NFTs vão revolucionar a forma de negociar ingressos
Edição #290 - Fechamento semanal - 27 de maio de 2023
Quem já quis comprar um ingresso para um festival como o Rock in Rio ou para um jogo de futebol como uma final de Libertadores, sabe que é necessário muita paciência, atenção e até um pouco de sorte para garantir seu lugar. É necessário estar atento à liberação oficial das vendas e mesmo assim há grandes chances de ficar sem o ingresso.
Com o sold out em questão de minutos, quem perde a oportunidade inicial tem como única opção pagar mais caro no ingresso com um cambista. Nesse caso, além de gastar mais, também há o risco de acabar com um ingresso falso em mãos.
Enquanto muitos fãs e torcedores ficam sem nada, os cambistas compram a maior quantidade possível de unidades com ajuda de certos contatos ou com a utilização de CPFs de terceiros e ajuda de robôs, com o intuito de revendê-los posteriormente a um preço superior.
Esses problemas são graves e se expandem para além dos maiores eventos. Festas juninas, festas universitárias, jogos do campeonato brasileiro, parques de diversão… todo evento ou atração que tenha mais pessoas interessadas do que lugares disponíveis também acaba lidando com isso.
Felizmente existe uma tecnologia que já vem causando certo impacto na indústria e que é capaz de transformá-la completamente nos próximos anos, resolvendo todos os problemas descritos e ainda por cima capaz de gerar novas fontes de receita para o emissor do ingresso: a blockchain.
A tecnologia traz propriedades como transparência, programabilidade e segurança aos ingressos, permitindo que os problemas envolvendo golpistas e cambistas desapareçam. Isso melhora e muito a experiência tanto para os organizadores do evento quanto para os fãs e torcedores.
Independente do evento em questão, atualmente o caminho do ingresso é sempre o mesmo: a falta de controle e transparência na emissão e na venda resulta em uma concentração dos ingressos nas mãos de cambistas e no descontrole por parte dos organizadores sobre quem de fato compareceu no dia.
Além disso, o fã que quer comprar ou vender um ingresso no mercado secundário vai precisar acessar diferentes plataformas e redes sociais. Nesse caso, os ingressos anunciados ainda podem não ser transferidos pelo suposto vendedor após o pagamento ou podem ser falsos.
A partida entre Liverpool e Real Madrid pela final da Champions League de 2022 foi o maior exemplo recente de problema com ingressos falsos. Para quem não lembra, o jogo foi adiado em 35 minutos por conta do atraso da entrada dos torcedores com ingressos verdadeiros e da invasão de torcedores com ingressos falsos. Muitos deles pagaram milhares de euros e ficaram cientes da situação apenas na porta de acesso ao estádio.
Dentre os benefícios que a tecnologia blockchain e os NFTs proporcionam para o setor de ingressos estão inclusos:
Transparência e imutabilidade:
Por ser uma rede pública e imutável, a blockchain permite o rastreio do ingresso desde sua emissão. Todos podem conferir informações como a quantidade de revendas feitas e suas datas específicas, o valor pago em cada uma delas e quem de fato possui o ingresso no dia do evento.
Programabilidade:
Os NFTs são um conjunto de códigos chamados de contratos inteligentes, que podem ser personalizados como o agente emissor preferir. Pode ser definido por exemplo que a cada revenda feita do ingresso, 15% do valor vá automaticamente ao organizador em formato de royalties.
Essa é uma forma do organizador maximizar sua arrecadação com a valorização e com o volume de negociações dos ingressos no mercado secundário e ainda por cima acaba transformando o problema dos cambistas em uma solução, os transformando em parceiros de venda.
Também é possível estipular preços mínimos e máximos de revenda e até travar essa opção, recurso que pode ser muito útil em casos de emissões cortesias ou casos especiais.
Mercado secundário unificado e seguro:
A fragmentação do mercado secundário em diversas plataformas e redes sociais acaba ocasionando em golpes e diminuindo consideravelmente a liquidez das negociações. O usuário que busca um ingresso terá que pesquisar em vários lugares para achar a oferta mais vantajosa.
