Se tivéssemos que definir o ano de 2023 em apenas uma palavra, seria "reconstrução". As significativas valorizações de preço neste ano podem ser consideradas mais como uma recuperação do que foi perdido no ano anterior do que como o início de um bull market em si.
O cenário atual de mercado nos indica um otimismo para 2024, não apenas devido ao desempenho de preços dos principais ativos, mas também pelo que foi efetivamente construído durante este período de baixa.
No final do ano passado, na Morning Jog, realizamos uma edição especial de fechamento semanal com nossas projeções para 2023. Agora, mais do que projetar nossas expectativas para 2024, é importante também revisitarmos nossas projeções do ano passado para refletir sobre o que se concretizou e identificar possíveis equívocos.
Essa reflexão não apenas proporcionará insights valiosos sobre a evolução do mercado cripto, mas também nos preparará para projetar as expectativas para 2024. Este é o momento de aprender com o passado e ajustar as estratégias para o que vem por aí. Vamos retomar as previsões:
1- Soluções de segunda camada serão mais importantes
Os argumentos que sustentavam nossa tese eram os seguintes:
Atualização "The Surge" era a próxima etapa do roadmap da Ethereum
Tecnologia de zero-knowledge ganharia mais protagonismo
Grandes Airdrops iriam impulsionar novos ecossistemas
Após um ano, apesar da atualização ainda não ter ocorrido, consideramos essa previsão como acertada. Começamos 2023 com apenas a Arbitrum e a Optimism entre os destaques e vamos terminar o ano com 32 redes de segunda camada em operação e mais 24 em desenvolvimento. Entre as principais novidades, temos zkSync, Starknet, Scroll, Linea, Base e Polygon zkEVM.
O valor travado (TVL) nesse setor saltou mais de 300%, de US$ 4,5 bilhões em janeiro para US$ 15,5 bilhões em dezembro. Outro ponto que vale ressaltar é que, mesmo ainda não representando uma fatia significativa do TVL total, uma boa parte dessas novas soluções utiliza a tecnologia de zero-knowledge.
Aqui, é relevante mencionar a infraestrutura que se difundiu em 2023 e promete ampliar significativamente este setor nos próximos anos: os stacks de códigos, como o OP Stack, o Arbitrium Orbit, e o Polygon CDK. Essas soluções têm simplificado o desenvolvimento de projetos que buscam criar suas próprias blockchains de segunda camada, evitando a necessidade de construí-las do zero. Diversos projetos já adotam esses stacks como base, a exemplo da Base e da dYdX. Todos eles podem ser conferidos aqui.
No momento da escrita das previsões para 2023, o airdrop da Optimism havia acabado de acontecer e apesar do assunto airdrops não estar em alta como hoje, já havia a visão de que muitos outros projetos teriam a necessidade de lançar seus próprios tokens. Mesmo que até o momento apenas a Arbitrum tenha realizado uma distribuição, a especulação dos usuários por si só agitou bastante o ambiente das novas redes de segunda camada.
2 - Maior interoperabilidade entre diferentes ecossistemas
Aqui, enfatizamos os recorrentes problemas causados pela utilização de soluções de bridges convencionais e os frequentes hacks que grandes projetos já sofreram, como visto nos casos da Wormhole bridge e da bridge da Ronin.
Pela necessidade de comunicação entre um ecossistema cada vez mais fragmentado, soluções de interoperabilidade se tornaram essenciais. Embora o CCIP e o Avail, destacados naquela edição, não tenham sido implementados até o momento, a Layer Zero emergiu como uma figura proeminente no mercado. Esse destaque é particularmente evidente por meio da Stargate Finance, agora reconhecida como o principal protocolo cross-chain, conforme apontado pelo Defillama.
Apesar dos avanços nesse setor não terem ocorrido tão rapidamente quanto imaginávamos, os progressos são evidentes. No entanto, é necessário tempo para que as soluções desse segmento se consolidem. Enquanto isso não acontece, soluções menos seguras, mas mais práticas e acessíveis, ganharam relevância, como é o caso da Orbiter Finance.
