Mineradores de Bitcoin abandonam criptomoedas e apostam US$ 38 bilhões em IA
Edição #1068 - Dia 29 de novembro de 2025
A indústria de mineração de Bitcoin vive um paradoxo curioso em novembro de 2025. De um lado, empresas como MARA Holdings reportam receitas recordes de US$ 252 milhões no terceiro trimestre — crescimento de 92% ano a ano. De outro, a receita média semanal dos mineradores despencou 35% nos últimos dois meses, de US$ 60 milhões para US$ 40 milhões. Com BTC sendo negociado abaixo de US$ 90 mil, os mineradores enfrentam uma equação matemática simples e brutal: suas receitas são fixas e programadas no código do protocolo, enquanto seus custos flutuam ao sabor do mercado.
O halving de abril de 2024 não foi gentil. A recompensa por bloco caiu pela metade, de 6,25 para 3,125 BTC, e o hashrate global atingiu níveis recordes de 1.078 exahashes por segundo, tornando a mineração mais competitiva do que nunca. A matemática é mecânica: aproximadamente 450 BTC são minerados diariamente através de 144 blocos. Com BTC a US$ 88 mil, isso representa cerca de US$ 1,2 bilhão mensais para toda a indústria global. Dividido pelo hashrate recorde, cada terahash por segundo rende míseros 3,6 centavos de dólar por dia.
É nesse cenário que os mineradores precisam cobrir suas despesas operacionais — principalmente eletricidade, que representa entre 75% e 85% dos custos totais em dinheiro. E é aqui que a narrativa começa a rachar.
A matemática que não fecha (ainda)
Os números contam duas histórias diferentes, dependendo de como você olha. MARA Holdings gastou em média US$ 39.235 em energia para minerar cada BTC no terceiro trimestre de 2025. RIOT Platforms pagou US$ 46.324 pelo mesmo resultado. Com BTC sendo negociado 30% abaixo do pico, a US$ 86 mil, essas empresas ainda conseguem margens de caixa confortáveis — algo entre US$ 40 mil e US$ 47 mil por moeda minerada.
O problema aparece quando você adiciona os custos não-monetários à equação. Primeiro, a depreciação: os equipamentos de mineração perdem valor contábil com o tempo e precisam ser substituídos eventualmente. Segundo, perdas por redução ao valor recuperável — quando o valor de mercado dos equipamentos cai abaixo do que está registrado no balanço, a empresa precisa reconhecer essa perda. Terceiro, compensação baseada em ações — quando mineradoras pagam funcionários e executivos com ações da própria empresa, isso também entra como custo operacional. A CoinShares estimou que o custo total de mineração estava em US$ 106 mil por BTC em dezembro de 2024, enquanto estimativas mais recentes da Cambridge colocam o número em torno de US$ 58.500 apenas para custos de caixa. Considerando todos os fatores, o custo total pode facilmente ultrapassar os US$ 110 mil por BTC.
É por isso que assistimos a um fenômeno interessante: mineradores cada vez mais optam por segurar o BTC minerado ao invés de vendê-lo imediatamente. A MARA acumulou 52.850 BTC até o final do Q3 2025 — um aumento de 98% ano a ano, avaliados em mais de US$ 5 bilhões. RIOT mantém 19.287 BTC, no valor aproximado de US$ 2,2 bilhões. A lógica é cristalina: por que vender agora se você ainda consegue cobrir seus custos operacionais e pode esperar por preços mais altos?
Mas essa estratégia tem um limite claro. O hashprice — receita diária por terahash — despencou de US$ 0,12 em abril de 2024 para cerca de US$ 0,049 em abril de 2025. E a dificuldade da rede atingiu máxima histórica de 123 trilhões, tornando cada hash mais difícil e menos lucrativo. Para mineradores que ainda usam máquinas mais antigas — como o Antminer S19, modelo lançado em 2020 e considerado menos eficiente — e pagam US$ 0,06 por cada quilowatt-hora de energia (cerca do dobro do que os mineradores mais competitivos pagam), o ponto de equilíbrio já foi rompido. Em outras palavras: esses mineradores já gastam mais para minerar cada Bitcoin do que conseguem ganhar vendendo-o.
