O fantasma finlandês que assombra Wall Street com poupança de 9% ao ano
Oito anos atrás, quando Stani Kulechov criou o ETHLend na Finlândia, poucos imaginariam que aquele protocolo peer-to-peer acabaria se tornando um dos maiores desafios já enfrentados pelo sistema bancário tradicional. Agora renomeado como Aave – que significa “fantasma” em finlandês, numa escolha de nome que se revela cada vez mais apropriada –, o protocolo acaba de lançar um aplicativo de poupança que oferece até 9% de rendimento anual. Para contexto: seu banco tradicional provavelmente oferece entre 0,4% e 4%.
A história da Aave é uma narrativa de transformação e, ironicamente, de fantasmas que assombram. Fundada em 2017 como ETHLend, a plataforma passou por um rebranding estratégico em setembro de 2018, abandonando o modelo peer-to-peer que não funcionava bem durante o mercado de baixa. Em janeiro de 2020, o lançamento da Aave V1 marcou a transição para pools de liquidez, um modelo que se provaria revolucionário. O protocolo cresceu exponencialmente: o V2 chegou em dezembro de 2020, o V3 em março de 2022, e agora o V4 está previsto para o quarto trimestre de 2025.
Quando os fantasmas do passado voltam para te assombrar
Mas nem tudo são flores no reino descentralizado. Em outubro de 2024, a Aave se viu no centro de uma controvérsia embaraçosa com o World Liberty Financial (WLFI), projeto associado à família Trump. Uma proposta de governança sugeria que a DAO da Aave receberia 7% dos tokens WLFI e 20% das receitas do protocolo. A WLFI negou veementemente, chamando a notícia de falsa. O resultado? Uma queda de 8% no preço do token AAVE em 24 horas, caindo de US$ 385 para US$ 339.
O episódio expôs as fragilidades da governança descentralizada. Como apontou um relatório, em 2025, uma proposta falhada de ajustar índices de sobre-colateralização levou a uma retirada massiva de US$ 1,2 bilhão em liquidez. Sistemas de votação ponderada por tokens tendem a priorizar incentivos de curto prazo sobre a estabilidade do protocolo, especialmente quando os stakeholders têm prioridades divergentes.
Apesar das turbulências, os números da Aave impressionam. O protocolo ultrapassou os US$ 55,7 bilhões em Total Value Locked (TVL) em novembro de 2025, com mais de US$ 22,8 bilhões em empréstimos ativos e 2,3 milhões de usuários espalhados por 11 blockchains. A receita semanal supera os US$ 3 milhões, consolidando a Aave como líder absoluta no mercado DeFi de empréstimos.
A mágica dos 9%: de onde vem o dinheiro?
Para entender como a Aave consegue oferecer rendimentos de 5% a 9% quando bancos tradicionais mal chegam a 4%, é preciso entender a mecânica do protocolo. A Aave funciona com pools de liquidez: imagine uma grande piscina de dinheiro onde qualquer um pode depositar ou emprestar.
Quando você deposita stablecoins (dólares digitais) no aplicativo da Aave, seu dinheiro entra em um pool de liquidez junto com o de outros depositantes. Do outro lado, pessoas ou instituições pegam empréstimos dessa pool, mas há um detalhe crucial: eles precisam depositar um colateral que vale mais do que o valor do empréstimo. Normalmente, o índice Loan-to-Value (LTV) é de 75%, o que significa que para pegar emprestado US$ 100, é preciso depositar pelo menos US$ 133 em garantias.
Os tomadores de empréstimo pagam juros e é aí que mora o segredo. Esses juros são distribuídos automaticamente entre todos os depositantes, de forma proporcional ao que cada um colocou nq pool. Como explica a documentação da Aave, as taxas variam de acordo com a “utilização” da pool: quanto mais pessoas pegando empréstimos, maiores os juros pagos aos depositantes.
No aplicativo de varejo da Aave, a taxa base de 5% reflete os rendimentos médios das stablecoins na rede Ethereum ao longo do último ano. Os incentivos adicionais – que podem levar o total a 9% – vêm de recompensas por verificação KYC, depósitos automáticos e indicações, uma estratégia para atrair usuários para o ecossistema.
A diferença para os bancos tradicionais? Não há intermediário cobrando margens gordas. O protocolo da Aave fica com apenas uma pequena “taxa de reserva” do spread entre o que os tomadores pagam e o que os depositantes recebem: o resto vai direto para quem depositou o dinheiro.
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A jogada de mestre: da Stable Finance ao seu bolso
A estratégia para alcançar o público não-cripto começou a tomar forma em outubro de 2025, quando a Aave Labs adquiriu a Stable Finance, uma fintech de San Francisco especializada em aplicativos de poupança com stablecoins. Mario Baxter Cabrera, fundador da Stable, juntou-se à Aave como diretor de produto, trazendo consigo toda a equipe de engenharia. A Stable havia crescido 60% mês a mês e conectava usuários a mercados de empréstimos peer-to-peer que acumulavam mais de US$ 38 bilhões em depósitos.
