Aptos se prepara para disputar espaço com outras blockchains
Edição #380 - Fechamento semanal - 09 de setembro de 2023
Nos últimos dois anos, a visão de um ecossistema cripto cada vez mais multi-chain e modular reacendeu a narrativa de blockchains de primeira camada. Novas alternativas surgiram, mas desta vez, ao invés de ter como proposta "matar a Ethereum", essas novas blockchains buscam dividir o mercado com ela.
Entre estas redes que querem um espaço ao lado da Ethereum, está a Aptos. A blockchain é um dos cases que vem chamando atenção no setor por possuir um time composto por ex-integrantes da Meta (Facebook), por ter sua própria linguagem de programação e uma grande quantidade de recursos disponíveis para fomentar seu ecossistema. A Aptos captou US$ 350 milhões com alguns dos maiores fundos venture capital, como a16z, Jump Crypto e Dragonfly. Esta rede foi projetada para ser altamente escalável e conseguir suportar uma base de bilhões de usuários, incluindo também grandes clientes corporativos.
Dessa forma, traremos nesta edição de fechamento semanal da Morning Jog os principais pontos que você precisa saber para ficar por dentro da tecnologia por trás da Aptos e de seu ecossistema como um todo. É importante também o adendo que a Morning Jog recebeu recentemente um grant do projeto, na qual a Aptos Foundation reconheceu os esforços da Morning Jog em levar um conhecimento educativo de qualidade para o público brasileiro.
Como funciona a tecnologia da Aptos
A Aptos funciona através de um mecanismo específico de Proof-of-Stake, chamado Byzantine Fault-Tolerant (BFT). Seus token holders fazem o staking através de um sistema de delegação, selecionando validadores específicos, os quais têm no consenso da rede um peso proporcional a quantidade total de tokens delegados que possuem.
Um de seus diferenciais em relação às principais blockchains do mercado é sua linguagem de programação própria, chamada Move. Ela é uma linguagem baseada em Rust (linguagem de programação da Solana) e foi desenvolvida por Sam Blackshear especificamente para o projeto Diem, do Facebook - na época, a rede social visava criar sua própria stablecoin e seu próprio sistema de pagamento, mas cancelou a iniciativa após pressão regulatória. Blackshear é, também, um dos core members de outra blockchain, a Sui, que assim como a Aptos, também possui um time composto por ex-integrantes da Meta.
Linguagem de programação Move
A linguagem Move e a arquitetura da Aptos implementam de forma nativa diversas melhorias que outros ecossistemas estão precisando passar para continuarem competitivos, além de ter como um de seus princípios chaves a dinamicidade, ou seja, sua capacidade de se atualizar conforme necessário.
A Aptos torna possível executar transações de forma mais rápida e mais segura através de uma abordagem modular, ou seja, com o processamento paralelo de transações de forma simultânea. Sua diferença em relação a outros ecossistemas modulares é que a Aptos não quebra a atomicidade das transações e, portanto, não sofre do problema de composabilidade entre os diferentes canais de processamento. No texto em que falamos sobre a modularização das blockchains, mostramos que a Ethereum tenta resolver o problema de escalabilidade através da delegação da função de execução das transações para os rollups. Do mesmo modo, quer resolver o problema da composabilidade e da fragmentação de liquidez entre eles através da delegação da função de Data Availability para outras blockchains especializadas, como a Celestia.
“Account Abstraction” nativo
Uma das principais melhorias que a linguagem Move trás é relacionada a forma como os endereços de carteira funcionam. Uma carteira na Aptos é composta por quatro componentes: uma chave pública e uma chave privada (como já estamos acostumados); além de uma chave de autenticação e um endereço público.
Dos quatro, apenas o endereço público (que representa sua identidade) é imutável. Novas chaves públicas e privadas podem ser geradas sempre que necessário a partir da chave de autenticação.
Esse mecanismo é chamado de "rotação de chaves" e é uma ótima arma de mitigação de riscos associados a vazamentos, ataques hackers e até de futuros avanços tecnológicos capazes de quebrar os algoritmos criptográficos existentes. Além disso, a capacidade de delegar essa geração de novas chaves para endereços de terceiros inibe problemas relacionados ao esquecimento das mesmas e, consequentemente, a perda dos fundos da carteira.
Vale mencionar que essas possibilidades não são obrigatórias, mas acabam sendo fundamentais para que as grandes massas possam se inserir na Web3. Isso porque uma das maiores barreiras de entrada e manutenção de novos usuários é a segurança e a complexidade do processo de auto custódia.
Outro problema de segurança atual que a tecnologia por trás da Aptos pretende resolver é a falta de transparência das wallets atuais. A Petra, wallet nativa da Aptos, disponibiliza ao usuário de forma simples o que de fato vai acontecer se a transação for assinada, combatendo a assinatura de transações maliciosas por engano. Outras coisas, como a possibilidade de impor restrições de gastos também podem ser feitas.
Quem leu nossa edição sobre Account Abstraction na rede Ethereum pode ter enxergado algumas similaridades. Não é errado dizer que algumas das melhorias que a Ethereum busca implementar com o padrão ERC-4337 do Account Abstraction, a Aptos incorporou de forma nativa em sua blockchain.
