O impacto do colapso da FTX no ecossistema DeFi da Solana
Edição de fechamento semanal - 17/12/2022
A Morning Jog possui uma novidade exclusiva para seus assinantes! Agora você pode conferir nossas edições diárias em formato de vídeo no nosso canal do YouTube. Lá, além das notícias, você tem os comentários dos nossos especialistas sobre os efeitos práticos desses eventos no mercado cripto. Confira nos canais do Morning Jog, do Resumo Cast e da Gutemberg Ventures.
A Binance está sendo investigada e possivelmente será processada nos Estados Unidos. Isso causou uma forte onda de saques da corretora, que bateu quase US$ 4 bilhões em retiradas somadas. A corretora também chegou a pausar os saques em USDC nas redes BNB Chain e Ethereum, os quais foram retomados horas depois. Esses são apenas alguns destaques da semana. Confira outros a seguir.
Sam Bankman-Fried (SBF), fundador da FTX, foi preso nas Bahamas;
Os dados da inflação americana (CPI) vieram melhores que o esperado e o mercado cripto reagiu bem;
O Paypal lançou sua integração com a Metamask;
O CEO do The Block renunciou após não ter relatado empréstimos feitos com a Alameda Research;
Caroline Ellison, ex-CEO da Alameda, contratou a ex-chefe da divisão de fiscalização da SEC, Stephanie Avakian, para representá-la na investigação da FTX.
A Tether reduzirá os empréstimos de seus dólares a zero em 2023.
A Tether ajudou a Binance a movimentar US$ 3 bilhões em USDT da rede Tron para a Ethereum.
O Banco Central do Brasil (BCB) concedeu uma licença de instituição de pagamentos para a corretora Crypto.com.
O Euro digital entrou na lista de prioridades da União Europeia (UE).
A Coinbase lançou uma nova ferramenta de recuperação de ativos não suportados pela corretora.
O governo das Bahamas supostamente pediu para Sam Bankman-Fried (SBF) mintar novos tokens no valor de “centenas de milhões de dólares” e transferi-los para o controle das autoridades da ilha.
A Yuga Labs está enfrentando uma ação coletiva por supostamente usar celebridades para promover e vender NFTs.
O navegador Opera lançou um conjunto de ferramentas de segurança para proteger usuários contra agentes maliciosos na Web3.
A comissão responsável por contratos futuros de commodities nos Estados Unidos (CFTC), manifestou que o Bitcoin, a Ethereum e o Tether devem ser compreendidos como commodities
Mais de 5 milhões de avatares NFTs foram criados por usuários do Reddit.
Decentraland liberou o aluguel de terrenos (NFTs) na plataforma.
Donald Trump anunciou sua própria coleção de NFTs
A China prendeu 63 membros de uma gangue por lavagem de US$ 1,7 bilhão através de cripto.
O Canadá proibiu seus cidadãos de se alavancarem em cripto.
A Alemanha pediu regulamentação global da indústria cripto.
O Bitcoin Group deve adquirir o banco mais antigo da Alemanha por US$ 15 milhões.
A FTX Japão anunciou que reembolsará todos seus clientes nas próximas semanas.
As consequências dos recentes acontecimentos envolvendo a FTX e Alameda Research não se limitaram apenas às próprias empresas. Uma vasta quantidade de investimentos realizados por eles foram ou ainda poderão gerar um efeito cascata, levando a liquidação das posições para que os clientes da corretora sejam ressarcidos, principalmente agora com a entrada do pedido de falência da FTX nos Estados Unidos. A Solana foi a blockchain que mais sofreu com o risco sistêmico das empresas de Sam Bakman-Fried (SBF), as quais investiram pesado em muitos componentes do seu ecossistema em rodadas iniciais de captação de recursos. Isso envolve o token SOL e tokens de diversos outros projetos, entre eles, da maior DEX da rede, a Serum (SRM). Nesta edição da Morning Jog, vamos tratar sobre quais foram os impactos desses eventos no ecossistema DeFi da Solana até agora.
O panorama atual da rede
Os impactos no ecossistema ficam claros quando observamos três métricas: a capitalização de mercado do token SOL, o Total Value Locked (TVL) em DeFi na rede e o volume de negociações.
O token SOL saiu do top 10 de maiores capitalizações de mercado e atualmente figura em 15º lugar. A queda de preço entre os dias 6 e 9 de novembro foi de cerca de 66%.
O TVL, segundo o DefiLlama, foi de US$ 1,23 bilhão do dia 7 de novembro para US$ 430 milhões dia 14 de novembro, e atualmente o mesmo marca o valor de US$ 332 milhões. Isso representa uma queda de 65% em uma semana e 73% até o momento.
