patamar de "medo" três semanas atrás. Antes disso, ele vinha se recuperando desde sua mínima do ano em junho, quando atingiu os 6 pontos.
O indicador SOPR (Spent Output Profit Ratio) mensura o grau de lucro ou prejuízo realizado para todas as transações feitas, ou seja, a diferença do valor do token de quando ele entrou para quando ele saiu da carteira. Quando maior que 1,0, os investidores estão transacionando suas moedas com lucros, e quando menor que 1,0, no prejuízo.
O momento atual sinaliza uma forte resistência próxima a faixa divisória, em 1,0. Isso significa que os investidores estão, em média, esperando uma leve retomada dos preços para venderem suas moedas a preço de custo, apenas recuperando dinheiro investido em dólares no momento da aquisição.
Isso continua a sinalizar uma demanda persistentemente fraca, bem como uma base de investidores que está disposta a aproveitar qualquer liquidez de saída que o mercado lhes ofereça, para 'recuperar seu dinheiro' a preço de custo. A recente liquidação foi iniciada no momento em que os preços atingiram acima de US$ 24 mil.
É interessante observar os padrões desse indicador nos ciclos de altas e baixas do mercado. Em uma tendência de alta, geralmente o ponto de 1,0 atua como um suporte, pois os investidores aproveitam os momentos de correções para comprar mais a seu preço de custo, enquanto em uma tendência de baixa (como agora), o ponto de 1,0 atua como resistência, visto que os investidores aproveitam as retomadas de crescimento para realizarem suas posições a preço de custo.
Recomendações de leituras:
“The GameFi Cycle - Why all Play To Earn (P2E) games die”- Whiteboard crypto
“Zero-Knowledge Proofs: STARKs vs SNARKs” - Consensys
“Measuring SNARK performance: Frontends, backends, and the future” - a16z
“Endgame | Vitalik Buterin” - Bankless
“Radix (XRD) DLT Protocol Review | Scalable DeFi dApps Platform” - Finbold
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 20.108,00 / 7D %: -5,54%
ETH - US$ 1.596,00 / 7D %: -2,74%
USD - 5,21 BRL / 7D %: +2,96%