A Morning Jog possui uma novidade exclusiva para seus assinantes. Todos os sábados, logo no comecinho da manhã, um e-mail como esse estará na sua caixa de entrada. A edição irá conter um resumo dos principais eventos da semana, um tema de grande relevância que chamou nossa atenção, análises on-chain e recomendações de estudos, para que você aproveite seu fim de semana melhor informado e plenamente consciente das mudanças do mercado cripto. Aproveite!
Fechamos a segunda semana de outubro com alguns destaques importantes. O maior deles foi a Uniswap, que levantou US$ 165 milhões em nova rodada de financiamento Series B, colocando a empresa com um valuation de US$ 1,66 bilhão. A rodada foi liderada pela Polychain Capital e contou com outros grandes fundos como a16z e Paradigm. O capital permitirá que a Uniswap desenvolva mais seu dApp e ferramentas para desenvolvedores, suporte tokens não fungíveis (NFTs) e desenvolva uma versão mobile. Outros destaques da semana serão mencionados a seguir.
A Polygon anunciou o lançamento da testnet pública de sua solução zkEVM.
A Microsoft e a Meta fizeram parceria para trazer aplicativos do Office 365 para o metaverso da companhia.
A FTX e a Visa anunciaram uma parceria para permitir pagamentos de cripto em 40 países.
O JPMorgan e a Visa se uniram para otimizar o uso de suas soluções privadas de blockchain.
A Prefeitura do Rio de Janeiro iniciou o credenciamento de empresas interessadas em oferecer aos cidadãos a possibilidade de pagamento por criptomoedas do IPTU de 2023.
A Tether, emissora da USDT, reduziu sua participação em papéis comerciais para zero.
A Lido lançou suporte para ETH em staking nas segundas camadas da rede Ethereum.
O Google Cloud fez parceria com a Coinbase passa a permitir pagamentos com criptomoedas.
A Samsung anunciou um sistema de "blockchain privado" para aumentar a segurança nos dispositivos dos clientes.
O mês de outubro já é o pior da história quando se fala de ataques hackers a projetos cripto.
A legislação sobre ativos digitais da União Europeia foi aprovada em votação no comitê do Parlamento Europeu.
Mais de 12 mil empresas do Brasil declararam possuir criptomoedas.
A Mango, uma aplicação DeFi da Solana, sofreu um exploit de 100 milhões.
A SEC começou a investigar a Yuga Labs Inc.
O banco BRB sofreu um ataque e hackers exigiram R$ 5 milhões em bitcoin.
A MakerDAO iniciou um investimento de US$ 500 milhões em títulos dos EUA.
O metaverso do Facebook ainda é muito problemático para ser usado, de acordo com executivos da empresa.
A tecnologia blockchain revolucionou e vem revolucionando em diversos sentidos a forma com que a troca de informações e recursos financeiros entre os diversos agentes de uma sociedade acontece. Blockchains como a Ethereum são resistentes à censura e garantem a execução das transferências requisitadas sem intermediários, porém a custo de dois quesitos essenciais: escalabilidade e privacidade.
Felizmente, existe uma tecnologia complementar que ataca justamente esses pontos. Muitos especialistas, como o Co-fundador da Ethereum, Vitalik Buterin, a consideram como um complemento natural para as blockchains. Estamos falando das Zero-knowledge proofs, ou zk proofs. Segundo Buterin, a tecnologia zk proof (em específico a de zk SNARKS) será tão reconhecida e importante quanto a própria tecnologia da blockchain nos próximos 10 anos.
Isso foi falado durante a Devcon, evento considerado como um dos mais importantes do mercado cripto, organizado pela Ethereum Foundation durante os dias 11 a 14 de outubro, em Bogotá, na Colômbia. Em um painel chamado "What to Know About Zero-knowledge", composto por nomes do setor cripto e especialistas dessa tecnologia, como Vitalik Buterin, Albert Ni, Barry Whitehat e Gubsheep, Vitalik disse que essas duas tecnologias (zk proofs e blockchain) se encaixam perfeitamente. As zk proofs podem ser consideradas essenciais para que esses problemas de escalabilidade e privacidade mencionados sejam resolvidos ao mesmo tempo em que as principais propriedades da Ethereum, como segurança e descentralização, sejam mantidas.