Ecossistema da Aptos
O ecossistema de soluções nativas desenvolvidas pelo time da Aptos vai além de sua blockchain. Fora a Aptos Labs, que representa o próprio time, também temos o Aptos Labs Accelerator, que visa apoiar, por meio de financiamento, orientação e suporte técnico, os projetos em estágio inicial que querem construir soluções em sua blockchain. Outras iniciativas são o Aptos Explorer, explorador de blocos oficial do projeto, a Aptos Wallet (Petra), a Aptos bridge e a Aptos DAO.
Essas soluções nativas se somam a algumas integrações e parcerias já feitas para fomentar seu ecossistema. Entre elas, temos como as principais:
Aptos e Moonpay: parceria para facilitar o onramp de moeda fiduciária pela interface da Aptos Wallet;
Aptos e Google Cloud: parceria para a hospedagem de nós validadores da rede. Isso permite que qualquer um consiga rodar um nó na rede Aptos em menos de 15 minutos, sem a necessidade de possuir qualquer hardware;
Aptos e Microsoft: a parceria tem objetivo integrar o chatbot de inteligência artificial da Microsoft, apelidado de Aptos Assistant, para fornecer informações sobre a rede Aptos aos participantes interessados, facilitando a integração dos usuários na Web3;
Aptos e Mastercard: parceria com objetivo de implementar o Mastercard Crypto Credential no ecossistema da Aptos. Isso é um conjunto de padrões e infraestrutura comuns que ajudarão a testar interações confiáveis entre consumidores e empresas que usam blockchains;
Aptos e NBC Universal: A parceria teve como objetivo a elaboração de um jogo Web3 sobre o filme Renfield, que conta com a participação de Nicolas Cage.
Agora, falando sobre os dApps já funcionais, temos entre os principais os protocolos DeFi Thala, PancakeSwap e LiquidSwap. Juntos, eles representam mais de 90% dos US$ 47,8 milhões de Total Value Locked (TVL) da rede Aptos, segundo o Defillama.
Figura 1: Valor total travado (TVL) na rede Aptos
Existem outras aplicações em desenvolvimento com grande potencial de adoção no ecossistema, como a Econia Labs, um protocolo que está desenvolvendo um back-end para ser a camada base de todas as aplicações DeFi, em um modelo de order book direcionado aos mercados spot e de derivativos. O protocolo já levantou US$ 6,5 milhões em uma rodada seed liderada pela Dragonfly Capital. Aqui é possível conferir todas as soluções disponíveis em seu ecossistema.
Recentemente, a Aptos também anunciou uma integração com um aplicativo de compartilhamento de vídeos semelhante ao TikTok, chamado Chingari. Isso impulsionou a quantidade de usuários ativos da rede em algumas vezes, como pode-se observar nos gráficos a seguir.
Figura 2: Contas ativas diárias e novas contas criadas na blockchain Aptos
Quem é quem no time
Sua equipe é composta por ex-funcionários da Meta que atuavam no Diem (anteriormente conhecido como Libra), um projeto de blockchain privada proposto pela big tech com o objetivo de ser uma rede de pagamentos para stablecoins e também de criar uma criptomoeda privada própria, com a finalidade de servir como meio de pagamento para a base de mais de 2 bilhões de usuários da rede social.
O projeto não foi adiante por conta de uma forte pressão dos reguladores americanos. A impressão passada foi de que uma moeda privada em uma plataforma de grande escala e com uma sólida base de usuários poderia aumentar bastante a influência e o poder da Meta, além de diminuir o poder de influência do dólar.
Com o arquivamento do projeto em 2021, Avery Ching (Ex-Tech Lead no Facebook e no Yahoo) e Mohammad Saikh (Ex-Strategic Partnership Lead na Facebook Wallet, com passagens por Consensys, BlackRock e Boston Consulting Group) saíram da companhia para fundar a Aptos Labs.
Já em 2022, eles conseguiram levantar US$ 350 milhões com 29 investidores em três rodadas de captação, que contaram com a participação de players como a16z, Jump Crypto, Dragonfly, Tiger Global, Binance Labs, FTX Ventures Paypal Ventures e Paxos.
Tokenomics
Seu token nativo, o APT, serve como pagamento das taxas de gás necessárias para realizar transações na rede, manter a segurança da rede através do processo de staking além de garantir poder de participação na governança do protocolo. Com um supply inicial de 1 bilhão de tokens e sem um supply máximo definido (atualmente existem 1,053 bilhão), cerca de 17,5% já estão postos em circulação. O restante será liberado gradativamente até 2032, em atividades como recompensas em staking e incentivos para a comunidade, além das partes dos investidores, da própria equipe e dos contribuidores do projeto. Isso nos mostra uma certa centralização do supply total com a Aptos Foundation (que também gere a parte direcionada a comunidade da rede) e seus investidores. Do mesmo modo, nos faz projetar uma grande taxa de inflação do token para os próximos anos, ocorrendo destravamentos mais intensos em 2024 e 2026, como pode-se observar na imagem a seguir.
