É muito tarde ou muito cedo para investir em criptoativos?
Edição #368 - Fechamento semanal - 26 de agosto de 2023
O primeiro mergulho no mundo da Web3: como as criptomoedas, NFTs e metaverso irão mudar as nossas vidas
O livro escrito pelo nosso Head de Research, João Kamradt, e que também conta com a contribuição do nosso time, agora também está disponível na Amazon. A obra traz um panorama geral sobre os diferentes setores do mercado cripto, desde seus aspectos históricos até os mais técnicos e é ideal para quem quer se atualizar sobre esse novo mercado, seja você um iniciante ou um experiente no assunto. Não deixe de conferir!
PRINCIPAIS CONCLUSÕES
• Os usuários de criptomoedas estão crescendo globalmente em um percentual semelhante ao que ocorreu com o nível de adoção dos usuários de internet no fim da década de noventa;
• Do mesmo modo que a bolha da internet, também chamada de bolha "PontoCom" atingiu com força as empresas de tecnologia focadas na internet durante a virada do milênio, protocolos baseados em criptoativos também estão passando por uma das maiores crises de preço da sua breve história;
• A indústria de criptoativos parece estar próxima de entrar em uma fase de hiperadoção semelhante à da internet em meados da década de 1990 e começo dos anos 2000.
Para responder a pergunta do título deste artigo, proponho a seguinte reflexão: se voltássemos no tempo, mas você soubesse que a internet não é um experimento tecnológico, mas um meio de mudança social, econômica e cultural presente no dia a dia de bilhões de pessoas, você gostaria de ter a oportunidade de investir nas empresas que transformaram a sociedade? Se a resposta for sim, continue lendo este texto porque outra oportunidade como aquela, de vinte anos atrás, está prestes a ocorrer.
A internet passou por inúmeras evoluções desde seu formato estático da década de 90 até chegar ao modelo atual, no qual bilhões de pessoas e máquinas ficam constantemente conectadas. Esta evolução ininterrupta nos leva a próxima fronteira que será quebrada e de uma nova indústria bilionária que está sendo gestada, com ideias inovadoras brotando em cada esquina. É claro que estamos falando da indústria de criptoativos.
Os criptoativos são investimentos viáveis hoje, mas ainda estão apenas no início do seu estágio de evolução tanto como forma de investimento quanto pelo uso real por parte dos cidadãos, empresas e governos. Dessa forma, nem o argumento de que é "muito tarde para investir" e nem a resposta de que é "muito cedo para investir" fazem sentido.
Criptoativos ainda estão no estágio inicial de investimento, mas não em um estágio incipiente. Estamos em um momento em que é necessário enfatizar sobre a educação do investidor e do empreendedor. Essa visão vem dos dados que revelam que a taxa global de adoção de criptomoedas vem acelerando rapidamente nos últimos anos, depois de um início de baixa adesão. No Brasil, por exemplo, se estima que mais de 17,8 milhões de pessoas ou 8,3% já interagiram com criptoativos, o que nos coloca como o quinto maior mercado do planeta.
A partir daqui, discutirei como outras tecnologias inclusivas e que se espalharam pelo globo foram adotadas e as razões pelas quais nós, da viden.vc, acreditamos que os criptoativos estão perto do ponto de inflexão de adoção, semelhante ao processo que a internet passou no final do século passado.
A adoção precoce da tecnologia
Até o momento em que os consumidores adotem completamente uma nova tecnologia, geralmente anos se passam. O Gráfico 1 (abaixo) mostra o caminho de adoção de novas tecnologias (novas na época, ressalte-se) por famílias norte-americanas. As linhas crescentes apontam como uma quantidade cada vez maior de lares dos EUA passaram a usar a nova tecnologia. No geral, toda a adoção começou de forma lenta até o momento em que atingiu um ponto de inflexão para, em seguida, acelerar de forma abrupta. No passado, décadas transcorreram entre as invenções e a taxa de adoção começar a crescer de modo vertiginoso. Mas isso vem mudando ao longo do tempo. Um exemplo é a internet. Embora exista desde 1969 (como Arpanet), foi apenas em 1987 que teve seu uso comercial aprovado. Ainda assim, em 1995, apenas 14% dos norte-americanos e menos de 1% das pessoas no mundo a usavam.
GRÁFICO 1: Curva de adoção de novas tecnologias
Fonte: Our World in Data (https://ourworldindata.org/technology-adoption), National Opinion Research Center (NORC) e Wells Fargo Institute Investments. Dados anuais de 1900-2020
Esse dado é relevante porque isso se assemelha ao que vemos atualmente com os criptoativos. Seguindo os dados dos EUA, apenas 13% dos norte-americanos tinham comprado ou negociado criptoativos ao longo de 2022, segundo uma pesquisa feita pela Universidade de Chicago. No Brasil, como destacado acima, esse percentual é de 8,3%. Enquanto isso, no mundo todo apenas 5,2% das pessoas negociaram ou interagiram com criptoativos.
