Sam Altman e a era da verificação humana: por que o criador do ChatGPT quer escanear 8 bilhões de íris
Edição #1020 - Dia 04 de outubro de 2025
O homem que está investindo US$ 500 bilhões em infraestrutura de IA através do projeto Stargate tem um problema curioso: suas próprias criações estão tornando impossível distinguir humanos de máquinas na internet. Sam Altman, CEO da OpenAI, não apenas reconhece o paradoxo, ele está apostando outros bilhões na solução mais controversa possível: escanear a íris de cada ser humano no planeta.
Enquanto o CEO da OpenAI anuncia compromissos equivalentes a 17 usinas nucleares em apenas 48 horas e já fala em levantar US$ 5 trilhões para futuros clusters de IA, a Worldcoin (agora rebatizado como World Network) enfrenta uma realidade bem menos glamourosa. No começo do ano, o Brasil baniu o projeto de oferecer tokens em troca de dados biométricos, seguindo uma tendência global de rejeição que inclui Alemanha, Hong Kong, Portugal, Indonésia, Colômbia, Espanha e Quênia.
O token WLD, que prometia ser a moeda da economia de humanos verificados, despencou. Negociado a US$ 1,30 após cair 10% em 7 dias, o token está 89% abaixo de seu pico histórico de US$ 11,74 em março de 2024. Ainda assim, mantém uma capitalização de mercado de US$ 2,8 bilhões e continua entre as 60 maiores criptomoedas do mundo.
A máquina Worldcoin: como funciona o império de Altman
Antes de entender por que o Brasil expulsou o projeto, vale entender o que exatamente Sam Altman está construindo. O Worldcoin foi fundado em 2019 por Altman, Alex Blania e Max Novendstern, com Blania assumindo como CEO enquanto Altman focava na OpenAI. O projeto já levantou mais de US$ 250 milhões de investidores como a16z, Khosla Ventures, Bain Capital Crypto, Blockchain Capital e Tiger Global.
A arquitetura do sistema é fascinantemente complexa. O World ID funciona como um “passaporte digital” que verifica a “humanidade” dos usuários online enquanto protege sua privacidade através de provas de conhecimento zero. O sistema tem três componentes principais: o World ID (identidade digital), o World App (carteira cripto e aplicativo) e o token WLD (moeda de governança e utilidade).
O fornecimento total de WLD é de 10 bilhões de tokens, dos quais 75% são alocados para a comunidade Worldcoin, 9,8% para a equipe de desenvolvimento inicial, 13,5% para investidores da Tools for Humanity e 1,7% para reserva. A Worldcoin Foundation formulou uma meta aspiracional de alocar pelo menos 60% de todos os tokens WLD para indivíduos na forma de grants.
O roadmap revela as verdadeiras ambições do projeto. A empresa planeja finalizar seu modelo de governança até o final de 2025, transferindo o controle da World Foundation para os detentores de WLD e usuários verificados com World ID. Isso incluirá mecanismos de votação sobre upgrades de protocolo, emissões de tokens e alocações do tesouro.
Mais impressionante ainda: a Worldcoin pretende implantar mais de 5 mil Orbs em mais de 50 países até 2026, mirando mercados emergentes como Índia e Nigéria. Em junho de 2025, o projeto integrou o USDC da Circle em sua World Chain blockchain, permitindo transações em stablecoins em mais de 160 países, e fez a transição para uma blockchain de segunda camada, aumentando a capacidade e reduzindo custos de transação.
O sistema também está evoluindo tecnologicamente. A sua rede de segunda camada foi construída usando a OP Stack da Optimism, priorizando escalabilidade, inclusividade e design centrado no ser humano. Esta rede aloca “blockspace prioritário” gratuito ou subsidiado para humanos verificados, criando essencialmente uma internet de duas velocidades: uma para humanos verificados, outra para todos os demais.
A história da expulsão da Orbe no Brasil
A chegada do Worldcoin ao Brasil em novembro de 2024 seguiu o roteiro clássico da empresa: abrir centros em áreas periféricas das grandes cidades, oferecer tokens WLD “gratuitos” (cerca de US$ 50 no valor atual) e esperar que as filas se formassem. São Paulo chegou a ter 52 centros de verificação operando simultaneamente, muitos deles “nas periferias da cidade”, onde o apelo econômico é mais forte.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) iniciou uma investigação em novembro de 2024 e, em 24 de janeiro de 2025, ordenou que a Tools for Humanity (empresa por trás do projeto) suspendesse os serviços no Brasil. A justificativa? Oferecer criptomoedas como compensação poderia comprometer a validade do consentimento do usuário para coletar dados biométricos sensíveis.
O mais curioso é que reportagens do G1 indicam que alguns centros em São Paulo continuaram operando e prometendo pagamentos em cripto mesmo após o banimento, com funcionários alegando não terem recebido orientações sobre a suspensão dos pagamentos. A empresa pediu 45 dias para fazer mudanças em seu app e parar de oferecer compensação financeira, mas o recurso foi negado pela ANPD em fevereiro.
A lei brasileira exige que o consentimento para processar dados pessoais sensíveis seja “livre, informado, inequívoco e especificamente dado para propósitos particulares”. A empresa receberá multas diárias de R$ 50 mil (aproximadamente US$ 8,8 mil) se retomar as atividades de coleta de dados no Brasil.
A situação brasileira não é isolada. No Quênia, o projeto atraiu tantos participantes que foi obrigado a conduzir operações apenas fora dos centros urbanos, já que as filas estavam causando caos e se tornando uma preocupação de segurança. Muitos quenianos, assim como brasileiros, não tinham consciência de como seus dados biométricos seriam usados ou armazenados, mas o apelo do ‘dinheiro grátis’ era bom demais para recusar.
