Corporações vs. Cripto Bros: a guerra das tesourarias
Edição #943- Dia 5 de julho de 2025
Em dezembro de 2024, um desenvolvedor anônimo postou no fórum BitcoinTalk uma observação que passou despercebida pela maioria: "Perceberam que as corporações agora controlam mais bitcoin que será minerado nos próximos seis anos?" O post teve apenas três respostas. Duas eram spam. A terceira dizia simplesmente: "Isso era inevitável."
Talvez fosse mesmo. As empresas públicas agora detém mais de 725 mil BTCs. Empresas privadas controlam outros 300 mil BTCs estimados. No total, corporações possuem mais de 1 milhão de bitcoins – cerca de 5% de todos os que existirão.
A transformação aconteceu silenciosamente. Em 2020, quando a MicroStrategy fez sua primeira compra de bitcoin, foi vista como uma excentricidade de Michael Saylor. Hoje, rebatizada como Strategy (o "micro" aparentemente não condizia mais com 597,3 bitcoins em seu balanço), a empresa se tornou o modelo para outras 150 corporações públicas que agora mantêm bitcoin como reserva de tesouraria.
A nova ortodoxia
A Strategy realizou sua 12ª compra de bitcoin em 2025, adquirindo 13,3 mil BTCs por US$ 1,34 bilhão. A empresa agora possui 2,7% de todo o bitcoin em circulação. Michael Saylor, em sua apresentação na conferência "Bitcoin for Corporations" em Orlando, explicou a filosofia: "Nós vamos continuar comprando o topo para sempre, todo dia é um bom dia para comprar bitcoin".
O que começou como uma estratégia heterodoxa se tornou ortodoxia corporativa. Em 2024, apenas 64 empresas públicas mantinham bitcoin. Em junho de 2025, são 151. A adoção está acelerando.
A Metaplanet, uma empresa japonesa, ultrapassou recentemente a Tesla em holdings de bitcoin. Sua meta é acumular 30 mil BTCs até o final de 2025 e 100 mil BTCs até 2026. Para contexto, a Tesla mantém 11,5 mil BTCs, tornando Elon Musk apenas o sétimo maior detentor corporativo.
O mercado precifica essa acumulação de formas curiosas. O índice Preço-para-Reserva-BTC da Strategy está em 7,27, significando que investidores pagam US$ 7,27 por cada dólar de bitcoin que a empresa possui. A premium existe apesar do negócio principal de software da empresa operar sem lucro e com receitas em declínio.
As novas regras contábeis FASB permitem que empresas marquem bitcoin a preço de mercado. A Tesla registrou US$ 600 milhões em ganhos no quarto trimestre de 2024. A Strategy, por outro lado, pode enfrentar bilhões em impostos sobre ganhos não realizados devido ao Corporate Alternative Minimum Tax.
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O novo establishment
Satoshi Nakamoto permanece o maior detentor com aproximadamente 1,1 milhão de BTC, seguido pela BlackRock com 662 mil BTCs. A BlackRock, que gerencia US$ 10 trilhões em ativos globalmente, agora está entre os maiores detentores de bitcoin do mundo.
O contraste com a visão original é notável. O whitepaper do Bitcoin descrevia "um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer" que permitiria "pagamentos online enviados diretamente de uma parte para outra sem passar por uma instituição financeira." Quinze anos depois, as maiores instituições financeiras do mundo estão entre os principais detentores.
As corporações já possuem mais bitcoin do que os 164,2 BTCs que serão minerados em 2025. Cada bitcoin comprado por uma corporação é matematicamente um bitcoin a menos disponível para compradores individuais.
A Marathon Digital, segunda maior detentora pública com 40,4 mil BTCs, adotou uma estratégia diferente. Como explicou Gary Vecchiarelli, CFO da mineradora CleanSpark: "Por que comprar bitcoin a preços atuais quando podemos minerá-lo por US$ 34 mil?"
A matemática da escassez está se tornando mais evidente. Com aproximadamente 19,7 milhões de bitcoins já minerados e apenas 1,3 milhão restantes para serem extraídos nos próximos 120 anos, a competição por cada satoshi está se intensificando.
