Novas soluções de interoperabilidade cross-chain em desenvolvimento
Edição de fechamento semanal - 24/09/2022
A Morning Jog possui uma novidade exclusiva para seus assinantes. Todos os sábados, logo no comecinho da manhã, um e-mail como esse estará na sua caixa de entrada. A edição irá conter um resumo dos principais eventos da semana, um tema de grande relevância que chamou nossa atenção, análises on-chain e recomendações de leituras, para que você aproveite seu fim de semana melhor informado e plenamente consciente das mudanças do mercado cripto. Aproveite!
Fechamos a terceira semana de setembro com o sucesso da implementação do Vasil Hark Fork da rede Cardano. Ela ocorreu após meses de atrasos e reagendamentos. Os atrasos foram causados por problemas na rede de testes. Uma falha em uma versão anterior dos nodes havia criado problemas de compatibilidade. Ela é a atualização mais significativa do ecossistema Cardano desde a implementação da funcionalidade de contratos inteligentes no ano passado. Outros destaques da semana serão mencionados a seguir.
Um hacker detectou uma vulnerabilidade de US$ 400 milhões na Arbitrum.
O Banco Central Europeu (BCE) escolheu a Amazon e outras quatro empresas para testar casos de uso do euro digital.
A Nasdaq iniciou os preparativos para fornecer serviços de custódia de criptoativos para instituições.
Jesse Powell deixará o cargo de CEO da Kraken.
A Helium deixará de ter uma blockchain própria e vai se integrar à rede Solana.
A OpenSea implementou um novo protocolo que classifica a raridade dos NFTs e anunciou sua integração à rede de segunda camada Arbitrum.
A Zilliqa deve lançar um console de jogos Web3 no início de 2023.
A FTX está discutindo com investidores a possibilidade de receber até US$ 1 bilhão em novos financiamentos.
A Epic Games lançou seu primeiro jogo NFT: Blankos Block Party.
Bianca Andrade lançou sua linha de maquiagem no Metaverso.
A Coinbase vai distribuir nomes de domínio ENS a seus usuários.
O token "Cryptoruble" está em desenvolvimento na Rússia.
Um projeto de lei dos EUA planeja banir stablecoins algorítmicas por dois anos.
Moradores do Colorado, nos Estados Unidos, agora podem usar criptomoedas para pagar impostos.
Atualmente, o universo cripto é composto por diversas blockchains independentes. Entre elas, redes de primeira camada, como Ethereum, Solana, Avalanche, Binance Smart Chain; redes de segunda camada da Ethereum, como Arbitrum, Optimism, Polygon PoS; parachains da Polkadot, como Acala, Moonbeam e Astar; entre muitas outras.
O grande diferencial de ecossistemas como o da Polkadot é justamente essa questão da integração da segurança e o compartilhamento de informações de diferentes redes independentes. Mesmo assim, esse conceito se limita a apenas redes que integram seu ecossistema de parachains.
Porém, qual foi a forma encontrada para que essas outras redes se comuniquem umas com as outras, visto que diferentemente das parachains da Polkadot elas não possuem nativamente uma integração comum entre seus ecossistemas? A solução encontrada a curto prazo são as soluções de bridges e a criação de tokens sintéticos/ embrulhados.
Mas e se esse conceito da Polkadot pudesse ser implementado de forma mais ampla, a todas as blockchains do mercado? É justamente isso que as novas soluções do setor de Layer 0, como a Chainlink CCIP, Polygon Avail e LayerZero querem oferecer. Nesta edição do Morning Jog, explicaremos as vantagens desse conceito em detrimento das soluções de bridges atuais.
Mas antes, cabe uma contextualização das principais dores causadas pela falta de uma interoperabilidade universal e os problemas das soluções de bridges atuais. Algumas dessas soluções ficaram em evidência durante o ano de 2022, mas de forma negativa. Entre elas, podemos citar a Ronin Bridge, a Nomad Bridge e a Wormhole Bridge.
