Nossas apostas para o ano que está começando
Edição #485 - Fechamento semanal - 13 de janeiro de 2023
O ano de 2023 ficou marcado pela reconstrução do mercado após um bear market desafiador. O cenário atual difere significativamente do início do ano anterior, refletindo uma notável empolgação em relação ao que está por vir, inclusive nos preços de mercado.
Mas não é só a mudança de sentimento e de preços que difere o momento atual do início do ano anterior. Durante o ano de 2023, muitas dinâmicas e narrativas novas se alteraram e outras novas surgiram.
Assim como fizemos uma edição exclusiva de fechamento semanal da Morning Jog com nossas previsões para 2023, está na hora de falarmos alguns dos setores do mercado que em nossa visão irão se sobressair e se desenvolver bastante durante os próximos 12 meses. Vamos conferi-los.
1- Re-staking ganha espaço e traz mais eficiência de capital
A narrativa de Re-staking, puxada pela EigenLayer, é um novo primitivo do mercado. Ela não tenta replicar um modelo do mercado tradicional ou algo já existente em cripto, e sim visa criar um novo mecanismo inovador pensado para as necessidades atuais do mercado.
A EingenLayer é um protocolo que busca aumentar a eficiência de capital dos validadores da Ethereum, utilizando o mesmo capital já travado para ampliar seus serviços de validação para outras redes e aplicações. Por exemplo, se eu tenho 10 ETH, consigo utilizá-los como garantia para validar, além da rede Ethereum, também outras redes e aplicações do mercado cripto, potencializando meus rendimentos finais.
O mais interessante é que a EigenLayer permite que os usuários também possam travar em seu protocolo tokens sintéticos de staking líquido, como o stETH da Lido, rETH da Rocketpool, swETH da Swell, além de outros. Dessa forma, o usuário consegue receber rendimentos acumulados, provenientes do processo de staking de ETH (atualmente cerca de 4% ao ano), com os rendimentos provenientes do processo de validação das aplicações que integram a EigenLayer.
Soluções de oráculos de preços, bridges, sequencers e camadas de disponibilidade de dados são alguns dos exemplos de aplicações que podem “alugar segurança” da Ethereum por meio da Eigenlayer, que atua na forma de “security-as-a-service".
As recompensas potenciais obtidas a partir desse processo são uma nova fonte de renda extra para os stakers da rede. Apesar de já ser possível travar ethers e seus derivados na EigenLayer, as aplicações ainda vão começar a se integrar a ela.
Sua popularidade está tão grande no momento que os desenvolvedores do protocolo optaram por restringir a quantidade total de ETH que podem ser travados neste primeiro momento, a fim de não queimar etapas de crescimento e priorizar pela segurança do protocolo. Atualmente A Eigenlayer integrou novos tokens de staking líquido e subiu seu limite máximo de depósitos de 120 mil ETH para 500 mil ETH (cerca de US$ 1,15 bilhão), os quais já estão quase que em sua totalidade preenchidos.
Capital total depositado na EigenLayer
O mais interessante é que já estão sendo construídos protocolos que estão para a EigenLayer assim como a Lido está para a Ethereum. Esses novos protocolos, como a Restake Finance e a Etherfi, permitem que o usuário mantenham a liquidez de seus tokens travados na EigenLayer devolvendo um recibo sintético de sua posição. Esse sintético pode ser rentabilizado em outras estratégias do mercado DeFi, criando assim o conceito de re-staking líquido.
Apesar desse conceito ser bem interessante, vale ressaltar que a cada nova camada criada em cima desse processo, a alavancagem e o risco para o investidor também aumenta.
Por conta dessa tração inicial da EigenLayer, pelo aumento de eficiência de capital trazida por ela e pela consolidação do setor de staking da Ethereum, acreditamos que o segmento de re-staking será um dos destaques do ano de 2024.
2- Derivativos em DeFi: uma tendência em ascensão
As transações de derivativos de criptomoedas constituem um volume significativamente superior do que o mercado spot, com aproximadamente 80% do total negociado. Apesar disso, menos de 2% desse total é negociado on-chain. A esmagadora maioria delas ocorre em plataformas centralizadas, como Deribit e Binance. Isso se reflete na disparidade de valor total travado entre os protocolos do mercado spot e derivativos, como podemos observar a seguir.
TVL: DEXes vs derivativos
Isso ocorre por diversos motivos, como fragmentação de liquidez entre diferentes protocolos e blockchains, limitações de infraestrutura, custos em taxas mais elevados aos usuários e uma experiência do usuário (UX) mais pobre.
