Mais uma blockchain de corretora ou um novo caso: o nascimento da Base
Edição #386 - Fechamento semanal - 16 de agosto de 2023
A segunda maior corretora do mundo, a Coinbase, resolveu lançar sua própria blockchain: a Base. Seria esse um caso similar a BNB, blockchain da Binance, ou a Heco, rede da Huobi? Se você pensa que se trata de mais uma tentativa de competir com redes de corretoras existentes, você pode estar enganado. Nesta edição da Morning Jog, vamos explicar como a Base se diferencia dessas outras iniciativas e como essa blockchain está comprometida em apoiar o crescimento do ecossistema da rede Ethereum. Também vamos mostrar como funciona a sua arquitetura, a sinergia existente com a rede de segunda camada Optimism e como está seu desempenho desde o lançamento. Se você quer saber mais sobre essa iniciativa da Coinbase e como ela pretende escalar o mercado cripto, continue lendo!
O anúncio da colaboração
Em 22 de fevereiro de 2023, a Coinbase surpreendeu seus seguidores no X (antigo Twitter) ao postar um emoji com um círculo azul e a data 23/02/23 em sua conta oficial. A publicação foi logo acompanhada por uma manifestação do perfil oficial da Optimism, que compartilhou uma imagem de um salto de base jumping. A escolha de um emoji azul e a imagem causaram especulações. Alguns usuários acreditavam que surgiria um anúncio de um novo token listado na Coinbase, outros imaginaram a criação de uma DEX em parceria entre as instituições. No entanto, o motivo era que a Coinbase estava prestes a revelar a sua própria rede de segunda camada (L2), baseada na tecnologia OP Stack da Optimism.
Fonte: @Coinbase e @optimismFND
Coibase quer se tornar um sistema financeiro global e aberto
Desde de sua criação em 2012, a Coinbase pretendia desenvolver um sistema financeiro aberto que promovesse a autonomia econômica em escala global. Para atingir este ambicioso objetivo, a corretora introduziu várias estratégias e produtos cripto ao longo dos anos. Entre esses produtos, a empresa desenvolveu produtos on-chain como a Coinbase Wallet, Earn, Prime e a cbETH. No entanto, sendo uma corretora centralizada, a plataforma não foi construída com base em contratos inteligentes, o que criou uma contradição com sua filosofia inicial.
Assim, a corretora reconheceu que os produtos on-chain por si só não seriam suficientes para concretizar a visão inicial, concluindo que precisava criar sua própria rede de segunda camada na Ethereum. A escolha pela Máquina Virtual Ethereum (EVM) se deve pelo fato dela ser considerada o padrão da indústria. Além disso, dada a possibilidade de aumento da atividade financeira na blockchain no futuro e reconhecendo os problemas de escalabilidade ainda predominantes na rede, a Coinbase decidiu contribuir para o desenvolvimento central do EIP-4844, uma proposta de melhoria que aumenta consideravelmente a capacidade de armazenamento de dados da Ethereum.
Dessa forma, a Coinbase introduziu uma visão para o futuro do ecossistema de segundas camadas, em que várias redes L2 vão surgir e se conectar para formar uma rede única e interoperável que pode melhorar a escalabilidade da rede principal, a Ethereum.
Diante da possibilidade de múltiplas redes L2, fazia sentido que a Coinbase construísse sua própria rede. Com mais de 110 milhões de usuários e ativos avaliados em US$ 80 bilhões, a possibilidade de integrar seus usuários na rede de rollups da Ethereum, aproxima a empresa da missão de possibilitar a autonomia econômica global, como planejado em 2012.
Essa visão da Coinbase sobre o futuro do ecossistema de L2 da Ethereum é similar com a fornecida pela OP Stack, tecnologia que está sendo implementada pela equipe da Optimism. Por isso, a aproximação entre os protocolos.
A rede Base nasceu como um L2 que oferece escalabilidade significativa, interoperabilidade (não apenas com L2s, mas também com outras redes L1 como Bitcoin, Solana e Cosmos) e recursos para estimular o desenvolvimento de novos dApps (aplicativos descentralizados).
As motivações da equipe da Optimism
Agora que já compreendemos a identificação entre as redes, precisamos nos aprofundar sobre o que é o OP Stack e a razão técnica pela escolha da Base.