O que elas têm em comum? Todas sofreram hacks milionários. A empresa de análise Chainalysis publicou em agosto um relatório dizendo que somente em 2022 foram 13 casos de exploits em soluções de bridges, representando uma quantia US$ 2 bilhões de fundos drenados, que correspondem a 69% de todos os recursos roubados do ecossistema cripto no ano. Essa grande quantidade de recursos roubados é o resultado da fragilidade dessas soluções. Elas acabam concentrando grande quantidade de recursos em um único lugar e se tornando um grande incentivo a hackers buscarem vulnerabilidades em seus contratos, visto que é muito lucrativo. O último grande caso de exploit, da Nomad Bridge, foi tema de uma das edições do Morning Jog e pode ser conferido aqui.
Essa forma de interoperabilidade existente atualmente prejudica bastante protocolos (dapps) presentes em diferentes ecossistemas, além de não resolverem todos os problemas necessários. Entre as principais dores, tanto para desenvolvedores quanto para usuários estão:
Liquidez fragmentada
Falta de comunicação com suas versões em outros ecossistemas
Exemplo: Uniswap nas redes Ethereum, Arbitrum, Polygon
A liquidez entre os tokens e pools de liquidez não é a mesma, além dos contratos inteligentes em si não conversarem. Não existe um mecanismo para eles coordenarem tudo isso de forma integrada.
Fonte: https://defillama.com
Esse ponto é um problema e transmite uma grande ineficiência do mercado DeFi. O lado positivo é que novas soluções estão sendo desenvolvidas para que esse problema seja mitigado.
Essas novas soluções que pertencem ao setor de Layer 0 podem ser classificadas como Omnichains. Uma Omnichain pode ser definida como uma plataforma totalmente interoperável que oferece uma infraestrutura comum onde todas as blockchains possam interagir umas com as outras, permitindo a transferência de dados sem atrito. Apesar da semelhança com os sistemas XCM da Polkadot e IBC da Cosmos, essas novas soluções não são consideradas blockchains em si.
Apesar das principais soluções desse setor que estão em desenvolvimento: Chainlink CCIP, Polygon Avail e Stargate, da LayerZero estarem se construindo de formas diferentes, a finalidade das três é basicamente a mesma: atacar a questão da fragmentação de dados e oferecer um espaço compartilhado e neutro, em que as blockchains possam:
Compartilhar liquidez:
Elas oferecem um mecanismo de envio e recebimento de informações para que os recursos entre diferentes redes possam conversar entre si sem a necessidade de utilização de bridges e tokens sintéticos;
Compor contratos cross chain:
Elas atacam a questão da fragmentação de contratos de protocolos existentes em diferentes redes oferecendo mecanismos para que eles possam se comunicar diretamente.
Benefícios práticos que essa liquidez compartilhada pode trazer:
Swap de tokens de diferentes blockchains:
Um usuário poderá, por exemplo, fazer um swap de seus tokens ETH da rede Ethereum diretamente para tokens AVAX da rede Avalanche.
Isso pode ser feito utilizando a estrutura já existente das principais DEXes. A Uniswap possui pools de liquidez de ETH na rede Ethereum e pools de liquidez de AVAX da rede Avalanche. Com um sistema de envio de informações integrado às duas redes, a pool de AVAX da rede Avalanche pode liberar os tokens requisitados após receber uma mensagem de confirmação do depósito de ETH pelo usuário na rede de origem.
Atualmente, quem desejar fazer esse processo deve, além de utilizar uma solução de bridge e receber tokens sintéticos, fazer um swap posteriormente na rede de destino.
Outra opção seria através do P2P, porém dessa forma existem menos garantias de que tudo ocorrerá bem por não incluir garantias que contratos inteligentes fornecem.
Mercado de empréstimos com maior liquidez:
Um usuário poderá colocar ETH no protocolo Aave da rede Ethereum como colateral e pegar emprestado tokens USDC na Aave da rede da Arbitrum, visto que essas soluções permitem uma troca de informações entre elas, seguindo a mesma linha do exemplo de swap de tokens.
Na prática, isso permite que os usuários utilizem os saldos de suas carteiras em diferentes redes como se fossem uma só.
Benefícios práticos que esses contratos cross chain trazem:
Atualizações e votações de governança de um protocolo:
Atualmente, os dapps de diferentes redes não trocam informações entre si. Quando ocorre uma votação de governança na Uniswap ou qualquer outra DAO presente em mais de uma blockchain, ela precisa ser feita separadamente em todos os ecossistemas compatíveis.
