Aos 26 o FBI invadiu seu apartamento, aos 27 ele virou o mais jovem bilionário do mundo
Edição #1038 - Dia 25 de outubro de 2025
Terça-feira, 8 de outubro de 2025. A Intercontinental Exchange, dona da Bolsa de Nova York, anunciou um investimento de US$ 2 bilhões na Polymarket. Quarta-feira, 22 de outubro, a Bloomberg revelou que a Polymarket será a câmara de compensação da DraftKings, gigante das apostas esportivas que acaba de adquirir a Railbird Technologies por cifras não reveladas. Entre uma notícia e outra, Shayne Coplan, de 27 anos, tornou-se o mais jovem bilionário self-made do mundo, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
Cinco anos atrás, esse mesmo Coplan operava o seu “escritório improvisado no banheiro” do seu apartamento no Lower East Side. Quebrado aos 21 anos, sem nada a mostrar por dois anos e meio desde que havia abandonado a NYU (New York University). A trajetória não é apenas improvável. É um estudo de caso sobre como timing, convicção teórica e disposição para operar em zonas regulatórias cinzentas podem criar um novo mercado e atrair o establishment que inicialmente tentou destruí-lo.
O mais fascinante não é a história da garagem (ou do banheiro) até às cifras bilionárias. É assistir Wall Street abraçar exatamente o modelo de negócios que perseguiu judicialmente. Em novembro de 2024, agentes do FBI invadiram o apartamento de Coplan uma semana após as eleições norte-americanas, apreenderam os seus dispositivos eletrônicos e partiram sem fazer acusações. Dez meses depois, a ICE — casualmente liderada por Jeffrey Sprecher, marido de Kelly Loeffler, ex-senadora e atual membro do gabinete Trump — despejou US$ 2 bilhões na empresa que o FBI investigava.
Chamar isso de virada regulatória seria subestimar o fenômeno. Estamos vendo a financeirização do que costumávamos chamar de apostas; a institucionalização do que reguladores chamavam de mercados ilegais e a cooptação pelo mercado tradicional de uma tecnologia que prometia descentralizar a descoberta de verdades. Os mercados de previsão finalmente chegaram ao mainstream. A questão é se isso é uma vitória ou uma rendição.
Da Iowa à blockchain: a genealogia dos oráculos algorítmicos
Mercados de previsão não são uma invenção recente, embora Coplan tenha razão ao dizer que passaram tempo demais confinados em papers acadêmicos. O Iowa Electronic Markets (IEM), fundado em 1988 por professores da Universidade de Iowa, foi o primeiro mercado eletrônico de previsão e superou consistentemente as pesquisas tradicionais na previsão do resultado das eleições presidenciais norte-americanas desde então. Operando sob uma carta de “não-ação” da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC) que limitava posições individuais a US$ 500, o IEM permaneceu deliberadamente pequeno, sendo um experimento acadêmico, não um negócio.
A Intrade, lançada em 1999 pelo irlandês John Delaney, foi a primeira tentativa séria de escalar mercados de previsão comercialmente. Durante as eleições de 2004 e 2008, a Intrade tornou-se uma referência obrigatória, com Delaney aparecendo frequentemente na televisão para explicar por que os preços de mercado refletiam probabilidades mais precisas que pesquisas de opinião. A teoria subjacente (articulada por economistas como Robin Hanson e Friedrich Hayek) é elegantemente simples: quando pessoas apostam dinheiro real em suas crenças, a sabedoria coletiva tende a convergir para a verdade.
Mas em 2012, a CFTC processou a Intrade por permitir que americanos negociassem futuros de commodities sem registro adequado. A Intrade baniu usuários americanos e alguns meses depois declarou falência, revelando irregularidades financeiras de US$ 4,2 milhões. John Delaney morreu em 2011 tentando escalar o Everest, distante apenas 50 metros do cume. A metáfora praticamente se escreveu sozinha.
Entre 2013 e 2020, os mercados de previsão existiram em um limbo regulatório. O PredictIt operava sob carta de não-ação similar à do IEM, limitada a mercados pequenos e majoritariamente acadêmicos. A lacuna era óbvia: demanda massiva por mercados de previsão, zero oferta legal e escalável nos Estados Unidos.
Coplan identificou essa lacuna durante um ano estudando papers de Robin Hanson enquanto seu dinheiro acabava. Quando a COVID-19 trancou o mundo em casa, ele viu o momento com clareza: “estávamos entrando em uma era onde maneiras de encontrar verdade importariam mais do que nunca”. Em junho de 2020, ele lançou a Polymarket.
A inovação não foi técnica: mercados de previsão são matematicamente simples. A inovação foi infraestrutural: usou a blockchain Polygon, aceitou stablecoins (começando pela USDC) e aplicou a velha estratégia tech de “construir primeiro, pedir permissão depois”. Durante dois anos, funcionou. Até que em 2022 a CFTC cobrou US$ 1,4 milhões em um acordo por operar contratos ilegais. A Polymarket concordou em bloquear usuários americanos, criando o paradoxo perfeito: estrangeiros podiam apostar em eleições americanas, mas norte-americanos não podiam apostar no seu próprio país.
Em 2024, a eleição Trump-Harris tornou a Polymarket impossível de ignorar. Mais de US$ 3,5 bilhões apostados, previsões consistentemente mais precisas que pesquisas tradicionais, um trader francês faturando US$ 85 milhões apostando na vitória de Trump. Então, veio a invasão do FBI. Depois, investigações do Departamento de Justiça e da CFTC. E então, com a mudança de governo, todas as investigações foram encerradas em julho de 2025, sem acusações.
