A guerra dos perpétuos: como a Aster chegou para incomodar a Hyperliquid
Edição #1014 - Dia 27 de setembro de 2025
Quando o mundo cripto acordou na segunda-feira, 23 de setembro, uma inversão de expectativas se materializou nos dados: a Aster, uma DEX de perpétuos que poucos conheciam há um mês, tinha ultrapassado a todo-poderosa Hyperliquid em volume diário de negociação. Com US$ 20,8 bilhões contra US$ 9,7 bilhões da líder estabelecida, a plataforma apoiada pela YZi Labs (antiga Binance Labs) sinalizava que as guerras por market share no DeFi estavam apenas começando.
Não era coincidência que Changpeng Zhao (CZ) tenha postado um lacônico “Well done! Good start. Keep building!” no dia do lançamento do token ASTER. O ex-CEO da Binance, proibido de gerir exchanges mas não de mover mercados, estava declarando guerra à única plataforma que genuinamente ameaçava o domínio das exchanges centralizadas no trading de derivativos. Em poucas horas, o token ASTER explodiu 400% - uma mensagem inequívoca de que o império Binance não pretendia assistir passivamente à ascensão de um competidor descentralizado.
A ascensão meteórica da Hyperliquid e o surgimento da Aster (2023-2025)
O contexto histórico do setor explica a magnitude deste momento. As DEXs de perpétuos nasceram como resposta ao colapso da FTX em 2022, quando traders descobriram brutalmente os riscos de confiar fundos a exchanges centralizadas. Plataformas como GMX e dYdX emergiram como pioneiras, oferecendo trading de derivativos sem custódia, mas com limitações técnicas que restringiam sua adoção em massa. A dYdX, por exemplo, controlava impressionantes 73% do mercado em janeiro de 2023, mas sua participação despencou para meros 7% em dezembro de 2024, vítima de problemas técnicos e da ascensão de concorrentes mais eficientes.
A Hyperliquid preencheu esse vácuo construindo sua própria blockchain Layer 1 otimizada para trading, conseguindo velocidade e experiência comparáveis às exchanges centralizadas enquanto mantinha a segurança descentralizada. Os resultados foram espetaculares: em 2024, a plataforma processou US$ 357 bilhões apenas em agosto, gerando US$ 105 milhões em receitas e dominando 73% do mercado de perpétuos descentralizados. Seu token HYPE valorizou mais de 1.300% desde o lançamento, atingindo máximas históricas acima de US$ 50.
Mas setembro de 2025 trouxe uma mudança de narrativa. A Aster, nascida da fusão estratégica entre APX Finance e Astherus em dezembro de 2024, emergiu como competidora direta com uma proposta diferenciada. Enquanto a Hyperliquid apostava em uma blockchain própria, a Aster abraçou o multichains, operando simultaneamente na BNB Chain, Ethereum, Solana e Arbitrum para maximizar liquidez e alcance. A estratégia mostrou-se eficaz: em poucos dias após o lançamento do token, a plataforma registrou volume diário superior a US$ 11 bilhões e TVL de US$ 1,8 bilhão.
O arsenal tecnológico da nova pretendente
A Aster não chegou para disputar apenas com marketing. Sua arquitetura técnica introduz inovações que endereçam problemas específicos do trading on-chain. O sistema de “ordens ocultas” permite que traders façam operações sem revelar tamanho ou direção até a execução, solucionando o problema de front-running que assombra DEXs tradicionais. É a versão DeFi dos dark pools de Wall Street, e CZ não economizou elogios ao feature em suas manifestações públicas.
O mais intrigante é o modelo de colateral que gera yield. Diferentemente da Hyperliquid, que aceita apenas USDC, a Aster permite usar ativos como asBNB (BNB líquido) e USDF (stablecoin que gera retorno) como margem. Traders podem, simultaneamente, ganhar rewards de staking, yield de protocolos DeFi e lucros de trading - um nível de composabilidade que blockchains isoladas não conseguem replicar facilmente. É capital efficiency com esteróides, conceito que faria Adam Smith revirar no túmulo.
A plataforma oferece alavancagem até 1001x em modo “degen”, superando os 40x da Hyperliquid. Claro, porque o que o mercado cripto realmente precisava era de ainda mais formas de liquidar posições em milissegundos. Mas a audácia técnica impressiona: perpétuos de ações americanas 24/7, trading cross-chain sem bridges e proteção MEV nativa. É quase como se alguém tivesse lido todos os white papers de DeFi e decidido implementar tudo de uma vez.