Isso deve ser resolvido com esse sistema de envio e recebimento de mensagens entre diferentes redes, permitindo a criação de contratos inteligentes cross-chain. Assim, uma votação de governança de certo protocolo presente em mais de uma blockchain pode acontecer de forma integrada.
Da mesma forma, quando uma proposta é aprovada e o protocolo passa por uma atualização, no momento ela tem que ser realizada em cada um dos ecossistemas de forma separada. Esse ponto também deve ser resolvido através dessas novas soluções de envio e recebimento de informações.
Principais soluções do setor atualmente:
A Chainlink começou suas operações fornecendo uma estrutura de price feed (fornecendo a cotação em tempo real dos ativos) focada para o mercado DeFi e foi expandindo progressivamente suas funções. Implementou o conceito de random numbers muito utilizado para mintar NFTs de forma aleatória e agora está se expondo a esse sistema de mensageria multi-chain. O fato dela já estar inserida em praticamente todas as blockchains relevantes do mercado acaba se tornando um diferencial em relação a seus concorrentes, principalmente em relação a barreira das diferentes linguagens de programação existentes, que acaba sendo um limitador em um momento inicial.
A ideia é que ela seja útil a um protocolo que deseja se tornar multi-chain e atuar de forma integrada em diferentes ecossistemas. O protocolo em questão deve recorrer a essa função da Chainlink (que precisa estar disponível em diferentes redes), para que quando uma informação qualquer precisar ser enviada, o Chainlink CCIP possa executar seu recurso de envio e recebimento de mensagens.
Outro diferencial em relação às outras soluções do mercado é que ela possui uma camada de segurança com um sistema antifraude, como garantia extra de que não vão ocorrer casos de contratos desenvolvidos por agentes maliciosos tentando enviar mensagens para outras redes.
Apesar desse sistema ser parcialmente centralizado nas mãos de uma única solução, assim como as atuais soluções de pontes, a confiança fornecida pelos usuários à Chainlink não é em segurar seus tokens em um contrato, e sim em confiar que ela entregue corretamente as informações.
Essa solução deve ficar disponível ainda em 2022 segundo a equipe.
A Polygon hoje, além de sua sidechain PoS (mais conhecida), também está desenvolvendo outras blockchains. Entre elas, a Polygon Nightfall, a Polygon Hermez, a Polygon Miden e a Polygon Zero. Dessa forma, a Polygon Avail deve corresponder inicialmente a integração e comunicação dessas diferentes redes Polygon disponíveis funcionando com uma solução de registro histórico compartilhado das transações e informações. Assim, por exemplo, uma transação feita na Polygon Miden será registrada na Polygon Avail e a Polygon Nightfall poderá acessar essa informação e reagir a ela.
Apesar de em um primeiro momento a solução funcionar como uma aplicação nichada ao ecossistema Polygon, no seu roadmap é aberta a possibilidade de expandi-la a outros ecossistemas em um segundo momento.
A LayerZero possui a funcionalidade de envio e recebimento de tokens de uma blockchain a outra sem a utilização de pontes. Além disso, existe a possibilidade de se desenvolver aplicações em cima dela.
Uma dessas aplicações é a Stargate, focada em swap de tokens utilizando as já existentes pools de liquidez de corretoras descentralizadas.
A SushiSwap por exemplo, integrou a Stargate e se tornou uma DEX cross-chain. Agora é possível fazer swap de tokens de diferentes blockchains utilizando as pools de liquidez já existentes da SushiSwap nas redes em que ela está estabelecida, através desse sistema de mensageria integrado entre diferentes redes.
Ela possui inicialmente um foco em soluções EVM pela facilidade de compatibilidade. Porém, a ideia é se expandir para as demais blockchains futuramente.
Outro detalhe importante é a quantidade de VCs que investem na LayerZero. Entre eles, temos a16z, FTX Ventures, Sequoia Capital, Coinbase Ventures, Binance Labs e Multicoin Capital.
Como visto acima, existem algumas soluções sendo desenvolvidas, mas nenhuma delas está em fase final de operação. Não há como saber qual irá se sobressair em relação às demais, nem se serão completamente concorrentes ou até mesmo complementares em alguns casos.
