A revolução dos neobancos cripto: entre sonhos de disrupção e a realidade do mercado
Edição #1032 - Dia 18 de outubro de 2025
O setor bancário digital sempre prometeu democratizar as finanças. Primeiro vieram os neobancos tradicionais como Nubank, C6, Revolut e N26, que cresceram eliminando agências físicas e oferecendo interfaces amigáveis. Agora, uma nova onda surge com a promessa de ir além: os neobancos cripto, que propõem substituir não apenas as agências, mas toda a infraestrutura financeira tradicional por blockchains descentralizadas. A pergunta que fica no ar é se essa é a próxima fronteira da inovação bancária ou apenas mais um capítulo na longa história de narrativas promissoras do mercado cripto.
O conceito não é exatamente novo. Desde 2018, exchanges centralizadas (CEX) como Coinbase, Binance e Robinhood já funcionam como neobancos de fato, oferecendo rampas de entrada e saída de fiat, produtos de rendimento, empréstimos garantidos e até cartões de débito vinculados a criptomoedas. O diferencial dessas plataformas está na liquidez, na abrangência regulatória e, principalmente, na capacidade de subsidiar usuários com receitas provenientes das operações de exchanges. Em 2024, a Coinbase reportou US$ 1,66 bilhão em receitas, consolidando-se como referência do setor.
Mas o jogo está mudando. Um grupo de neobancos nativamente on-chain está emergindo com uma proposta distinta: oferecer serviços bancários não-custodiais, onde o usuário mantém controle direto sobre seus ativos através de smart contracts. O caso mais emblemático é o Ether.fi, protocolo de restaking que, em abril de 2025, anunciou sua transformação em um neobanco DeFi completo. Com US$ 6,8 bilhões em depósitos de usuários e já gerenciando US$ 25 milhões em seu produto Cash, o projeto oferece cartões Visa que permitem gastos em fiat usando crypto como colateral, além de integrar funcionalidades de restaking diretamente no app.
Ainda mais recente é o Plasma One, que se autodenomina o primeiro neobanco construído nativamente para stablecoins. Lançado em setembro de 2025 após levantar US$ 24 milhões em rodadas seed e Série A, com apoio de nomes como Paolo Ardoino (CEO da Tether) e Peter Thiel (cofundador do PayPal), a plataforma promete rendimentos acima de 10% em saldos de stablecoins, 4% de cashback e cobertura em mais de 150 países. O diferencial está no foco em mercados emergentes, onde o acesso ao dólar digital pode representar proteção contra inflação e instabilidade bancária local. Já no Brasil, o Picnic vem se consolidando como um dos principais neobancos cripto do país, oferecendo cartões de crédito integrados a ativos digitais e soluções de autocustódia para seus usuários.
O modelo de negócios: seguindo os passos dos gigantes
Para entender a viabilidade econômica desses neobancos cripto, é fundamental olhar para quem já dominou a arte de lucrar com stablecoins. A Tether, emissora da USDT, reportou receitas próximas a US$ 1,5 bilhão apenas em 2025, superando Ethereum e outras blockchains em rentabilidade. Seu modelo é simples: manter reservas lastreadas em Treasuries americanos de curto prazo e embolsar os juros. Com US$ 160 bilhões em USDT circulando, cada ponto percentual de taxa de juros representa bilhões em receita anual.
A Circle, emissora da USDC e segunda maior do setor, seguiu caminho similar e abriu capital em junho de 2025, levantando US$ 1,1 bilhão e atingindo valuation de US$ 16 bilhões. Seus números revelam tanto o potencial quanto os desafios do modelo: US$ 1,7 bilhão em receitas em 2024, mas apenas US$ 156 milhões em lucro líquido, após pagar mais de US$ 1 bilhão em taxas de distribuição para parceiros como Coinbase. A estrutura evidencia uma realidade incômoda: mesmo gerando receitas expressivas através de juros sobre as reservas, manter e crescer a circulação de stablecoins é caro.
Para neobancos cripto, o modelo de monetização tende a combinar receitas tradicionais (taxas de transação, on/off-ramps, produtos de crédito e assinaturas premium) com rendimentos nativos de DeFi. O grande diferencial teórico seria a possibilidade de emitir stablecoins próprias, capturando margens similares às da Circle e Tether. Mas há um porém regulatório que mudou tudo.