3 - Mais casos de usabilidade real para os NFTs
Acreditamos que essa previsão não foi completamente equivocada, mas que sua realização exigirá um tempo maior. Enquanto tivemos grandes avanços em relação à infraestrutura do segmento de NFTs, ainda não tivemos um boom de cases práticos de sucesso.
Precisamos mencionar aqui que ocorreu em 2023 o desenvolvimento de novos padrões de tokens, como o ERC-6551, que basicamente permite que NFTs se comportem como endereços de carteiras, possuindo outros tokens fungíveis e NFTs sob sua custódia. Outra novidade foi a ERC-1155, que é uma combinação dos padrões ERC-20 e ERC-721, e os padrões ERC-7401, ERC-5773, ERC-6220, ERC-6454, ERC-7409 e ERC-7508, que são a implementação da tecnologia RMRK da Polkadot/Kusama em blockchains EVM (confira aqui nosso texto sobre a RMRK).
Apesar de não ter ocorrido um boom de casos de usos reais de NFTs, isso não quer dizer que o setor não se desenvolveu. Já existem cases de sucesso, como o projeto brasileiro Gotas.social. O Gotas se provou como uma excelente forma de aumentar o engajamento de produtores de conteúdo, gerando receita extra aos criadores, fidelizando os fãs e fornecendo benefícios exclusivos como descontos em cursos e comunidades, sorteios de ingressos de eventos físicos e muito mais. O Sympla, empresa fornecedora de ingressos para shows e eventos, também passou a implementar tecnologia blockchain para garantir a autenticidade e integrar a liquidez dos ingressos no mercado secundário.
4 - Avanço na tokenização de ativos reais
O mercado de tokenização de ativos reais ainda está longe de seu verdadeiro potencial, mas ao mesmo tempo passou por um avanço significativo em 2023. Essa afirmação é válida tanto para protocolos em blockchains públicas quanto para blockchains privadas utilizadas por empresas e governos.
No universo descentralizado, destaque para a MakerDAO que vem aumentando cada vez mais a exposição do colateral de sua stablecoin, DAI em títulos do tesouro americano tokenizados. Hoje esses ativos já correspondem a uma boa parte da receita do projeto. Além dele, temos a Chainlink, que tem como principal produto em desenvolvimento o Chainlink CCIP, protocolo de interoperabilidade cross-chain que também deve se comunicar com o mercado financeiro tradicional e ativos tokenizados.
Podemos mencionar também os protocolos Ondo Finance, Backed.fi e Maple Finance, que tiveram um aumento significativo de TVL e vem conseguindo uma clareza regulatória para operar. A categoria de ativos do mundo real já representa a sétima maior categoria do mercado cripto segundo o Defillama, com um TVL de US$ 5,6 bilhões.
Somente em títulos do tesouro americano, já existe um total de US$ 770 milhões tokenizados em blockchians, o que representa um crescimento de aproximadamente 770% desde o início do ano como podemos observar no gráfico a seguir.
Já em sistemas permissionados, tivemos o envolvimento de diversas empresas globais, com destaque para o JP Morgan que lançou sua própria plataforma de tokenização chamada Onix. Além dele, outras grandes instituições como Barclays, BlackRock, UBS, City, BNP Paribas, BNY Mellon e muitas outras também vem buscando aumentar sua exposição a esse tipo de operação.
Em território nacional, o avanço também foi significativo. A própria blockchain em que está sendo desenvolvido o DREX, o real digital tokenizado em blockchain, será compatível com contratos inteligentes e, por consequência, com outros ativos tokenizados, como bens físicos e financeiros.
Além disso, tokenizadoras como a Vortix e a Liqui tiveram bastante destaque em 2023 e até bancos tradicionais, como Banco do Brasil e Santander, se expuseram ao setor.
