A segunda era dos blockchains games
Edição #713 - Fechamento semanal - 05 de outubro de 2024
A indústria de jogos tem um tamanho quatro vezes superior que a de cinema e de música juntas, gerando em 2022 uma receita superior a 184 bilhões de dólares, graças aos mais de 3,2 bilhões de jogadores espalhados pelo mundo. Esses números por si só destacam a importância desse setor, que não deve ser subestimado. Mesmo que os jogos não estejam presentes no seu dia-a-dia, eles desempenham um papel central na indústria de entretenimento global.
Mas apesar dessa magnitude e assim como é em diversos outros setores, a relação entre as marcas e os jogadores é predominantemente exploratória. O que falta para eles é a real propriedade dos seus ativos virtuais e mais poder de influência sobre o direcionamento futuro dos jogos.
A nova era dos jogos baseados em blockchain soluciona essas questões, proporcionando mais poder aos jogadores. Títulos promissores como Wild Forest, Spellborne e Seraph possuem características de grandes clássicos da indústria de games e podem ser o caminho sem volta para trazer os jogadores a essa dinâmica mais colaborativa, inclusiva e democrática.
Posto esse cenário, nesta edição de fechamento semanal da Morning Jog vamos falar sobre esse segmento de mercado que poucos vem comentando. Vamos recapitular seu passado, passar sobre as melhorias práticas que a tecnologia traz aos jogadores, mencionar alguns jogos com potencial de atingir as grandes massas e como você, sendo jogador ou investidor, pode se expor a esse segmento.
A febre dos jogos "click to earn"
O último ciclo de alta do mercado cripto, encerrado em 2021, teve o setor de jogos na blockchain como um dos destaques. O problema foi que a maioria dos "jogos" disponíveis naquela época, como Axie Infinity, Bomb Crypto e Crypto Cars, possuíam um modelo econômico completamente insustentável e um gameplay nada divertido. Os players jogavam unicamente para obter rendimentos e quem entrou logo no início fez muito dinheiro, enquanto os que chegaram atrasados saíram no prejuízo.
Essa época também foi marcada pelo início do desenvolvimento de alguns jogos que possuíam muito potencial, como Illuvium, Aurory, Guild of Guardians e Ember Sword, mas que ainda teriam anos de desenvolvimento pela frente. O token do jogo Illuvium, chamado ILV, por exemplo, chegou a valorizar mais de 6.200% em menos de seis meses. Isso tudo sem existir uma versão jogável do seu produto.
Embora o crescimento explosivo e insustentável tenha prejudicado a imagem dos blockchain games, houve aspectos positivos. Esse período marcou o primeiro contato de muitos usuários com a blockchain, no qual eles tiveram que aprender a realizar custódia própria e a interagir com DeFi. Os jogos também ajudaram a testar as blockchains, destacando áreas a melhorar para suportar a adoção em massa. Além disso, o hype gerou mais interesse no setor, trazendo novas ideias, inovações e investimentos de longo prazo.
A nova era dos jogos
Em jogos tradicionais como Fortnite, Tíbia, Call of Duty e FIFA Ultimate Team, os jogadores são proibidos de vender itens virtuais, como skins, armas e contas, por dinheiro real. Quem tenta contornar essa regra recorre a mercados paralelos, como grupos no Discord ou sites de pouca credibilidade, correndo o risco de fraudes ou até mesmo de serem banidos pelas empresas responsáveis pelos jogos.
Outro problema dos jogos atuais é a falta de participação da comunidade de jogadores nas decisões de governança, que são ditadas por empresas centralizadas. Elas podem, inclusive, desligar servidores, eliminando anos de dedicação dos jogadores.
Essa camada financeira que a blockchain adiciona nos jogos tem como principal objetivo garantir mais flexibilidade ao usuário. Alguns exemplos práticos de melhorias trazidas pela tecnologia blockchain incluem:
Comercialização livre de itens: Os jogadores podem ter propriedade real de itens como skins e armas, podendo comercializá-los de forma segura, sem recorrer a mercados paralelos. Por exemplo, é possível vender ou alugar uma espada rara em troca de dólares, o que pode se tornar fonte de renda para jogadores de países com moedas fracas. Jogadores casuais também podem pagar para alugar ou adquirir itens que levariam horas para conquistar.
Monetização extra para as empresas: Embora as empresas percam parte do controle sobre seus jogos, elas ganham novas formas de monetização. A comercialização de itens digitais em blockchain permite a cobrança de royalties, criando uma nova fonte de receita para as marcas. Por exemplo, contratos inteligentes podem garantir que 5% do valor de cada revenda de uma skin vá para sua empresa criadora.
Utilidade compartilhada: A transparência da blockchain permite criar um ecossistema onde itens ou conquistas de um jogo podem ser usados em outros. Por exemplo, um jogador pode obter benefícios no jogo B por ter um item raro ou boa colocação no ranking do jogo A. Isso também pode servir como uma estratégia de marketing para novos jogos.