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As fichas na mesa
Os tokenomics revelam filosofias distintas sobre captura de valor. O token ASTER tem supply total de 8 bilhões, com 53,5% destinados à comunidade, em uma das maiores alocações comunitárias em DeFi. O vesting se estende por 80 meses, priorizando construção de longo prazo sobre ganhos especulativos imediatos. É o oposto da mentalidade “number go up” que domina o setor.
A Hyperliquid, por outro lado, opera um modelo de buybacks agressivos financiado por receitas do protocolo. Com mais de US$1 bilhão em receita anualizada e 43,4% do supply em staking, criou escassez artificial que sustenta valorização. O problema? Um unlock massivo de US$ 11,9 bilhões começando em novembro de 2025, quando 237,8 milhões de tokens de desenvolvedores entram em circulação ao longo de 24 meses. São US$ 500 milhões mensais de pressão vendedora potencial, contra buybacks que absorvem apenas 17% desse volume.
A matemática é brutal: US$ 410 milhões mensais de pressão vendedora residual, valor que supera a liquidez de muitas altcoins estabelecidas. Arthur Hayes, co-fundador da BitMEX, já vendeu uma parte da sua posição de HYPE, embolsando US$ 823 mil de lucro para comprar uma Ferrari. Seria um timing impecável ou coincidência suspeita? Grandes whales também estão reduzindo exposição antes do evento, retirando US$ 122 milhões em tokens após nove meses de acúmulo.
A resposta estratégica da Binance através da YZi Labs foi cirúrgica. Com US$ 10 bilhões em ativos sob gestão e 271 investimentos no portfólio, o antigo Binance Labs possui recursos para sustentar a Aster através dos primeiros anos críticos. Parcerias com PancakeSwap, Pendle, Venus e ListaDAO criam um ecossistema simbiótico onde usuários podem simultaneamente fazer yield farming, liquid staking e trading derivativo. É DeFi legos na prática, construindo moats competitivos que Hyperliquid não pode replicar facilmente em sua blockchain isolada.
O timing não poderia ser mais preciso. O mercado de perpétuos descentralizados movimentou US$ 1,5 trilhão em 2024, crescimento de 138% versus 2023. DEXs agora representam mais de 20% do volume spot total - recorde histórico - e 4,2% dos futuros, ante apenas 2,1% em janeiro de 2023. A Hyperliquid sozinha processa volumes diários comparáveis a exchanges Tier-1 como Bybit, feito impressionante para uma plataforma de dois anos.
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Mas o domínio tem prazo de validade. A fragmentação de liquidez entre múltiplas chains cria oportunidades para agregadores como a Aster. Traders podem preferir operar onde já possuem ativos a fazer bridges constantes. Além disso, a integração com o ecossistema Binance oferece on-ramps fiat, parcerias institucionais e distribuição que nenhuma startup consegue igualar organicamente. Quando a Trust Wallet anunciou integração nativa com a Aster para trading de futuros, a mensagem estava clara: o império não pretende ceder território.
A ironia é deliciosa. A Hyperliquid nasceu para competir com a Binance no trading centralizado, oferecendo a mesma experiência com segurança descentralizada. Agora enfrenta um competidor financiado pela própria Binance, utilizando a infraestrutura BNB Chain que muitos consideravam obsoleta frente a L1s mais modernas. É xadrez 4D ou apenas coincidência que CZ tenha removido o prefixo “ex” do seu perfil no Twitter justamente quando a Aster decolou?
O veredito ainda está sendo escrito nos blocos. A Aster pode ser a resposta da Binance à ascensão DeFi ou o investimento mais caro que CZ já fez para dizer “eu também” a um competidor. A verdadeira prova será tirada quando e se a plataforma conseguir convencer traders a abandonar a infraestrutura testada em batalha da Hyperliquid por um experimento multi-chain apoiado pelo mesmo ecossistema que nos trouxe o colapso da FTX em 2022. Sem pressão. Quando a maior exchange do mundo sente necessidade de apoiar um competidor DeFi, isso sugere que o modelo centralizado não é tão invencível quanto se acreditava. Se isso faz da Aster uma vencedora ou apenas um hedge caro, só o tempo dirá.
Por enquanto, as guerras dos perpétuos acabaram de ganhar um novo capítulo. E desta vez, CZ está do outro lado da mesa.
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