O que falta para a Web3 dominar o mundo
Edição #416 - Fechamento semanal - 21 de outubro de 2023
O que fizer sentido para os usuários, os usuários estarão utilizando. Também estarão apoiando, divulgando e gerando cada vez mais efeito rede. Foi isso que aconteceu com o Nubank, Uber, Netflix, Whatsapp e tantos outros. E ocorreu porque esses produtos chegaram para resolver uma clara dor do mercado.
Quem já entendeu o real valor da Web3 concorda que apesar dos primeiros casos de relativo sucesso se referirem ao setor financeiro, ela tem potencial de abranger os setores de todas as empresas mencionadas acima, além de muitos outros.
Quando eu digo abranger, quero dizer literalmente dominar. Um cenário onde as soluções líderes de mercado sejam de fato aplicações descentralizadas rodando em blockchain ou, ao menos, soluções com elementos da Web3 em sua essência.
Mas por que isso ainda não aconteceu? Por que a grande maioria dos projetos cripto fracassaram ou ainda vão fracassar?
Muitos dizem que a principal barreira que impede a expansão do setor é relativa à questão da experiência do usuário (UX). Todos que já interagiram diretamente com uma blockchain sabem que ela é pouco intuitiva, com diversos pontos de atrito e com uma curva de aprendizado baixa, ou seja, leva tempo para as pessoas se adaptarem.
É claro que essa é uma questão chave para seu impulsionamento. Conforme a UX se aproxime do que temos hoje na Web2, a adoção de algumas aplicações também deve crescer na mesma medida. Mas a verdade é que de pouco adianta pensarmos em uma super adoção da Web3 se suas aplicações não resolverem fortes necessidades humanas.
Segundo Marc Andressen, co-fundador da a16z (um dos maiores e mais respeitados fundos de Venture Capital do mundo), isso ocorre quando o conjunto de atributos e a proposta de valor de um produto satisfaz as necessidades mal atendidas de um grande mercado.
Esse "fit" entre mercado e produto é o que ocorreu com as empresas mencionadas no início da edição, e até mesmo com a infraestrutura base delas: a própria tecnologia da internet. Mesmo com os usuários precisando utilizar conexão discada, muitas das vezes de madrugada por conta da perda do sinal do telefone fixo e/ou do preço, certas aplicações desenvolvidas em cima dela ganharam tração naquele momento inicial porque atendiam as necessidades do mercado.
Andressen acredita que quando existe um mercado com demanda real e com muitos consumidores potenciais (mesmo que isso não esteja claro), nem o produto nem o time precisam ser excepcionais. Já o oposto, ou seja, um time excepcional com um excelente produto, não serão bem sucedidos se estiverem em um péssimo mercado.
O projeto pode começar com uma equipe sem grandes qualidades e com um produto incompleto e cheio de bugs, mas se o mercado for ótimo e ele for o melhor produto disponível, o sucesso deve acontecer. Claro, ele não durará a menos que o projeto seja aprimorado e o time se qualifique com o tempo, mas o gatilho de impulsionamento mais importante já foi gerado.
Os principais erros das soluções Web3
Agora trazendo essa visão para as aplicações Web3 em seu cenário atual, podemos refletir sobre alguns pontos chave:
Métricas de crescimento não necessariamente significam que o projeto achou seu product-market fit e está caminhando para se tornar bem sucedido a longo prazo.
Aplicações cujo valor que os usuários recebem vem da especulação, programas de incentivos, liquidity mining e promessas de airdrops, indicam uma falsa sensação de sucesso, já que são programas temporários e que não tornam a utilidade real da solução desenvolvida mais interessante aos usuários.
As possibilidades de aplicações não devem se limitar apenas a "cópias melhoradas" de soluções da Web2, como por exemplo um "Uber descentralizado".
Assim como as empresas mencionadas no início da edição revolucionaram o modelo de negócios em seus segmentos, algumas das futuras aplicações dominantes também deverão fazer da mesma forma. Assim como no surgimento da internet, a materialização dos casos de usos práticos da Web3 para além dos iniciais é pouco tangível para as pessoas. Ninguém projetava por exemplo que na internet as marcas poderiam alavancar suas vendas criando lojas virtuais, ou que uma pessoa qualquer poderia alcançar uma audiência de milhões com poucos cliques e mudar de vida através disso.
