A solução que vai transformar a experiência na blockchain
Edição #707 - Fechamento semanal - 28 de setembro de 2024
Imagine poder adquirir um NFT na rede Ethereum usando seus BTC na rede Bitcoin ou gerenciar todos os seus recursos em cripto através de uma única conta, sem precisar se preocupar em quais blockchains eles estão ou se sua conta tem gás para pagar as taxas de transação dos ativos. Neste cenário ideal, a interação com a blockchain se torna tão simples quanto a utilização de corretoras centralizadas ou de serviços financeiros tradicionais.
Isso ainda pode parecer distante, mas existe um avanço significativo nesse sentido. Eliminando muitas das complexidades que surgiram com o crescimento do universo multi-chain e multi-layer, como a fragmentação de liquidez e a deterioração da experiência do usuário (UX), o conceito de Chain Abstraction surge como uma infraestrutura neutra capaz de resolver esses problemas, transformando completamente a forma como interagimos em cripto.
Nesta edição da Morning Jog, exploraremos como esse conceito pode resolver os maiores desafios enfrentados pelo mercado, promovendo uma experiência de uso mais fluida e integrada, facilitando a adoção da tecnologia em larga escala. Além disso, também vamos apresentar as soluções mais avançadas nesse sentido e como elas funcionam na prática.
Os problemas atuais
No ecossistema cripto novas blockchains não param de ser lançadas, sejam elas redes de segunda camada da Ethereum (L2s) ou novas redes de primeira camada (L1s). Esse movimento, embora benéfico por desbloquear mais escalabilidade e funcionalidades para os usuários, também trouxe desafios consideráveis. Entre os mais significativos estão a fragmentação da liquidez dos recursos e a deterioração da experiência dos usuários (UX).
À medida que diferentes redes surgem, saldos em carteiras e pools de tokens como ETH/USDC passam a ter liquidez dispersa, o que cria ineficiência para swaps e provisão de liquidez. Além disso, um mesmo token pode possuir diversas versões sintéticas (wrapped) dependendo da bridge utilizada para transferi-lo. Esse cenário fragmentado não apenas dificulta a movimentação de capital entre diferentes blockchains, mas também introduz riscos adicionais, pois as soluções atuais de bridges e de agregadores, além de serem complexas, têm historicamente sido alvo de exploits milionários.
Esses problemas refletem diretamente na experiência do usuário e tornam o processo de interação com a blockchain lento e repleto de atritos. É necessário gerenciar várias extensões de carteiras, armazenar diferentes frases-seed com segurança, utilizar bridges para mover seus ativos entre redes e garantir que sempre haja um saldo mínimo de tokens para cobrir as taxas de gás em cada uma delas. Para usuários mais experientes, isso já representa um desafio; para novos usuários, esse nível de complexidade é um grande obstáculo para adoção.
Diante desse cenário, e levando em conta que é improvável que haja uma única blockchain ou um único padrão de comunicação dominante no mercado cripto, os usuários precisam de melhores alternativas para operar de forma eficiente em um mundo multi-chain e multi-layer. Sem isso, o ecossistema corre o risco de se tornar cada vez mais fragmentado e menos acessível, contrariando a proposta inicial da escalabilidade democratizar e ampliar o acesso dos usuários.
Chain Abstraction: A Solução
Buscando atacar justamente esse problema, surge o conceito de Chain Abstraction, ou seja, abstração de redes. Esse é um conceito formado a partir da junção de diversos outros conceitos fundamentais que atacam os problemas relacionados à fragmentação de liquidez e melhorias na experiência dos usuários.
Através de uma infraestrutura neutra, capaz de unificar quaisquer padrões existentes, os usuários podem ter um aprimoramento significativo da experiência sem a necessidade de entender as complexidades da tecnologia blockchain.
Esse é um caminho semelhante ao cenário atual da Web2, onde os usuários não precisam saber como as coisas funcionam por trás da interface que interagem, como ao fazer um Pix ou comprar uma ação na bolsa. Fazendo isso e mantendo as melhores características do mercado cripto, como a não necessidade de confiança em intermediários e a resistência à censura, Chain Abstraction é capaz de simplificar o onboarding e ampliar o acesso da tecnologia descentralizada às grandes massas. Seus dois pilares fundamentais e complementares são:
Agregação de liquidez em nível de blockchain;
Master Accounts em nível de usuários.
Na imagem a seguir, podemos observar de forma clara as subcategorias que englobam esse conceito: as melhorias de UX em vermelho, as que integram a liquidez em azul e as que representam a base da infraestrutura cross-chain em verde.
As soluções disponíveis no mercado atualmente para melhorias de UX e agregação de liquidez são as do segundo nível da imagem acima, no caso Account Abstraction e sequencers compartilhados respectivamente. Porém, essas categorias ainda possuem certas limitações que podem ser resolvidas com soluções representadas no nível superior, no caso Master Accounts e Proof of Aggregators. Vamos falar mais de cada um deles.
Agregação de liquidez (Proof of aggregators)
Algumas soluções tentam aprimorar essa gestão de recursos de diferentes ecossistemas há tempos, criando infraestruturas base para conectá-los. Podemos levar como exemplo a Polkadot, com sua estrutura de parachains, a Cosmos, com seu padrão IBC ou mesmo no caso nas L2s da Ethereum, os sequencers compartilhados como o Espresso e Astria ou os stacks de códigos como o OP Stack e o Polygon CDK.
