Criptomoedas são a próxima etapa no ciclo de inovação tecnológica
Edição #404 - Fechamento semanal - 07 de outubro de 2023
As criptomoedas são atualmente vinculadas à extrema volatilidade gerada pela especulação desenfreada dos participantes do mercado. Isso acaba sendo responsável pela imagem negativa que este ativo possui por parte da sociedade e acaba dificultando a compreensão de que criptoativos e as tecnologia subjacentes a esse ativo, como a blockchain, são apenas um passo a mais na história da evolução da tecnologia da informação.
Nesta edição de fechamento semanal da Morning Jog, nós falaremos um pouco sobre nossa tese de investimentos aqui na viden.vc. Faremos um retrospecto dos ciclos de inovações tecnológicas passados com o objetivo de encontrar padrões capazes de nos guiar para a próxima etapa de inovação, a qual já se iniciou.
Do computador até a blockchain: uma história
A invenção do transistor em 1947 inaugurou um ciclo de descobertas tecnológicas. O transistor substituiu as antigas válvulas eletrônicas, sendo muito menor e consumindo menos energia. Isso possibilitou que empresas vendessem computadores em larga escala. Em 1953, surgiu o IBM 701, primeiro computador científico comercial da história. No ano seguinte, foi lançado o IBM 650, primeiro computador da história a ser produzido em massa. A substituição dos caros tubos de vácuos por interruptores menores, mais baratos e mais confiáveis, fez o setor de computadores se desenvolver e se consolidar em torno da International Business Machines Corporation (IBM). Mesmo assim, esses computadores eram caros, não acessíveis para o consumidor final e exigiam um alto custo de personalização para usos específicos. Ou seja, embora os computadores tenham se tornado algo passível de comercialização, sua entrega seguia um modo dificilmente replicado, o que dificultava sua disseminação.
A IBM prosperou sozinha, de forma quase onipresente, no setor até a década de 1970, quando emergiu uma nova tecnologia: o microprocessador. Essa nova tecnologia, compartilhada por inúmeros players do mercado, foi responsável por reduzir drasticamente o custo de produção de computadores, diminuindo o tamanho dos sistemas de CPU (Central Processing Unit), até então caros e personalizados, para um pequeno e único processador, que era mais simples de produzir em massa. O resultado foi o surgimento de novas empresas que se aproveitaram da nova tecnologia para competir com a IBM. Desse embate, nas décadas seguintes, surgiram inovações como o minicomputador, o PC, os laptops, os telefones celulares, entre outros dispositivos.
As inovações tecnológicas do computador e dos sistemas de CPU fizeram com que a camada de hardware ficasse mais descentralizada e, por sua vez, os preços aos consumidores fossem mais competitivos. Assim, empresas que buscassem fatias maiores do mercado, precisavam comprimir suas margens de lucro e diminuir o preço final. Como ocorreu com os transistores, a padronização em torno do microprocessador reduziu o custo de construção de computadores, eliminando a necessidade de fabricar sistemas de processamento sob medida para cada novo caso de uso. Essa inovação fez com que o setor de software passasse a ser a próxima camada lucrativa a ser explorada.
Computadores mais baratos atraíram mais usuários, o que criou uma demanda por serviços de software. O primeiro software essencial foi um sistema operacional que pudesse ser compartilhado entre diferentes máquinas. Foi aqui que a Microsoft aproveitou a oportunidade e criou um sistema operacional proprietário e assegurou uma vantagem competitiva os distribuindo por meio de contratos lock-in com os fabricantes de PCs. Após se consolidar no setor de sistema operacional, a Microsoft incorporou mais funcionalidades ao Windows e passou a competir diretamente com alguns dos aplicativos mais bem-sucedidos criados no mercado e que eram instalados no seu sistema operacional. Foi assim que o Microsoft Word substituiu o Word Perfect e o Microsoft Excel substituiu o Lotus no começo dos anos 90. Ou seja, as empresas que tentavam criar soluções de software eram engolidas pela Microsoft, o que fez com que as centenas de empresas de software existentes para PC se tornassem basicamente uma no final dos anos 90.
Gráfico 1 e 2: Como a Microsoft engoliu os softwares concorrentes
O que desfez a consolidação em torno da Microsoft foi a combinação do nascimento do sistema operacional de código aberto Linux e da Web, representada aqui pela tecnologia http, ambos surgidos no começo da década de 90. Os negócios da Microsoft dependiam do software proprietário e de uma distribuição ao varejo muito cara. Enquanto isso, o Linux oferecia um sistema operacional gratuito e de código aberto. Já a Web era e é uma rede de distribuição marginalmente gratuita (afinal, software são apenas dados). Como antes, novas empresas entraram no mercado se aproveitando de uma padronização do setor para competir com a Microsoft em termos de preço (um exemplo foi a Red Hat), enquanto a criação de novos valores saiu do negócio de software e caminhou em direção aos serviços on-line.
Do boom e da falência das empresas Ponto.com e do crescimento enorme que se seguiu ao Linux e ao HTTP, ambos padrões de código aberto que potencializaram e possibilitaram a disseminação tanto do uso dos computadores quanto da internet, surgiram algumas das empresas mais importantes da atualidade: Google, Amazon, Meta, eBay, Twitter, PayPal, Netflix, entre tantas outras.
Isso fez com que um software proprietário, como o Windows da Microsoft perdesse parte do seu valor e passasse, em muitos casos, a ser negociado em troca de dados cedidos por usuários em troca do uso de suas redes. Dados estes que as empresas poderiam encontrar formas de monetização, expandindo de forma significativa o universo potencial de serviços. Esse é o ponto que estamos hoje, que merece alguns parágrafos a mais.