5 - Crescimento das Finanças Descentralizadas (DeFi)
Essa foi a mais generalista das previsões, visto que em nossa visão seria consequência do sucesso das teses apontadas acima. Isso inclui a democratização do DeFi com sua expansão para redes de segunda camada, uma maior interoperabilidade entre diferentes ecossistemas e o influxo de capital trazido ao setor pela tokenização de ativos do mundo real.
Há um ano, estávamos em um cenário de pós colapso da FTX e de uma quebra de confiança em instituições centralizadas. Desde então, mesmo com o aperto regulatório sob o setor cripto, o DeFi cresceu tanto em TVL quanto em nível de atividade de usuários.
Aqui, cabe destacar mais os protocolos novos do que as tradicionais Uniswap e Aave, que se mantiveram relativamente estáveis. Pendle, Lybra, Maverick, que são protocolos inovadores e representam a nova era do DeFi, focados em trazer mais eficiência de capital ao usuário, tiveram uma forte ascensão.
Fazendo esse retrospecto, vimos que mesmo que algumas das previsões tenham acontecido com menos intensidade do que outras, todos os setores mencionados passaram por avanços significativos no ano. A forma que enxergamos o mercado cripto está alinhada com os desenvolvimentos na sociedade e mesmo sendo impossível prever a dinâmica futura do mercado, podemos ter uma clareza satisfatória do direcionamento que ele deve tomar. Esse ponto é bem importante para continuarmos com a mesma pegada e projetar também nossas perspectivas para 2024.
As dez notícias mais importantes da semana
O presidente Lula sancionou o Projeto de Lei nº 4.173/23 que altera a tributação dos criptoativos armazenados em corretoras centralizadas do exterior ou sob auto-custódia para 15%;
O Banco Central do Brasil anunciou que não deve regulamentar diretamente a atividade de P2P de criptomoedas;
A Uniswap, maior corretora descentralizada do mercado, anunciou sua expansão para a rede Rootstock, uma das sidechains do Bitcoin que é compatível com contratos inteligentes;
A Celestia vai integrar sua camada de disponibilidade de dados ao Polygon CDK;
A Worldcoin se integrou, através de seu recurso World ID, a Shopify, Mercado Livre, Minecraft, Reddit e Telegram;
A equipe responsável pela coleção de NFTs Pudgy Penguins revelou os planos de lançamento do game “Pudgy World”;
A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) se reuniu com a Fidelity para discutir o pedido de ETF Bitcoin à vista da empresa.
Sentimento de otimismo prevalece entre investidores
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento dos investidores em relação ao momento atual, está marcando 70 pontos, representando um sentimento de otimismo. O indicador está, desde o final de outubro, na faixa entre 60 e 74. Antes disso, vinha em uma onda de pessimismo desde agosto.
Fim do bear market!
Uma das métricas mais robustas para avaliar se os bitcoins estão sendo negociados abaixo ou acima de seu "preço justo" é o MVRV. Esse indicador sinaliza a saída da zona verde, que historicamente correspondeu aos fundos de todos os bear markets dos ciclos anteriores.
De uma forma simples, quando a linha laranja atinge a região verde, os investidores estão com prejuízos não realizados, ou seja, os bitcoins estão sendo transacionados a um preço menor do que o valor médio de compra dos holders do ativo. Normalmente, as mínimas desse cenário representam o ponto em que a realização de prejuízo já atingiu seu nível máximo e apenas investidores de alta convicção do ativo o continuam segurando com uma perspectiva de longo prazo.
Já quando a linha laranja atinge a região em vermelho ou próximo a ela, os investidores estão com lucros não realizados, ou seja, os bitcoins estão sendo transacionados a um preço bem esticado em relação ao valor médio de compra dos holders, o que acaba aumentando a propensão a venda para realização de lucros.
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Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 41.855,00 / 7D %: -4,35%
ETH - US$ 2.231,00 / 7D %: -5,14%
USD - 4,94 BRL / 7D %: -2,16%
Cotação atualizada em: 15/12/2023 às 15:00
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