Apesar dessas duas tecnologias serem complementares, é importante dizer que uma não depende da outra para existir. Da mesma forma que existem blockchains que não utilizam da tecnologia de zk proofs, essa também pode ser aplicada em outros cenários além dos quais funcionam uma estrutura de blockchain. Porém, quando andam juntas, podem ser aplicadas a diferentes setores do mercado, desde soluções de primeira camada como acontece na Zcash e Filecoin, passando por soluções de segunda camada de zk Rollups como Immutable X e Polygon ID, até soluções mais complexas, chamadas de zkEVMs, que ainda estão sendo desenvolvidas, como a Polygon zkEVM e a zkSync. Temos uma edição do Morning Jog exclusiva sobre essas novas soluções de zkEVM, a qual pode ser conferida clicando aqui.
Mas o que realmente é uma Zero-knowledge proof? É uma técnica matemática utilizada para checar a veracidade de uma informação sem revelar a própria informação. Isso traz benefícios tanto para a privacidade do usuário quanto para tornar a rede mais escalável e menos pesada. Essa tecnologia permite que os agentes de uma economia criem confiança em um ambiente onde não há confiança. Isso vale para transações, financeiras ou de informações, entre pessoas, empresas e governos. Agora, vamos entender como isso ocorre na prática.
Em relação à privacidade dos usuários, as zk proofs viabilizam que uma das partes (a que prova) pode comprovar a outra parte (a que verifica a prova) que uma determinada informação é verdadeira sem revelá-la por completo. Podemos segmentá-la em privacidade financeira e privacidade de dados pessoais.
Um bom exemplo de como isso se aplica é um usuário conseguir provar que possui mais de 18 anos para uma plataforma, sem fornecer a informação por completo, ou seja, sem revelar sua data de nascimento.
Isso vale também para outros casos de uso, como para um usuário ocultar remetentes, destinatários ou valores transacionados, como ocorre em blockchains como da ZCash.
Já em relação a escalabilidade da rede, a forma com que essa tecnologia agrega é contribuindo com uma diminuição do congestionamento do processamento de transações. Principalmente quando tratamos de soluções de segunda camada da Ethereum, essas a base de zk proofs realizam as validações off-chain (fora da Ethereum, em suas próprias redes) e enviam apenas uma prova para a blockchain principal, onde a transação fica registrada. Quando uma informação é processada por terceiros fora da blockchain principal, existe o problema de confiabilidade de que essa solução execute o cálculo necessário corretamente, o que pode causar grandes consequências para a segurança da rede. Os zk proofs resolvem esse problema, pois permitem que essa informação processada off chain venha junto com uma prova de integridade computacional garantindo que o resultado final esteja correto.
Além disso, essa prova enviada à blockchain principal é muito mais compacta e ocupa muito menos espaço de armazenamento do que se as transações fossem feitas normalmente. O roadmap da Ethereum se encaminha para uma atualização chamada "The Surge", que transformará a estrutura de sua blockchain de monolítica para modular. Isso significa que essas soluções de dimensionamento off-chain ficarão cada vez mais presentes, sendo consideradas como a solução encontrada para controlar as altas taxas da rede. Se você quiser entender como serão as próximas atualizações da Ethereum, recomendo a leitura da edição de 03 de setembro da Morning Jog.
Além desses dois principais benefícios que as zk proofs trazem, durante o painel mencionado da Devcon, Vitalik Buterin disse que ela também contribui para uma maior descentralização do consenso de validação dos blocos. Isso porque ela permite uma maior acessibilidade para um usuário se tornar validador, até mesmo pelo seu celular. Segundo ele, nos próximos 5 a 10 anos veremos empresas criando hardwares de zk proofs super rápidos, sendo possível rodar um node com muito menos requisitos que atualmente.
Ele também destacou a importância do papel dos hardwares que fazem essa computação off-chain. Essa demanda crescente pode fazer com que boa parte do maquinário utilizado para a mineração de Ether antes da mudança do algoritmo de consenso da rede com o "The Merge" em setembro deste ano seja migrado para essa função.