Figura 3: Desbloqueio futuro de tokens APT
Aptos tem características que permitem que se consolide no mercado
Podemos destacar vários aspectos do projeto: a competência e a longa experiência da equipe de desenvolvimento, que trabalha em conjunto há anos e tem uma forte rede de contatos; a tecnologia inovadora baseada na linguagem de programação Move, com todas as possibilidades e melhorias que ela traz; o apoio de renomados fundos de venture capital capazes de contribuir com capital intelectual, parcerias e conexões; e o fato de estarem bem financiados para impulsionar suas operações e promover o desenvolvimento do ecossistema por meio de incentivos iniciais. Isso faz a Aptos, na teoria, um dos projetos com mais potencial de consolidação do mercado.
Porém, é importante ressaltar que outros componentes devem entrar na equação quando tentamos projetar quem serão os ganhadores nesse espaço. Nem sempre a melhor tecnologia acaba sendo a mais adotada. E, no final das contas, o efeito rede tem um papel determinante nisto.
A Aptos ainda está longe do seu potencial em termos de níveis de adoção. Isso ocorre, em partes, por conta do seu lançamento tardio em comparação a outras plataformas do setor. Do outro lado, podemos relembrar o início da internet e perceber que muitas das soluções iniciais criadas para o setor acabaram perdendo influência e até mesmo morrendo ao longo do tempo. No fim, no caso da internet, novas plataformas se consolidaram no longo prazo e venceram.
Por fim, vale mencionar a importância de se diferenciar o potencial de adoção da infraestrutura tecnológica do projeto com a valorização do token APT a curto e médio prazo. Se no primeiro caso temos um caminho claro dos benefícios e diferenciais trazidos, o segundo caso inclui outras variáveis, como o fato mencionado de que mais de 80% dos tokens ainda estão fora de circulação: principalmente, a parcela direcionada ao time e aos investidores podem gerar uma pressão de venda significativa nos próximos anos.
As dez notícias mais importantes da semana:
A Visa anunciou um projeto piloto para experimentar o uso de criptomoedas como forma de pagamento para empresas por meio da rede Solana;
O Swift anunciou que realizou com sucesso testes de interoperabilidade de blockchains e tokenização com mais de dez instituições financeiras, entre elas Citi, BNP Paribas e BNY Mellon.
Os co-fundadores da Gala Games entraram em uma disputa judicial um contra o outro alegando um roubo de US$ 130 milhões e desperdício de recursos da companhia;
O Ethereum Brasil e o Blockchain Festival, dois dos maiores eventos cripto brasileiros, se juntaram para promover um Buildathon focado no Drex, o real digital;
O co-fundador da Matter Labs, empresa que desenvolve a zkSync, propôs um sistema de "corte e tribunal" para a Ethereum, semelhante a um sistema judicial hierárquico do mundo real;
O Cripto Cassino Stake.com, apoiado pelo rapper Drake, sofreu um exploit de aproximadamente US$ 40 milhões. O FBI afirmou que o grupo Lazarus da Coreia do Norte foi o responsável;
O protocolo de derivativos dYdX aprovou o token DXDY para sua nova appchain independente;
O setor de staking cresceu 292% em relação às mínimas de junho de 2022, atingindo um total de US$ 20 bilhões, segundo a Bloomberg;
A Coinbase iniciou um serviço de empréstimo de criptomoedas para investidores institucionais dos EUA;
Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum, divulgou um artigo de pesquisa focado em um protocolo de privacidade chamado Privacy Pools;
O cantor Justin Bieber vai lançar um NFT de sua música de sucesso “Company”, que dará aos fãs a oportunidade de receber uma parte dos royalties da canção;
Investidores pessimistas
O indicador Fear & Greed index, que mensura o sentimento dos investidores em relação ao momento atual, está marcando 46 pontos, representando um sentimento de medo. O indicador segue estabilizado na faixa entre os 39 e 52 pontos.
Adoção do OP Stack crescendo
O nível de adoção do OP Stack vem crescendo significativamente, comprovando que seu modelo de negócios faz sentido e que o mercado está caminhando para um processo de comoditização das layers 2, seja as que têm propostas mais generalistas quanto também as de aplicações específicas (app chains).
O TVL acumulado das soluções blockchain que utilizam o OP stack como infraestrutura base atingiu a marca de US$ 3 bilhões. No presente momento, temos:
5 chains que já lançaram sua mainnet: Optimism, Base, Zora, Aevo e Public Goods Network;
5 chains que lançaram sua testnet: OP BNB (Binance), Mode Network, UniDex Exchange, Kinto e Manta Network;
6 chains que anunciaram oficialmente planos nesse sentido: Celo, DeBank, Magi (a16z), Lyra, Lattice e Clave.
Figura 4: Adoção do OP Stack por redes de segunda camada
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Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 25.886,00 / 7D %: -1,65%
ETH - US$ 1.636,00 / 7D %: -2,07%
USD - 4,99 BRL / 7D %: -2,10%
Cotação atualizada em: 08/09/2023 as 21:30
Sobre o Morning Jog
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