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Entenda o estado atual da Uniswap
Edição #422 - Fechamento semanal - 28 de outubro de 2023
A Uniswap é, indiscutivelmente, um dos cases de maior sucesso no mercado cripto, tendo mais de US$ 1,5 trilhão de volume negociado desde sua criação. Ela sempre esteve na vanguarda do setor por conta de inovações como o próprio mecanismo de Automated Market Maker (AMM) e posteriormente o de liquidez concentrada em suas pools.
Quem nos acompanha por aqui viu que apenas em 2023 seu time já fez diversos lançamentos e anúncios importantes, como as versões mobile para Android e IOS, o agregador de liquidez UniswapX e a base de códigos da sua próxima versão, a Uniswap v4.
Nesta edição de fechamento semanal da Morning Jog, vamos falar sobre esses produtos, o caminho que a Uniswap Labs vem seguindo, o token UNI e também sobre algumas recentes polêmicas, como a cobrança de taxas extras de transação e uma extensão de código da Uniswap v4 que exige a identificação dos usuários (KYC ou Know Your Client).
Primeiramente, vamos passar brevemente pelas principais novidades deste ano de 2023: a UniswapX, a Uniswap v4 e seu aplicativo mobile.
UniswapX
A UniswapX é o mais novo protocolo a ser lançado pela Uniswap Labs. Ele tem como objetivo principal agregar a liquidez de diversas fontes distintas, tanto on-chain quanto off-chain e mitigar a prática de MEV (técnica de arbitragem), oferecendo sempre a melhor opção de cotação ao usuário. O protocolo está em fase beta e já está integrado na interface de usuário do site oficial da Uniswap, na blockchain Ethereum.
Os chamados "fillers", que são os formadores de mercado, são incentivados através de um mecanismo de leilão holandês (dutch auction), a oferecerem sempre a cotação mais próxima da solicitada pelo usuário, tornando os preços mais favoráveis e ocasionando em uma redução do slippage (a diferença entre o preço do ativo no momento que a ordem foi registrada para quando ela foi efetivada). Essas novidades vão impactar principalmente os usuários que transacionam grandes quantias e os que buscam otimizar o preço de execução de suas ordens.
Além disso, o protocolo também delega a cobrança das taxas de transação para os próprios fillers, os quais precificam isso na cotação oferecida ao usuário. Isso possibilita que o usuário não precise possuir tokens nativos da rede utilizada para pagar o gás, nem precise pagar por transações que falharam. Um grande avanço em termos de experiência do usuário.
Uniswap v4
Já a Uniswap v4 é a evolução de seu produto principal e promete implementar melhorias em relação a sua versão atual, a Uniswap v3. Dentre as principais alterações podemos mencionar a alta capacidade de customização, possível através dos chamados "hooks".
Os hooks são como plug-ins, são conjuntos de códigos externos construídos em cima do código da Uniswap v4 que podem ditar certas regras sobre as ativos em que forem implementados. Isso inclui, por exemplo, a possibilidade de execução de uma ordem limite pelo usuário, cotações paralelas ou a cobrança de taxas dinâmicas a depender da volatilidade do mercado. Além disso, os hooks possuem a capacidade de cobrar uma parte da taxa de swap, criando novos modelos de receita para desenvolvedores em cima da Uniswap.
Recentemente, um dos códigos construídos através desse recurso de hooks gerou bastante controvérsia devido a capacidade de obrigar os usuários a passarem pela prática de KYC antes de negociar em certas pools de tokens. Vale mencionar que isso só deve ser válido para pools específicas, como, por exemplo, em pools exclusivas para empresas e para investidores institucionais, de forma que não deve afetar significativamente o usuário de varejo.
Além disso, a Uniswap v4 também amplifica o potencial da liquidez concentrada da v3. Nela, os provedores de liquidez também podem definir faixas de liquidez heterogêneas dentro da faixa estabelecida, em um mecanismo em linha com o que protocolos como Maverick e Trader Joe já utilizam.