De forma geral, trata-se de um conjunto de tecnologias de código aberto que formam o núcleo da rede de segunda camada Optimism, composto por vários componentes de software. A OP Stack permite que qualquer usuário crie e personalize facilmente uma rede L2, chamada de “OP Chain”. Isso é similar com o que a Cosmos SDK faz para ajudar a criar ecossistemas de redes. A OP Stack apresenta várias camadas e os desenvolvedores podem escolher um módulo para cada camada, no qual podem criar sua própria rede. Veja abaixo como se dá a composição da arquitetura desenvolvida:
Fonte: Optimism
A primeira camada da OP Stack é a camada de disponibilidade de dados, responsável por guardar os dados das transações geradas na rede L2.
A segunda camada é onde ocorre o sequenciamento, sendo a parte responsável por coletar e ordenar as transações na rede L2. Por enquanto, o módulo padrão de sequenciamento é um módulo de sequenciador único, mas há uma proposta para suportar o módulo de sequenciadores múltiplos, adicionando mais segurança. Se você está se perguntando se é seguro confiar em uma única entidade para organizar as transações em uma blockchain, saiba que em uma rede L1, isso seria uma rede centralizada e teria um grande risco relevante de segurança. Mas nas redes L2, as execuções são verificadas na rede Ethereum, o que minimiza o risco.
A terceira camada é chamada de Derivação, fazendo a ponte de conexão entre a camada de disponibilidade de dados e a camada de execução por meio do API Engine. Nela são enviadas as transações ordenadas pela camada de sequenciamento para a camada de execução.
A quarta camada é a de execução, responsável por executar as transações recebidas da camada de Derivação. Atualmente, a OP Stack inclui o módulo EVM, o que significa que as redes criadas terão EVM como ambiente de execução.
A quinta camada é a de Liquidação, responsável por garantir a finalidade dos blocos da rede. A finalidade é muito importante quando se trata de transações de saque em uma rede.
Já a camada final da é a de governança e dá aos desenvolvedores a opção entre um método de governança multisig ou um método de governança on-chain usando tokens. Assim, essas diferentes camadas formam a estrutura adotada pela Base.
Uma parceria de bilionária com sinergia de governança
A parceria entre os dois protocolos vai além da visão e das prestações de serviços técnicos por parte da Optimism.
Recentemente, foi divulgado um modelo de receita e governança compartilhada entre elas. A Base deverá pagar a Optimism 2,5% de sua receita total ou 15% de seus lucros (o que for maior). Em troca, receberá até 118 milhões de tokens OP, garantindo poder de influência na governança do protocolo Optimism.
A Coinbase, controladora da Base, e a Optimism também também estão de acordo com a lista de “princípios de neutralidade” da lei das cadeias, que seguirá para descentralizar a Base ao longo do tempo. Isso se soma a outros componentes, como melhorias técnicas e uma visão de uma estrutura "public goods" para compor a base necessária e viabilizar esse direcionamento rumo à descentralização do ecossistema.
Fonte: Base
Os contratos inteligentes da Base só podem ser atualizados por meio de uma conta multi-sig, que é controlada pela Base e pela Optimism Foundation simultaneamente.
Dessa forma, para que a Base seja atualizada, o consentimento da Optimism Foundation é necessário. A ideia é que conforme mais blockchains forem utilizando a OP Stack como base de desenvolvimento, o consentimento da Optimism Foundation seja entregue a um "conselho de segurança" com representantes de todas as cadeias integrantes do ecossistema. Isso será essencial para evitar comprometer a segurança do ecossistema de soluções como um todo.
O Ecossistema da Base
A Base nasceu com um ecossistema consolidado, aproveitando-se da trajetória da corretora e das integrações com a Ethereum. Entre os participantes do ecossistema estão provedores de nós como QuickNode, Blockdaemon e Infura, e exploradores de blocos como Etherscan e Blockscout. Além disso, há vários outros provedores de infraestrutura e dApps no ecossistema, como pode ser verificado na imagem abaixo.
Fonte: Base
Entre os protocolos, há protocolos de vários setores que se destacam. Vejam:
Oráculos: Chainlink, Pyth Network.
Plataformas de análise de dados: Dune, Nansen, Messari.
Bridges: Axelar, Layer Zero.
Games: Animoca Brands.
DeFi: Aave, Ribbon Finance, Sushi Swap, Euler Finance, Balancer, 0x, Ondo.
NFTs: Magic Eden.
Carteira: Rainbow Wallet.
Infraestrutura: Covalent, The Graph, Gelato.
SDK: Transak.
O crescimento é relevante
Atualmente, ela já é a L2 com o maior número de deploys de contratos inteligentes, ultrapassando a Arbiturm, e apresentando uma taxa de desenvolvimento de dApps relevantes.