Isso ocorre porque nos primeiros anos de adoção de uma nova tecnologia, as experiências dos usuários com a tecnologia costumam ser desajeitadas e, muitas vezes, frustrantes. Isso acontece à medida que o ecossistema e a infraestrutura amadurecem lentamente. No caso da internet, muitos leitores da Morning Jog podem se lembrar dos dias anteriores ao surgimento do primeiro navegador da Web, em 1993, quando o acesso à internet exigia digitação em um prompt em uma tela verde. Esse exemplo serve para que possamos pensar sobre como a experiência do usuário foi simplificada e tornada mais atrativa ao longo dos anos, facilitando o acesso e incentivando aplicações até então inimagináveis.
Outro elemento em comum nos primeiros anos de adoção de novas tecnologias é que a relação entre os primeiros usos de caso real e a adoção por parte dos consumidores não costuma ser imediata. Com todas as tecnologias, como a eletricidade, a telefonia, a televisão e a internet, os desenvolvedores precisaram de tempo para criar aplicações que decorriam dessa nova tecnologia. Por sua vez, os consumidores levaram algum tempo para descobrir como essa nova tecnologia poderia beneficiá-los. Isso também vem ocorrendo com o ambiente de criptoativos. Ao longo de 2021 e 2022 foi perceptível para muitos investidores que os criptoativos ainda estão em um estágio inicial de adoção. Esta percepção surge do fato de que muitos usuários ainda não conseguem enxergar casos factíveis de uso real e outros ainda veem a tecnologia como algo muito difícil de ser executada por leigos e não entusiastas.
A adoção de criptoativos atual se assemelha a da internet nos anos 90
Embora a tecnologia por trás dos criptoativos seja complexa e os casos de uso real ainda possam ser difíceis de visualizar, os dados mostram que o mundo está começando a adotar a tecnologia. E isso está acontecendo cada vez mais rápido. De acordo com pesquisa da Triple A, o número de usuários globais de criptoativos atingiu 420 milhões em janeiro de 2023, ou seja, pouco mais de 5,2% da população mundial. Mas o mais impressionante, é que em 2020 eram apenas 100 milhões de usuários. Ou seja, em dois anos, o número de pessoas utilizando criptoativos quadruplicou.
As taxas de adoção de criptoativos parecem estar seguindo o caminho de outras tecnologias avançadas, particularmente com aquela que vimos da internet. Se essa tendência continuar, os criptoativos devem em breve sair da fase de adoção inicial (que vivemos atualmente) e entrar em um ponto de hiperadoção, semelhante àquele visto em outras tecnologias, como mostrou o Gráfico 1. Neste gráfico, também é possível observar que há um ponto em que as taxas de adoção começam a subir de forma ininterrupta. Para a internet, esse ponto foi no começo deste século. Após um início lento no início da década de 1990, o uso da internet saltou de 77 milhões em 1996 para 412 milhões em 2000. Dez anos depois, o uso mundial da internet já havia alcançado mais de 1,98 bilhão de pessoas. Atualmente, está em mais de 5 bilhões.
Outro ponto relevante a se levar em consideração é que a adoção da internet, uma vez que atingiu seu ponto de hiperadoção no fim do século passado, cresceu em um ritmo mais acelerado do que qualquer uma das outras tecnologias vistas no Gráfico 1, como a eletricidade, telefonia, rádio ou TV a cores. Essa tendência vem sendo observada em outras invenções digitais desenvolvidas mais recentemente, como os smartphones e a internet Wi-Fi, como também pode ser constatado no Gráfico 1. A razão para isto é que cada nova invenção digital acompanha uma nova infraestrutura digital que já estava construída e que, no máximo, ganhou aprimoramentos. Por isso, acreditamos que os criptoativos eventualmente irão seguir um caminho de adoção acelerada semelhante ao que vimos nessas últimas invenções digitais.
Outro ponto relevante é que os criptoativos passaram a seguir o mesmo padrão de adoção do que a internet. Como se pode ver no Gráfico 2, o crescimento dos usuários criptos de 2014 até 2022 se espelha quase que exatamente a mesma taxa de adoção que a internet teve entre 1990 e 1998. Este gráfico compara o crescimento global de usuários entre a internet, a partir de 1990 (linha cinza), e o aumento do número de usuários de criptoativos, a partir de 2014 (linha roxa). Com base apenas nessa comparação, o uso de criptoativos hoje está basicamente no mesmo ponto que a Internet do final da década de 90. Números à parte, não há dúvida de que a adoção global de criptoativos está aumentando e em breve poderá atingir um ponto de hiperinflexão.