Já com o registro dos ingressos em blockchain é possível integrar todos os ingressos listados à venda e todos os lances de compra, em tempo real e em um único lugar.
Além disso, por funcionar a base de códigos programados (contratos inteligentes), uma pessoa não precisa confiar na outra parte envolvida para comprá-lo de forma online. Toda a negociação é feita de forma automatizada, segura e em questão de segundos.
Item colecionável com valor sentimental:
Assim como antigamente era comum se colecionar bilhetes físicos de eventos, esse lado colecionável que se perdeu com a chegada dos QR codes pode voltar com força.
Como um NFT é dinâmico e suas propriedades podem mudar mesmo após sua emissão, um ingresso de jogo de futebol pode conter após o jogo as principais estatísticas da partida e até se tornar uma foto ou vídeo do gol da vitória. Você poderá olhar daqui 10 ou 15 anos as lembranças de todos os eventos que você compareceu e reviver memórias.
Além desses benefícios de otimização do modelo atual, os NFTs têm capacidade de gerar uma nova forma de relacionamento entre marcas e consumidores. Se os ingressos do último Rock in Rio tivessem sido NFTs eles poderiam fidelizar ainda mais os fãs que compareceram, fazendo com que os mesmos tivessem mais benefícios e uma participação ativa nas próximas edições do evento.
Imagina ter a possibilidade de adquirir o ingresso do próximo Rock in Rio em uma pré-venda, ganhar descontos especiais dos patrocinadores do evento (como em cervejas da Heineken), ou ter participação de voto sobre quem será a atração principal da edição do ano seguinte. As possibilidades são infinitas.
Além de aproximar os fãs mais fiéis, esse valor extra do colecionável, mesmo após a realização do evento, aumenta sua procura no mercado secundário. Isso consequentemente gera mais arrecadação pela organização através de royalties.
O mais interessante é que o Rock in Rio já chegou a distribuir NFTs aos fãs. Não como ingressos mas sim como uma lembrança do evento e sem nenhuma das utilidades comentadas acima. Apesar de ser um grande avanço, eles erraram em trazer o NFT como um fim e não como o meio.
Agora pense em um jogo como a final do campeonato carioca deste ano entre Flamengo e Fluminense, ganha de 4 a 1 pelo time tricolor. As possibilidades que a substituição dos QR codes por NFTs poderia proporcionar foram elencadas no post do ex-diretor da Socios.com, Felipe Ribbe, e são as seguintes:
Os ingressos da partida se tornariam colecionáveis digitais de valor imensurável para a torcida tricolor, eternizando um momento histórico do clube em blockchain;
A imagem vinculada ao NFT poderia ser atualizada após o jogo com imagens da partida, sejam gols vistos por ângulos exclusivos ou fotos especiais da comemoração do título.
O ingresso poderia se tornar um meio de acesso direto para uma camisa comemorativa exclusiva vendida na loja do clube. Bastaria entrar na loja.fluminense, conectar a carteira e o ingresso seria reconhecido e a camisa comemorativa automaticamente seria destravada para compra;
Poderia dar acesso prioritário a um documentário sobre a final. Os fãs só precisariam acessar a página onde está o vídeo, conectar a carteira e o acesso é liberado;
O Fluminense poderia, após a partida, mandar um outro token comemorativo aos torcedores que compareceram à final. Talvez algo em alusão ao "chocolate", já que a partida foi em um domingo de Páscoa e foi ganha por 4 a 1. Qual torcedor não ficaria feliz com uma zueira dessas? E se este token do chocolate desse descontos em uma chocolateria?
Por conta da transparência da blockchain, as próprias marcas saberiam as carteiras dos donos dos tokens e, mesmo sem acordo com o Fluminense, poderiam oferecer benefícios aos detentores dos ingressos. E o que Flu ganharia com isso? Royalties e awareness, afinal seria o ingresso emitido pelo clube o responsável por esses benefícios.
