O maior evento blockchain da América Latina: nossas impressões do Blockchain Rio
Edição #659 - Fechamento semanal - 03 de agosto de 2024
Tokenização, regulamentação, Web3 e intersecção entre blockchain e o setor público foram apenas alguns dos temas debatidos nos dias 24 e 25 de julho, no Blockchain Rio 2024. A edição deste ano contou com a presença de figuras como Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, Charles Hoskinson, co-fundador da Ethereum e fundador da Cardano e consolidou o evento como principal de tecnologia blockchain na América Latina.
Nós, da viden.vc, participamos pelo terceiro ano consecutivo e estamos aqui para compartilhar nossas impressões e insights do evento. Nesta edição de fechamento semanal da Morning Jog, exploraremos as principais tendências de mercado discutidas, os projetos inovadores que se destacaram e as empresas que marcaram presença, proporcionando uma visão abrangente e inspiradora do futuro da tecnologia blockchain no Brasil e no mundo.
O evento cresceu significativamente desde 2022, refletindo o início do bull market. A edição de 2024 teve um aumento no espaço físico, além de mais patrocinadores e estrutura como um todo, atraindo um maior número de participantes, empresas, líderes corporativos, reguladores, desenvolvedores e investidores. O evento contou com mais de 300 palestrantes e a estimativa é de que 14 mil pessoas tenham comparecido durante os dois dias de evento.
Um dos pontos mais interessantes foi observar iniciativas tendo contato pela primeira vez com o mercado brasileiro, sempre com o objetivo de furar a bolha cripto e atrair novos usuários ao universo descentralizado. A Tanssi Network, uma parachain da Polkadot especializada na criação de appchains, anunciou no Blockchain Rio uma parceria com o Flow Podcast, um dos maiores podcasts do Brasil, para a criação da Flow Chain. Já a VeChain, uma L1 empresarial especializada em cadeias logísticas, agora conta com o lutador Charles do Bronxs como embaixador da marca. As duas soluções estavam presentes com estandes e participaram de conversas sobre seus produtos.
Nos corredores do evento e nos eventos paralelos, também pudemos coletar as impressões de especialistas em segmentos específicos de mercado. Lauro Inada e Vinicius Bitnoob, que acompanham de perto o setor de blockchain games, revelaram um entusiasmo renovado pela Ronin. Apesar dos desafios dos últimos dois anos, com o declínio do Axie Infinity e o hack na Ronin Bridge, o ecossistema da Ronin se recupera gradativamente e já possui jogos prontos como Pixels, liderando atualmente o segmento em número de usuários ativos. Comparações foram feitas com a Immutable, que, apesar de seu potencial, incentivos de ecossistema e uma maior abstração da experiência do usuário com o Immutable Passport, ainda está com seus jogos em desenvolvimento.
Fábio Catalão, especialista do ecossistema Starknet, compartilhou sua convicção sobre o roadmap da rede, enfatizando seu diferencial tecnológico, visão de longo prazo e a diferença da visão do time em relação a quesitos como marketing e incentivos de curto prazo. Também discutimos sobre o potencial disruptivo da implementação de provas zk-Starks na rede do Bitcoin, proposto recentemente pela Starkware, empresa mãe da Starknet.
Já o analista Rafael Castaneda comentou sobre a nova prova de conceito da Valocracria, que é uma nova forma de organização social mais justa e sustentável na Web3. O projeto Moonvilla será realizado em parceria com a Moonbeam, parachain da Polkadot, e será importante para validar algumas premissas básicas do conceito, antes de sua adoção por outras comunidades. Pudemos tirar dúvidas sobre o conceito, como as formas de mitigar mecanismos de suborno e farms em grande escala sem precisar limitar o número de participantes de uma valocracia arbitrariamente.
Já sobre os palcos, diversos ocorreram simultaneamente, inclusive alguns exclusivos para segmentos específicos de mercado. Alguns dos exemplos foram o palco Blockchain Gov, focado no setor público, o Legal Hack, voltado para advocacia e o compliance da indústria, o Energy Tech, direcionado assuntos que tangem energia e sustentabilidade e o AGTech, voltado à indústria do agronegócio.
Sergei Nazarov palestrou virtualmente sobre a Chainlink, a qual é co-fundador, discutindo a integração de sistemas financeiros globais com blockchain. Ele destacou como o Chainlink CCIP pode facilitar o diálogo entre governos e blockchains públicas, integrando o sistema SWIFT à nova infraestrutura descentralizada para facilitar pagamentos transfronteiriços e outras aplicações financeiras. Além disso, foi mencionado a importância da tecnologia zk para garantir a privacidade e os direitos fundamentais dos usuários, tema que também foi amplamente debatido em outros painéis.
