Acessando a Web3 pelo Telegram: conheça a rede TON
Edição #641 - Fechamento semanal - 13 de julho de 2024
A blockchain TON, integrada ao aplicativo de mensagens Telegram, foi um dos ecossistemas que mais cresceram durante o primeiro semestre de 2024. Alguns eventos chave, como a existência de uma wallet cripto integrada no aplicativo de mensagens, o início da distribuição de receitas de anúncios para os proprietários de canais e a integração dos MiniApps catalisaram significativamente seu crescimento e atualmente, a rede TON ocupa a 11ª posição entre os maiores ecossistemas do mercado cripto em termos de valor travado (TVL). Nesta edição de fechamento semanal da Morning Jog, mergulharemos no seu ecossistema passando por pontos como o surgimento da rede, sua infraestrutura, os destaques atuais, as principais métricas de crescimento e detalhes do seu token.
A história por trás da TON
A TON, abreviação de The Open Network, surgiu em 2018 quando o Telegram buscava uma blockchain para integrar ao seu aplicativo e ao invés de utilizar uma solução existente, decidiu criar a sua própria rede. No entanto, em 2020, o Telegram se desvinculou oficialmente da TON devido a um processo sofrido pela SEC dos EUA, que alegava que o Initial Coin Offering (ICO) do projeto configurava venda de títulos de valores mobiliários não regulados. Como resultado, o Telegram teve que devolver US$ 1,7 bilhões que tinham sido levantados e parar de desenvolver a blockchain de forma direta. Além disso, precisou pagar uma multa de mais de US$ 18 milhões.
Foi neste momento que outros desenvolvedores assumiram a continuidade do projeto, levando adiante a ideia original. Como seu código é aberto e disponibilizado no Github, não houve problemas em relação a isso.
Posteriormente, já em 2023, o Telegram anunciou sua integração com a TON, realinhando o objetivo de estabelece-la como o principal meio de pagamento do aplicativo de mensagens. Mas desta vez, a TON atuaria como um parceiro externo e independente para evitar novos problemas regulatórios.
Como funciona a infraestrutura da blockchain
A TON é, na verdade, um ecossistema que conta com, além da TON blockchain, um sistema de domínios web (DNS) e uma solução de armazenamento de dados. Ela funciona como uma rede Proof-of-Stake (PoS) que possui sua própria máquina virtual, sua própria linguagem de programação e funciona com base em um mecanismo de shardings em diferentes camadas, o que possibilita a execução de transações de forma paralela e em alta frequência.
Em uma estrutura altamente dinâmica, suas "workchains" podem ser personalizadas conforme necessidades específicas e suas "shardchains" são divididas e agrupadas de acordo com a demanda por registro de transações. No atual momento, apenas uma workchain está em operação.
A seguir, podemos observar sua estrutura geral:
Mecanismo de shardings da TON
Fonte: Messari
O que tem de interessante lá dentro?
A TON é uma blockchain como outra qualquer e os usuários podem interagir com ela através de wallets compatíveis com a rede. O Telegram possui uma wallet integrada em seu aplicativo, chamada apenas de "wallet", que oferece tanto uma opção custodial quanto a opção de auto-custódia. A primeira opção abstrai a complexidade de se ter uma wallet cripto, como o risco de autocustódia, e portanto é voltada a usuários menos experientes. Já a segunda é uma carteira criptonativa, onde o usuário detém o controle total de seus recursos.
Ambas destravam um mercado P2P enorme, visto que são vinculadas às contas dos 900 milhões de usuários ativos mensais do Telegram. Elas garantem uma experiência mais parecida com enviar dinheiro a alguém pelo WeChat do que pela Metamask, criando um ambiente em que as transferências de criptomoedas não parecem transferências de criptomoedas.
Existem também outras opções de wallets disponíveis através de extensões de navegador e aplicativos mobile. A mais popular é a Tonkeeper. Elas são uma boa alternativa para o usuário que já está mais acostumado com outras wallets Web3.
Além disso, existe uma variedade de aplicações em DeFi como DEXes, plataformas de lending, staking, bridges e, principalmente, jogos.
