As próximas narrativas do mercado DeFi
Edição #410 - Fechamento semanal - 14 de outubro de 2023
O mercado DeFi vem se desenvolvendo em um ritmo acelerado. O setor que começou a ter tração em 2020, com a prática de liquidity mining (emissão de tokens de governança em forma de recompensas adicionais), amadureceu bastante e agora não depende mais desse tipo de incentivo artificial para reter uma base de usuários ativa, mesmo diante de um bear market, como o atual.
Hoje já é muito mais tangível o valor que os protocolos do setor trazem aos usuários. A ascensão de narrativas como a de protocolos voltados a tokens de staking líquido (LSDfi) e protocolos que permitem a integração de ativos do mundo real tokenizados (RWA) estão expandindo o setor e elevando as finanças descentralizadas para seu próximo nível de maturação.
Mas essas narrativas por si só são apenas parte desse processo de consolidação. Apesar de ser fundamental reconhecer os avanços dos últimos anos, também é importante compreender que o setor ainda é limitado atualmente, principalmente quando o comparamos com o mercado financeiro tradicional. Essa é a próxima barreira a ser quebrada.
Para entender melhor este ponto, podemos mencionar dois subsetores: o mercado de opções e o mercado de empréstimos on-chain. Nesta edição de fechamento semanal da Morning Jog, vamos passar pelo estado atual de cada um deles e de como o mercado está se encaminhando para se tornarem mais eficientes no futuro.
O mercado de opções on-chain
O mercado de opções on-chain ainda é insignificante em comparação ao mercado spot, representando apenas 3% de seu total. Essa afirmação já não é válida quando nos referimos ao mercado financeiro tradicional americano, onde o mercado de opções é 1,5x maior que o mercado spot.
Mercados spot e de opções: TradFi vs DeFi
Essa informação por si só já indica o potencial de crescimento que existe para os próximos anos. O mercado on chain de opções pode se beneficiar tanto pelo aumento de representatividade perante o volume total negociado quanto pelo próprio crescimento do setor como um todo.
O principal problema é que esse tipo de operação necessita de um alto volume e liquidez para ocorrer de forma sólida e funcional. Por outro lado, os protocolos que temos hoje possuem um baixo valor travado (TVL), fora o problema sistêmico da fragmentação de liquidez que existe entre os diferentes protocolos e blockchains. Os dois maiores protocolos do setor, a Lyra Finance e a Opyn, possuem ambos US$ 13 milhões de TVL divididos em três blockchains, segundo o Defillama. É por conta desses e de outros problemas que a principal solução de opções voltadas a criptoativos e tokens é uma plataforma centralizada (Deribit).
Em contramão a isso, é possível atacar esse problema utilizando a Uniswap como infraestrutura e fonte de liquidez, tornando possível a utilização de suas pools para montar estratégias de opções. Ainda existem outras vantagens nisso, como a maior variedade de tokens disponíveis para as operações e a possibilidade da execução de outros tipos de operações do mercado de derivativos.
Esse conceito já foi até classificado por alguns analistas como uma nova narrativa do mercado, o setor de LPDfi (derivativos de provedores de liquidez). Vale ressaltar que a Uniswap é uma das principais beneficiadas dessa narrativa.
Protocolos como o Panoptic seguem essa linha.
O mercado de empréstimos on-chain
A principal limitação referente ao mercado de empréstimos on-chain é a necessidade da existência de um colateral de maior valor do que o empréstimo tomado, os chamados empréstimos sob-colateralizados. Em um protocolo como a Aave, se um usuário colocar US$ 100 dólares em ETH como colateral, ele conseguirá retirar, no máximo, algo próximo a US$ 75 dólares em USDC.
Isso ocorre por razões óbvias. Diferentemente do mercado financeiro tradicional, as operações de empréstimo do mercado DeFi não dependem da iniciativa do devedor para pagar sua dívida. Mesmo que não seja possível obrigá-lo a pagar o empréstimo, sempre existirá uma garantia, de valor maior do que o empréstimo tomado, capaz de ser liquidada a qualquer momento caso necessário.
A sacada aqui é que, mesmo sendo óbvio, isso só é válido porque os recursos solicitados pelo devedor são liberados diretamente em sua carteira particular. Se ao invés disso, o colateral e o empréstimo tomado forem agrupados e enviados a uma novo contrato recém criado, controlado inteiramente pela carteira do tomador do empréstimo, isso proporcionaria a montagem de um mecanismo semelhante a uma Margin Account (conta que o usuário usa para se alavancar em corretoras).