GRÁFICO 2: Adoção da internet vs. adoção de criptoativos
Fonte: World Bank; Crypto.com
Poucos projetos serão vencedores
Agora que estabelecemos um parâmetro entre os criptoativos e outras tecnologias, como a internet, fica a pergunta, como descobrir quais são os ativos com maior capacidade de sobreviver ao longo prazo? Ao observar a história do desenvolvimento das soluções da internet, percebe-se que o investimento em estágio inicial foi repleto de ciclos violentos de crescimento e queda, como muitas empresas pontocom e investidores puderam atestar há 20 anos. Também neste caso, o indicativo é de que o mercado de criptoativos siga a mesma lógica.
Atualmente, existem mais de 22,7 mil criptomoedas e, se a história servir de guia, a grande maioria falhará (ou pelo menos não irão crescer como almejam). Até o momento, a indústria de criptoativos vive de ciclos ou ondas, assim como qualquer outro setor do mercado. Tivemos até agora quatro ciclos: em 2011, 2013, 2017 e 2021. No momento, estamos vivendo um ciclo de baixa do mercado, mas como comparativo vale apontar que o abalo sísmico nos protocolos de 2017 fez com que cerca de 40% dos criptoativos da época desaparecessem (no período, existiam cerca de 1,7 mil projetos). A volatilidade impera e, para a viden.vc, é um fato de que novos ciclos de altas estrondosas ocorrerão, assim como novas quedas repentinas. É por isso que saber identificar as tecnologias e narrativas vencedoras é fundamental.
Mas saber escolher os melhores projetos, com a tecnologia vencedora ao longo prazo não é um passeio no parque. Os investidores devem avaliar rotineiramente os atuais vencedores e os perdedores e considerá-los em relação ao conjunto cada vez maior de protocolos que ainda irão ser criados. Usarei novamente o final da década de 90 como exemplo. Os sites mais visitados da segunda metade da década de 90, independentemente do ramo de negócios, não se mantiveram relevantes muito além do ano 2000. Alguém quer adivinhar o site mais acessado em 1996? Era o site de email American OnLine (AOL), que anos depois se tornou irrelevante e fechou.
Por isso, neste momento, mais importante do que saber quais serão as soluções, aplicações, protocolos ou modelos de negócios que irão oferecer as melhores soluções práticas nas próximas décadas, é compreender a tecnologia que permitirá que a adoção dos criptoativos seja possível e quais serão os protocolos responsáveis por criá-las e massificá-las.
As dez notícias mais importantes da semana:
O Banco Central do Brasil comunicou que o Drex, o real digital brasileiro, está com seu desenvolvimento atrasado;
O BTG Pactual anunciou o lançamento de uma plataforma de custódia de criptomoedas focada no mercado institucional, a BTG Prime;
A Abcripto (Associação Brasileira da Criptoeconomia) criou um programa de apoio para as tokenizadoras e demais associadas que querem obter uma licença de plataforma de crowdfunding na CVM;
A Shopify integrou o sistema de pagamentos Solana Pay para transações em stablecoins;
O desenvolvedor Luke Dashjr, que integra o Bitcoin Core, submeteu um rascunho propondo a implementação de "drivechains" na rede e pedindo feedbacks da comunidade;
O OpenSea anunciou que os criadores de NFTs não receberão mais uma taxa fixa nas vendas secundárias dos seus projetos;
Os desenvolvedores da Ethereum anunciaram que a nova testnet da Ethereum provavelmente será lançada em 15 de setembro;
O protocolo de liquidez Balancer descobriu uma “vulnerabilidade crítica” que afeta mais de cem de suas pools de liquidez em oito blockchains;
A Binance anunciou o lançamento do Binance Pay no Brasil. E o encerramento do serviço de cartão de débito por meio de criptoativos da bandeira Mastercard na América Latina;
Um oficial do governo chinês foi condenado a prisão perpétua por mineração de Bitcoin e corrupção.
Sentimento de medo prevalece entre investidores
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento dos investidores em relação ao momento atual, está marcando 39 pontos, representando um sentimento de medo. O indicador seguia estabilizado na faixa "neutra", entre 50 e 60 pontos até sofrer uma variação expressiva na semana passada.
Mínima histórica de Bitcoins nas corretoras
As reservas de Bitcoins de investidores mantidas por corretoras centralizadas atingiram seu menor valor desde janeiro de 2018. O gráfico a seguir mostra que atualmente cerca de 2,05 milhões de Bitcoins são custodiados por essas instituições. Somente neste mês de agosto, 480 mil bitcoins foram sacados.
Fonte: CryptoQuant
Quanto às principais coleções caíram?
As principais coleções de NFT "blue chips" sofreram uma drástica queda de seu floor price desde as máximas históricas. Como elas são cotadas em ETH, além da queda do valor das coleções em si, deve-se mensurar a desvalorização do próprio token ETH. Em média, as coleções selecionadas se desvalorizaram 87,3% em dólares até o final de julho deste ano.
Fonte: Coingecko
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Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 26.173,00 / 7D %: -0,70%
ETH - US$ 1.659,00 / 7D %: -1,44%
USD - 4,88 BRL / 7D %: -2,12%
Cotação atualizada em: 25/08/2023 as 10:45
Sobre o Morning Jog
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