Os benefícios podem ainda ser estendidos a jogos mais comuns, como uma rodada do campeonato brasileiro. O clube pode construir uma gamificação para ingressos ao longo de toda a temporada. Uma das possibilidades é permitir que um fã que possui os 15 primeiros ingressos do seu clube no campeonato possa desbloquear o décimo sexto de forma gratuita. Isso além de estimular a ida aos jogos, também aquece o mercado secundário e gera royalties ao clube. Se o torcedor tiver 12 ingressos, é provável que ele vá atrás dos outros três para "completar" a missão e resgatar o ingresso gratuito. Já se tiver apenas dois, pode decidir vendê-los para outros torcedores e fazer uma grana extra.
Já existem alguns casos, ainda tímidos, de benefícios práticos da tecnologia blockchain no setor, como no festival musical Tomorrowland e nos jogos como mandante do clube de futebol italiano Lazio.
Aqui no Brasil também tivemos a coleção de NFTs do Milton Nascimento, que garantiu acesso ao primeiro show de sua última turnê, entre outras coisas. Em parceria com a startup brasileira NFT Ticket Pass, foram postos à venda 400 unidades por R$ 1,2 mil cada, as quais podiam ser adquiridas por PIX e se esgotaram em pouco mais de um dia. Alguns dos NFTs da coleção chegaram a ser revendidos por até R$ 5 mil no mercado secundário, gerando para a produção do cantor 15% do valor em royalties. Além disso, clubes nacionais como o Atlético Mineiro, Flamengo e São Paulo também ensaiam um movimento em relação à adoção de ingressos digitais.
Os casos de usos reais de implementação da blockchain como o de ingressos são interessantes pois o usuário final não precisa entender como a tecnologia em si funciona por baixo dos panos, se é um NFT ou se está registrado em blockchain. Ele só precisa sentir na prática uma melhora de sua experiência em pontos como segurança e conveniência.
Já as marcas expostas a esse setor podem utilizar disso para melhorar o controle de seus eventos, aumentar sua receita e fidelizar mais seus clientes com uma relação direta.
É uma relação ganha-ganha.
Ainda existem fatores limitantes para adoção em massa da tecnologia no setor, como a falta de uma infraestrutura escalável e barata e a falta de simplicidade de interação com a blockchain para um usuário comum. Mas a cada dia que passa esses fatores estão mais próximos de se resolverem. O processo de transformação leva tempo, mas é inevitável.
As dez notícias mais importantes da semana:
O Banco Central (BC) divulgou uma lista de 14 grupos de instituições aprovadas para participar do projeto piloto do real digital.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou um acordo de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) para o desenvolvimento de ações relacionadas à educação financeira e finanças descentralizadas.
O São Paulo (SPFC) anunciou uma parceria com o metaverso Alphaverse para ampliar sua receita, fornecer experiências exclusivas e benefícios aos torcedores do clube.
Hong Kong autorizou investimentos de investidores do varejo em criptomoedas;
Um hacker sequestrou a governança do Tornado Cash através de uma proposta maliciosa. Alguns dias depois ele submeteu uma proposta para devolver o controle da governança.
A Strike, empresa responsável por facilitar pagamentos com Bitcoin, integrou suporte a stablecoin USDT, expandiu seus serviços para 65 países e mudou sua sede global para El Salvador.
A Ledger adiou os planos para serviço de recuperação de chave privada;
A empresa de cibersegurança Unciphered afirmou que conseguiu hackear fisicamente a carteira Trezor T através de uma “vulnerabilidade de hardware.
A startup Keyp conseguiu transformar um Game Boy em uma carteira de hardware cripto;
A Tools for Humanity, empresa responsável pelo projeto Worldcoin, anunciou que levantou US$ 115 milhões em financiamento da série C liderado pela Blockchain Capital.
Sentimento neutro dos investidores
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual, está em 49 pontos, representando um sentimento neutro. O indicador segue relativamente estável nas últimas duas semanas, tendo se mantido na faixa entre 48 e 54.
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“Como maximizar suas chances de receber o airdrop da Scroll” - Morning Jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 26.767,00 / 7D %: -0,26%
ETH - US$ 1.834,00 / 7D %: +1,27%
USD - 4,99 BRL / 7D %: -2,10%
Cotação atualizada em: 26/05/2023 as 17:00
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