Trazendo um exemplo prático da situação:
Um usuário se alavanca 4 vezes, colocando US$ 200 dólares em colateral e solicitando US$ 800 dólares emprestado;
Para que ele não pegue esses US$ 800, saque e nunca mais pague, os recursos são enviados, junto com o colateral de US$ 200, para um contrato recém criado que tem como único dono a carteira do tomador do empréstimo;
Desse modo, a posição alavancada de empréstimo é utilizada em estratégias no mercado DeFi, como:
Posições de Long e Short com alavancagem de 4 vezes;
Provimento de liquidez para um par de ativos e recebendo taxas que incidem sobre o capital alavancado total;
Comprar tokens de staking líquido, como o stETH ou títulos do tesouro tokenizados e receber seu rendimento baseado em seu capital alavancado total;
*Para exemplificar o resultado dessa estratégia, se o staking de ETH paga 5% ao ano e o usuário faz a operação alavancado 4x, é como se ele estivesse recebendo uma recompensa de 20% ao ano sobre seu capital inicial.
Ao mesmo tempo em que o usuário mantém a auto-custódia de seus ativos e escolhe suas próprias estratégias no mercado DeFi, o novo contrato criado tem mecanismos de segurança, como a autonomia para liquidar a posição caso a operação realizada com os recursos desvalorize 25% (os US$ 200 dólares referentes ao colateral). A lógica é a mesma de um contrato perpétuo alavancado.
Por outro lado, é importante ressaltar que a alavancagem pode gerar mais volatilidade aos mercados e em níveis extremos, grandes ondas de liquidações e uma crise de liquidez.
Projetos como o Blueberry Protocol e o Delta Prime seguem essa linha.
As dez notícias mais importantes da semana
A CPI das pirâmides financeiras foi concluída e pediu o indiciamento de 45 pessoas ligadas a 13 empresas;
O desenvolvedor Robin Linus propôs a BitVM, uma nova forma de implantar contratos inteligentes off-chain na rede do Bitcoin sem a necessidade da execução de um soft fork da rede;
A Binance congelou contas de criptomoedas ligadas ao Hamas a pedido de Israel;
A Backed, um protocolo que tokeniza ativos financeiros do mundo real, emitiu títulos do tesouro americano tokenizados na blockchain da Base;
Uma proposta na MakerDAO propõe incluir urânio tokenizado como ativo colateral para a stablecoin DAI;
A Solana começou a suportar nativamente transações privadas após sua última atualização;
A ImmutableX se juntou ao programa ISV Accelerate da Amazon Web Services para desenvolver soluções de infraestrutura de jogos na blockchain;
Gary Wang, co-fundador da FTX, disse que o saldo do fundo de seguros da corretora era resultado de uma fórmula baseada em números aleatórios e em volume diário de negociação, em vez da quantidade real de fundos disponíveis;
A Yuga Labs anunciou uma reestruturação e demissões de funcionários.
A dominância das DEXes e plataformas de Lending
As duas maiores categorias do mercado DeFi correspondem às corretoras descentralizadas (transações referentes ao mercado spot) e as plataformas de empréstimos. Mesmo com um largo histórico de dominância dos dois setores, no segundo semestre as plataformas de empréstimo tiveram uma estabilidade maior em termos de TVL, enquanto as corretoras descentralizadas sofreram com uma redução dessa métrica. Com isso, houve uma inversão entre elas e o setor de empréstimos passou a representar uma quantia maior em TVL.
Já as outras categorias selecionadas, representam uma quantia pouco significativa do mercado. Destaque para os RWA, que tiveram um crescimento de mais de 18 vezes desde o início do ano.
TVL de categorias do setor DeFi
Aave e Compound dominam o setor de empréstimos na Ethereum
A rede Ethereum possui aproximadamente US$ 9 bilhões travados em protocolos de empréstimo, sendo a Aave e a Compound os dois principais players. No último bull market, mesmo com nenhum dos pontos mencionados acima desenvolvidos, o setor atingiu um total de US$ 40 bilhões travados.
Valor Total Travado (TVL) em protocolos de empréstimo da Ethereum
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Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 26.894,00 / 7D %: -2,35%
ETH - US$ 1.550,00 / 7D %: -4,63%
USD - 5,05 BRL / 7D %: -2,14%
Cotação atualizada em: 13/10/2023 às 10:00
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