A ironia é palpável: o projeto que promete resolver o problema de identidade digital criado pela IA está sendo banido justamente por explorar vulnerabilidades econômicas para coletar dados biométricos irreversíveis. Como disse um dos críticos, quando você oferece tokens que valem US$ 50 para alguém que vive com US$ 2 por dia, isso é “consentimento livre” ou “coerção econômica vestida de inovação”?
Quer receber nosso livro de forma gratuita? Gere seu link e recomende a Morning Jog para 5 amigos!
A corrida dos competidores e o paradoxo da identidade
Enquanto a Worldcoin luta contra reguladores globais, o ecossistema de identidade descentralizada está fervilhando com alternativas menos invasivas. A Holonym Foundation acaba de adquirir o Gitcoin Passport por uma soma não revelada de dinheiro e tokens, unindo 2 milhões de usuários que armazenam provas de humanidade. O Gitcoin Passport já ajudou a processar US$ 225 milhões em distribuições de airdrops, tudo isso sem escanear uma única íris.
O Polygon ID usa tecnologia de prova de conhecimento zero similar ao Gitcoin, permitindo que indivíduos possuam, gerenciem e compartilhem suas credenciais verificáveis de forma segura e privada. O Ethereum Name Service (ENS) oferece uma maneira descentralizada de usar nomes legíveis por humanos mapeados para endereços blockchain, e em fevereiro de 2024, fez parceria com a GoDaddy para conectar nomes ENS a domínios web.
Até mesmo projetos menos conhecidos estão ganhando tração. O Civic Pass serve como uma ferramenta de permissões integrada para empresas protegerem o acesso a seus ativos on-chain, oferecendo recursos como resistência a Sybil e IA. O SPACE ID permite que usuários registrem domínios web3 começando com .bnb e .eth.
A diferença fundamental? Todos esses projetos conseguem verificar a humanidade sem criar um ponto único de falha biométrica. Como Vitalik Buterin argumentou, o ideal é um ecossistema de sistemas de identidade sobrepostos e concorrentes, não uma solução dominante que poderia se tornar um honeypot de dados sensíveis.
💳 Ganhe US$ 10 agora e desbloqueie seu cartão cripto. Ative seu cartão Picnic hoje, pague com cripto no dia a dia, sem taxas, com as melhores conversões e cashback direto na sua wallet.🔥 Clique e comece a ganhar.
O movimento do mercado reflete essa realidade. Apesar de um breve pump de 80% em setembro de 2025 após o anúncio do investimento de US$ 250 milhões da Eightco Holdings, o token WLD continua sua trajetória descendente. Apenas 21% do fornecimento de 10 bilhões de WLD está circulando, com desbloqueios mensais adicionando cerca de 50 milhões de tokens e 1,7 bilhão programados para serem liberados em 2025.
A Eightco Holdings, que viu suas ações dispararem 3.000% em um único dia de negociação após anunciar a compra de Worldcoin, já viu essa euforia evaporar. A empresa, que até ontem gerenciava inventário de e-commerce, agora aposta tudo em se tornar a “MicroStrategy da identidade humana”, uma estratégia que parece cada vez mais questionável conforme os banimentos globais se acumulam.
O Worldcoin verificou 16,9 milhões de pessoas em 160 países e o World App tem 34 milhões de usuários. São números impressionantes, mas representam apenas 0,2% da população global. Com 530 mil novas verificações em uma semana em setembro, levaria mais de 250 anos para verificar todos os 8 bilhões de humanos no ritmo atual.
O problema central permanece: como você convence alguém em Estocolmo ou São Francisco – que não precisa desesperadamente de US$ 50 – a escanear sua íris? Como você faz para distinguir entre bilhões de pessoas com precisão quase perfeita, mas também significa que, uma vez comprometido, não há como “resetar” sua íris como você faria com uma senha?
Sam Altman está construindo simultaneamente o problema e vendendo a solução. Enquanto investe US$ 100 bilhões iniciais no Stargate para construir a infraestrutura física e virtual para alimentar a próxima geração de IA, ele também promove um sistema que exige que você prove ser humano para participar da economia digital que sua própria IA está criando.
É o capitalismo de vigilância em sua forma mais pura: crie o caos, venda a ordem, lucre com ambos. O fato de que governos ao redor do mundo estarem rejeitando essa visão sugere que, pelo menos desta vez, o Vale do Silício pode ter ido longe demais. Ou, como dizem os brasileiros que ainda estão distantes das filas da Worldcoin em São Paulo: “é muita treta para pouco token”.
Fale conosco
🖼️ Quer anunciar para mais de 27 mil pessoas? É só clicar aqui.
💵 Quer comprar uma cold wallet no único revendedor oficial do Brasil? Clique aqui.
Links recomendados
Fechamento diário do BTC

Mais preparado para lucrar no mercado cripto em 5 minutos!
Somos um jornal gratuito e diário, que tem por objetivo te trazer tudo que você precisa saber sobre Web3 para começar o seu dia bem e informado.
Entregamos notícias que são, de fato, relevantes sobre o mercado cripto no mundo. É claro que as notícias deste jornal não devem em nenhuma hipótese serem consideradas como recomendação de compra ou de investimento em criptoativos.
Chegamos direto na sua caixa de entrada do e-mail favorito, sempre às 06:00. Mas saiba que alguns servidores de e-mail são teimosos e atrasam…Outros são piores ainda e encaminham nosso jornal para o spam e/ou promoções. Se não nos encontrar na caixa de entrada, procure nessas duas.
É gratuito, mas pode viciar. Até amanhã!