Porém, os protocolos vem evoluindo nos últimos meses nesses quesitos. Podemos pegar como exemplo a dYdX, que recentemente migrou sua solução para sua própria app chain no ecossistema Cosmos, onde possui mais liberdade, eficiência e capacidade de personalização de seu produto final.
Além dela, diversos projetos com diferentes propostas de execução estão sendo lançados. O Panoptic, um protocolo que investimos na viden.vc por exemplo, é um primitivo do mercado, implementando um sistema de negociação de opções perpétuas através de posições de liquidez concentrada na Uniswap v3. Na tabela a seguir podemos observar diferentes tipos de arquiteturas de protocolos de derivativos.
Modelos de protocolos de perpétuos futuros e opções
Outro ponto que deve potencializar e muito o crescimento do setor de derivativos são os protocolos promissores que ainda não lançaram tokens próprios, como Aevo, Ambient, Hyperliqud, Satori, Drift, Parcl, Limitless, Infinite Pools, Good Entry, entre outros.
E por fim, outros protocolos que se encaixam na categoria de derivativos são a Pendle, um protocolo que busca resgatar o conceito de renda-fixa para os yields intrinsecamente variáveis do mercado cripto e a própria EigenLayer e os protocolos de re-staking líquido mencionados acima.
Dessa forma, podemos observar que há espaço tanto para um aumento geral na negociação de derivativos, devido ao aquecimento do mercado, quanto para um aumento da participação de mercado da negociação on-chain dessa classe de ativos.
3- O ressurgimento dos blockchain games
O setor de games em blockchain sofreu um boom na segunda metade de 2021, muito puxado pelo Axie Infinity e depois por outros jogos com mecanismo de ponzinomics (pirâmide), como Bomb Crypto, Crypto Cars, Crypto Mines, Plant vs Undead, etc.
A experiência desses jogos consistiam em jogadores apertando botões e esperando o tempo passar, enquanto seu dinheiro magicamente se multiplicava. Claro, até o momento em que paravam de entrar novos jogadores. Eles não eram divertidos e os jogadores estavam lá apenas pensando no retorno financeiro.
Se por um lado esse movimento foi positivo por impulsionar a adoção de milhares de pessoas no universo descentralizado e fornecer uma nova fonte de renda (mesmo que insustentável), por outro prejudicou muitos investidores gananciosos que buscavam lucros a curto prazo.
Foi nesse momento também que surgiram promessas de futuros supostos grandes jogos, como Star Atlas, Ember Sword, Guild of Guardians, Aurory, entre outros. Por conta do hype do setor, as pessoas se prenderam às expectativas futuras deles, sem levar em conta as inúmeras variáveis que envolvem o processo de desenvolvimento de um jogo.
Os preços dos tokens e NFTs dos blockchain games prosperaram para muito além de seu real valor gerado. Porém, com uma expectativa maior do que a entrega a curto prazo, junto com a queda do mercado como um todo, os projetos que sobreviveram sofreram uma forte correção, chegando a mais de 95% de desvalorização na maioria dos casos.
Conseguimos compreender melhor esse processo através do gráfico a seguir, que representa o ciclo de expectativa x tempo de um novo setor em destaque que chama atenção de forma repentina.
O lado positivo desse experimento foi que o aumento de preços atraiu atenção ao setor, e com isso novas ideias, essas de fato sustentáveis. Foi nessa época que os supostos grandes jogos mencionados acima, conseguiram se financiar. O setor esfriou durante os anos de 2022 e 2023, quando houve tempo para esses projetos se desenvolverem e amadurecerem.
Duas questões que limitaram o crescimento do setor em 2021, além do fato dos jogos lançados serem ruins, são o fato de limitações de infraestrutura e a baixa curva de aprendizado para novos usuários.
Desde então, foram desenvolvidos produtos como o Immutable Passport, que pretende abstrair toda a complexidade de interação em blockchain para os jogadores, os quais precisarão se preocupar apenas em jogar os jogos, e o próprio avanço em termos de escalabilidade da Ethereum com ecossistemas interessantes para o desenvolvimento de jogos surgindo, como a Starknet, da Starkware, a Immutable zkEVM, que usa a infraestrutura da Polygon, e a Ronin, que atualmente vem ampliando seu escopo para muito além do Axie Infinity. Outros ecossistemas também são vistos como promissores para jogos, como Solana, Avalanche e Aptos.