Atualmente, o mercado está se consolidando em torno de Google, Apple, Meta e Amazon em um ritmo incrível. Isso faz com que o custo da inovação para as empresas mais jovens aumente na mesma medida em que fica mais caro para que empresas menores consigam competir e criar produtos de forma independente. Um exemplo é que até mesmo empresas maiores e mais estabelecidas, como o Snapchat, sentiram essa dificuldade. O Snapchat, por exemplo, levou sete anos para criar uma base de 150 milhões de usuários baseado em um negócio em que fotos e vídeos curtos desapareciam após algumas horas. Mas para a Meta, foi necessário menos de um ano para superar o concorrente copiando seu recurso e introduzindo os stories no Instagram. Isso, por sua vez, limitou a capacidade do Snapchat de criar um grande negócio de publicidade. Importante ressaltar que o Snapchat é uma grande empresa de capital aberto. Agora imaginem o caso de empresas menores e que não estejam tão equipadas para enfrentar uma concorrência como a imposta pela Meta e outras equivalentes.
Seguindo a lógica dos quatro ciclos da tecnologia da informação, será cada vez mais difícil encontrar empresas que tragam retornos adequados na Web como a conhecemos hoje, que chamamos de Web2. Em mercados em consolidação, a alocação de investimentos costuma ser em empresas que estão neste processo de consolidação e que provavelmente irão continuar crescendo por um bom período de tempo. Diante disso, a melhor alternativa é investir agressivamente em plataformas insurgentes que buscam crescer e se expandir a partir de uma nova onda de inovação.
Gráfico 3: A evolução da indústria de tecnologia da informação
O foco da viden.vc é nessa nova onda de inovação, que pode ser resumida pela tecnologia blockchain e da infraestrutura necessária por ela e dos serviços adjacentes que irão possibilitar uma nova era da internet, chamada de Web3. Para saber mais do assunto, leia nossa tese completa em www.viden.vc/tese.
As dez notícias mais importantes da semana
O Congresso Nacional anunciou a criação da Frente Parlamentar de Blockchain e Inovação (FPBI);
A Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entrou em vigor no Brasil, permitindo que fundos invistam diretamente em criptomoedas que estejam em instituições autorizadas pelo Banco Central;
O Banco da China Brasil SA e a Eldorado Brasil realizaram a primeira transação comercial no Brasil usando o Yuan Digital, a CBDC chinesa.
A StarkWare, uma blockchain de segunda camada, adiou o desbloqueio de seu token nativo StarkNet (STRK) para o ano que vem;
O Mercado Bitcoin (MB) lançou a “MB Prime Services”. A plataforma é voltada para investidores institucionais realizarem negociação de criptomoedas com custódia realizada pela própria corretora;
Travis Kling, fundador da Ikigai Asset (fundo de investimento que perdeu US$ 65 milhões com o colapso da FTX), disse que o processo de falência da corretora está se encaminhando de forma melhor que o esperado;
A Receita Federal publicou um esclarecimento que equipara as empresas que possibilitam a negociação de utility tokens a corretoras de criptomoedas;
El Salvador lançou uma operação de mineração de bitcoin usando energia de vulcão;
O co-fundador da Three Arrows Capital (3AC), Su Zhu, foi preso em Singapura ao tentar deixar o país;
A região do leste asiático, que em 2019 representava 30% do valor global de transações com criptomoedas, viu sua participação cair para 8,8% em 2023, segundo um estudo da Chainalysis.
Adoção cripto vs Adoção da internet
A adoção dos criptoativos pelos usuários vem seguindo o mesmo ritmo de crescimento que a internet passou nos anos 90. É como se estivéssemos hoje em cripto no mesmo momento que a internet estava no final dos anos 90.
Naquela época, os casos de uso da internet se restringiam a poucos, como o de correio eletrônico (e-mail) e acesso a jornais e revistas on-line.
Naquela época, existia o mesmo problema que existe hoje no mercado cripto: a materialização dos casos de usos práticos para além dos iniciais eram pouco tangíveis para as pessoas. Ninguém projetava que na internet as marcas poderiam criar suas lojas virtuais e escalar suas vendas em algumas ordens de grandeza, ou que um usuário qualquer poderia se comunicar em tempo real e em alta definição com milhões de pessoas ao mesmo tempo, de todos os lugares do mundo.
Gráfico 4: Adoção da internet vs Adoção cripto
Conteúdos Recomendados:
“Criptomoedas são a próxima etapa no ciclo de inovação tecnológica: como códigos abertos e a descentralização revolucionam a indústria da informação” - viden.vc (tese completa)
“Top 3 teorias da conspiração em cripto” - Next Web
“Como os ativos tokenizados podem impulsionar o mercado de criptoativos” - Morning Jog
“Criamos a melhor planilha do mercado cripto” - Morning Jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 27.955,00 / 7D %: +0,47%
ETH - US$ 1.646,00 / 7D %: +4,41%
USD - 5,16 BRL / 7D %: +2,07%
Cotação atualizada em: 06/10/2023 às 15:15
Sobre o Morning Jog
De segunda à sexta, somos sua curadoria sobre tudo que acontece no mercado cripto e Web3. Aos sábados, você receberá relatórios e análises de conteúdos relevantes feito pelo nosso time de especialistas. A Morning Jog é um produto da viden.vc, um ecossistema de investimentos e negócios voltados para pessoas, ideias e projetos mais promissores da Web3.