Decisões mais democráticas: A descentralização permite que os jogadores participem das decisões sobre o desenvolvimento do jogo, como votar em atualizações ou ajustes de itens, tornando a experiência mais colaborativa e democrática.
Diferentemente da onda de "jogos" em blockchain que presenciamos em 2021, a nova era que está começando e ainda deve levar alguns anos para se estabelecer será composta por jogos verdadeiramente divertidos, onde fazer dinheiro é uma consequência.
Em alguns casos, pode até ser uma forma de trabalho remunerado, mas o propósito principal dos jogos sempre foi e continuará sendo divertir os usuários. Trazendo um paralelo ao mercado de jogos Web2, menos de 1% dos jogadores obtêm algum tipo de retorno financeiro jogando, sendo a maioria deles streamers, criadores de conteúdo e aqueles que se dedicam ao cenário competitivo dos eSports.
Posto esses possíveis benefícios trazidos pela tecnologia blockchain ao setor de jogos, vamos explorar alguns projetos promissores dessa segunda geração. Esses são jogos que começaram a apresentar o seu desenvolvimento ou já possuem uma versão jogável. Vamos a lista:
Wild forest
Wild Forest é um jogo mobile de estratégia em tempo real (RTS) integrado a rede Ronin, semelhante a grandes sucessos como Age of Empires e Clash Royale. O objetivo principal é gerenciar recursos, expandir sua base, capturar territórios e derrotar o inimigo com táticas bem elaboradas.
O jogo possui um sistema de troféus e um Battle Pass, onde o jogador pode ir aprimorando sua equipe e subir no ranking. Também existe um modo PVP, em que encontra-se as maiores recompensas, incluindo NFTs e tokens WF, que possuem utilidade dentro da gameplay e podem ser negociados por dólar no mercado secundário.
Os Units, personagens NFTs do jogo, já acumulam US$ 2,1 milhões de volume total negociado desde o início das negociações, em maio de 2024. Os últimos itens vendidos variam de valores entre US$ 0,05 e US$ 350, dependendo de sua raridade. Atualmente, possui uma média mensal de 200 mil jogadores ativos.
Spellborne
Spellborne é um MMORPG da rede Avalanche focado em captura de monstros, semelhante a clássica franquia Pokémon. Com um estilo visual em pixel art vintage, o jogo possui uma experiência envolvente com mecânicas de combate por turnos e uma economia rica baseada em crafting e exploração. Além disso, combina uma narrativa imersiva com diversos minijogos, mantendo os jogadores sempre envolvidos em sua história.
A Web3 age de forma complementar à gameplay, permitindo que os jogadores possuam a propriedade de bens como propriedades virtuais, monstros raros e personagens únicos, que podem ser comprados, vendidos ou trocados diretamente com outros jogadores.
Seraph
Seraph: In The Darkness é um RPG que combina mecânicas clássicas de jogos de ação, como as vistas em Diablo 2, com uma abordagem inovadora de integração com a Web3. O jogo funciona na rede Immutable e se destaca por sua jogabilidade envolvente, oferecendo aos jogadores uma experiência rica em exploração, batalhas estratégicas e personalização de personagens.
A integração de elementos blockchain está presente de forma complementar, permitindo aos jogadores verdadeira propriedade sobre seus itens digitais, mas sem comprometer a diversão central do jogo.
Ainda no início, o jogo possui alguns picos de nível de atividade a depender das temporadas, atingindo uma média mensal de 2,2 mil jogadores na última delas, em setembro deste ano.
Off the grid
Off The Grid (OTG) é um battle royale de tiro em terceira pessoa, ambientado em um futuro distópico de estilo cyberpunk. O jogo, classificado como AAA (com orçamento elevado e alta expectativa por parte do mercado), ainda está em desenvolvimento e será lançado para Ps5, Xbox e PC, utilizando a blockchain da Avalanche. Ele oferece uma experiência inovadora no gênero, combinando o tradicional modo PVP (mata-mata) de battle royale com uma campanha narrativa imersiva de 60 horas de duração.
Itens, personagens e equipamentos podem ser adquiridos, personalizados e comercializados como NFTs, permitindo que os jogadores possuam, troquem e vendam esses ativos. Além disso, OTG incorpora mecânicas play-to-earn, onde os jogadores podem ganhar recompensas em criptomoedas ao completar atividades e desafios no jogo.
As promessas da segunda geração não param por aqui
Alguns outros jogos com bastante potencial incluem Shrapnel, Lumiterra e The Beacon, mas as opções não param por aí. A Immutable, um ecossistema de soluções que fornece apoio ao desenvolvimento e criação de jogos on-chain, possui parceria com empresas como Ubisoft e GameStop e acordos com cerca de 380 jogos para lançarem em sua blockchain, dos quais muitos deles receberam apoio de grandes fundos de investimento e possuem grandes nomes da indústria de jogos compondo seu time.