E, por fim, a Uniswap v4 também propõe um modelo em que todas as pools fiquem no mesmo contrato inteligente, concentrando sua liquidez e diminuindo os custos de gás envolvidos em transações multi-pool ou na criação de novas pools. Se por um lado isso gera mais eficiência, por outro cria um grave ponto de vulnerabilidade, visto que qualquer problema no contrato pode fazer com que os recursos sejam drenados.
A nova versão ainda não tem data de lançamento, mas já se sabe que será lançada com uma licença de propriedade intelectual válida por quatro anos para evitar cópias e forks.
Uniswap mobile wallet
Sua versão mobile já está disponível tanto para IOS quanto para Android. Além de ser possível negociar tokens e enviá-los a outros endereços de carteiras, ela é integrada à Wallet Connect e consegue ler domínios da Ethereum Name Service.
Além disso, a carteira permite a assinatura de transações através do FaceID ou TouchID, o recebimento de notificações referente às ordens realizadas, possui uma ferramenta de pesquisa de tokens e NFTs integrada e mecanismos de filtragem de spams e avisos de segurança.
Mas e o token UNI?
Agora que passamos pelas principais novidades da Uniswap, precisamos constatar sua maior controvérsia: a falta de utilidade do token UNI. Assim como já falamos no texto "A importância de um bom Tokenomics", os holders do token UNI não vêm se beneficiando do sucesso e da evolução da Uniswap e na prática tem pouco controle sob seu direcionamento futuro.
Importante mencionar que o token UNI não era para existir se não fosse um ataque de liquidez sofrido pela Sushiswap. Como seu principal concorrente na época havia criado um token próprio e estava o distribuindo como forma de incentivo para que os usuários passassem a utilizar sua aplicação, prática que conhecemos como liquidity mining, a Uniswap foi obrigada a fazer o mesmo para manter sua dominância.
Atualmente, a Uniswap Labs é a maior detentora de tokens UNI, que também conta com grandes participações da a16z, um dos maiores Venture Capital do mercado. Somente a a16z possui 55 milhões de tokens UNI, segundo a Coindesk. Isso equivale a aproximadamente 10% de todo o supply circulante do ativo e a permitiria ter aprovado ou reprovado sozinha todas as propostas já discutidas desde a criação da DAO.
A prova de seu poder ocorreu quando a implementação da Uniswap v3 na BNB chain estava sendo votada e a a16z utilizou 15 milhões de seus tokens para votar contra a proposta, pelo motivo de a bridge utilizada para a transferência dos recursos ser a Wormhole, concorrente da LayerZero, um de seus projetos investidos.
Outra constatação de que os holders do token não possuem poder de decisão ocorreu há poucos dias, quando o fundador do protocolo, Hayden Adams, anunciou de última hora que os usuários passariam a ser cobrados em uma taxa extra de 0,15% das negociações realizadas em alguns pares de ativos através da interface de usuário oficial. O objetivo seria financiar as operações da Uniswap Labs, empresa por trás do protocolo.
Isso gerou bastante controvérsia na comunidade, visto que uma medida semelhante, chamada de "fee switch", já vem sendo discutida há tempos e nunca foi implementada. Diferentemente do modelo que foi executado, o mecanismo de fee switch seria possível através de uma proposta de governança e ocorreria a nível de protocolo, permitindo que as taxas fossem direcionadas para o tesouro controlado pelos holders do token, ao invés da Uniswap Labs.
Esse cenário possibilitaria o aumento de utilidade do UNI, com a distribuição dessa receita gerada em forma semelhante a dividendos ou com a elaboração de políticas de recompras e queimas de tokens com o objetivo de diminuir sua oferta circulante.
A questão é que a aprovação de uma proposta de governança como essa dependeria diretamente do apoio da própria Uniswap Labs e da a16z. Mas com a implementação das taxas de interface, o interesse por parte deles pelo mecanismo de "fee switch", que já era baixo devido a complicações regulatórias, perdeu ainda mais força.
A máquina de arrecadar taxas da Uniswap
As discussões envolvendo a implementação de taxas extras de negociação são bem importantes, visto que a Uniswap é o protocolo que mais arrecada taxas no mercado cripto. Cerca de US$ 543 milhões foram arrecadados apenas no último ano, os quais foram distribuídos integralmente para os provedores de liquidez das pools.
