O grande cassino cripto: como políticos, insiders e influenciadores transformaram tokens em máquinas de dinheiro
Edição #832 - dia 22 de fevereiro de 2025
Nos últimos anos, o mercado de criptomoedas deixou de ser um movimento libertário focado em descentralização para se tornar um playground de especuladores, insiders e, mais recentemente, políticos. O sonho de um sistema financeiro livre de manipulações deu lugar a uma realidade em que presidentes, governadores e ministros perceberam que podem explorar o setor sem nenhuma consequência - ao menos, até agora.
Isso fez o jogo mudar. Se antes os políticos buscavam regular e restringir as criptos, agora eles entenderam que há dinheiro fácil e rápido a ser ganho – e ninguém para cobrá-los pela forma que eles fazem isso. Agora, chefes de Estado ao redor do mundo estão promovendo tokens, inflando seus preços artificialmente com o apoio de insiders e influenciadores, dando golpes e depois sumindo sem dar maiores explicações.
O resultado? Bilhões de dólares transferidos dos pequenos investidores para os bolsos daqueles que “sabiam a hora certa de entrar e sair do jogo”. Se antes as fraudes no mercado cripto eram feitas por anônimos no Telegram, Discord e X (antigo Twitter), agora são lideradas por presidentes e políticos com milhões de eleitores e de seguidores nas redes sociais.
Este é um retrato do colapso moral que o ecossistema vem passando e que se tornou a maior ameaça à credibilidade desse novo sistema financeiro até hoje.
O manual do golpe: como políticos criam e abandonam tokens
A fórmula do golpe dos tokens políticos segue um roteiro já testado e aprovado:
1. O anúncio oficial: “uma revolução econômica”
O presidente ou uma figura política relevante faz um grande anúncio público sobre um token. A moeda é promovida como um avanço tecnológico, uma forma de modernizar a economia do país e/ou um meio de fortalecer os negócios locais. Os termos são sempre vagos e envolvem promessas de "crescimento", "liberdade financeira" e "inovação".
2. O esquema dos insiders e influenciadores
Antes mesmo de o público saber do lançamento do token, os insiders já compraram grandes quantidades a preços irrisórios. Influenciadores cripto recebem quantidades massivas de tokens gratuitamente e começam a publicar sobre o projeto, gerando um hype artificial. A ideia é criar um sentimento de FOMO (fear of missing out) para que o público comum se sinta obrigado a comprar antes que o preço suba ainda mais.
3. O hype e a corrida ao mercado
Quando o token finalmente é lançado ao público, milhões de investidores já estão convencidos de que essa é a grande oportunidade da década. O preço dispara nas primeiras horas e a demanda continua crescendo, impulsionada por manchetes e publicações entusiasmadas.
4. Rug pull e abandono
Quando o valor atinge um pico alto o suficiente, os insiders despejam suas participações no mercado. A liquidez é drenada rapidamente e o preço do token colapsa em questão de minutos. Investidores do varejo, sem contatos e sem informação insider, que compraram no topo de preço do ativo ficam presos ao token, agora com pouco valor ou mesmo sem valor algum.
5. A fuga da responsabilidade
Por fim, o político que promoveu o token deleta seus tweets, alegando desconhecimento do projeto e/ou culpa opositores políticos. Os insiders se escondem atrás de carteiras anônimas e seguem para o próximo golpe. E os influenciadores? Apenas mudam de assunto e promovem o próximo token.
A entrevista que desmascarou todo o esquema da $LIBRA
O token de Donald Trump: o primeiro experimento presidencial
Em janeiro de 2025, Donald Trump, então presidente eleito dos EUA, há três dias de tomar posse, lançou o seu próprio token na rede Solana: o $TRUMP. O token foi promovido por Trump, em sua conta oficial no X e na Truth Social, como um ativo diretamente relacionado à sua imagem e a narrativa foi suficiente para inflar o preço rapidamente.