A questão do meme e da comunidade, por mais forte que possa parecer, por si só não se sustenta.
Vemos a todo momento projetos de qualidade duvidosa alcançando níveis de engajamento surpreendentes, muitas das vezes sem sequer possuir um MVP, ou até mesmo atingindo valuations astronômicos sem uma validação inicial de seu modelo de negócios. Esses fatores ajudam mais no sentido de angariar tempo e dinheiro até que o product-market fit seja atingido, e devem perder cada vez mais relevância conforme a indústria amadurece.
Alguns projetos estão no caminho certo, mesmo não tendo alcançado uma adoção exponencial que fure a bolha cripto (até o momento). Plataformas sociais que permitem a propriedade direta do conteúdo criado como Sound.xyz, Mirror.xyz e Lens.xyz são ótimos exemplos de como a propriedade digital pode impactar e revolucionar a forma como a criação de conteúdo funciona atualmente, além de criar novas formas de monetização aos criadores e usuários.
Comunidades Web3 e DAOs, como a Nouns ou a Bankless, criam um senso de pertencimento maior a seus membros, que acabam gerando mais valor por conta de um mecanismo de incentivo inovador. A real propriedade de ativos e o poder de influência baseado em um esforço (seja ele financeiro ou de trabalho) tem um papel fundamental nisso.
Por fim, o caso mais óbvio até o momento são as soluções financeiras, como Uniswap e Aave, que permitem a movimentação de recursos com mais autonomia e a um custo menor, sem depender de estruturas burocráticas e demoradas.
Esses casos evidenciam que soluções construídas em cima da Web3 podem, devem e estão encontrando um conjunto de usuários que se identificam com seu produto. No entanto, o fato de elas ainda não serem líderes em seus setores ou ao menos mais competitivas que são hoje nos mostra que existe espaço para muita experimentação e evidencia a quantidade de outras variáveis que influenciam a adoção de novas soluções, apesar do product-market fit ser a principal.
As dez notícias mais importantes da semana
Fake news sobre aprovação de um pedido de abertura de um ETF spot de Bitcoin fez o ativo valorizar 10% em poucos minutos na última segunda-feira;
A Lightning Labs lançou seu novo produto chamado Taproot Assets, que permite a emissão de stablecoins e outros ativos nas redes Bitcoin e Lightning;
A Scroll, uma rede de segunda camada zkEVM, foi lançada oficialmente na Ethereum mainnet;
A Uniswap V4 permitirá a possibilidade de obrigar os usuários a passarem pela prática de KYC antes de negociar determinadas pools de tokens. Já a Uniswap Labs anunciou que a partir de 17 de outubro, uma taxa de swap de 0,15% será aplicada em determinados tokens;
A XP Investimentos anunciou o encerramento das operações de sua plataforma de criptoativos, a Xtage, pouco mais de um ano após seu lançamento;
O Grayscale Bitcoin Trust (GBTC) está sendo negociado com o menor desconto desde 2021, de cerca de 14% em relação ao valor de suas participações subjacentes em bitcoin;
A demanda pelo processo de staking de ETH diminuiu nos últimos meses e vem se estabilizando;
Razões pelas quais as startups mais falham
O gráfico a seguir mostra as principais razões pelas quais as startups mais falham. De acordo com um levantamento feito pela CB Insights no ano de 2017, 42% das startups fracassadas analisadas não encontraram um mercado para o produto desenvolvido. As porcentagens correspondentes a problemas com a equipe e com o produto foram de 23% e 17%, respectivamente.
Conteúdos Recomendados:
“O mercado do Bitcoin e das criptomoedas é manipulado?” - Next Web
“The only thing that matters” - Marc Andreessen
“12 Things About Product-Market Fit” - a16z
“The Barrier to Mainstream Crypto Adoption Isn’t UX — It’s Product-Market Fit” - Variant
“Finding a product-market fit” - IOSG Ventures
“As próximas narrativas do mercado DeFi” - Morning Jog
“Criamos a melhor planilha do mercado cripto” - Morning Jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 29.463,00 / 7D %: +10,22%
ETH - US$ 1.606,00 / 7D %: +4,05%
USD - 5,04 BRL / 7D %: -2,06%
Cotação atualizada em: 20/10/2023 às 16:40
Sobre o Morning Jog
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