E por fim, vale ressaltar alguns importantes insights retirados deste mesmo painel da Devcon. Gubsheep disse que considera como subestimado no universo de aplicações de zk proofs pontos não relacionados ao "mundo cripto tradicional". Isso inclui sua utilização em dados governamentais, redes sociais, jogos e o setor de supply chain, por exemplo. Um dos pontos que mais se beneficiarão é a questão de interoperabilidade dos dados em diferentes aplicações. Ela permite que, por exemplo, você possa levar sua reputação de uma rede social a outra de forma segura e com privacidade. E ainda finaliza dizendo que as zk proofs serão tão onipresentes no futuro que essa tecnologia vai rodar por baixo dos panos. Assim como não chamamos websites de "Https apps", as pessoas não as classificarão como aplicações de zk propriamente ditas. Existem sites de diversos nichos, como e-commerce, jogos, landing pages e diversas outras que se baseiam em Https, DNS, mas que hoje em dia não são classificados como tal. Sendo assim, classificar as zk proofs como uma categoria de produto é incoerente em sua visão.
Portanto, devemos ficar com olhos abertos com o potencial dessa tecnologia e nas soluções do mercado que pretendem utilizá-la para se desenvolver e agregar mais valor ao usuário final.
Investidores de curto vs longo prazo
O mercado cripto vinha até a última quinta-feira com um grau anormal de baixa volatilidade de preços, principalmente em contraste com o mercado financeiro tradicional. Chegou um ponto em que o Dow Jones, índice que acompanha as 30 maiores ações industriais, oficialmente se tornou mais volátil que o Bitcoin. Isso mostra uma força do setor em meio a um cenário onde o mercado tradicional está altamente volátil e com viés pessimista.
Dito isso, vamos analisar a distribuição de moedas entre os investidores de curto e longo prazo do bitcoin. A oferta sob posse de investidores de curto prazo representa 18,1% do total de moedas. Recentemente, mais de 99% desses investidores de curto prazo estavam com perdas não realizadas. Nas últimas semanas, houve uma leve melhora após uma tendência de baixa tão prolongada, sendo que agora desses 18,1%, cerca de 15,1% estão em perdas não realizadas e 3% com lucros não realizados.
O gráfico a seguir permite comparar padrões do atual fundo do bear market com dos ciclos anteriores.
Após uma tendência de baixa tão prolongada, possivelmente o grau de exaustão da força de venda está se aproximando e se consolidando na faixa de preços atual.
Já a métrica da oferta de moedas dos investidores de longo prazo indica que 31% estão atualmente com perdas não realizadas. Essa porcentagem vem em uma crescente agressiva, muito semelhante aos ciclos anteriores. O que diferencia o ciclo atual é o tempo de duração dessa capitulação dos investidores de longo prazo. O ciclo está nessa região de 30% ou mais da oferta em prejuízo não realizado por 1,5 mês, enquanto durante os ciclos anteriores o período variou de 6 a 10 meses.
Por fim, também podemos comparar o preço médio de aquisição por moeda dos investidores de curto prazo com os investidores de longo prazo.
A atual tendência de baixa fez com que o preço realizado dos investidores de curto prazo ficasse menor que o dos investidores de longo prazo. Atualmente, a base de custo dos investidores de longo prazo está em US$ 23,3 mil e a dos investidores de curto prazo em US$ 22,1 mil.
Em outras palavras, aqueles que estão entrando agora têm uma base de custo melhor do que aqueles que resistiram aos últimos meses de volatilidade.
Isso é reflexo da capitulação dos investidores de longo prazo, principalmente os que compraram próximo ao fim do ano passado, no topo do preço do ciclo atual. Esses tokens agora estão mudando de mãos a preços mais baixos.
Essa inversão ocorreu há duas semanas. Em comparação a esse mesmo fenômeno nos ciclos anteriores, a duração atual ainda é muito curta. Neles a reversão levou entre 145 e 339 dias para acontecer.
Recomendações de leituras:
“What to Know About Zero Knowledge” - Devcon panel
“Zero-Knowledge Proofs: STARKs vs SNARKs” - Consensys
“Hardware Acceleration for Zero Knowledge Proofs” - Paradigm
“The different types of ZK-EVMs” - Vitalik Buterin
“Hackeando a Mente: Identificando e Lidando com 14 Vieses Psicológicos” - Nousi Finance
“Global Web3 Gamer Study” - Coda Labs
“Bitcoin atingiu máxima da mineração! Entrevista com Bernardo Schucman” - Mercurius Crypto
“A Calm Before The Storm” - Glassnode
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 19.195,00 / 7D %: -1,80%
ETH - US$ 1.301,00 / 7D %: -2,22%
USD - 5,32 BRL / 7D %: +2,45%