Quando Pikachu encontrou Wall Street: a improvável ascensão dos Exotic RWAs
Edição #1002 - Dia 13 de setembro de 2025
Se alguém tivesse dito há três anos que fundos institucionais estariam discutindo seriamente o valor de cartas de Pokémon tokenizadas em reuniões de diretoria, provavelmente seria convidado a procurar ajuda de um profissional. Mas aqui estamos, em setembro de 2025, e o mercado de Real World Assets (RWAs) não apenas ultrapassou a marca de US$ 50 bilhões em ativos tokenizados, como também descobriu que o mundo real é muito mais interessante quando inclui Charizards holográficos, violinos de 300 anos e barris de whisky escocês.
Para entender como chegamos aqui, é preciso primeiro compreender o que diabos são "exotic RWAs". Se os RWAs tradicionais são o equivalente financeiro de um terno cinza – títulos do Tesouro, imóveis, ações tokenizadas –, os exotic RWAs são o terno roxo com lapelas de veludo que Prince usaria em uma reunião do banco central dos Estados unidos, o Fed. São ativos tangíveis, muitas vezes colecionáveis ou de luxo, que ninguém imaginava que poderiam ser fracionados e negociados 24/7 em uma blockchain: cartas colecionáveis, vinhos raros, relógios de luxo, instrumentos musicais históricos, sneakers limitados, e até carros esportivos que custam mais que apartamentos em Manhattan.
A mágica acontece através da tokenização – o processo de converter direitos de propriedade de um ativo físico em tokens digitais que podem ser comprados, vendidos e negociados em blockchain. É como se pegássemos uma Ferrari de US$ 1 milhão, a dividíssemos em mil pedacinhos digitais de US$ 1 mil cada, e permitíssemos que qualquer um com uma conexão à internet pudesse possuir um pedaço do sonho italiano. O carro continua guardado em um cofre climatizado em Stuttgart, mas sua propriedade agora vive distribuída entre centenas de detentores de tokens ao redor do mundo.
Do Charizard ao Château: a economia do absurdo tokenizado
O epicentro dessa revolução improvável começou com cartas de Pokémon. Collector Crypt, uma plataforma baseada em Solana, decidiu que era hora de trazer os colecionadores para a blockchain. O resultado foi espetacular: seu token CARDS disparou 10 vezes em menos de uma semana, atingindo uma avaliação de US$ 360 milhões. A plataforma processou US$ 16,6 milhões em vendas semanais através de sua "Gacha machine" digital – essencialmente uma máquina de venda automática para NFTs lastreados em cartas físicas.
O que torna isso fascinante é a escala. A Pokémon Company produziu 9,7 bilhões de cartas apenas em 2024, quase o triplo da produção de dois anos antes. Esse único ano representou 18,3% de todas as cartas já produzidas desde 1996. É como se a Nintendo tivesse descoberto que pode literalmente imprimir dinheiro, mas em vez de yenes, são Pikachus com chapéus diferentes.
Mas o verdadeiro teatro do absurdo começou quando outros mercados perceberam o potencial. CurioInvest, uma plataforma que começou tokenizando carros de luxo, vendeu tokens de uma Ferrari F12 TDF de 2015 por US$ 1 cada – permitindo que qualquer um com o preço de um café pudesse dizer que "possui" parte de uma Ferrari. A empresa planeja tokenizar 500 carros de luxo que serão mantidos em um armazém em Stuttgart, criando essencialmente um estacionamento digital onde milhares de pessoas possuem frações de supercars que nunca dirigirão.
O mercado de sneakers tokenizados teve seu próprio drama shakespeariano. StockX lançou seu programa Vault NFTs em 2022, criando tokens digitais vinculados a tênis físicos armazenados em suas instalações. A ideia era genial: você compra o NFT do tênis, pode negociá-lo instantaneamente sem esperar autenticação ou envio, e quando quiser o tênis físico, "queima" o NFT e recebe o produto em casa. Era perfeito até a Nike processar a StockX por violação de marca registrada, alegando que a empresa estava vendendo tênis falsificados e usando indevidamente suas marcas em NFTs. O caso se arrastou por três anos e terminou com um acordo em 2025, estabelecendo que NFTs funcionando como recibos de produtos físicos sobreviverão, mas tokens que se transformam em colecionáveis independentes sem aprovação da marca enfrentarão pressão legal.
Enquanto isso, no mundo dos instrumentos musicais, Yat Siu, co-fundador da Animoca Brands, tokenizou um violino Stradivarius de 1708 avaliado em US$ 9 milhões que já pertenceu a Catarina, a Grande, da Rússia. A Galaxy Digital usou o violino tokenizado como garantia para um empréstimo multimilionário, marcando a primeira vez na história que um banco aceitou um NFT de um violino de 300 anos como colateral. O instrumento físico está guardado em Hong Kong, mas seu avatar digital agora vive na blockchain Ethereum, podendo teoricamente ser fracionado e vendido para milhares de investidores.