A diferença entre sobreviver e falir agora se resume a três variáveis: acesso a energia barata, hardware eficiente e, cada vez mais, fontes alternativas de receita.
O plano B chamado inteligência artificial
Se você achava que mineradores de Bitcoin estavam condenados a apenas minerar Bitcoin, 2025 tem uma surpresa. O pivot mais significativo da indústria não tem nada a ver com criptomoedas: mineradores estão convertendo suas operações em data centers de IA.
A lógica é quase óbvia em retrospecto. Mineradores já possuem exatamente o que as empresas de IA mais precisam e menos conseguem construir rapidamente: contratos de energia em larga escala, sistemas de refrigeração industrial e infraestrutura física preparada para cargas computacionais pesadas. A única mudança necessária é trocar ASICs por GPUs.
Core Scientific, que declarou falência em 2022, ressurgiu em 2024 como provedor de infraestrutura de IA bare-metal, fechando um contrato de 12 anos e US$ 3,5 bilhões com a CoreWeave. A transformação foi tão dramática que a CoreWeave reportou receita de US$ 1,21 bilhão no segundo trimestre de 2025 — um aumento de 100% ano a ano — e atingiu avaliação de US$ 48 bilhões.
HIVE Digital Technologies foi uma das primeiras mineradoras públicas a fazer o pivot, começando em 2022. A receita de hospedagem de IA e HPC da empresa triplicou para US$ 10,1 milhões no ano fiscal de 2025 — quase 9% da receita total. O mais revelador? HIVE calculou que uma instalação consumindo 10 megawatts de energia com GPUs Nvidia H100 voltadas para IA gera a mesma receita que uma operação 10 vezes maior (100 megawatts) minerando Bitcoin. Em termos práticos: você precisa de muito menos energia — e portanto, menos custos — para ganhar o mesmo dinheiro com IA do que com mineração. A margem de lucro dos serviços de IA foi de 98%, comparada a 75% para mineração.
Iris Energy (IREN) começou 2024 com apenas 248 GPUs e escalou para mais de 4.300 unidades até meados de 2025, minerando 1.514 BTC no terceiro trimestre fiscal de 2025 enquanto gerava US$ 3,6 milhões em serviços de nuvem de IA. TeraWulf viu suas ações dispararem quase 60% em um único dia após o Google investir US$ 18 bilhões na empresa através da Fluidstack.
Mesmo os gigantes estão se movendo. RIOT pausou a expansão planejada de 600 MW de mineração de Bitcoin em Corsicana, Texas, para reposicionar o local para infraestrutura de IA e HPC. MARA adquiriu 64% da Exaion, subsidiária de tecnologia da empresa francesa de energia EDF, por US$ 168 milhões, marcando sua entrada no mercado europeu de computação de ponta.
Bitfarms foi ainda mais longe: anunciou a conversão completa de sua instalação de 18 megawatts no estado de Washington em um hub exclusivo de IA e HPC até dezembro de 2026. O CEO Ben Gagnon foi direto: “Apesar de representar menos de 1% de nosso portfólio total, a instalação de Washington sozinha pode superar nossa receita histórica de mineração de Bitcoin.”
Uma análise da VanEck estima que mineradores de Bitcoin podem desbloquear US$ 38 bilhões em receita anual convertendo mesmo uma fração de sua infraestrutura em hubs de IA e HPC. O relatório identificou 13 mineradoras públicas com capacidade operacional coletiva de 7,1 gigawatts, projetando crescimento para 11,7 GW até 2025 e 15,9 GW até 2026.
Claro, a transição não é trivial. Mineradores precisam adquirir ou alugar GPUs como H100, A100 ou MI300X — hardware com valores e disponibilidade completamente diferentes de ASICs. As redes de comunicação interna precisam ser reformuladas com cabos e equipamentos de altíssima velocidade para permitir que múltiplas GPUs trabalhem em conjunto. A infraestrutura de armazenamento precisa ser completamente repensada — processamento de IA requer sistemas de armazenamento ultra rápidos, bem diferentes das necessidades de mineração. E, talvez o mais desafiador, as equipes precisam aprender a trabalhar com ferramentas de inteligência artificial como PyTorch e TensorFlow (usadas para treinar modelos), além de sistemas de gerenciamento de servidores como Kubernetes. É como contratar mecânicos de Fórmula 1 e pedir que eles construam foguetes — as habilidades fundamentais existem, mas o vocabulário técnico é completamente diferente do SHA-256 e dos algoritmos de mineração que dominaram por anos.
