Quando robôs decidem que também querem uma carteira cripto
Edição #937 - Dia 28 de junho de 2025
O mundo está prestes a testemunhar uma convergência tecnológica que parece um episódio de Black Mirror, mas com tokens. O termo DePAI, que significa Decentralized Physical AI, surgiu em fevereiro de 2025, quando Dylan Bain, analista da Messari, publicou um relatório explorando como a Web3 poderia descentralizar o controle sobre robôs e sistemas autônomos. A ideia ganhou tração rapidamente após Jensen Huang, CEO da NVIDIA, declarar na maior feira de tecnologia do mundo, a Consumer Electronics Show de 2025, que "o momento ChatGPT para robótica geral está chegando", porque, aparentemente, não bastava a IA escrever poemas ruins, agora ela quer andar por aí também.
DePAI representa a fusão de tecnologias que individualmente já são complexas o suficiente para dar dor de cabeça: robótica avançada, agentes de inteligência artificial, redes DePIN (Decentralized Physical Infrastructure Networks), inteligência espacial e governança descentralizada através de DAOs. Segundo a peaq, blockchain focada em DePAI, o conceito propõe que robôs e máquinas operem não apenas de forma autônoma, mas com identidades soberanas em uma economia de máquinas baseada em Web3. Sim, estamos falando de robôs com carteiras digitais, executando transações e votando em propostas de governança. O futuro chegou e ele quer mais rentabilidade ou no vocabulário do criptonativo, yield farming.
O momentum de mercado é impressionante e os VCs estão jogando dinheiro como se fosse 2021. Apenas nos primeiros meses de 2025, mais de US$ 32 milhões foram investidos em projetos relacionados a DePAI. A Frodobots levantou US$ 8 milhões em uma rodada seed liderada pela Protocol VC para desenvolver o BitRobot, uma plataforma cripto-incentivada construída em Solana. Entre os investidores estão pesos-pesados como a Solana Ventures, Virtuals Protocol e os próprios cofundadores da Solana, Anatoly Yakovenko e Raj Gokal.
Paralelamente, a Multicoin Capital anunciou um investimento estratégico de US$ 8 milhões em tokens GEOD da GEODNET, a maior rede de posicionamento de precisão do mundo. A GEODNET já gera aproximadamente US$ 3 milhões em receita anualizada on-chain, atendendo empresas líderes em drones como Propeller e DroneDeploy. A rede cresceu 400% no último ano e fornece serviços de localização RTK essenciais para navegação de robôs com precisão centimétrica, porque nada pior que um robô de entrega perdido tentando achar sua casa.
O mercado potencial é do tamanho que faz qualquer investidor começar a suar frio de FOMO. O Morgan Stanley projeta que os Estados Unidos sozinhos poderão ter 63 milhões de robôs humanoides até 2050, gerando um impacto econômico de US$ 3 trilhões. Globalmente, o mercado de robótica deve crescer de US$ 74 bilhões em 2024 para US$ 225 bilhões até 2030, segundo dados da BCG. Estamos literalmente construindo a força de trabalho que vai nos substituir, mas pelo menos ela será descentralizada.
A arquitetura DePAI é complexa o suficiente para fazer qualquer desenvolvedor questionar suas escolhas de vida. Segundo a peaq, são sete componentes essenciais: hardware (robôs físicos), software (agentes de IA), coleta de dados através de DePINs, inteligência espacial para navegação, redes de infraestrutura, coordenação de máquinas via blockchain e DAOs para governança. Cada camada representa uma oportunidade de investimento e uma nova forma de perder dinheiro se você não souber o que está fazendo.
Entre os projetos mais ambiciosos está a XMAQUINA, uma DAO focada em democratizar a propriedade de robótica e IA física. Em seu primeiro Genesis Auction no início de 2025, arrecadou mais de US$ 900 mil. O token DEUS (sim, eles fizeram isso) permite que holders participem de decisões sobre investimentos em empresas de robótica. É basicamente um fundo de venture capital, mas onde todo mundo pode fingir que entende de robótica.