A Solana, que marcou presença através do Solana Superteam Brasil, também foi destaque com um super estande e com um palco próprio. Foram discutidos diversos temas que tangem a evolução de seu ecossistema, suas aplicações, cultura, e conteúdos voltados aos builders da rede. Cabe destacar o Demo Day, momento em que 13 startups puderam apresentar seus negócios para investidores anjo e fundos de Venture Capital, incluindo a viden.vc, que esteve presente como um dos jurados.
Já sobre as tendências da indústria, podemos destacar algumas que nos chamaram atenção.
Tokenização de ativos vem se expandindo exponencialmente
Uma das principais tendências é a tokenização de ativos do mundo real, que corresponde a um dos segmentos de mercado com mais potencial de crescimento para os próximos anos. Este tema incluiu a tokenização do mercado imobiliário, do agronegócio, de produtos financeiros e de componentes emitidos e gerenciados pelo setor público. Empresas como a Agrotoken, que atua com a tokenização do agronegócio, a XDC Network, uma L1 voltada à tokenização de ativos do mundo real (RWA), e o próprio Banco Central do Brasil, que lidera o projeto DREX, foram os destaques da edição. Também foram discutidas iniciativas de empresas como Petrobras e dos grandes bancos, que estão explorando a tokenização em seus respectivos setores.
A regulação veio pra ficar
Outra clara tendência do mercado é o avanço regulatório do setor no mercado brasileiro. A clareza regulatória e a viabilidade jurídica de produtos e serviços inovadores que utilizam tecnologia blockchain para melhorar processos defasados está avançando significativamente. Vimos bastante ênfase em debates em torno de direitos intelectuais na blockchain, estruturação jurídica para tokenização de ativos, aspectos tributários na tokenização de produtos financeiros como recebíveis e a prevenção de crimes e fraudes na Web3.
A nova lei de criptoativos, recentemente aprovada pelo governo federal, também foi um tópico importante. Além disso, delegados da polícia civil, procuradores da república, chefes de escritórios de advocacia e advogados criminalistas enfatizaram bastante as discussões sobre a tributação dos criptoativos, destacando a importância de um ambiente regulatório bem estruturado.
Mais transparência e eficiência ao setor de energia
Mais uma forte tendência percebida é o uso de blockchain no setor de energia, com professores acadêmicos, empreendedores e funcionários públicos discutindo como a tecnologia blockchain pode revolucionar o setor energético, As discussões passaram por temas como originação e distribuição energética, tokens ESG, crédito de carbono e mineração de criptomoedas. A Petrobras também esteve presente em alguns palcos sobre a utilização de blockchain para aprimorar sua eficiência energética e sua cadeia logística.
Presença cada vez maior da blockchain no setor Público
Já a intersecção da tecnologia com o setor público vem ficando cada vez mais presente. O DREX e outros projetos governamentais foram apresentados e discutidos, como o case da prefeitura de Araguaína (TO), que está utilizando blockchain para melhorar os serviços públicos. O BNDES destacou suas iniciativas, incluindo o desenvolvimento da Rede Blockchain Brasil, uma rede não financeira para certificados digitais como diplomas e históricos de dados de saúde. Especialistas do BNDES também discutiram a intersecção entre blockchains e IAs descentralizadas e refletiram sobre o futuro dos governos com essa tecnologia.
Evolução clara da indústria e otimismo para os próximos eventos
O Blockchain Rio 2024 foi um marco significativo para o crescimento da indústria de blockchain no Brasil. Tokenização de ativos, regulação, setor de energia, iniciativas públicas, tecnofilosofia, juntamente com a comunidade Web3 brasileira foram os pontos altos, refletindo um mercado em plena expansão e cheio de oportunidades para empresas tradicionais, builders, investidores e entusiastas.