Em julho de 2025, o presidente Donald Trump sancionou o GENIUS Act, a primeira legislação abrangente sobre stablecoins nos Estados Unidos. A lei estabelece que apenas instituições depositárias seguradas, subsidiárias de bancos ou entidades não-bancárias aprovadas pelo Federal Reserve podem emitir stablecoins. Todas as emissoras devem manter reservas 1:1 em ativos líquidos como Treasuries americanos e são explicitamente proibidas de pagar juros ou yields aos holders. A lei também prioriza holders de stablecoins em caso de insolvência e exige auditorias regulares por firmas contábeis registradas.
Essa mudança regulatória representa ao mesmo tempo uma barreira de entrada e uma janela de oportunidade. Para startups como Ether.fi e Plasma, emitir stablecoins próprias se torna significativamente mais complexo e custoso. Por outro lado, a clareza regulatória pode atrair capital institucional que historicamente evitava o setor por incerteza legal. Não por acaso, grandes bancos como JPMorgan e Citigroup começaram a explorar a emissão conjunta de stablecoins, vendo no GENIUS Act a legitimação que faltava.
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Perspectivas e desafios em um mercado de US$ 3 trilhões
Os números de projeção para o setor de neobanking são, no mínimo, otimistas. O mercado global de neobancos foi avaliado em US$ 143,29 bilhões em 2024 e deve alcançar US$ 3,4 trilhões até 2032, crescendo a uma taxa composta anual de 48,9%. Dentro desse universo, a integração de criptomoedas e blockchain está entre as tendências mais relevantes, com plataformas como Revolut já oferecendo trading de cripto sem taxas ocultas e bancos tradicionais investindo pesadamente em infraestrutura digital.
Mas entusiasmo não paga contas. Apenas 23 dos 453 neobancos digitais globais eram operacionalmente lucrativos em 2023, segundo análise da BCG. Os custos de aquisição de clientes permanecem proibitivos, e 80% dos neobancos continuam não-lucrativos. No universo crypto, os desafios se multiplicam: volatilidade de ativos, custos de conformidade regulatória, competição com exchanges estabelecidas que podem subsidiar serviços bancários com lucros de trading, e a necessidade constante de educar usuários sobre custódia de chaves privadas.
O mercado de stablecoins deve crescer para US$ 670 bilhões até 2027, segundo projeções da Bernstein, com a USDC da Circle aumentando sua participação para 33% do mercado. Essa expansão será impulsionada principalmente pelo crescimento dos mercados de capitais crypto e pela demanda em exchanges e DeFi, onde stablecoins funcionam como principal ativo de colateral. Para neobancos cripto, isso representa uma oportunidade de posicionamento como camada de interface amigável entre usuários e essa infraestrutura financeira emergente.
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A questão central é se esses neobancos conseguirão capturar valor suficiente para justificar suas valuations. O Plasma, avaliado em US$ 500 milhões após rodada Série A de US$ 74 milhões liderada pela Bitfinex, precisa demonstrar tração real em mercados emergentes onde promete revolucionar o acesso financeiro. O Ether.fi, com seus 200 mil usuários atuais, precisa escalar dramaticamente para justificar os US$ 4,4 bilhões em TVL que gerencia.
Enquanto isso, a real competição pode vir de onde menos se espera. Coinbase e Robinhood estão posicionados para um 2025 forte, impulsionados por legislação pró-crypto, crescente adoção de ETFs de Bitcoin e fim da campanha de enforcement agressivo da SEC. Essas plataformas já têm milhões de usuários, marcas estabelecidas e, crucialmente, modelos de negócio lucrativos que podem subsidiar serviços bancários. A Coinbase viu suas ações subirem 60% em 2024, enquanto a Robinhood quadruplicou seu valor, beneficiando-se da mudança no clima político pós-eleição de Trump.
A história dos neobancos crypto está apenas começando. Entre a promessa de serviços financeiros verdadeiramente descentralizados e a realidade de custos operacionais elevados, barreiras regulatórias e competição feroz, essas plataformas precisarão provar que são mais do que interfaces bonitas sobre infraestrutura DeFi. O mercado de US$ 3 trilhões em 2032 pode estar lá. A questão é quantos sobreviverão para vê-lo — e se serão os atuais protagonistas ou novos entrantes ainda desconhecidos. No fim, como sempre acontece em finanças, vencerá quem conseguir combinar a narrativa certa com números reais no balanço. E talvez um pouco de timing perfeito com o ciclo regulatório.
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