Vale lembrar que as novas taxas são válidas apenas para transações realizadas através da interface desenvolvida pela Uniswap Labs, que inclui o site uniswap.org e seu aplicativo mobile. As negociações realizadas em outras front-ends, agregadores ou diretamente no contrato inteligente não estão sujeitas a ela. Mesmo assim, essa taxa de 0,15% implementada foi suficiente para gerar para a empresa uma receita de mais de US$ 580 mil nos dez primeiros dias.
A visão da Uniswap Labs
Essa medida, apesar de controversa, não é surpreendente. Ela é reflexo de uma gestão que se enquadra como a de uma empresa Web2 e não a de um protocolo descentralizado. O código de seus contratos são lançados com direitos de propriedade intelectual, existe uma forte centralização da governança e grande parte dos esforços estão voltados à aproximação do protocolo aos reguladores e ao mercado financeiro tradicional.
Lembrando que isso pode ser positivo ou negativo, dependendo da ótica de quem analisar. Enquanto para o token holder de UNI não é nada vantajoso, pensando como posicionamento de marca as decisões fazem bastante sentido. Esses movimentos podem ser decisivos para que a Uniswap consiga furar a bolha cripto, fazendo com que, por exemplo, grandes empresas a utilizem e ações ou títulos do tesouro tokenizados sejam negociados com frequência em sua plataforma.
As dez notícias mais importantes da semana
Projeto de Lei que cria imposto de 15% sobre ganhos com criptomoedas no exterior foi aprovado pela Câmara dos Deputados e agora vai para o Senado;
O POL, novo token da Polygon, teve seu contrato registrado na rede principal da Ethereum;
A BlockFi encerrou oficialmente seu processo de falência com um plano para reembolsar os clientes;
A América do Norte continua sendo a região onde existe maior adoção de criptoativos, segundo novo relatório da Chainalysis.
A Uniswap Labs lucrou US$ 120 mil nas primeiras 48 horas após a habilitação das taxas em transações;
A Base, blockchain de segunda camada da Ethereum, abriu ao público seu código;
A Celestia, um projeto de interoperabilidade entre diferentes blockchains, deverá lançar sua Mainnet Beta nos próximos dias;
Os Estados Unidos querem enquadrar protocolos de mixer de criptomoedas como centros de lavagem de dinheiro que ameaçam a segurança nacional;
A empresa de transporte de valores Prosegur vai inaugurar em São Paulo um “bunker” destinado a custodiar carteiras de hardware de criptomoedas;
Investidores otimistas
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento de mercado em relação ao momento atual, está em 70 pontos, representando um sentimento otimista. O indicador voltou a subir na última semana após seguir estabilizado entre os 30 e 50 pontos por alguns meses. Esse é o maior valor do indicador desde o final do bull market passado, em novembro de 2021.
As maiores corretoras descentralizadas do mercado
No gráfico a seguir, extraído do relatório "2023 Q3 Crypto Industry Report" da Coingecko, podemos observar como as principais corretoras descentralizadas estão posicionadas em termos de market share no setor ao longo do ano de 2023. O volume total negociado no setor representou US$105 bilhões no terceiro trimestre do ano, uma redução de 31.2% em relação ao semestre anterior. A dominância e a constância da Uniswap perante o setor como um todo também fica clara.
Conteúdos Recomendados:
“The Techno-Optimist Manifesto” - a16z
“2023 Q3 Crypto Industry Report” - Coingecko
“12 Things About Product-Market Fit” - a16z
“Thread sobre Liquid Restaking Tokens” - @evandro_eth
“A importância de um bom Tokenomics” - Morning Jog
“O que falta para a Web3 dominar o mundo” - Morning Jog
“Criamos a melhor planilha do mercado cripto” - Morning Jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 33.692,00 / 7D %: +13,93%
ETH - US$ 1.775,00 / 7D %: +10,48%
USD - 5,04 BRL / 7D %: -2,06%
Cotação atualizada em: 27/10/2023 às 17:10
Sobre o Morning Jog
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