Para onde estão indo as memecoins? A mania que prometia criar milionários da noite para o dia e que supostamente transformaria US$ 1 mil em uma fortuna acabou? O esforço daqueles que suportaram noites sem dormir perseguindo altas e quedas em inúmeras telas, esperando pacientemente o capital multiplicar 10 vezes em um token aleatório que mudaria a vida foi em vão?
À medida que tokens de celebridades implodem, escândalos políticos eclodem e hackers norte-coreanos lavam milhões através de moedas de bizarras, surge uma pergunta: deveríamos estar esperando por uma nova onda de memecoins? Ou testemunhamos o começo do fim das memecoins?
Em apenas 45 dias, o outrora vibrante mercado de memecoins sofreu uma série catastrófica de golpes dos quais pode nunca mais se recuperar. Golpes presidenciais, escândalos políticos e até hackers norte-coreanos conspiraram para drenar tanto o capital quanto a credibilidade de um setor que um dia foi o responsável por definir o ethos brincalhão e livre do mercado cripto.
"O que cripto está digerindo agora é o fim do boom das memecoins", escreveu Matt Hougan, CIO da Bitwise. "A combinação de Melania, Libra e do Grupo Lazarus usando memecoins para lavar ETH roubado vai matá-las completamente." É sobre o que está ocorrendo com as memecoins que a Morning Jog deste final de semana irá tratar.
O império de tokens da família Trump
A espiral da morte das memecoins começou, ironicamente, no que parecia ser seu momento de maior triunfo. Em 17 de janeiro, poucos dias antes de sua posse, o presidente eleito Donald Trump lançou seu token homônimo. Em 48 horas, TRUMP multiplicou inúmeras vezes o seu preço, saindo de US$ 6,20 para US$ 75,35, atingindo uma capitalização de mercado de mais de US$ 14 bilhões. Isso a tornou brevemente uma das 20 criptomoedas mais valiosas do mundo.
A primeira-dama norte-americana rapidamente seguiu o exemplo. Melania Trump lançou seu próprio token no dia 19 de janeiro e ele imediatamente disparou para uma capitalização de mercado de US$ 1,6 bilhão.
Até mesmo o pregador da posse de Trump, Reverendo Lorenzo Sewell, criou sua própria memecoin. O endosso presidencial parecia validar as memecoins como uma classe de ativos legítima após anos à margem do ecossistema cripto. Longe de sinalizar aceitação do público mainstream, a aventura da família Trump com as memecoins pode estar marcando o começo do fim.
O token TRUMP desde da sua All Time High (ATH) colapsou mais de 83%, apagando cerca de US$ 20 bilhões em valor de mercado. MELANIA saiu ainda pior, despencando 93% do seu pico histórico. De acordo com a empresa de inteligência blockchain Chainalysis, cerca de 50% dos detentores de tokens Trump e Melania nunca haviam comprado um token na rede Solana antes. Quase metade criou suas carteiras cripto no dia em que compraram os tokens.
Esse influxo de investidores do varejo inexperientes comprando o topo de um criptoativo — apenas para ver os seus investimentos despencarem — prejudicou severamente a reputação das criptomoedas entre o público mainstream. Essas não eram pessoas nativas do mundo cripto que entendiam os riscos: eram pessoas ao redor do mundo atraídas pela celebridade de Donald Trump.
As consequências foram rápidas. O democrata da Califórnia, Sam Liccardo, anunciou a introdução do "Ato de Emolumentos Modernos e Aplicação de Má Conduta" — também conhecido como "Ato MEME" — que proibiria o presidente, vice-presidente, membros do Congresso, altos funcionários executivos e seus familiares de emitir, patrocinar ou endossar ativos digitais.
"Quase todas as 800 mil pessoas que compraram a memecoin perderam muito dinheiro. Vamos garantir que haja penalidades criminais e civis para que as pessoas possam processar", afirmou Liccardo. Embora Trump e sua família não tenham realmente vendido os seus tokens (o que constituiria um verdadeiro "rug pull"), o dano à confiança dos investidores já estava feito. O fiasco dos tokens presidenciais foi apenas o ato de abertura na tragédia das memecoins.