Com jogos que não atraiam a atenção dos usuários pelo lado dos lucros e sim pela diversão, o setor terá espaço para crescer de forma significativa. Alguns dos jogos que receberam aportes milionários em 2021 estão previstos para serem lançados em 2024, como Ember Sword, e outros jogos como Pixels, que surgiram depois, já vem trazendo resultados, com mais de 300 mil carteiras ativas nos últimos 30 dias.
Se algum deles prosperar e conseguir reter uma base sólida de usuários, validando o conceito de jogos em blockchain como uma alternativa melhor ao modelo de jogos da Web2, a tendência é que mais estúdios de desenvolvimento de jogos tradicionais tenham interesse em construir na Web3, seja criando novos jogos ou integrando jogos já existentes a ela.
E por fim, muitos jogos que estão para serem lançados ainda não possuem tokens, o que pode gerar um crescimento de adoção ainda mais intenso. O próprio Pixels anunciou o airdrop de seu token há poucos dias.
Por conta desses motivos e, por acreditarmos que o setor de games é um dos que mais possui potencial de estourar a bolha cripto, trazendo novos usuários, vemos o setor como um dos que mais deve crescer durante 2024.
4- A expansão dos stacks de códigos e das soluções de Data Availability
Durante 2023 vimos diversas soluções de escalabilidade lançando seus próprios conjuntos de códigos com o objetivo de terceirizar a construção de blockchains específicas, atuando como Rollup-as-a-service. Os que mais se sobressaíram até o momento foram o OP Stack da Optimism, e o Polygon CDK, fora o Cosmos SDK que já estava disponível. Além deles, Arbitrum, zkSync, Starknet e alguns outros projetos também possuem seus produtos nesse sentido.
Blockchains que utilizam o OP Stack como infraestrutura
Como podemos observar acima, grandes projetos optaram por desenvolver suas soluções em cima dessas estruturas pré definidas. Além dos evidenciados na imagem, que utilizam o OP Stack, vale destacar dois projetos que utilizam do Polygon CDK: a própria Immutable zkEVM, mencionada acima, e a Astar zkEVM, projeto que surgiu como uma Parachain da Polkadot.
No início de 2023, existiam três principais soluções de segunda camada, sendo elas a Polygon PoS, Arbitrum e Optimism. Atualmente, mais de 30 soluções já estão em operação, quantidade que deve aumentar cada vez mais, sendo ampliada principalmente por esses stacks de códigos.
A consequência disso é uma grande fragmentação de liquidez e comunicação entre diferentes ecossistemas, além dos aumento da disputa por espaço de bloco para registro do histórico de transações na primeira camada da rede Ethereum.
Como solução a isso, soluções alternativas focadas exclusivamente em armazenar, ordenar e disponibilizar esse histórico estão ganhando cada vez mais espaço, muito puxados pelo lançamento da rede principal da Celestia. Porém, além dela, também devem ganhar mais relevância em um futuro próximo outras soluções que ainda não foram lançadas, como Avail e EigenDA.
São dois segmentos de mercado bastante promissores, que estão crescendo em um ritmo significativo e que precisam um do outro para se complementarem. Inclusive, a própria Celestia já realizou parcerias com a Polygon e Optimism para integrar seus serviços ao OP Stack e Polygon CDK.
Mesmo com a atualização da Ethereum que está por vir nos próximos meses, que tem como objetivo aumentar o espaço do bloco da rede com a criação de um espaço exclusivo para registro dessas informações vindas das redes de segunda camada, esses projetos do setor de Data Availability possuem vantagem visto que foram concebidos desde o início pensando em otimizar ao máximo essa função em específico.
É bem provável que em 2024 nós presenciamos um aumento significativo de adoção de redes como a Celestia, EigenDA e Avail por rollups construídos através desses conjuntos de códigos disponibilizados pelas soluções de segunda camada mais consolidadas.
5- Airdrops, Airdrops e muito mais Airdrops
Os airdrops não são um mecanismo novo no mercado, visto que ocorrem há alguns bons anos. Porém, nunca vimos tantos novos projetos de qualidade e bem capitalizados surgindo ao mesmo tempo, dos mais diversos segmentos possíveis. Redes de segunda camada, protocolos dos segmentos de DeFi, bridges, games, SocialFi, e interoperabilidade são apenas alguns dos exemplos.
É natural que após grandes rodadas de investimentos, os investidores que tomaram risco em um estágio inicial busquem liquidez de saída de seus investimentos, e através do lançamento de tokens próprios isso é possível. Além disso, essa é uma ótima estratégia de marketing para os projetos, que conseguem divulgar sua solução e atrair usuários reais.