Já a Ronin, possui um ecossistema com menos jogos mas mais aquecido, tendo tido sucessos pontuais recentes como Pixels, que furou a bolha e foi responsável por mais de 2 milhões de usuários ativos mensais.
Fora os jogos que vêm sendo desenvolvidos, existe a possibilidade de jogos já consolidados migrarem para a blockchain, uma vez que grandes players tradicionais estão de olhos bem abertos ao setor. Em agosto a Sony, gigante de mídia e tecnologia e dona da marca PlayStation anunciou a Soneium, sua rede de segunda camada na Ethereum. A Nintendo, por sua vez, há um tempo abriu vagas de emprego para "especialistas Web3".
Como se expor a esse setor?
Para os jogadores, a melhor forma de se expor ao setor é de fato jogando ou acompanhando o desenvolvimento dos jogos de maior potencial, visto que além da diversão, muitos deles ainda devem passar por programas de incentivos e distribuições de tokens (airdrops) para atrair usuários.
Para investidores, a dinâmica é diferente. Como a maioria dos jogos ainda não possui tokens (e mesmo os que possuem, nem sempre eles são a melhor forma de exposição ao crescimento do jogo), uma alternativa é investir em soluções de infraestrutura. Plataformas como Immutable e Ronin, que fornecem a base tecnológica para jogos blockchain, podem ser uma maneira mais eficaz de se expor ao setor, já que o seu sucesso depende do crescimento geral dos jogos que utilizam suas tecnologias e não do sucesso de um jogo em específico.
Mesmo que o horizonte temporal para que os jogos em blockchain atinjam a ampla adoção dos jogadores permaneça incerto, o desenvolvimento do setor desde o boom de 2021 é inegável. Enquanto a atenção do mercado está em outro lugar, o ressurgimento silencioso dessa narrativa com centenas de jogos de qualidade e apoiado por grandes empresas sendo desenvolvidos oferece uma oportunidade para se posicionar e capturar seu crescimento. Se assim como muitos dizem, o crescimento do setor é "inevitável", é melhor estar preparado com antecedência.
As notícias mais importantes da semana
Vitalik Buterin propôs reduzir o limite mínimo necessário de 32 ETH para realizar o staking de forma nativa na rede Ethereum para impulsionar a descentralização da rede;
A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) apresentou um projeto de lei que quer proibir a extinção do papel-moeda no Brasil e tornar opcional o uso do Drex, a moeda digital emitida pelo Banco Central;
A Franklin Templeton, uma das maiores gestoras de ativos globais, expandiu seu fundo do tesouro dos EUA tokenizado (FOBXX), listado na Nasdaq, para a blockchain Aptos;
A Bitwise está planejando lançar um fundo negociado em bolsa (ETF) da criptomoeda XRP;
A gestora de ativos Kin Capital lançou um fundo de US$ 100 milhões em dívidas imobiliárias tokenizadas na rede Chintai, uma blockchain de primeira camada regulada pela Autoridade Monetária de Singapura;
O ETF de ETH da BlackRock superou a marca de US$ 1 bilhão em valor total de ativos, dois meses após seu lançamento;
A rede Base, Layer 2 da Ethereum incubada pela Coinbase, ultrapassou a marca de US$ 2 bilhões em valor total bloqueado (TVL) pela primeira vez;
O protocolo de restaking EigenLayer desbloqueou a negociação no mercado secundário do token EIGEN, que estava travado desde seu lançamento em abril deste ano.
A Ethereum surgiu por causa do World of Warcraft!
Vitalik Buterin, cofundador do Ethereum, viveu uma experiência que reflete bem a realidade atual dos jogadores. Quando era adolescente, Vitalik era um grande fã World of Warcraft (WoW) e passava horas jogando com seu personagem "Warlock". Até que um dia, a Blizzard, empresa criadora do WoW, fez uma atualização no jogo que enfraqueceu uma habilidade específica do personagem dele.
A frustração de ver seu progresso afetado por uma decisão unilateral da empresa fez Vitalik perceber como o controle centralizado pode impactar a experiência dos jogadores, independente de todo o tempo e dedicação que tinha colocado no jogo.
Essa experiência foi um dos fatores que o levou a pensar em alternativas, onde os usuários teriam mais controle sobre aquilo que, na prática, deveria ser deles. Segundo o próprio Vitalik, essa reflexão foi essencial para a criação da rede Ethereum, alguns anos depois.
Links recomendados
“Explain It Like I’m 5: GameFi” - Messari
“Explorando o poder dos pagamentos com cripto” - Morning Jog
“A revolução do staking chegou ao Bitcoin” - Morning jog
“Decifrando os ciclos de mercado com análise on-chain” - Morning jog
“Por dentro dos movimentos de mercado com o DeBank” - Morning Jog
Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 62.220,00 / 7D %: -5,34%
ETH - US$ 2.425,00 / 7D %: -9,96%
USD - 5,46 BRL / 7D %: +0,47%
Cotação atualizada em: 04/10/2024 às 15:45
Sobre o Morning Jog
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