O volume de negociações também foi afetado. A média diária dos três meses anteriores (setembro, outubro e novembro) foi de US$ 66 milhões. Já no mês de dezembro, a média diária dos 11 primeiros dias não passou de US$ 16 milhões negociados.
Isso é interessante pois o ecossistema da Solana vinha amadurecendo e se estabilizando durante o terceiro trimestre de 2022, segundo o relatório "State of Solana Q3 2022" da Messari. Sabemos que esses impactos se deram pela influência das empresas de SBF no ecossistema Solana, mas como exatamente se deu essa influência? É isso que veremos a seguir.
O dinheiro infinito de Sam Bankman-Fried
Para começar, devemos entender a estratégia que SBF utilizou através de suas empresas para se alavancar e conseguir "dinheiro infinito" através de seu próprio token, o FTT. Basicamente a estratégia consistia em seis passos:
Criar o token FTT;
Definir um supply total, colocar um terço em circulação e pegar dois terços para si;
Promove-lo com airdrops, anúncios de queimas regulares de tokens e propagandas para que o mesmo se valorizasse a mercado;
Utilizar esses dois terços que estão fora de circulação como colateral para pegar empréstimos em tokens mais sólidos, como ETH e USDC;
Utilizar esses empréstimos para investir em projetos interessantes, como SOL e SRM.
Colocar esses investimentos em projetos interessantes como colateral e pegar mais empréstimos em ETH e USDC, para investir em outros novos projetos e repetir esse processo infinitamente.
O problema disso foi o momento em que o token FTT perdeu grande parte de seu valor. Com isso, os empréstimos pegos colocando tokens FTT como colateral agora não possuem mais garantia de que serão pagos. Posto isso, podemos entrar nos investimentos de SBF no ecossistema da Solana.
A Serum DEX
Como mencionado anteriormente, a Serum fazia parte e na verdade era um componente bastante importante do sistema de dinheiro infinito de Sam Bankman-Fried. Mas o que é a Serum?
A Serum foi fundada em 2020 por um consórcio que incluía além da Fundação Solana, a FTX e a Alameda Research. Ela está por trás dos principais protocolos DeFi da Solana, como a Raydium, a Mango Markets, o Jupiter Aggregator, entre outros. Seu mecanismo permite a integração da liquidez desses diversos protocolos em um único lugar. Seu livro de ordens foi fundamental para o crescimento do ecossistema DeFi da Solana como um todo.
Durante o auge da crise, em 12 de novembro, o analista da CoinMetrics Lucas Nuzzi revelou em uma thread publicada em seu perfil no Twitter que foram emitidas quantidades absurdas de SRM em duas ocasiões durante 2022. Foram mintados 50 milhões de tokens SRM em 19 de fevereiro (US$ 108 milhões na época) e mais 50 milhões em 25 de maio US$ 56 milhões na época). Essas emissões representaram um aumento de 60% da oferta total de tokens e não foram previamente divulgadas. Isso acendeu mais alertas sobre a descentralização do protocolo.
Fonte: Coinmetrics
A Alameda havia avaliado suas posições em tokens SRM em US$ 2,2 bilhões em seu balanço patrimonial, porém a capitalização de mercado do token na época não passava dos US$ 100 milhões (atualmente é de US$ 56 milhões). Isso significava que as posições da Alameda eram no mínimo 22 vezes maior que toda a capitalização de mercado do ativo. Esses US$ 2,2 bilhões em tokens SRM valeriam bem menos caso postos à venda no mercado.
Os documentos judiciais do processo de falência da corretora mostraram que na verdade suas reservas continham US$ 5,4 bilhões em tokens SRM. Esse montante representa incríveis 97% da oferta total de tokens, sendo que apenas os outros 3% compunham a capitalização de mercado do ativo.
Capitalização de mercado e supply circulante do token SRM
Fonte: CoinMarketCap
Uma das maiores preocupações dos usuários que utilizam a Serum ou protocolos DeFi ligados a ele foi que as duas emissões de 50 milhões de tokens SRM foram iniciadas pelo dono do contrato SRM ERC-20, que possui o poder de mintar novos tokens a qualquer momento a partir da chave de admin. O cofundador da Mango Markets, Maximilian Schneider, relatou que a chave de atualização do protocolo que era para ser controlada pela SRM DAO, mas na verdade estava ligada a uma chave privada pertencente a FTX. Como a relação entre o protocolo e a FTX era bem próxima, isso levantou mais um FUD, agora sobre a descentralização da Serum. Além disso, com a movimentação dos fundos restantes da corretora em 11 de novembro em um suposto hack, essas chaves poderiam ter sido comprometidas e estarem agora nas mãos das pessoas ligadas ao hack. Nesse mesmo dia, protocolos DeFi da Solana como Jupiter e Raydium começaram a cortar suas relações com a Serum.
