Aumentando o lucro através do staking líquido
Edição #326 - Fechamento semanal - 08 de julho de 2023
O setor de staking é um dos mais emergentes do mercado cripto no momento, puxado muito pela conclusão com sucesso da primeira grande etapa do roadmap da Ethereum, o The Merge.
Recentemente escrevemos um texto sobre a atualização Shapella, que ocorreu em abril deste ano e colocou um ponto final ao processo de transição do consenso da rede, liberando a possibilidade dos usuários sacarem seus tokens ETH travados em staking.
Uma das conclusões finais do texto foi que o sucesso da atualização causaria a médio e longo prazo um aumento no interesse pelo processo de staking, aumentando a quantidade de tokens travados e tornando o setor, que é relativamente novo, cada vez mais robusto.
Desde então podemos observar que, mesmo ainda que no curto prazo, a atualização já vem trazendo resultados. Os dados mostram que a partir dela a confiança dos investidores aumentou, em partes pelo fato de que tokens não ficariam mais ilíquidos.
Se no momento da atualização cerca de 15% do supply total dos tokens estavam travados, mesmo com o débito causado pela liberação dos saques, atualmente essa métrica já ultrapassou os 17%.
Pegando carona no crescimento do setor de staking como um todo, os protocolos de staking líquido - em inglês Liquid Staking Derivative (LSD) - como a Lido Finance e a RocketPool, também seguem em crescimento. Os LSDs são aplicações que tornam o processo de staking mais simples e acessível a usuários comuns. Isso é bem importante pois o processo de staking nativo da Ethereum possui uma alta barreira de entrada tanto financeira (quantidade mínima de 32 ETH) quanto operacional (complexidade de rodar um node).
Um usuário que trava seus tokens ETH nesses protocolos, que acabam fazendo o staking pelos usuários, recebe em troca um "recibo" de sua posição. Esse recibo é um token ERC-20 (como o stETH, da Lido e o rETH, da Rocketpool), que pode ser livremente negociado no mercado secundário. Quem o tiver, tem direito de resgatar os ETH travados inicialmente.
Mas além de ampliar o acesso ao processo de staking a usuários menos qualificados e trazer mais liquidez ao setor, esses tokens de protocolos de staking líquido também podem ser utilizados para gerar um rendimento a mais a investidores.
Em outras palavras, os usuários podem utilizar o "recibo" de seu capital (que na prática está travado em staking) para rentabilizar através de outros protocolos e maximizando seus rendimentos finais. Mas é claro, é bom lembrar que isso envolve uma camada a mais de risco, principalmente neste momento mais inicial.
Protocolos como Aave e Curve, que permitem que o usuário utilize seus stETH, por exemplo, como colateral para pegar um empréstimo ou para prover liquidez em uma pool e receber taxas por isso já são bem conhecidos.
Porém, além dessas aplicações já mais consolidadas e que integram serviços desse tipo, estão surgindo novos protocolos que foram concebidos majoritariamente com o objetivo de tornar os LSD tokens mais rentáveis. Isso acabou se tornando um subsetor, chamado de LSDfi. Entre elas, temos:
Alguns projetos do subsetor de LSDfi
Como forma de mensurar essa nascente narrativa dos LSDfi, podemos observar o crescimento em termos de valor total travado (TVL) dos principais protocolos do setor: os LSDfi mais que triplicaram de valor nos últimos dois meses, saindo de menos de US$ 200M para US$ 685M. Além disso, existem projetos bastante visados que ainda não possuem TVL, como a Eigen Layer. Essa solução de re-staking já arrecadou mais de US$ 64 milhões em rodadas de captação com players como Blockchain Capital e Coinbase Ventures e é considerada por algumas das maiores casas de research do mercado como uma solução muito promissora.
Levando em conta que o setor de staking líquido como um todo possui um TVL de algo em torno de US$ 19,25 bilhões, mesmo com o TVL dos LSDfi tendo mais que triplicado nos últimos dois meses, ele ainda representa apenas cerca de 3,5% de todo seu mercado endereçável atual.
De uma forma bem resumida, os três principais pontos abaixo nos fazem crer que o setor de LSDfi tem muito potencial pela frente:
Baixa porcentagem de ETH em staking
Apenas 17% do total de tokens ETH estão atualmente em staking. Para efeito de comparação, a Solana tem 60,5%, a Cardano 62,3%, a Avalanche 61,8% e a Polkadot 43,1%.
Isso ocorre por alguns motivos:
O mecanismo de consenso Proof-of-Stake existe há pouco tempo e só foi finalizado por completo neste ano.
Existe uma alta barreira de entrada tanto operacional (complexidade de montar e rodar um node) quanto econômica (quantidade mínima de 32 ETH) para se tornar um validador;
A rede não possui um sistema nativo de delegação de tokens; para fazer o staking o usuário precisa montar seu próprio node ou usar os protocolos de staking líquido.