O escândalo da Libra
Se o colapso do token TRUMP foi um soco no mercado de memecoins, o que aconteceu em seguida foi um nocaute. No dia 14 de fevereiro, o presidente argentino Javier Milei promoveu em uma postagem no X um token na Solana chamado Libra. Segundo a proposta do projeto, a Libra foi projetada para "financiar pequenas empresas e startups argentinas". Em poucas horas, a capitalização de mercado do token mais do que quadruplicou e chegou a US$ 4,5 bilhões.
Então, tudo desmoronou. Milei apagou sua postagem e o valor de Libra despencou mais de 90%. Uma análise da empresa de inteligência blockchain TRM Labs revelou que carteiras associadas aos criadores da Libra receberam um milhão de tokens após o lançamento, colocaram os tokens em uma pool de liquidez e depois retiraram mais de US$ 90 milhões de dólares em tokens SOL e USDC — contribuindo diretamente para o colapso do preço da Libra.
De acordo com a Nansen, mais de 13 mil investidores perderam um total combinado de US$ 251 milhões no desastre. Enquanto isso, apenas 2.101 carteiras conseguiram lucrar um total de US$ 180 milhões.
As consequências políticas foram imediatas. Milei agora enfrenta pedidos de impeachment na Argentina e um juiz foi designado para investigar alegações de fraude contra o presidente. Embora Milei tenha negado as acusações, dizendo que "não estava ciente dos detalhes do projeto", o dano à sua reputação e ao mercado de memecoins foi severo.
Hayden Davis, o texano de 28 anos que ajudou a lançar tanto a Libra quanto o token da primeira dama norte-americana Melania Trump, supostamente se gabou em mensagens de texto sobre subornar à irmã de Milei — a conselheira mais próxima do presidente — para garantir o endosso do presidente argentino ao projeto.
O escândalo da Libra expôs o que muitos céticos suspeitavam há muito tempo: o mercado de memecoins nunca foi o parque de diversões democrático e sem permissão que seus defensores afirmavam. "A negociação de memecoins foi inteiramente baseada em uma alegação que acabou sendo exposta como uma mentira: que o cassino era pelo menos justo. As memecoins estão acabadas. Ainda haverá lançamentos e provavelmente alguns vencedores, mas o meta acabou," escreveu o investidor de risco Nic Carter.
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Uma epidemia política global
O fiasco do Milei e da Libra esteve longe de ser um incidente isolado. Após o lançamento do token de Trump, pelo menos cinco líderes mundiais se envolveram em escândalos de memecoins em apenas um mês.
Em 10 de fevereiro, o presidente da República Centro-Africana, Faustin-Archange Touadéra, promoveu um token nacional chamado CAR. O lançamento desastroso do projeto, incluindo um site que saiu do ar e uma conta no X que foi suspensa, criou confusão sobre sua legitimidade.
Ferramentas de detecção de deepfake sinalizaram vídeos de Touadéra foram provavelmente gerados por IA, minando ainda mais a confiança do público. A capitalização de mercado do token despencou de US$ 600 milhões para quase zero em dois dias.
Em 15 de fevereiro, golpistas se passaram pelo primeiro-ministro de Bermudas, David Burt, no X, usando uma conta falsa com um selo de verificação cinza oficial. A conta promoveu uma suposta "Moeda Nacional de Bermudas".
Dois dias depois, a conta do Conselho de Direito da Arábia Saudita no X foi hackeada e modificada para se passar pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, promovendo uma memecoin "oficial" chamada KSA. Apesar dos sinais óbvios de golpe, como o fato de o meme ter sido lançado no Pump.fun por um desenvolvedor com apenas dois seguidores, o incidente contribuiu ainda mais para a sensação de que a mania das memecoins havia saído do controle.
O primeiro-ministro mais longevo da Malásia, Mahathir Mohamad, viu sua conta no X ser hackeada em 5 de fevereiro para promover um token chamado MALAYSIA. Um dia após o lançamento do token de Trump, a conta oficial do governo de Cuba no X foi comprometida para promover um token chamado CUBA.
O padrão era claro: promotores de memecoins estavam cada vez mais mirando figuras políticas, seja por meio de acordos de endosso ou simplesmente roubando suas identidades, para dar legitimidade a projetos que, frequentemente, acabavam sendo esquemas elaborados de “pump and dump”.