A maioria dessas aplicações são integradas ao próprio aplicativo de mensagens em forma de "MiniApps", estrutura que permite o aproveitamento da base de usuários do Telegram para disponibilização das suas próprias soluções. O usuário não precisa acessar um link externo ou mudar de aplicativo para realizar interações, visto que as aplicações abrem em forma de um pop up no próprio aplicativo. Essa dinâmica foi inspirada no aplicativo chinês de mensagens WeChat, onde se provou ser uma excelente forma de atração e retenção de novos usuários.
Outras aplicações que chamam a atenção incluem a TokenStore, um site de compra de gift cards em cripto. Opções de cartões pré-pagos da Uber, Airbnb, Playstation Store e Amazon são alguns dos exemplos do que pode ser adquirido. Também temos a TonMobile, para a compra de planos de internet, Ton VPN e Ton Dating, um aplicativo de namoro. Em soluções como a Tonkeeper wallet ou o site ton.app é possível conferir todas as opções disponíveis.
Ecossistema TON
Fonte: Delphi Digital
Recentemente, foi anunciado que o ecossistema TON também contará com a TON Applications Chain (TAC), uma rede de segunda camada da Ethereum construída através do kit de desenvolvimento da Polygon (CDK) e integrada à AggLayer. Essa estrutura permitirá que desenvolvedores da Ethereum e de outras redes EVM tenham acesso a base de usuários do Telegram e, por outro lado, o ecossistema TON receba uma maior variedade de soluções integradas, potencializando seu crescimento.
Tração do projeto
O maior diferencial da TON é a sua integração com o Telegram, que agora é o maior canal de distribuição de aplicações Web3 do mundo.
Mesmo antes da integração, o aplicativo de mensagens já possuía uma variedade de bots de negociação de criptomoedas para outras blockchains, como o Unibot, que somados movimentam até hoje mais de US$ 100 milhões em volume médio diário.
Agora com a criação de carteiras cripto de forma nativa, o onboarding de novos usuários a Web3 é ainda mais facilitado e se diferencia de outros ecossistemas que precisam trazer usuários externos. Esse impulsionador, somado aos incentivos de rentabilidade fornecido pela TON Foundation posicionou a rede atualmente como a 11ª maior do mercado com mais de US$ 1 bilhão de TVL, à frente de redes como OP Mainnet, Scroll, Aptos e Mantle. Seu crescimento foi de mais de 1.300% em 2024.
Valor travado (TVL) da rede (US$)
Fonte: Defillama
Outro ponto relevante é a quantidade de endereços ativos na rede, que também saltou significativamente, alcançando uma média diária de 317 mil endereços neste início de julho. O crescimento representa mais de 1.000% em relação ao mês de janeiro e a rede já ultrapassou a Ethereum nesse quesito.
Endereços ativos diários
Fonte: Artemis
Alguns dos MiniApps mais famosos, que inclusive foram os catalisadores de crescimento do ecossistema, incluem jogos "tap to earn". Neles, os usuários precisam realizar cliques massivos na tela do dispositivo para subir de nível e ganhar recompensas.
O que ditou essa tendência foi o game Notcoin, que atingiu mais de 40 milhões de usuários em questão de semanas. Após seu TGE e airdrop, mais de 2,5 milhões de endereços possuíam o token em carteira, configurando uma das memecoins com a maior quantidade de holders do mercado. Ela foi a primeira moeda do ecossistema a ser listada na Binance e na OKX e atualmente possui uma capitalização de mercado de mais de US$ 1 bilhão.
Em seguida, o que se destacou foi o jogo Hamster Kombat. Seu sucesso foi tanto que se tornou o terceiro aplicativo mais rápido da história a atingir a marca de 150 milhões de usuários. Atualmente, com mais de 200 milhões de usuários, o jogo é um dos mais jogados dentre os principais do mundo. Com a previsão de lançamento do token nas próximas semanas, o mesmo tem potencial de ultrapassar o token NOT e se tornar o maior do ecossistema TON.
