A redenção da Ripple: como a XRP deixou de ser uma pária para se tornar um gigante do mercado
Edição #819 - Dia 08 de fevereiro de 2025
Nos confins do universo cripto, poucas histórias são tão dramáticas quanto a jornada da Ripple e sua criptomoeda nativa, a XRP. De uma empresa encurralada pela SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) e uma moeda considerada moribunda, para uma das maiores recuperações já vistas no setor cripto, a Ripple provou que resiliência e estratégia podem superar até os maiores desafios regulatórios. Mas como exatamente essa mudança aconteceu? E o que isso significa para o futuro das criptomoedas?
O início da tempestade
Antes de entrar no assunto, é bom uma recapitulação. Para quem não conhece, a Ripple e o XRP são projetos antigos do mercado cripto. A Ripple é um protocolo de pagamentos que desenvolveu a criptomoeda XRP, visando facilitar os pagamentos globalmente. A Ripple e o token da companhia foram criados por Jed McCaleb, programador que deixou o projeto em 2013, e por Chris Larsen. O projeto tem como objetivo transformar as transações internacionais entre bancos mais rápidas, baratas e confiáveis. O token XRP funciona como uma ponte para os bancos que não trabalham com alguma moeda fiduciária específica, podendo converter a moeda para XRP e depois para moeda fiat.
Por anos, a XRP se manteve como um dos principais protocolos criptos, até que em em dezembro de 2020 entrou em confronto com a SEC, que a processou, acusando-a de conduzir uma oferta de valores mobiliários não registrada no valor de US$ 1,3 bilhão. O impacto foi imediato: corretoras começaram a delistar a XRP, o preço do token despencou e os inúmeros críticos declararam a Ripple como um caso perdido. Parecia que a SEC havia dado um golpe fatal na empresa e no seu token.
Mas, ao contrário do que muitos esperavam, a Ripple decidiu não se curvar e optou por lutar. Enquanto a maioria das empresas enfrentando a SEC buscam acordos para minimizar danos, a Ripple seguiu um caminho combativo, gastando milhões em batalhas judiciais e usando sua influência política e corporativa para virar o jogo.
O tempo provou que a aposta da Ripple foi acertada. Em vez de se isolar e aceitar a derrota, a empresa dobrou sua aposta no desenvolvimento do ecossistema XRP, firmou novas parcerias estratégicas e reforçou sua presença em mercados internacionais. Em um ambiente em que muitas criptomoedas se perderam em disputas regulatórias, a Ripple encontrou maneiras de se manter relevante e, mais importante, crescer.
A Ripple também enfrentou desafios técnicos. Durante esse período, desenvolveu aprimoramentos significativos na sua tecnologia, incluindo melhorias na velocidade da blockchain e na segurança das transações feitas na XRP Ledger. Além disso, a empresa focou na interoperabilidade do XRP, tornando-a compatível com diversas outras blockchains, facilitando sua adoção por empresas de pagamentos globais.
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O retorno do império
Três anos depois, em outubro de 2023, a SEC retirou todas as acusações contra o CEO Brad Garlinghouse e o presidente executivo Chris Larsen. O que parecia impossível havia acontecido: a Ripple não apenas sobreviveu, mas saiu fortalecida. A vitória legal foi um divisor de águas, transformando Garlinghouse de um pária da indústria em um herói do setor cripto.
Com a incerteza regulatória dissipando-se, a Ripple não perdeu tempo em consolidar sua presença. O lançamento do RLUSD, sua própria stablecoin lastreada em dólar, e a expansão agressiva da empresa para novos mercados demonstraram que a empresa estava pronta para um novo ciclo de crescimento.
A estratégia da Ripple também incluiu a reconstrução da sua própria reputação. Por meio de alianças com grandes instituições financeiras, participação ativa em eventos globais e um investimento significativo em lobby político, educação e adoção do XRP, a empresa consolidou sua posição como um ator-chave na luta regulatória do setor cripto. Além disso, a Ripple investiu fortemente na sua infraestrutura, aprimorando a XRP Ledger para suportar mais transações por segundo e reduzir ainda mais as taxas.
A XRP assume o palco principal
Se 2023 foi o ano da vitória legal da Ripple, 2024 foi o ano da ascensão definitiva da XRP. O token chegou próximo de retornar a sua All Time High (ATH), que ocorreu há sete anos. Com o valor do token saindo de US$ 0,56 em outubro do ano passado para US$ 3,30 em janeiro, seu valor de mercado superou o de players como Solana (SOL) e Tether (USDT), tornando-se a terceira maior criptomoeda do mundo em capitalização de mercado, alcançando impressionantes US$ 192 bilhões. A aprovação da stablecoin RLUSD pelo Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (NYDFS) marcou um momento histórico, se tornando um dos principais players do setor.
