A revolução do staking chegou ao Bitcoin
Edição #695 - Fechamento semanal - 14 de setembro de 2024
Babylon é um dos protocolos mais interessantes dessa nova era do Bitcoin, em que builders estão procurando aumentar a utilidade da blockchain e do token. Embora o projeto esteja em alta no momento devido à especulação sobre seu futuro airdrop, a verdade é que o protocolo desbloqueará uma nova fonte de rendimento sustentável para os holders de BTC.
Atualmente, a única forma de gerar yield na rede do Bitcoin não é através do token BTC, mas sim do processo de mineração, conquistando as recompensas provenientes dos novos blocos minerados e das taxas de transação pagas pelos usuários. Os holders que não estão envolvidos nesse processo e querem rentabilizar seus BTC precisam buscar alternativas não nativas, como usar WBTC em protocolos DeFi de blockchains como Ethereum.
Essas opções se provaram pouco interessantes, tanto por conter novas camadas de risco quanto pela própria rentabilidade obtida. Atualmente, protocolos de empréstimo como Aave estão pagando taxas inferiores a 0,1% ao ano para investidores que desejam emprestar seus ativos.
Rendimento anual pago por se emprestar WBTC na Aave
Fonte: Aave
Foi por conta disso que empresas centralizadas de rendimentos cresceram significativamente em 2021, como a Celsius, que oferecia um rendimento de 8% ao ano em BTC. Antes de sua falência, a empresa chegou a atrair mais de 43 mil BTC, o equivalente a US$ 2,5 bilhões em valores atuais.
Esses fatores acabam desincentivando atividades econômicas em torno do ativo, que representam mais de US$ 1 trilhão de recursos "parados".
Onde a Babylon entra nessa história?
Babylon é um novo primitivo do mercado, que busca atacar esse problema criando uma nova fonte de rendimento sustentável para os holders de BTC. Seu papel é permitir que usuários possam fazer "staking" de seus BTC ociosos, que são direcionados para garantir a segurança econômica de outras blockchains Proof-of-Stake (PoS).
Modelo de funcionamento simplificado da Babylon
Fonte: Babylon Labs
Ela atua de forma semelhante a de protocolos de restaking de ETH, como a EigenLayer, permitindo que os usuários mantenham a auto-custódia de seus ativos enquanto eles estão travados. As duas principais diferenças são que os tokens travados na Babylon são BTC e que os mesmos podem ser travados e mantidos pelos usuários nativamente na rede do Bitcoin, sem a necessidade de envio para endereços de terceiros ou da realização de bridges para outras blockchains.
Os rendimentos obtidos nesse processo são pagos em altcoins dos próprios projetos que estão recebendo a segurança econômica do BTC provida pela Babylon e podem ser solicitados pelo usuário na própria rede que recebeu a validação. Diversas redes podem receber essa segurança ao mesmo tempo e quanto mais redes são validadas, maiores os rendimentos obtidos pelos holders de BTC.
Como isso é possível?
A Babylon utiliza um conceito chamado de "Remote Staking", semelhante a EigenLayer, para evitar a necessidade de confiar em terceiros, como provedores de bridge ou custodiantes. O remote staking envolve travar, fazer staking e eventualmente penalizar (slashing) um determinado ativo em sua rede de origem de forma auto-custodial, enquanto ganha rendimentos proveniente desse processo em outra rede. No entanto, diferentemente da Ethereum e de outras plataformas que suportam contratos inteligentes, o Bitcoin tem limitações que dificultam a construção de aplicativos complexos.
Ou seja, para construir uma arquitetura bem sucedida nesse sentido seria necessário construí-la dentro das limitações do Bitcoin, introduzir mecanismos externos centralizados ou depender de um fork do Bitcoin que possa fornecer funcionalidades adicionais, como o OP_Cat. O time escolheu a primeira opção.
A Babylon utiliza ferramentas como a linguagem de script nativa do Bitcoin para emular Covenants, conseguindo personalizar e programar as condições sob as quais os UTXOs podem ser gastos no futuro. Isso inclui o bloqueio temporal dos recursos (timelocks) e outras condições de desbloqueio.
Dessa forma, consegue-se criar um cofre auto-custodial com bloqueio temporal, onde o holder de BTC faz staking dos ativos por um período determinado e que somente ele pode resgatar os mesmos na data de término, usando sua chave privada.
De forma complementar a essa estrutura, existe a Babylon Chain, uma rede L1 que tem o objetivo de ser a camada de agregação e coordenação entre a rede do Bitcoin e as outras redes PoS validadas. Ela foi construída a partir do Cosmos SDK e utiliza o padrão IBC (Inter-Blockchain Communication), também da Cosmos, para realizar essa comunicação de forma efetiva.
Modelo de funcionamento da Babylon
Fonte: Messari
Parcerias e integrações
A Babylon já firmou dezenas de parcerias com redes que pretendem utilizar a segurança econômica do Bitcoin, validando não só que os holders de Bitcoin querem rentabilizar seus ativos, mas que outros ecossistemas têm interesse em importar sua segurança econômica. Alguns exemplos de interessados incluem: Cosmos Hub, Osmosis, Akash Network, Injective, Sei, Stride, B Squared Network, AltLayer, entre muitos outros.
Esses projetos variam desde redes como o Cosmos Hub, que já possui mais de US$ 1 bilhão em ativos em staking impulsionando a rede, até blockchains de alta performance como Sei, projetos de IA descentralizada, de rollup-as-a-service (RaaS) ou até mesmo de redes L2s e de Data Availability do Bitcoin.