Um mês depois, em 17 de novembro, a Aave App foi lançado. A proposta de valor é direta: rendimento base de 5% ao ano, que pode chegar a 9% com incentivos adicionais. O aplicativo aceita depósitos de mais de 12 mil bancos e cartões de débito americanos, além de stablecoins, e oferece proteção de até US$ 1 milhão nos saldos, quatro vezes o limite do seguro FDIC de US$ 250 mil.
A Aave argumenta que bancos tradicionais e ferramentas de poupança mobile geralmente oferecem taxas entre 0,4% e 4% ao ano, “mal acompanhando a inflação”. O pesquisador on-chain Willy Woo estima que o sistema fiduciário tradicional opera como um “imposto sobre a riqueza” anual de aproximadamente 6,9%, apontando para um aumento de 40% na oferta monetária durante a pandemia.
A batalha regulatória: Europa vs. Estados Unidos
Enquanto lança seu aplicativo de poupança nos EUA, a Aave conseguiu uma vitória regulatória significativa na Europa. Em 13 de novembro de 2025, o Banco Central da Irlanda concedeu autorização do MiCA (Markets in Crypto-Assets) para a subsidiária Push Virtual Assets Ireland Limited. Isso permite que a Aave ofereça conversões zero-fee entre euros e stablecoins em toda a Área Econômica Europeia, incluindo a GHO, stablecoin nativa da Aave.
A escolha da Irlanda não foi acidental. O país tornou-se um hub para empresas cripto sob o MiCA – a Kraken também obteve sua autorização lá em junho de 2025. A oferta de zero taxas da Aave é um diferencial competitivo significativo em relação a fintechs tradicionais e exchanges centralizadas, que cobram taxas substanciais de conversão.
Nos Estados Unidos, a situação é mais complexa. O GENIUS Act, aprovado em julho de 2025, proibiu explicitamente que emissores de stablecoins paguem juros ou rendimentos. Mas, e aqui está o detalhe crucial que deixa os bancos furiosos, a lei não proibiu que plataformas terceiras ofereçam produtos de rendimento construídos sobre stablecoins.
É exatamente essa brecha que a Aave, a Coinbase (que oferece até 10,8% em USDC via Morpho) e a Crypto.com estão explorando. Em 5 de novembro de 2025, vários grupos bancários pediram formalmente ao Tesouro americano para aplicar a proibição de juros sobre stablecoins também a plataformas de ativos digitais, incluindo exchanges.
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O futuro: V4 e a corrida contra o TradFi
A Aave v4, prevista para o quarto trimestre de 2025, promete ser um divisor de águas. A nova arquitetura “hub and spoke“ permitirá mercados de empréstimos com parâmetros personalizados sem fragmentar a liquidez. O Módulo de Reinvestimento otimiza automaticamente a liquidez ociosa em estratégias de rendimento de baixo risco, podendo aumentar os retornos dos provedores de liquidez em até 30%. Estimativas iniciais apontam para uma redução de 30-50% nas taxas de gas.
A Aave não está sozinha nessa corrida. A Coinbase fez parceria com o Morpho para oferecer rendimentos de até 10,8% em USDC, mais do que dobrando os 4,5% que já pagava. A Crypto.com lançou uma iniciativa similar com o Morpho na rede Cronos. O CEO da Coinbase, Brian Armstrong, declarou que a empresa pretende desenvolver um “super app” cripto que poderia substituir muitas funções tradicionais dos bancos.
Os bancos tradicionais, naturalmente, não estão achando graça. Uma estimativa amplamente citada por lobistas bancários sugere que até US$ 6,6 trilhões em depósitos podem migrar dos bancos se stablecoins com rendimento decolarem. O argumento é que, ao contrário de contas bancárias, stablecoins não têm seguro federal de depósito, então pessoas comuns podem ser expostas se um emissor falir. E se os depósitos fugirem, menos fundos estarão disponíveis para os bancos emprestarem, potencialmente aumentando os custos de empréstimos na economia como um todo.
A Aave está apostando que ao oferecer um produto regulamentado, com interface amigável e taxas de rendimento agressivas, pode finalmente trazer as massas para o DeFi sem que elas sequer percebam que estão usando blockchain. Como disse Stani Kulechov ao anunciar a aquisição da Stable Finance: “acreditamos que o futuro das finanças é onchain e esta aquisição reforça nosso compromisso de transformar as finanças onchain em finanças cotidianas”.
O fantasma finlandês pode estar finalmente pronto para assombrar o sistema bancário de verdade. Resta saber se os bancos conseguirão exorcizá-lo antes que seja tarde demais ou se a Aave conseguirá provar que seu nome foi, desde o início, uma profecia autocumprida.
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