Quantidade de downloads dos jogos vs quantidade de usuários no Hamster Kombat
Fonte: Messari
Vale ressaltar que a maioria dos jogadores desses jogos não realizam de fato transações on-chain. Porém, eles são uma forma de expor o usuário médio a Web3 com a criação de uma wallet e o recebimento de tokens via airdrops e outras dinâmicas. Além disso, jogos como o SquidTG e Catizen apresentam uma alta taxa de conversão do jogador para o universo on-chain.
Token TON
Toncoin, o token nativo da blockchain TON, valorizou mais de três vezes em 2024 e já está no top 10 de ativos com maior capitalização de mercado, com US$ 18 bilhões. O token possui uma oferta total de 5,1 bilhões de tokens, com 2,5 bilhões em circulação (cerca de 50%). Suas principais atribuições incluem:
Pagamento de taxas de transação da rede TON;
Staking;
Poder de voto na governança do projeto;
Uma das maiores preocupações em torno do token é a alta concentração do supply em poucas carteiras. Mais de 90% do total está concentrado com as cem maiores carteiras e mais de 50% nas cinco maiores.
Concentração de supply de tokens TON
Fonte: Delphi Digital
O potencial é grande
Em menos de um ano após a integração da rede TON ao aplicativo de mensagens, os resultados obtidos são significativos. Cases de jogos como Notcoin e Hamster Kombat são a prova de que o modelo de MiniApps pode e deve ser o principal catalisador de crescimento da rede no longo prazo.
Ao contrário das outras infras do mercado cripto, os usuários provavelmente não deixarão de usar o Telegram após o hype de determinada aplicação ou outra. Devemos dar a devida atenção a esse ecossistema uma vez que tem potencial de se tornar a principal blockchain "mobile-first" do universo cripto, impulsionada pelas carteiras nativas do Telegram, pagamentos P2P e MiniApps.
As notícias mais importantes da semana
O Banco Central da Rússia está incentivando empresas a usarem criptomoedas e ativos digitais para driblar as sanções impostas pelo ocidente;
A corretora de derivativos BitMEX lançou um índice que oferece aos traders exposição as 10 principais memecoins do mercado;
A Symbiotic atingiu US$ 1 bilhão de depósitos em menos de um mês do seu lançamento;
A corretora Mt. Gox começou a devolver os Bitcoins dos seus credores, encerrando uma espera de quase 10 anos;
A Carteira de Identidade Nacional (CIN), utilizando a blockchain Hyperledger Fabric, já é usada por quase 8 milhões de brasileiros e foi premiada como o melhor novo cartão de identificação nacional da América Latina;
O governo alemão continua transferindo volumes significativos de Bitcoin para diversas corretoras e market makers como parte de uma estratégia de venda desses ativos;
A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil (BB), em consórcios separados dentro do projeto piloto do Drex, estão desenvolvendo soluções de pagamentos offline;
O fundo tokenizado da BlackRock, USD Institutional Digital Liquidity (BUIDL), ultrapassou a marca de US$ 500 milhões de valor de mercado, tornando-se o maior fundo tokenizado em blockchain;
O Banco Central de Taiwan avançou no desenvolvimento de uma moeda digital centralizada (CBDC) ao construir uma plataforma protótipo e planejar audiências para o próximo ano;
A blockchain TON, integrada ao Telegram, lançará uma nova rede de segunda camada chamada TON Applications Chain (TAC) em parceria com a Polygon.
TON tem mais endereços ativos que a Ethereum
A principal métrica que deve ser levada em conta para a blockchain TON é a quantidade de endereços ativos. Nesse quesito, os resultados são expressivos, uma vez que em menos de um ano a rede já ultrapassou a Ethereum.
Endereços ativos diários
Fonte: Delphi Digital
Links recomendados
“A TON of Gaming Hype” - Delphi Digital
“Valocracia: um novo conceito de organização humana na Web3” - Morning jog
“Dominando DeFi com o DefiLlama” - Morning Jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 57.926,00 / 7D %: + 4,40%
ETH - US$ 3.121,00 / 7D %: + 5,79%
USD - 5,45 BRL / 7D %: - 0,95%
Cotação atualizada em: 12/07/2024 às 11:45
Sobre o Morning Jog
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