Os tokens ETH até meses atrás não podiam ser resgatados, o que desencorajava novos investidores a travarem seus tokens;
Ou seja, a tendência é que essa porcentagem cresça com o tempo e se aproxime mais da média de mercado.
O staking líquido já representa uma grande fatia do total em staking
Os tokens de staking líquido devido a suas vantagens já mencionadas (mais acessibilidade, liquidez e eficiência de capital) já possuem um grande espaço perante o setor de staking como um todo.
Isso reforça a proposta de valor desse setor e indica que quanto mais o ponto 1 se desenvolver, mais esses protocolos irão se desenvolver também.
Os LSDfi ainda correspondem a uma pequena parte da quantidade de LSD tokens disponíveis
Mesmo tento mais que triplicado em termos de TVL nos últimos dois meses, esse segmento ainda corresponde a cerca de 3,5% do setor de staking líquido.
Somando pontos como mais eficiência de capital, seu crescimento nos últimos meses e o lançamento de novas soluções previstas para o futuro, os LSDfi tem potencial de reter em seus protocolos um percentual mais significativo do total de LSD tokens disponíveis, inclusive seus incentivos podem até se tornar um catalisador de adoção de tokens de staking líquido de forma mais ampla.
Por conta desses motivos, devemos acompanhar de perto o desenvolvimento dessas novas soluções. O setor se tornará mais competitivo nos próximos meses e os principais protocolos podem passar por testes de stress, provando ou não que seu modelo faz sentido e seu código é seguro.
As dez notícias mais importantes da semana:
A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, renovou seu pedido de abertura de um ETF spot de Bitcoin após a negativa da SEC;
A TecBan, empresa responsável pelo Banco24Horas, desenvolveu um "sandbox" próprio para que 150 bancos e instituições ligadas à rede testem as funcionalidades do real digital;
A CVM voltou a declarar que tokens de renda fixa são valores mobiliários;
O MEC aprovou a primeira pós-graduação em blockchain e criptomoedas do Brasil;
O mercado de criptomoedas ultrapassou o número de investidores da Bolsa de Valores do Brasil (B3) segundo uma pesquisa do Mercado Bitcoin;
Os royalties gerados por NFTs atingiram seu menor nível em dois anos, segundo a plataforma analítica Nansen;
A Starknet deve passar pela atualização Quantum Leap dia 13 de julho;
A Lido discute usar seu tesouro em ETH para fazer stake através de seu próprio protocolo;
A ENS, provedora de domínios na rede Ethereum, planeja uma expansão para as redes de segunda camada;
Os investimentos realizados por fundos de Venture Capital diminuíram cerca de 70% no último ano.
Sentimento otimista dos Investidores
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual, está em 55 pontos, representando um sentimento otimista. O indicador que vinha relativamente estável no último mês teve uma melhora na última semana, antes de voltar a cair nos últimos dias. Ele segue estabilizado na faixa entre 65 e 54 pontos.
stETH saindo das pools e virando colateral em empréstimos
Um movimento interessante que podemos observar é o fluxo de saída de capital das pools de liquidez de LSD tokens mais consolidadas do mercado desde a atualização Shapella, em abril. As pools de stETH/ETH da Curve e da Balancer sofreram uma redução de 39% e 71% respectivamente em termos de TVL e agora se aproximam dos níveis observados após a grande desalavancagem do mercado ocasionada pelo colapso do ecossistema Terra.
Isso pode ser resultado de dois principais fatores:
Antes da atualização, as pools de liquidez funcionavam como a única fonte de acesso a liquidez. Agora, sendo possível travar e resgatar ETH diretamente do contrato da Lido, é natural que a demanda por utilização e o volume de negociação dessas pools tenha diminuído, ocasionando em uma diminuição da rentabilidade dos provedores de liquidez e consequentemente uma diminuição de interesse pelo processo.
O custo de oportunidade entre prover liquidez e travar o ativo como colateral em protocolos de empréstimo. Segundo a Glassnode, utilizá-los como colateral pode maximizar os rendimentos ganhos em até 3x, comparado ao que é ganho com taxas em pools.
O relatório semanal da Glassnode ainda aponta que o recente aperto regulatório realizado pela SEC pode ter contribuído para um recuo de grandes formadores de mercado.
Em um movimento contrário a esse fluxo de saída de capital das pools de tokens LSDs, vem ocorrendo um influxo de capital para outras alternativas de rentabilização, como em protocolos de empréstimo como Aave e Compound, fora os novos e ainda pequenos protocolos mencionados no texto desta edição.
Conteúdos Recomendados:
“LSDfi: When Liquid Staking Meets DeFi” - Binance Research
“The Surge in Liquid Staking” - Glassnode Insights
“Thread sobre EigenLayer” - Delphi Digital
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 30.327,00 / 7D %: -2,47%
ETH - US$ 1.870,00 / 7D %: -4,44%
USD - 4,86 BRL / 7D %: -2,07%
Cotação atualizada em: 07/07/2023 as 14:15
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