Fonte: Artemis
Além disso, mais de US$ 400 milhões de dólares já foram transferidos para a rede, através de bridges e mais de 800 mil carteiras já mintaram (criaram) NFTs na rede, totalizando mais de 72 milhões de NFTs. Esse é um número relevante considerando o curto período de atividade da rede e a baixa liquidez geral do mercado de criptoativos no momento.
O roadmap de descentralização da rede
O protocolo da Base divide seu roadmap em fases que representam níveis de descentralização de rollups.
Na Fase 0, o estágio inicial do rollup, as transações são feitas on-chain, com nós completos e o operador do rollup não pode “roubar” ou “censurar” os fundos dos usuários.
Na fase 1, um rollup deve apresentar um módulo à prova de fraude ou à prova de validação funcionando.
Já na fase 2, deve existir pelo menos dois provadores de fraude, dois provadores de validade ou um de cada.
Para seguir o roteiro de descentralização planejado, a Base terá que desenvolver um modelo à prova de fraude, estabelecer um comitê multi-sig para atualizações de contratos inteligentes e descentralizar os sequenciadores.
Não vemos mais do mesmo
O anúncio Base pela Coinbase pode fazer parecer que ela é parecida com a rede BNB da Binance ou com a rede HECO da Huobi, no sentido de blockchains criadas por corretoras. No entanto, a Base tenta, ao menos no papel, ser diferente das iniciativas anteriores. A Coinbase mostrou um grande interesse em contribuir para o ecossistema, com uma profunda compreensão dos princípios da blockchain que visam facilitar a transição entre a Web2 e a Web3, tornando mais fácil para vários usuários da Web2 acessarem as vantagens do mundo da Web3. Além disso, a empresa também está comprometida em contribuir para o ecossistema Ethereum. Agora, é acompanhar os próximos passos do projeto e ver seu desenvolvimento. Fique ligado!
As dez notícias mais importantes da semana
A Polygon Labs anunciou três propostas de melhoria (PIPs) para apoiar a transição para a Polygon 2.0;
O Parlamento Europeu aprovou o DAC8, uma medida que introduz requisitos de declaração fiscal para transações com criptoativos em toda a União Europeia (UE);
O Deutsche Bank, o maior banco da Alemanha, anunciou que irá oferecer a custódia de criptomoedas a seus clientes institucionais;
A corretora FTX, que está em falência, recebeu permissão da Justiça para iniciar a venda de US$ 3,4 bilhões em tokens que possui em sua tesouraria;
A conta de Twitter do co-fundador da Ethereum, VItalink Buterin, foi hackeada e mais de US$ 690 mil foram roubados das carteiras das vítimas;
A Sushiswap anunciou sua expansão para o ecossistema da Aptos.
Investidores seguem pessimistas
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento dos investidores em relação ao momento atual, está marcando 45 pontos, representando um sentimento de medo. O indicador segue estabilizado na faixa entre os 45 e 52 pontos.
Friends.tech resiste após redução da euforia
A aplicação social Friends.tech foi um dos protocolos catalisadores iniciais do ecossistema da Base, sendo o responsável pelo onboarding de milhares de usuários no ecossistema. Depois de um pico considerável de hype do protocolo na segunda e terceira semana de agosto, as duas semanas seguintes foram marcadas por uma considerável redução de suas principais métricas (mais de 90% de queda), tanto em transações realizadas quanto em receita gerada.
O pico de receita gerada, por exemplo, atingido em 21 de agosto, colocou o protocolo social no top 2 dos maiores geradores de receita do mercado cripto. Neste único dia, foram gerados US$ 840 mil, segundo o Defillama. Isso foi suficiente para ultrapassar naquele dia, protocolos como Lido Finance, Uniswap e até a rede Bitcoin.
Em meio a drástica queda das principais métricas, somado a discussões a respeito da sustentabilidade a longo prazo de seu modelo de negócios, muitos consideraram o momento atual como o fim definitivo do hype da aplicação.
Mas para a surpresa de muitos, tivemos uma retomada de suas principais métricas, como pode-se observar nos gráficos a seguir, no qual vemos a geração de mais de US$ 1 milhão diários nos dias 13 e 14 de setembro.
Fonte: Defilama
Ainda é cedo para concluir qualquer coisa a respeito de sua adoção a médio e a longo prazo. Porém, não podemos negar que essa retomada surpreendeu a muitos, principalmente os mais céticos.
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Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 26.435,00 / 7D %: +0,61%
ETH - US$ 1.622,00 / 7D %: -1,58%
USD - 4,88 BRL / 7D %: -0,90%
Cotação atualizada em: 15/09/2023 às 11:00
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