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A infraestrutura do caos: protocolos e plataformas
O ecossistema que surgiu para suportar essa economia alternativa é tão complexo quanto bizarro. DigiCask desenvolveu uma plataforma completa para tokenização de barris de whisky, incluindo um marketplace para negociação, empréstimos lastreados em USDB, pools de liquidez e até yield farming nativo na rede de segunda camada Blast. Imagine explicar para seu avô que agora você pode fazer staking de tokens de whisky escocês para ganhar rendimento em stablecoins.
A dVIN Labs foi ainda mais longe e criou Bacchus AI, um sommelier artificial que analisa listas de vinhos, identifica garrafas subprecificadas e otimiza portfólios para investidores. O AI pode monitorar mercados, gerenciar portfólios de vinho e eventualmente negociar ativos tokenizados autonomamente. É o futuro distópico onde uma inteligência artificial decide se você deveria investir em um Bordeaux 1982 ou um Burgundy 2005 baseado em análise quantitativa e sentimento de mercado.
Courtyard.io levantou US$ 37 milhões em uma rodada Série A liderada por Y Combinator, ParaFi Capital e NEA para sua plataforma que emite NFTs na Polygon vinculados a cartas armazenadas e seguradas pela Brink's. Sim, a mesma empresa que transporta dinheiro em carros-forte agora guarda Charizards em cofres climatizados.
O mercado de relógios de luxo tokenizados viu plataformas como Lympid prometendo retornos de 240% em cinco anos, superando o S&P 500. Você pode investir em um Rolex tokenizado com apenas 20 euros, democratizando o acesso a um mercado que tradicionalmente exigia centenas de milhares de dólares para entrar.
Mas talvez o exemplo mais surreal seja o Meta[Z], que permite usar seus sneakers tokenizados como collateral para posições alavancadas. Você pode colocar US$ 100 em cripto como margem para abrir uma posição long 5 vezes em seus tênis Air Force 1 '07. Se o valor do NFT dobrar, você ganha US$ 500 de lucro sem vender o ativo. É derivativo de derivativo de tênis – o tipo de instrumento financeiro que faria até um trader de Wall Street questionar suas escolhas de vida.
AJC, gerente de pesquisa da Messari, resumiu a loucura perfeitamente: "Hoje são Pokémon e cartas esportivas. Amanhã serão tênis, relógios, Labubus, roupas de luxo e qualquer outro item que os consumidores queiram".
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O mercado já viu de tudo. BlockCellar está tokenizando vinhos e destilados de investimento. ALL.ART tokenizou a coleção de vinhos raros Credo 2013 da Virtus Winery em Solana, com aprovação total da Comissão de Valores Mobiliários da Sérvia. Há plataformas tokenizando iates, jatos privados, obras de arte de Andy Warhol, e até guitarras Stradivarius do século XVII.
Quem está comprando isso tudo? Uma mistura eclética de colecionadores tradicionais explorando novas formas de liquidez, cripto-nativos procurando diversificação além de memecoins, millennials que querem possuir frações de ativos de luxo que nunca poderiam comprar integralmente, e especuladores que veem oportunidade em qualquer coisa que possa ser tokenizada e negociada.
Os riscos, claro, são proporcionais ao absurdo. Exploits em protocolos RWA atingiram US$ 14,6 milhões no primeiro semestre de 2025. Questões de custódia física, avaliação de ativos únicos, fragmentação de liquidez entre protocolos e incerteza regulatória tornam o mercado um campo minado. Sem mencionar o risco de descobrir que seu NFT de whisky de 50 anos está lastreado em uma garrafa que alguém bebeu em uma festa de escritório.
Mas talvez esse seja exatamente o ponto. Em um mundo onde empresas tokenizam qualquer coisa que não esteja pregada no chão, onde você pode fazer yield farming com tokens de violino, e onde um Pikachu digital pode valer mais que um carro usado, a linha entre investimento e performance art se tornou tão tênue quanto a promessa de que "desta vez é diferente."
O mercado de exotic RWAs representa tanto o ápice da inovação financeira quanto seu reductio ad absurdum. É o que acontece quando você dá ferramentas de Wall Street para uma geração que cresceu trocando cartas de Yu-Gi-Oh no recreio. É simultaneamente o futuro das finanças e uma piada elaborada que foi longe demais.
Enquanto a Ripple e BCG projetam que o mercado de RWAs pode chegar a US$ 18,9 trilhões até 2033, uma coisa é certa: se existe no mundo físico e alguém, em algum lugar, atribui valor a isso, alguém está trabalhando para tokenizá-lo. Hoje são cartas de Pokémon e violinos antigos. Amanhã? Provavelmente suas memórias de infância e o suspiro de satisfação após o primeiro gole de café pela manhã.
Bem-vindos à era dos exotic RWAs, onde tudo é um ativo financeiro, nada faz sentido, e seu Charizard holográfico de primeira edição pode literalmente pagar sua aposentadoria. Só não pergunte como explicar isso para a Receita Federal.
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