Ao mesmo tempo, a XRP teve um aumento expressivo no seu volume de negociação e de adoção institucional. Empresas como a Grayscale, conhecida por seus fundos de investimento em criptoativos, lançaram produtos financeiros baseados em XRP. O número de transações na XRP Ledger cresceu exponencialmente, consolidando sua utilidade para o setor financeiro.
Os endereços da XRP Ledger cresceram mais de 440% no último ano

Além disso, a Ripple busca se posicionar como um player do sistema de pagamentos transnacionais, reforçando sua capacidade de ser uma alternativa viável ao SWIFT, embora essa narrativa pareça cada vez mais impossível, principalmente com o crescimento de diverssas CDBCs. Mesmo assim, grandes bancos e instituições financeiras já testaram essa tecnologia para transferências internacionais mais rápidas e baratas, embora as remessas nesse modelo ainda sejam insignificantes.
O fator político e a guerra dos ETFs
Mas o sucesso da XRP não se deu apenas pelo crescimento orgânico. A Ripple demonstrou um talento excepcional em navegar o campo político. A contribuição estratégica de US$ 5 milhões para a posse presidencial de Donald Trump, juntamente com um lobbying poderoso em Washington, ajudou a garantir um ambiente mais favorável para a empresa. Além disso, Brad Garlinghouse foi fotografado jantando com Donald Trump nos dias pré-posse do atual presidente norte-americano.
Executivos da Ripple jantam com Trump
O movimento ensejou uma série de críticas de maximalistas do Bitcoin, que enxergam em Garlinghouse o principal obstáculo para a criação de uma reserva estratégica de Bitcoin - Garlinghouse defende que a reserva seja de múltiplos ativos. “Eu possuo XRP, BTC e ETH, entre várias outras. Vivemos em um mundo multichain. Se for criada uma reserva governamental de ativos digitais, ela deverá refletir o setor mais amplo, e não apenas um único ativo. O maximalismo impede o progresso das criptomoedas, e me sinto encorajado por ver mais pessoas indo além dessa mentalidade ultrapassada”, comentou no X (antigo Twitter).
Com Gary Gensler fora da SEC e um novo líder mais aberto às criptomoedas, as apostas para um ETF de XRP aumentaram. Os principais players de Wall Street, incluindo JPMorgan, WisdomTree, Bitwise e 21Shares, entraram na disputa para oferecer ETFs baseados na XRP, com previsões de entrada de capital que variam entre US$ 4,3 bilhões e US$ 8,4 bilhões no primeiro ano, caso aprovados. XRP é visto, inclusive, como o próximo criptoativo a receber um ETF. A presidente da Ripple, Monica Long, sugere que um ETF de XRP é o próximo na lista. “Acho que veremos mais ETFs de criptomoedas à vista este ano saindo dos EUA e acho que o XRP provavelmente será o próximo na fila depois do bitcoin e do éter”, pontuou.
Precificação das chances de de um ETF do XRP este ano
O potencial da XRP como um ativo digital de investimento institucional nunca esteve tão claro. Enquanto Bitcoin, Ethereum e Solana dominam os holofotes, a Ripple vem silenciosamente criando uma infraestrutura que poderá ser essencial para o futuro das transações financeiras.
A XRP agora faz parte do portfólio de grandes investidores institucionais, solidificando-se como um ativo estratégico para o setor financeiro. A expansão do ecossistema de stablecoins, como o RLUSD, também posiciona a Ripple para capturar uma fatia ainda maior do mercado global de pagamentos.
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A redenção já está completa?
Se há algo que a história da Ripple/XRP nos ensina, é que subestimar esse protocolo e criptoativo foi um erro. O mercado cripto é cíclico e cada ciclo traz seus vencedores. A XRP, que já foi descartada como uma moeda sem futuro, ressurgiu das cinzas e agora está posicionada como um dos principais ativos digitais do mundo.
Ainda restam desafios: a adoção institucional precisa continuar, a liquidez do RLUSD deve se expandir e as decisões regulatórias seguirão moldando o destino da Ripple. Mas, pela primeira vez em anos, a XRP não é vista como uma aposta arriscada e sim como uma peça essencial no quebra-cabeça cripto.
Olhando para o futuro, analistas especulam que a XRP pode atingir novos patamares, com previsões que variam entre US$ 10 e US$ 48 nos próximos anos. Seja qual for o resultado, uma coisa é certa: a Ripple e a XRP conseguiram não apenas sobreviver, mas prosperar em um mercado altamente volátil e competitivo.
Se aprendemos algo nos últimos anos, é que no mercado cripto, as segundas chances podem valer bilhões. A Ripple, antes desacreditada, agora traça seu caminho rumo ao topo, provando que resiliência e inovação podem transformar qualquer ativo em um gigante do mercado financeiro.
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