As notícias mais importantes da semana
O Unbound Fund, sediado em Portugal, permitirá que investidores estrangeiros obtenham cidadania portuguesa e da União Europeia investindo indiretamente em Bitcoin;
Deputados da Rússia aprovaram uma lei que legaliza o uso de criptomoedas no comércio internacional;
O Departamento de Veículos Motorizados (DMV) da Califórnia digitalizou 42 milhões de títulos de carros na rede Avalanche, como parte de um esforço para modernizar o processo de transferência de títulos no estado;
O projeto NFT Doodles anunciou o lançamento de sua própria plataforma de streaming, DoodlesTV, junto com um passe de temporada para acesso a conteúdo exclusivo;
O estado americano de Wyoming lançará um Instituto de Pesquisa do Bitcoin;
A Movement Labs, uma rede de segunda camada que utiliza a linguagem de programação Move, fez parceria com Polygon para sua integração com a AggLayer;
O Flow Podcast anunciou que criará a Flow Chain com apoio da Tanssi, empresa brasileira de appchains na blockchain da Polkadot;
A Ledger, fabricante de hardwallets, anunciou o lançamento de sua nova carteira Ledger Flex, que se baseia na interface de tela sensível ao toque E-Ink;
A emissora de stablecoin Circle está negociando suas ações no mercado secundário a um valuation entre US$ 5 bilhões e US$ 5,25 bilhões.
Bitcoin Nashville: o maior evento de Bitcoin do mundo
Em paralelo ao Blockchain Rio, ocorreu durante os dias 25 e 27 no estado norte-americano do Tennessee o Bitcoin Nashville 2024, considerado por muitos o maior evento de Bitcoin do mundo. Entre os palestrantes estavam Donald Trump (ex-presidente e candidato republicano à presidência dos EUA), Cathie Wood (Fundadora e CEO da ARK Invest), Michael Saylor (Presidente Executivo da MicroStrategy) e Edward Snowden (Especialista em Cibersegurança e Denunciante).
O discurso de Trump era o mais esperado e foi bem recebido pela comunidade cripto. Ele demonstrou um bom entendimento das narrativas do Bitcoin, mencionou a possibilidade de os EUA começarem a comprar e armazenar a criptomoeda como reserva, prometeu demitir Gary Gensler, chefe da SEC, em seu primeiro dia de mandato caso eleito e afirmou que os EUA podem ser a capital das criptomoedas e a superpotência mundial do Bitcoin, comprometendo-se a nunca vender os Bitcoins do governo e a criar uma reserva estratégica nacional.
Outros pontos relevantes da conferência incluíram o discurso da Senadora Cynthia Lummis, destacando que o Bitcoin poderia ajudar a reduzir a dívida dos EUA e a intenção de uma proposta para que o governo americano compre 5% do fornecimento total de Bitcoins e faça hold por pelo menos 20 anos.
Michael Saylor apresentou uma visão otimista do futuro da criptomoeda, prevendo que o seu preço possa chegar a milhões de dólares nas próximas décadas. Ele destacou a importância de grandes investidores institucionais que compram e mantêm Bitcoin a longo prazo, consolidando seu valor no mercado global.
Edward Snowden, por sua vez, elogiou o Bitcoin como uma alternativa ao sistema financeiro tradicional, apontando sua capacidade de oferecer liberdade e independência financeira. Ele criticou o controle exercido por políticos e reguladores corruptos sobre o sistema financeiro atual e defendeu a necessidade de um sistema mais transparente e acessível.
A conferência também trouxe à tona discussões sobre a necessidade de uma infraestrutura energética robusta para suportar a mineração de Bitcoin nos Estados Unidos. Trump e outros palestrantes argumentaram que os EUA devem investir em energia nuclear e combustíveis fósseis de forma ambientalmente responsável para garantir a produção suficiente de eletricidade.
O evento como um todo destacou o crescente interesse e apoio político ao Bitcoin, sinalizando um possível aumento na adoção institucional e governamental da criptomoeda. A presença de figuras influentes e as discussões sobre regulamentação, economia e energia sublinharam a importância do Bitcoin no cenário econômico e tecnológico global, indicando um futuro promissor para o principal ativo do mercado cripto.
Links recomendados
“Blockchain.RIO se consolida como principal evento de economia blockchain, ativos e finanças digitais” - Blockchain.Rio
“Por dentro dos movimentos de mercado com o DeBank” - Morning Jog
“Investimos na Liquidium, a Aave do Bitcoin” - Morning jog
“Acessando a Web3 pelo Telegram: conheça a rede TON” - Morning jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 64.669,00 / 7D %: + 14,96%
ETH - US$ 3.149,00 / 7D %: + 11,30%
USD - 5,76 BRL / 7D %: + 2,19%
Cotação atualizada em: 02/08/2024 às 09:20
Sobre o Morning Jog
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