Os bons projetos que executam um airdrop possuem uma capacidade única de literalmente "imprimir dinheiro". Já olhando pela ótica do usuário, essa é uma ótima forma de alavancar seu portfólio, principalmente se o seu capital absoluto ainda é pouco significativo.
Alguns dos projetos que devemos ver lançando tokens em 2024 incluem as redes zkSync, Starknet, Scroll, Linea, Manta Pacific, ZetaChain e Blast, os protocolos DeFi Ambient, Avnu, Ekubo, LayerBank, Hyperliquid, SyncSwap, Marginfi, Kamino, Drift, Jupiter, Parcl, as pontes LayerZero, Wormhole, Orbiter Finance e Rhino, além da EigenLayer, Etherfi, Swell, DeBank, diversos games, além de muitas, muitas outras soluções.
Isso tende a gerar mais liquidez ao mercado, contribuir para o crescimento de TVL dos principais ecossistemas e capitalizar os usuários para que uma nova onda de ciclo de alta se potencialize. Se você passou grande parte do ano passado farmando airdrops da forma correta, se prepare para ser muito bem recompensado. Agora, se você ainda não começou, não se preocupe, continue acompanhando a Morning Jog, nela trazemos as principais oportunidades do setor.
As notícias mais importantes da semana
A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) aprovou os pedidos de abertura de ETFs spot de Bitcoin de 11 gestoras do mercado;
Os ETFs de bitcoin à vista ultrapassam US$ 1 bilhão em volume de negociação após os primeiros 30 minutos de listagem e US$ 4,6 bilhões no primeiro dia de listagem;
O valor somado investido em produtos cripto negociados em corretoras no ano de 2023 atingiu US$ 2,2 bilhões, de acordo com dados fornecidos pela CoinShares;
A Circle, emissora da stablecoin USDC, entrou com pedido para realizar uma Oferta Pública Inicial (IPO) e lançar ações negociadas em bolsa;
A comunidade da Starknet aprovou uma votação para permitir que as taxas de transação da rede sejam cobradas em tokens STRK, além de ETH.
A rede social X, antigo Twitter, removeu a ferramenta de verificação de autenticação de NFTs como foto de perfil da plataforma;
O volume diário transacionado na rede Solana atingiu seu maior nível desde outubro de 2022, com mais de US$ 42 bilhões. Apenas nos últimos 30 dias, o crescimento foi de mais de 700%;
A Celsius, empresa de empréstimos falida em 2022, removerá US$ 466 milhões que possui em staking de ETH para garantir liquidez a seus credores;
O Digital Currency Group (DCG), holding controladora de diversas empresas do mundo cripto, afirmou que concluiu o pagamento de todos os empréstimos de curto prazo da Genesis;
A carteira gênesis do Bitcoin, que foi utilizada por Satoshi Nakamoto para minerar o primeiro bloco da rede e que está inativa desde essa época, recebeu uma transferência anônima de 27 BTC, o equivalente a US$ 1,2 milhão;
Um emulador de Super Nintendo Entertainment System (SNES) foi inscrito na rede Bitcoin.
Investidores Otimistas
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento dos investidores em relação ao momento atual, está marcando 71 pontos, representando um sentimento de otimismo. O indicador segue estabilizado na faixa de 60 a 74 desde o final de outubro.
ETFs aprovados!
Em um dia histórico para o mercado, após duas notícias falsas de aprovação, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) finalmente aprovou os pedidos de abertura de ETFs spot de Bitcoin de 11 gestoras do mercado.
Esse acontecimento foi um grande marco no mercado, visto que trouxe acessibilidade de investimento a criptomoedas por grandes gestoras, empresas e fundos de investimento do mercado financeiro tradicional americano. Agora podemos dizer que o Bitcoin é um ativo Mainstream.
No primeiro dia de negociação, foram movimentados US$ 4,6 bilhões na categoria, e atualmente o market share de ETFs do mercado spot já ultrapassou o de ETFs do mercado futuro e agora representa mais de 70% do total de ETFs. Os fundos que mais receberam influxo de capital foram o GBTC, um produto de investimento transformado em ETF pela Grayscale, que respondeu por US$ 2,2 bilhões ou metade do volume de todos os ETFs e o IBIT da Blackrock, com 1 bilhão de volume e o FBTC.
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Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 43.561,00 / 7D %: -0,10%
ETH - US$ 2.592,00 / 7D %: +15,87%
USD - 4,85 BRL / 7D %: -2,30%
Cotação atualizada em: 12/01/2024 às 16:40
Sobre o Morning Jog
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