O esquema
- O token multiplicou de valor em questão de horas, chegando a ter um valor de mais de US$ 13 bilhões de capitalização de mercado, obtidos em menos de dois dias;
- Com o preço indo para a lua, insiders despejaram suas participações e realizaram milhões em lucros. Uma única carteira vez um lucro de mais de US$ 300 milhões com um investimento inicial de US$ 1 milhão. Investimento este, feito menos de um minuto depois do lançamento oficial do token. Além disso, a equipe oficial do projeto tinha controle de cerca de 80% do total de tokens;
- Passados mais dois dias, o preço do token desabou da sua All Time High (ATH) e hoje vale menos de 30% do seu maior valor.
Seguindo o exemplo do token $TRUMP, logo depois, a primeira dama dos EUA Melania Trump lançou seu próprio token, o $MELANIA, replicando exatamente o mesmo golpe. No caso de Melania, o token alcançou quase US$ 5 bilhões e depois perdeu mais de 90% de valor.
Insiders que deram rug pull no token promovido por Milei, participaram tiveram acesso antecipado ao token de Trump em jantar
Como Javier Milei, presidente da Argentina criou e abandonou um token de $4,4 Bilhões
O caso mais recente e emblemático desse novo golpe foi o lançamento da $LIBRA pelo presidente argentino Javier Milei.
O que aconteceu?
- No dia 14 de fevereiro de 2025, às 17h03 (EST), Milei fez um post no Twitter (X) promovendo um novo token, a $LIBRA. Seguindo o modelo e até mesmo a equipe responsável por lançar o token $MELANIA, o token também foi lançado na rede Solana;
- Segundo o presidente, a iniciativa se tratava de “um projeto privado para incentivar o crescimento da economia argentina”;
- O site do projeto foi registrado horas antes do anúncio e tinha um domínio válido por apenas um ano;
- O plano de financiamento para empresas argentinas? Um formulário do Google;
- Diferente do projeto de Donald Trump, que não prometia nada, Milei relacionou seu projeto a uma melhoria da segunda maior economia da América Latina.
Mesmo com todos esses sinais vermelhos, o mercado foi à loucura.
Milei promove o token $LIBRA
A euforia e o crescimento insano
- Em 40 minutos, o preço da $LIBRA subiu 2.000;.
- O valor de mercado atingiu US$ 4,4 bilhões, o equivalente a 1% do PIB argentino.;
- Mais de 50 mil carteiras compraram o token, gerando um volume de negociação de US$ 1,1 bilhão.
Rug pull e colapso
- A empresa Lookonchain, especialista em análise blockchain, revelou que oito carteiras ligadas à equipe da $LIBRA drenaram a liquidez do token;
- O método foi brutal: removeram SOL e USDC das pools de liquidez e deixaram apenas os tokens sem valor. ;
- Em minutos, o valor do token $LIBRA caiu 94%;
- Investidores perderam milhões de dólares, enquanto os insiders saíram com mais de $100 milhões em lucro.
O que Milei fez? Apagou o tweet e culpou a oposição. Quando não colou, falou que não tinha envolvimento. Como a oposição e mesmo aliados passaram a questionar ele no Congresso Argentino, disse que apenas algumas poucas pessoas tinham sido prejudicadas. Agora, o presidente argentino corre o risco de sofrer um processo de impeachment.
As digitais do scam
$CAR, o token da República Centro-Africana
Menos comentado, o continente africano também viu um presidente lançar um token e tentar dumpá-lo na cabeça de seus eleitores/investidores. Faustin-Archange Touadéra, presidente da república Centro-Africana lançou o token $CAR, que teve como narrativa o fato de ser um token nacional que iria modernizar a economia do país. Segundo ele, que promoveu ativamente o token, seria uma moeda oficial para transações digitais.
O resultado?