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O dilema dos que ficam
A indústria está claramente se dividindo em dois grupos. De um lado, mineradores com acesso a energia extremamente barata — como em Omã, onde licenças governamentais garantem eletricidade a US$ 0,05-0,07/kWh, ou nos Emirados Árabes, com projetos semi-governamentais operando a US$ 0,035-0,045/kWh — podem continuar lucrando com mineração pura enquanto BTC permanecer acima de US$ 50 mil. A Ásia permanece a região mais eficiente, com custo de mineração de apenas US$ 30.308 por BTC, enquanto a Europa lidera os custos mais altos, a US$ 142.682 por Bitcoin.
Do outro lado, mineradores com custos médios ou altos enfrentam uma escolha binária: diversificar para IA/HPC ou enfrentar consolidação forçada. Foundry USA continua liderando, contribuindo com 30% dos blocos minerados de Bitcoin, mas mesmo pools gigantes reconhecem que o jogo mudou.
A realidade é que o halving de 2024 reconfigurou permanentemente a economia da mineração. Com recompensas de bloco reduzidas e hashrate em níveis recordes, apenas as operações mais enxutas e otimizadas podem prosperar exclusivamente com mineração. Os dados da Jefferies mostram que os lucros dos mineradores caíram mais de 7% em setembro à medida que os preços do Bitcoin declinaram.
“A mineração de Bitcoin simplesmente não é mais suficiente”, resumiu Daniel Keller, CEO da InFlux Technologies, à Yahoo Finance. A competição ficou tão intensa que até mesmo a Canaan — fabricante de equipamentos de mineração que detém 2,1% do mercado global — fechou sua divisão de chips de IA em julho de 2025 para focar exclusivamente em hardware de mineração de Bitcoin. Uma decisão que parece contraintuitiva quando todos os outros estão correndo para IA, mas que aposta em especialização total num momento em que muitos tentam fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
A questão não é mais se os mineradores vão sobreviver ao ambiente pós-halving, mas sim que tipo de empresa eles se tornarão. Os dados financeiros do terceiro trimestre contam essa história claramente: RIOT reportou lucro líquido recorde de US$ 104,5 milhões — um giro dramático em relação à perda líquida de US$ 154,4 milhões no mesmo período de 2024 — enquanto iniciava o desenvolvimento de campus de data center de 112 MW em Corsicana, projetado para hospedar tanto mineração de Bitcoin quanto cargas de trabalho de HPC para IA.
A transformação do setor já está refletida nos mercados de capitais. As ações da TeraWulf dispararam 150% desde o início do ano após fechar contratos de leasing — acordos de aluguel de longo prazo para uso de sua infraestrutura — de múltiplos bilhões de dólares com a Fluidstack, empresa de infraestrutura de nuvem para IA apoiada pelo Google. RIOT subiu 104% no mesmo período. A mensagem dos investidores é clara: o futuro pertence aos mineradores que conseguem operar como provedores de infraestrutura digital multifacetados.
O mais irônico de tudo? A indústria que passou anos sendo criticada por seu consumo energético intensivo agora está se reposicionando como solução de infraestrutura para a tecnologia mais promissora — e energeticamente voraz — da próxima década. Mineradores perceberam que possuem exatamente o que o boom da IA precisa desesperadamente: megawatts de energia já contratados, instalações preparadas para calor extremo e, acima de tudo, expertise em operar operações de computação em larga escala 24/7.
Se eles conseguirão executar essa transição em escala ou se a mineração de Bitcoin retornará como foco principal caso o preço dispare novamente acima de US$ 150 mil, só o tempo dirá. Por enquanto, a única certeza é que a matemática simples do halving forçou uma reinvenção completa de uma indústria que pensávamos entender.
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