A camada de inteligência espacial merece destaque especial. A Auki Labs está construindo o Posemesh, um protocolo descentralizado para computação espacial que permite que robôs compartilhem consciência espacial em tempo real. A tecnologia já está sendo integrada por fabricantes como EngineAI, Padbot e Neura Robotics. Projetos como MapMetrics, Silencio e Natix estão criando redes de coleta de dados que alimentam os modelos de IA. Até porque robôs também precisam de big data para tomar decisões ruins.
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O paradoxo da automação descentralizada
O desenvolvimento de DePAI enfrenta um paradoxo fascinante: estamos tentando descentralizar algo que, por natureza, tende à centralização. A escassez de dados de robótica no mundo real é um gargalo crítico. Enquanto ChatGPT teve toda a internet para aprender a escrever mal, robôs precisam de dados caros e específicos para aprender a não cair de escadas. É aqui que DePINs entram, incentivando a coleta descentralizada através de tokens, transformando cada pessoa com um smartphone em um potencial fornecedor de dados.
O modelo de Machine DeFi da peaq é onde a coisa fica surreal de verdade. Robôs poderão acessar serviços financeiros descentralizados, desde empréstimos usando hardware como colateral até participação em pools de liquidez com os dados que geram. A peaq estima que até 2030, mais de 10 milhões de máquinas estarão operando com identidades soberanas, gerando bilhões em valor. Imagine seu aspirador robô fazendo staking enquanto limpa sua casa.
A coinIX, empresa alemã listada em bolsa, já investiu em múltiplos projetos DePAI incluindo NATIX, peaq e XMAQUINA. O CEO Moritz Schildt está otimista: "DePAI está emergindo como um movimento global." O timing é crítico. Estamos no ponto onde robôs estão ficando baratos o suficiente para serem viáveis, mas ainda caros o suficiente para justificar modelos de propriedade compartilhada.
China e Estados Unidos lideram a corrida, cada um por seus motivos. A China enfrenta uma força de trabalho envelhecida e vê automação como sobrevivência econômica. Os EUA veem como manutenção da liderança tecnológica. Enquanto isso, a Europa ainda está discutindo regulamentações, já que algumas coisas nunca mudam.
Para os investidores, DePAI oferece múltiplos pontos de entrada: tokens de projetos específicos, participação em DAOs focadas em robótica, ou desenvolvimento de soluções para camadas específicas da stack. O ecossistema está nascendo, mas crescendo mais rápido do que cripto-twitter consegue criar memes sobre ele.
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A economia pós-humana, mas ainda on-chain
A convergência de IA substituindo trabalhos intelectuais e robôs tomando trabalhos físicos criará disrupções que farão a Revolução Industrial parecer uma reforma incremental. DePAI propõe um modelo onde o valor gerado por máquinas é distribuído através de mecanismos descentralizados, em uma utopia tecno-socialista ou distopia capitalista, dependendo de quem você pergunta.
Como observou Mike Horton da GEODNET: "A vantagem estrutural de custo habilitada por DePIN nos permite competir com incumbentes que cobram milhares por dispositivo." É a mesma lógica que fez Uber chacoalhar o mercado de táxis, mas agora aplicada a... bem, tudo.
O futuro está chegando em velocidade blockchain, ou seja, promete ser rápido mas ainda tem alguns problemas de escalabilidade. Empresas ignorando DePAI correm o risco de serem as Blockbusters da era robótica. Para o ecossistema Web3, DePAI representa a próxima grande narrativa depois de DeFi, NFTs e todo o resto que prometeu mudar o mundo.
Com dezenas de milhões já investidos e projetos multiplicando-se como tokens em bull market, 2025 pode marcar o início da era onde robôs não apenas trabalham para nós, mas também competem conosco por APY. Se isso é progresso ou o início do fim, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: vai ter token de governança.
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