- O token atingiu US$ 894 milhões de valor de mercado;
- Suspeitas de que carteiras ligadas ao presidente teriam drenado os tokens foram feitas, embora nem uma descoberta real tenha sido feita;
- Com algumas carteiras lucrando milhões, o $CAR perdeu 96% do seu valor poucos dias depois;
- Enquanto isso, nenhum progresso econômico real foi feito no país africano.
Assim, mais um golpe foi feito com as digitais de um chefe de Estado.
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O papel da Solana: o paraíso das memecoins, insiders e influenciadores
Se presidentes estão utilizando criptoativos para dar golpes e faturar milhões, é porque o mercado cripto permite que isso ocorra. E se há um lugar onde esse fenômeno floresceu, é na rede Solana. A rede, vendida como uma alternativa rápida ao Ethereum, se tornou um verdadeiro cassino de memecoins, em que insiders têm controle total do jogo.
O exemplo do protocolo Meteora foi um exemplo claro. O protocolo controlava 31% da liquidez das corretoras descentralizadas (DEXs) da Solana. Mais de 200 protocolos dependiam da sua infraestrutura para funcionar na rede. Assim, quando o preço da $LIBRA despencou, com insiders drenando centenas de milhões de dólares e deixando milhares de investidores em ruínas, criptonativos passaram a olhar para as informações onchain.
Ao olhar com atenção, encontraram um ecossistema em que as regras são claras apenas para quem já está por dentro. Assim, insiders têm acesso antecipado ao contrato do token, influenciadores recebem quantidades massivas de tokens de graça e quando o token é lançado publicamente, os insiders já compraram antes e conseguiram manipular o preço. Assim, basta esperar que influenciadores comecem a postar sobre o token, impulsionando a demanda. Depois disso, é só vender.
As denúncias de conluio e manipulação do mercado levaram à demissão de Ben Chow, co-fundador e CEO da Meteora.”Embora tenhamos padrões muito altos de integridade de tokens na Jupiter (JUP), quero me desculpar por não termos exigido o mesmo padrão de outros projetos no setor. Este é um momento decisivo para nossa indústria e está muito óbvio para mim agora que a maneira de fazer a indústria crescer não é simplesmente por meio de mais tokens, mas ter projetos que tenham o mesmo nível de certeza de token, alinhamento de longo prazo e extrema transparência, como praticamos com a JUP”. Influencers referências do mercado, como Ansem, estão sendo envolvidos e estão sendo obrigados a dar explicações sobre suas participações no ativo.
Assim, o que era para ser uma plataforma descentralizada se mostrou um feudo controlado por um pequeno grupo de insiders, repetindo os mesmos esquemas que antes acusavam Wall Street de praticar.
O futuro cripto: o que pode ser feito?
Cripto nasceu para ser um ambiente transparente e descentralizado. Para que esse ideal seja resgatado, algumas mudanças são essenciais:
1. Regulação eficiente para impedir que políticos abusem do mercado. Se uma celebridade pode ser multada por promover cripto fraudulento, por que um presidente não pode?;
2. Sistemas de auditoria on-chain para evitar manipulação Projetos que surgem do nada sem informações claras devem ser automaticamente vistos como suspeitos;
3. Maior responsabilidade dos influenciadores. Influenciadores que participam de esquemas de pump & dump devem ser expostos e responsabilizados;
4. Plataformas descentralizadas com governança real. Não adianta ter uma blockchain rápida se ela é controlada por meia dúzia de insiders.
A boa notícia? Se essas mudanças forem implementadas, cripto pode finalmente voltar a ser o que prometeu ser desde o início – um sistema financeiro transparente e acessível, sem os vícios da política tradicional e dos cartéis financeiros.
Se nada for feito? Bem, o cassino continua aberto. Mas agora, os donos da casa não são apenas investidores anônimos nas redes sociais, são presidentes, ministros e governadores.
Seja bem-vindo à nova era do cripto. O cassino nunca fecha – mas a conta sempre chega.
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