A conexão norte-coreana
Além dos endossos presidenciais e escândalos políticos, o setor de memecoins enfrenta outra crise vinda de uma fonte inesperada: hackers da Coreia do Norte. Em 22 de fevereiro, o Grupo Lazarus foi ligado a um ataque massivo de US$ 1,5 bilhão contra a exchange de criptomoedas Bybit — o maior hack individual da história cripto. Dias depois, o detetive da blockchain ZachXBT revelou que os hackers estavam tentando lavar parte dos fundos roubados através da popular plataforma de memecoins da Solana, Pump.fun.
Essa revelação conectou diretamente as memecoins com uma das ameaças cibernéticas mais sofisticadas e perigosas do mundo. O regime norte-coreano tem um histórico documentado de usar fundos cripto roubados para financiar seu programa nuclear, tornando essa associação particularmente tóxica para o setor de memecoins.
Para enfatizar o ponto, a conta oficial do Pump.fun no X foi comprometida dia 26 de fevereiro para promover um token falso de governança chamado PUMP e outras moedas fraudulentas. Segundo ZachXBT, esse ataque estava diretamente ligado a ataques semelhantes de outras contas cripto proeminentes.
O efeito cumulativo desses incidentes, com tokens presidenciais colapsando, escândalos políticos explodindo e hackers norte-coreanos explorando o ecossistema de memecoins desestabilizou um setor que já lutava contra os seus problemas de sustentabilidade.
Grupo Lazarus transformando o lucro do golpe em memecoins
A economia insustentável
Mesmo que os escândalos de alto nível não tivessem ocorrido, o setor de memecoins já demonstrava sinais de excesso insustentável no início de 2025.
Um relatório de novembro de 2024 da Binance Research descobriu que mais de 75% de todas as memecoins criadas foram lançadas apenas em 2024. Ainda mais revelador: 97% desses tokens se tornaram completamente inativos, sem qualquer volume de negociação. Apenas 0,23% das memecoins mantiveram uma capitalização de mercado superior a US$ 1 milhão.
A proliferação atingiu níveis absurdos em janeiro de 2025, com mais de 600 mil novos tokens lançados em um único mês, a maioria memecoins. Essa fragmentação de capital tornou cada vez mais difícil para qualquer moeda individual sustentar o seu preço ou atingir uma valorização significativa.
A velocidade com que as memecoins eram negociadas também destacou sua natureza puramente especulativa. De acordo com uma pesquisa da ArkStream Capital, o volume diário de negociação dos memes representava, em média, 11% da capitalização de mercado total do setor. Em comparação:
- Tokens DeFi tinham um volume de negociação diário de 5%;
- Tokens de redes de segunda camada tinham 7%;
- Tokens de redes primeira camada tinham apenas 4%.
Em termos simples, as pessoas não estavam comprando memecoins para segurá-las, estavam comprando para revendê-las o mais rápido possível.
As listagens de memecoins se tornaram um veículo eficiente para exchanges centralizadas que buscavam aumentar o volume de negociação. No início de 2025, as memecoins representavam 20% dos 30 principais pares de negociação spot por volume na Binance. Esse boom de liquidez veio às custas de utilidade e valor de longo prazo.
Correção, não colapso
Apesar da série catastrófica de escândalos, declarar que as memecoins "morreram" seria prematuro. O que estamos testemunhando provavelmente é o fim da era dos tokens de celebridades e políticos, não o fim das memecoins como um todo. Como os volumes diários caindo 80% desde os picos vistos no ano passado, o mercado parece estar eliminando seus elementos mais problemáticos enquanto potencialmente evolui para modelos mais sustentáveis.
O mercado de memecoins não está morto, mas está passando por uma crise de confiança. Criptos raramente morrem, elas se transformam. Cada ciclo elimina os excessos e recalibra as expectativas. A atual crise de liquidez não está limitada as memecoins, ela faz parte de uma correção macroeconômica maior que afeta Bitcoin, Ethereum e todo o ecossistema.
O mais impressionante é o quão rápido grandes jogadores tomaram controle da narrativa das memecoins. Políticos, suas famílias e insiders conectados transformaram um fenômeno popular em mais um jogo manipulado. Para que as memecoins realmente se recuperem, elas precisarão reconstruir a confiança em um sistema que, por um breve momento, prometeu acesso democratizado — mas entregou os mesmos velhos jogos de poder em uma nova embalagem.
Dito de outra forma, a festa não acabou. Mas os VIPs que a invadiram podem ter estragado a vibe para sempre.
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