A conferência "Bitcoin for Corporations" da Strategy resumiu a nova realidade. Executivos discutiram "KPIs de bitcoin" e "métricas alinhadas ao GAAP". Peter Karl da Cantor Fitzgerald anunciou ter levantado US$ 30 bilhões para facilitar a adoção institucional de bitcoin. Matt Cole da Strive apresentou planos para se tornar a primeira empresa pública focada em tesouraria bitcoin.
Os fóruns de discussão cripto refletem a mudança. Onde antes se debatia descentralização e soberania financeira, agora se rastreiam obsessivamente os registros trimestrais das corporações. Cada anúncio de compra corporativa gera reações mistas – celebração pela "adoção institucional" e preocupação com a concentração de poder.
Um usuário do Reddit resumiu o sentimento: "Passamos anos dizendo 'seja seu próprio banco' e agora estamos torcendo para os bancos comprarem bitcoin." Outro respondeu: "Pelo menos estamos ganhando dinheiro."
A dinâmica criou novos rituais no ecossistema cripto. Quando a Strategy anuncia uma compra, o preço frequentemente sobe. Traders aguardam esses anúncios como agricultores esperando chuva. Michael Saylor se tornou uma figura quase mítica, seus tweets movendo bilhões em valor de mercado.
Block (anteriormente Square), de Jack Dorsey, mantém 8 mil BTCs. A Coinbase possui 9 mil BTCs. Até empresas de setores tradicionalmente conservadores estão entrando. A seguradora MassMutual comprou US$ 100 milhões em bitcoin, sinalizando que mesmo gestores de fundos de pensão estão reconsiderando o ativo.
A Strategy subiu 370% em 2024. Para muitos investidores, isso é tudo que importa. A empresa efetivamente se transformou em um veículo de investimento em bitcoin, com seu software de business intelligence servindo principalmente como justificativa regulatória para sua existência como empresa pública.
As implicações se estendem além dos preços. Quando corporações controlam porções significativas de um ativo supostamente descentralizado, questões fundamentais emergem sobre governança, influência de mercado e o futuro do próprio bitcoin.
A concentração tem efeitos práticos. Com grandes detentores institucionais, a volatilidade do bitcoin diminuiu. O que antes era conhecido por oscilações de 20% em um dia agora se comporta mais como uma commodity tradicional. Para alguns, isso é maturidade. Para outros, é domesticação.
O volume de bitcoin em exchanges continua diminuindo, sugerindo que mais moedas estão sendo retiradas para cold storage corporativas. Isso cria um paradoxo: quanto mais "adotado" por corporações, o bitcoin perde sua essência, ficando menos disponível para o uso pretendido como moeda peer-to-peer.
Há também implicações tributárias complexas emergindo. Vários países estão reconsiderando como taxar holdings corporativos de bitcoin. A Alemanha propôs um imposto sobre ativos digitais não realizados. O Japão está debatendo se bitcoin corporativo deve ser tratado como reserva de moeda estrangeira.
Talvez o desenvolvedor anônimo do BitcoinTalk estivesse certo. Talvez isso fosse mesmo inevitável. Em um sistema onde qualquer um pode comprar bitcoin, aqueles com mais recursos comprarão mais. É a lógica implacável do mercado aplicada a um ativo que deveria transcender essa mesma lógica.
O bitcoin conquistou Wall Street. Ou Wall Street conquistou o bitcoin. No final, talvez não importe qual interpretação escolhemos. O resultado é o mesmo: uma nova classe de proprietários para um ativo que prometia eliminar a necessidade de classes.
Satoshi Nakamoto nunca moveu seus bitcoins. Continua sendo o único grande detentor que nunca vendeu, nunca negociou, nunca monetizou. Há algo poeticamente apropriado nisso – o criador assistindo silenciosamente enquanto sua criação é absorvida pelo mesmo sistema que deveria substituir.
A revolução foi televisionada. E patrocinada.
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