Por hora, devemos acompanhar suas evoluções. Estamos no momento da construção dessa infraestrutura necessária, no momento de transformar os conceitos mencionados acima, que estão no campo das ideias e implementá-los na prática.
Por fim, o sucesso ou fracasso dessas soluções dependerá da adoção que terá dos usuários.
Momento de acumulação profunda e impactos do Merge na rede Ethereum
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual, se mantém em um patamar de “medo extremo” em 20 pontos. Ele vem em uma decrescente após ter atingido 42 pontos em um patamar de "medo" no mês passado. Antes disso, ele vinha se recuperando desde sua mínima do ano em junho, quando atingiu os 6 pontos.
Já o indicador MVRV (Market Value to Realized Value), que é utilizado para visualizarmos se as carteiras dos holders de bitcoin estão com lucros ou prejuízos e em qual intensidade, teve uma leve queda, colocando a média do valor gasto dos investidores de Bitcoin em prejuízo não realizado, em um múltiplo de 0,91.
O índice é medido pela capitalização do mercado atual, dividido pelo preço médio dos holders.
Múltiplo maior que 1: Os holders estão com lucro não realizado. Historicamente, valores superiores a 3,0 sinalizaram mercados em alta, superaquecidos.
Múltiplo diminuindo: Redução da lucratividade no sistema. Isso se deve tanto a uma queda dos preços (menor MV) quanto da redistribuição de moedas, pois os investidores obtêm lucros e vendem moedas adquiridas a preços mais baratos para novos compradores a preços mais altos (maior RV).
Múltiplo menor que 1: O preço de mercado está abaixo do preço médio de aquisição dos investidores. Isso é típico dos mercados de baixa em estágio final e é frequentemente associado à formação de fundo e acumulação.
Já a rede Ethereum passou com sucesso pela primeira semana operando sob o mecanismo de consenso Proof-of-Stake. Um dos pontos que se destacaram é a diferença entre a variação do intervalo médio dos blocos, que agora está nitidamente mais consistente. No gráfico a seguir, pode-se observar a Média e a Mediana de tempo entre cada bloco produzido na rede. A duração de 12 segundos ocorre com uma consistência infinitamente maior após a transição do mecanismo de consenso.
Um dos pontos mais importantes que o Merge impactou foi na política monetária de tokens ETH. Houve um grande corte da emissão de novos tokens, que quando combinado com o sistema de queimas implementado ainda em 2021 através da EIP 1559 tem potencial de tornar o token deflacionário.
O gráfico a seguir mostra um comparativo entre a oferta e queima de novos tokens a mercado dos dois mecanismos de consenso, Proof-of-Work e Proof-of-Stake, em caso da utilização de cada um deles desde o momento da implementação da EIP 1559 até os dias atuais.
O verde é a condição atual, onde até semana passada o mecanismo era PoW quando ocorreu a alteração para PoS;
A linha laranja corresponde ao cenário da emissão de tokens sob o mecanismo de consenso Proof-of-Work desde a implementação da EIP 1559 até o momento atual, assumindo que a atualização de semana passada não ocorreu;
A linha azul corresponde ao cenário da emissão de tokens sob o mecanismo de consenso Proof-of-Stake desde a implementação da EIP 1559 até o momento atual.
Houve uma redução drástica na quantidade de emissão, diminuindo de aproximadamente 12,5 mil ETH por dia para 772 ETH por dia. Apesar disso, no momento, a rede ainda é inflacionária. Vale lembrar que o que vai determinar o status inflacionário ou deflacionário é o nível de atividade da rede, o que implica em uma maior ou menor quantidade de tokens queimados.
Recomendações de leituras:
“10 truques psicológicos para investir” - Bankless
“As 8 melhores ferramentas de análise de blockchain” - Shrimpy Academy
“A importância de Stargate em LayerZero pra DeFi” - Escola Cripto
“É tudo sobre o dinheiro: simplificando os pagamentos transfronteiriços” - a16z
“Uma filosofia de design do Proof-of-Stake” - Vitalik Buterin
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 18.832,00 / 7D %: -4,32%
ETH - US$ 1.300,00 / 7D %: -9,28%
USD - 5,26 BRL / 7D %: +0,03%