Como resposta a tudo isso, os desenvolvedores da Solana e pessoas influentes ligadas aos principais protocolos DeFi se uniram para lançar o OpenBook, um fork do protocolo com o objetivo de manter todas as suas propriedades, porém dessa vez sem vínculos com as empresas de Sam Bankman-Fried.
O OpenBook foi lançado dia 14 de novembro e já se integrou com protocolos como Jupiter e Raydium. Atualmente, ele possui US$ 2,1 milhões em TVL e um volume de negociação nas últimas 24 horas de US$ 1,1 milhão. Apesar da Serum "oficial" possuir atualmente uma quantia de US$ 22 milhões em TVL, seu volume diário registrou uma movimentação de apenas US$ 25 mil.
Os danos não se limitaram a isso
Podemos destacar outros três grandes golpes causados pelas empresas de SBF no ecossistema DeFi da Solana:
Os Wrapped Bitcoins na rede. O preço dos soBTC despencaram para cerca de US$ 2 mil assim que a FTX colapsou, pois a mesma era a emissora dos tokens sintéticos e era quem mantinha a reserva do lastro em BTC verdadeiros. Isso acabou gerando grandes prejuízos aos investidores e provedores de liquidez do ativo e impactando o TVL da rede, visto que com a insolvência da FTX, os mesmos agora deixaram de ter a garantia de 1:1 com o BTC. Atualmente, o soBTC é cotado em cerca de US$ 1 mil.
A Tether. Em 18 de novembro, houve um anúncio da empresa sobre a transferência de US$ 1 bilhão em USDT da rede Solana para a rede Ethereum. O valor representa mais da metade do total de USDT na rede e configura outro forte golpe no ecossistema DeFi da Solana, afetando diretamente seu TVL e liquidez de seus protocolos.
Tokens travados com a FTX em vesting. Ainda há uma grande quantidade de tokens SOL travados em vesting (cronograma de liberação de tokens ilíquidos a mercado), os quais serão liberados gradualmente até janeiro de 2028. Isso poderá gerar uma forte pressão de venda do ativo conforme os desbloqueios forem acontecendo pela necessidade de recebimento dos recursos para pagar os clientes lesados da corretora.
Todos esses pontos mencionados acima contribuíram para uma forte crise de credibilidade da Solana. Se por um lado o impacto causado foi grande e abalou o conjunto como um todo e não apenas pontos em específico de seu ecossistema DeFi, ele também representa uma oportunidade da comunidade reconstruí-la de forma descentralizada. O lançamento do OpenBook mostra a resiliência dos builders de seu ecossistema, que buscam implementar soluções voltadas aos usuários pensando no longo prazo. A reconstrução de tudo que foi destruído deve demorar algum tempo. Só nos resta agora seguir acompanhando se as medidas tomadas serão suficientes para que a Solana prospere.
Análise On-Chain
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual está em 29 pontos, representado pelo sentimento de “medo”. O indicador vem apresentando uma leve recuperação desde a queda acentuada no dia 06 de novembro, quando estava em 40 pontos e caiu para os 22 pontos no dia 10 de novembro.
Desde os eventos envolvendo a FTX na primeira metade de novembro, o mercado cripto está pouco volátil. A volatilidade de curto prazo do bitcoin atingiu atualmente suas mínimas desde outubro de 2020.
Fonte: Glassnode
Outra métrica interessante é que atingimos o maior nível de bitcoins que não se movimentam a pelo menos um ano. Mesmo com o cenário pouco favorável em 2022, cerca de 66% de todos os bitcoins existentes não foram movimentados nos últimos 365 dias. Quanto maior essa porcentagem, maior a chance do mercado estar formando um fundo.
Fonte: Glassnode
Recomendações de leituras:
“Why Nobody Really Uses Web3… Yet” - Chainlink
“What in the Ethereum application ecosystem excites me” - Vitalik Buterin
“Guia prático de análise on-chain” - Blocktrends
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 16.816,00 / 7D %: -1,78%
ETH - US$ 1.196,00 / 7D %: -5,78%
USD - 5,28 BRL / 7D %: +0,64%
Cotação atualizada em: 16/12/2022 as 15:15
SOMOS A VIDEN!
O futuro descentralizado chegou. Somos uma empresa de Venture Capital e Research brasileira focada em teses nativas de Web3. Estamos de olho em como a tecnologia blockchain reimagina maneiras pelas quais o “capital” pode ser transmitido e o “valor” cultivado. Na Viden Ventures, acreditamos que os criptoativos representam uma mudança de paradigma na relação como humanos e dispositivos se organizam, colaboram e consomem. Nossa crença no futuro descentralizado nos torna mais que investidores, mas parceiros na construção das empresas que integram nosso portfólio.
Fale conosco se sua empresa deseja saber mais sobre como usar Web3 estrategicamente em seus negócios.