Todas elas são bem sucedidas, mas apenas dentro dos seus próprios ecossistemas. Como uma nova blockchain precisa escolher um deles para se integrar, o problema que inicialmente deveria ser atacado na verdade foi agravado.
Fonte: XKCD
As soluções de proof aggregators são infraestruturas capazes de unificar todas as blockchains, independente dos seus padrões. Em outras palavras, seria uma camada de agregação de liquidez capaz de integrar todas as L2s da Ethereum e outras L1s alternativas, independente do seu stack de códigos, sequencer, ou até mesmo da máquina virtual (VM) utilizada na blockchain em questão.
Nesse contexto, a AggLayer se destaca como uma das soluções mais promissoras. Apesar de ser desenvolvida pelo time da Polygon, sua estrutura é open-source e cobra taxas em ETH, reforçando seu compromisso com a neutralidade.
Ela permite que diversas redes L2s e até alt L1s se conectem com a sua camada unificada de liquidez, responsável por se comunicar com a Ethereum através de uma bridge unificada, assegurada por zk proofs. Dessa forma, qualquer rede blockchain pode se integrar a ela sem abrir mão da sua soberania ou dos seus padrões tecnológicos.
Polygon AggLayer
Polygon Labs
Para os usuários, isso significa a restauração da fungibilidade de ativos iguais em diferentes redes e a simplificação da gestão de liquidez, atacando um dos maiores desafios que o mercado cripto enfrenta atualmente.
Master Accounts
A experiência do usuário em cripto é outro aspecto que vem ficando mais complexo com o surgimento de novas redes. Atualmente, os usuários precisam lidar com uma variedade de carteiras, cada uma compatível com uma blockchain específica, armazenar diversas chaves privadas de forma segura e realizar pontes para enviar recursos entre diferentes ecossistemas. Além disso, é necessário garantir que cada rede tenha saldo suficiente em tokens de gás para realizar transações.
As soluções atuais para melhorar essa experiência são conhecidas em redes EVM como Smart Accounts, viabilizadas pelo padrão ERC-4337 de Account Abstraction. O principal exemplo é a Safe (anteriormente conhecida como Gnosis Safe), que permite ao usuário manter a autocustódia dos seus recursos enquanto facilita a gestão do portfólio e abstrai muitas das complexidades da interação com a blockchain. No entanto, soluções como a Safe são limitadas a redes EVM, não oferecendo suporte a blockchains como Bitcoin, Solana e Aptos.
É nesse contexto que surgem as Master Accounts, um conceito que também se destaca como uma infraestrutura neutra, capaz de unificar todos os padrões existentes. As Master Accounts utilizam ferramentas que formam a base do universo cross-chain, como intents e bridges, além de account abstraction para agregar saldos de diferentes redes e abstrair taxas de gás. Tudo isso é feito através de uma única conta mestre, que substitui a necessidade de endereços de carteira separados para cada blockchain.
Várias soluções estão sendo desenvolvidas nesse sentido, como a Near account aggregation, a Avocado, a Particle Network e a OneBalance. Quando forem lançadas, essas soluções vão fornecer compatibilidade com todas as redes, contas e aplicações, independente das suas características específicas.
Trazendo como exemplo a OneBalance, ela funciona de maneira semelhante a uma Smart Account, como a Safe, mas com a vantagem de ser compatível com qualquer rede existente. Por exemplo, se um usuário desejar comprar um NFT na OpenSea usando seus tokens SOL que estão na rede Solana, ele poderá fazê-lo em apenas um clique. Todo o processo de transferência de recursos será realizado automaticamente em segundo plano, sem a necessidade do usuário interagir diretamente com todas as complexidades envolvidas.
Além disso, a OneBalance vai permitir funcionalidades como login social com e-mail, mantendo a custódia dos recursos com os próprios usuários ao mesmo tempo que reduz os riscos associados ao armazenamento das chaves privadas. Também será possível definir permissões de segurança, como para cada rede, ativos custodiados ou condições específicas.
Isso acaba trazendo ao usuário uma experiência equivalente ou até superior a de corretoras centralizadas ao mesmo tempo que mantém as melhores propriedades da Web3, como a resistência à censura e a não necessidade da confiança em intermediários.
Resolvendo o maior problema cripto
O ecossistema cripto enfrenta um problema significativo: cada nova blockchain fragmenta ainda mais a liquidez e piora a experiência do usuário. A necessidade de soluções que resolvam de uma vez por todas esses problemas são cada vez maiores.
Embora essas soluções de agregação de liquidez e master accounts ainda não estejam totalmente operacionais, devemos ouvir bastante sobre elas nos próximos meses. Ambas as abordagens apresentadas, seja da AggLayer para a agregação de liquidez ou da OneBalance para melhorias de UX aprendem com as falhas e as limitações das soluções atuais, apresentando-se como neutras, inclusivas e modulares, o que aumenta a esperança de uma adoção mais ampla por parte do mercado.
Para que cripto atinja o mainstream, é essencial que as complexidades de interação com blockchains sejam abstraídas. Os usuários finais devem ser capazes de interagir com a tecnologia com a mesma facilidade com que interagem com serviços tradicionais da Web2, mas com as vantagens inerentes de um ambiente descentralizado. Apenas com essa simplificação será possível atingir as grandes massas.
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Fechamento semanal do mercado:
BTC - US$ 66.387,00 / 7D %: +4,74%
ETH - US$ 2.683,00 / 7D %: +4,90%
USD - 5,44 BRL / 7D %: -0,95%
Cotação atualizada em: 27/09/2024 às 12:00
Sobre o Morning Jog
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