Em setembro, a CFTC deu luz verde para a Polymarket operar nos EUA após aquisição da QCEX, exchange licenciada pela CFTC. Donald Trump Jr., filho do presidente, tornou-se advisor da empresa via 1789 Capital. A empresa perseguida pela administração Biden estava sendo aconselhada pela família Trump.
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DraftKings, Robinhood e o assalto ao futuro
O anúncio da parceria Polymarket-DraftKings nesta quarta-feira confirma que mercados de previsão deixaram de ser nicho cripto para virar um campo de batalha entre gigantes. A DraftKings, avaliada em US$ 13,7 bilhões, perdeu 37% de valor de mercado desde fevereiro — o que representa que US$ 9,9 bilhões evaporaram. Isso ocorreu parcialmente devido ao crescimento de plataformas como Kalshi e Polymarket. A resposta da DraftKings? Adquirir a Railbird Technologies, exchange regulada pela CFTC, e usar a Polymarket como uma uma câmara de compensação financeira que atua como intermediária em transações.
A Robinhood já havia se movido em março, lançando um hub de mercados de previsão em parceria com a Kalshi. Em agosto, adicionou futebol americano. Em setembro, anunciou planos de expansão global. Em outubro, declarou estar buscando aquisições no setor. Analistas da Piper Sandler estimam que a Robinhood já responde por 25 a 35% do volume de trading da Kalshi.
A Kalshi merece atenção em especial. Como primeira plataforma de mercados de previsão regulada federalmente nos EUA, a empresa venceu uma batalha judicial em 2024 para oferecer contratos sobre eleições. Em agosto de 2025, ultrapassou temporariamente a Polymarket em volume mensal, não coincidentemente no início da temporada da NFL. A última rodada de financiamento recente avaliou a Kalshi em US$ 5 bilhões; a empresa afirma controlar 60% do volume global de mercados de previsão.
Os números justificam o frenesi. A indústria de mercados de previsão atingiu um recorde de US$ 2 bilhões em volume semanal em outubro de 2025, superando o pico de novembro de 2024 durante as eleições. A Polymarket acumulou quase US$ 20 bilhões em volume total desde o lançamento em 2020. Projeções de mercado estimam que o setor atingirá US$ 95,5 bilhões até 2035, crescendo a CAGR de 46,8%.
A comparação com mercados tradicionais e a escala ainda é minúscula: a NYSE sozinha negocia trilhões anualmente. Mas as taxas de crescimento de 46,8% ao ano não são comuns em mercados financeiros maduros. Thomas Peterffy, fundador da Interactive Brokers, acredita que contratos de eventos podem eventualmente superar os de ações em tamanho de mercado devido à aplicabilidade mais ampla.
O mais revelador é o que está sendo precificado. Na semana de 14 a 20 de outubro, apostas de esportes geraram US$ 414,7 milhões em volume versus US$ 322,6 milhões em política. Não estamos falando de uma ferramenta de descoberta de verdade coletiva. Estamos falando de entretenimento financeirizado, NFL com alavancagem, March Madness com derivativos.
O token $POLY, fortemente sugerido por Coplan em post no X listando “$BTC $ETH $BNB $SOL $POLY”, completa a transformação. Documentos entregues à SEC pela Blockratize (empresa-mãe da Polymarket) mencionam “outros warrants” — linguagem típica de pré-lançamento de token. Fontes da Decrypt indicam um lançamento provável após janeiro de 2026. Usuários da própria Polymarket dão 15% de probabilidade de anúncio ainda em 2025.
Um token transforma os mercados de previsão de ferramenta de processo de análise de dados históricos e tendências de mercado para prever resultados futuros em um ecossistema cripto completo, com governança, compartilhamento de taxas, airdrops, farming… Isso atrairá um novo escrutínio regulatório exatamente quando a Polymarket finalmente conseguiu legitimidade? Provavelmente. Alienará usuários que veem a plataforma como uma ferramenta analítica, não um projeto cripto? Possivelmente. Mas distribui ownership, incentiva participação e alinha interesses. E, mais importante: projetos criptos emitem tokens. É isso que fazem.
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A ironia final é que Coplan, que começou sua jornada de empreendedor desencantado navegando em águas cinzentas, está agora navegando a mesma estratégia de tokenização que criticava. Não é hipocrisia. É evolução. Ou, dependendo da sua perspectiva sobre mercados de previsão virarem cassinos blockchain: é rendição.
Wall Street não adotou os mercados de previsão porque convenceu-se da teoria de Robin Hanson sobre a agregação de informação. Wall Street entrou porque viu US$ 3,5 bilhões apostados em uma única eleição e calculou a taxa de comissão cobrada. Jeffrey Sprecher não investiu US$ 2 bilhões na Polymarket por acreditar em futarchy hayekiana (proposta de sistema de governo que combina a democracia com mercados de previsão para a tomada de decisões). Investiu porque os mercados de previsão são a próxima fronteira de financeirização e quem controla a infraestrutura controla o fluxo.
Shayne Coplan aos 27 anos é bilionário. Aos 21, estava quebrado num banheiro. Aos 26, estava sendo invadido pelo FBI. A narrativa de founder triunfante praticamente se escreveu sozinha. Mas a história real não é sobre Coplan. É sobre como instituições que perseguem inovações eventualmente as cooptam. Como reguladores que banem mercados eventualmente os licenciam. Como movimentos que prometem descentralização eventualmente centralizam.
Mercados de previsão finalmente saíram dos whitepapers. A questão que Robin Hanson não respondeu: quando os mercados de previsão se tornam mainstream, eles ainda revelam a verdade? Ou apenas revelam o que pessoas com capital suficiente querem que pareça verdade?
Na Polymarket, você pode apostar nessa pergunta. Só não espere que o mercado resolva o paradoxo de responder se mercados respondem verdades.
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