Parcerias já realizadas pela Babylon
Fonte: Messari
Como se expor a essa narrativa:
O projeto lançou no último mês sua rede principal e ainda trabalha com um limite máximo de depósitos, fixado em mil BTCs, o qual está totalmente preenchido no momento. Nos próximos meses novas ondas de depósitos devem ocorrer, mas por hora não há como travar mais BTCs no protocolo.
Apesar disso, existe um ecossistema de soluções de staking líquido da Babylon que estão aceitando depósitos. Quando a nova onda de abertura da Babylon ocorrer, eles vão realizar o staking pelos usuários, semelhante ao que a Etherfi fez para usuários que queriam se expor a EigenLayer.
Dessa forma, podemos utilizar esses protocolos, que estão na rede Ethereum e aceitam derivados do Bitcoin, como WBTC, para garantir uma exposição a Babylon quando os novos depósitos abrirem. Isso também irá permitir exposição ao airdrop dessas próprias soluções de staking líquido, com o mesmo capital inicial.
As mais relevantes são:
Lombard: US$ 285 milhões em BTC já depositados; emitem em troca o token LBTC e contabilizam pontos Lombard;
Solv: US$ 195 milhões em BTC já depositados; emitem em troca o token SolvBTC e contabilizam pontos Solv;
Bedrock: US$ 145 milhões em BTC já depositados; emitem em troca o token uniBTC e contabilizam pontos Bedrock;
Etherfi: US$ 79 milhões em BTC já depositados no vault eBTC; garante exposição a pontos Lombard e de outros projetos como EigenLayer, Symbiotic, Karak e Veda;
Pendle: Garante exposição alavancada ao vault da Etherfi (eBTC) através do token YT-eBTC; atualmente está entregando um multiplicador de 47x pontos Babylon (quando abrirem novos depósitos) e 93x de pontos Lombard, além de multiplicadores nos outros projetos mencionados. Vale ressaltar que essa é uma posição de alto risco, visto que em troca desse multiplicador sua posição e YT-eETH irá a zero na data de expiração da posição, que é 25 de dezembro de 2024. Em outras palavras, essa é uma forma de "comprar pontos".
Vale ressaltar que esses movimentos, tanto de depósito nativo na Babylon quanto através das suas soluções de staking líquido, ainda não garantem a rentabilidade de validação das redes PoS, visto que esse processo ainda não se iniciou.
Uma nova era de rendimento para o Bitcoin
A Babylon está recebendo atenção do mercado pois oferece uma solução para um dos maiores desafios do Bitcoin: a ausência de rendimento intrínseco. Com essa proposta, os investidores que buscam gerar yield com os seus BTC podem finalmente ter uma alternativa que não dependa de camadas externas de risco, mesmo que os rendimentos sejam pagos em altcoins.
Além disso, os protocolos de staking líquido ampliam seu alcance e ainda fornecem liquidez para que os usuários possam dar utilidade a seus tokens líquidos utilizando-os como colateral para a tomada de empréstimos, provendo liquidez para pools ou usando-os como margem em protocolos de trading. Tudo isso, enquanto recebem os rendimentos de staking.
Seu futuro é promissor. Assim como a EigenLayer está transformando a segurança econômica do ecossistema através do token ETH, a Babylon busca fazer o mesmo com o token BTC, que tem uma capitalização de mercado significativamente maior. O potencial mercado de US$ 1,4 trilhão do Bitcoin pode fazer a Babylon emergir como um dos maiores protocolos cripto.
As notícias mais importantes da semana
O Brasil está em 10º lugar entre os países com maior adoção dos criptoativos no mundo, ranking liderado pela Índia;
O Nubank anunciou o encerramento da funcionalidade de compra e venda da Nucoin, lançada há um ano e meio;
A Ether.fi anunciou que a Scroll, uma L2 da Ethereum, será usada para liquidação de transações do seu cartão de crédito, o Ether.fi Cash;
Um vídeo vazado da Chainalysis sugere que as transações em Monero (XMR) podem ser rastreáveis, contrariando a premissa de que essa criptomoeda é totalmente privada e confidencial;
O governo do Reino Unido apresentou ao Parlamento um projeto de lei que visa definir formalmente criptoativos, incluindo NFTs e ativos do mundo real tokenizados (RWAs), como uma nova forma de propriedade;
A Receita Federal (RF) informou que sua nova tecnologia de monitoramento de movimentações financeiras já conseguiu identificar operações fraudulentas e de sonegação fiscal com criptomoedas que somam cerca de R$ 1 bilhão;
O market share da Uniswap, que já foi dominante no setor de corretoras descentralizadas (DEX), caiu de mais de 50% em outubro de 2023 para 36% em setembro de 2024, enquanto novos concorrentes como Aerodrome e Orca estão ganhando espaço;
A Fractal Bitcoin, uma solução de escalabilidade para o Bitcoin, lançou sua mainnet, oferecendo uma solução que utiliza o código base do Bitcoin Core;
A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) aplicou multas que totalizam US$ 7,4 bilhões à indústria cripto desde 2013.
Links recomendados
“Babylon Litepaper” - Babylon Labs
“Babylon: Bitcoin Shared Security and Staking” - Messari
“A revolução silenciosa da Ethereum” - Morning jog
“Decifrando os ciclos de mercado com análise on-chain” - Morning jog
“Por dentro dos movimentos de mercado com o DeBank” - Morning Jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 58.250,00 / 7D %: +5,84%
ETH - US$ 2.364,00 / 7D %: +0,83%
USD - 5,57 BRL / 7D %: -0,01%
Cotação atualizada em: 13/09/2024 às 11:30
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