Fusaka chega em dezembro enquanto a Ethereum Foundation sangra por dentro
Edição #1050 - Dia 08 de novembro de 2025
Enquanto os desenvolvedores finalizam testes da Fusaka, a segunda grande atualização da Ethereum em 2025, uma tempestade silenciosa abala os alicerces da rede. Demissões não anunciadas, cartas de renúncia explosivas e transferências de US$ 654 milhões para carteiras de liquidação expõem fraturas que o código mais elegante não consegue resolver. A ironia é cristalina: a blockchain que prometeu descentralizar o mundo enfrenta seus próprios fantasmas de uma governança centralizada. Mas o show precisa continuar.
Marcada para 3 de dezembro, a Fusaka, nome que combina “Fulu” (consensus layer) e “Osaka” (execution layer), promete ser o upgrade discreto que pode reposicionar a Ethereum na corrida pela escalabilidade. Diferente da Pectra, que em maio trouxe mudanças visíveis como account abstraction e limites de staking ampliados, a Fusaka trabalha nos bastidores: 12 EIPs focados em escalabilidade, eficiência de dados e redução de custos para validadores e redes de segunda camada. A questão é se a tecnologia conseguirá superar o ruído político.
O destaque fica por conta do PeerDAS (Peer Data Availability Sampling), tecnologia que permite aos validadores verificar apenas segmentos de dados ao invés de blobs completos, uma mudança que deve aliviar demandas de banda e reduzir custos tanto para validadores quanto para redes de segunda camada (L2). Após testes bem-sucedidos nas testnets Holesky, Sepolia e Hoodi ao longo de outubro, a atualização recebeu luz verde. A promessa é clara: mais eficiência, menos atrito operacional.
Os números recentes da rede mostram um ecossistema resiliente, ainda que não isento de tensões. O Total Value Locked (TVL) no DeFi da Ethereum atingiu US$ 78,1 bilhões em 2025, representando cerca de 63% de todo o DeFi global. Em outubro, a rede processou impressionantes US$ 2,82 trilhões em transferências de stablecoins (um recorde histórico), com USDC respondendo por US$ 1,62 trilhão e USDT por US$ 900 bilhões. As redes de segunda camada, por sua vez, processam 5,19 vezes o volume da rede principal, com mais de 10 milhões de endereços ativos semanais e US$ 42 bilhões em TVL distribuídos entre Arbitrum (US$ 18,45 bi), Base (US$ 14,49 bi) e Optimism (US$ 7,41 bi).
A atualização Pectra, ativada em 7 de maio, havia preparado o terreno ao elevar o limite de stake de 32 ETH para 2.048 ETH e introduzir account abstraction via EIP-7702. Segundo dados da KuCoin, o TVL total da Ethereum ultrapassou US$ 61,8 bilhões após a Pectra, com taxas de gas em declínio e velocidades de transação melhoradas. Foi um upgrade voltado à usabilidade: permitir que carteiras funcionem como smart contracts, pagar taxas em tokens não-ETH e criar sistemas de recuperação social. Mas foi também um lembrete de que o roadmap da Ethereum exige constância e paciência.
Fundação sob pressão: demissões, cartas abertas e controvérsias
Se a tecnologia avança, a governança patina. Em junho de 2025, a Ethereum Fundação anunciou demissões e uma reestruturação no time de Pesquisa e Desenvolvimento, rebatizando a divisão de “Protocol Research and Development” para simplesmente “Protocol”. A justificativa oficial apontava para maior foco em três prioridades: escalar a rede principal, expandir o blobspace e melhorar a experiência do usuário (UX). A Fundação não divulgou números, mas fontes indicam que ao menos quatro engenheiros de blockchain foram desligados.
A reorganização veio em meio a críticas acumuladas sobre lentidão técnica, falta de transparência e risco da Ethereum perder espaço para concorrentes mais ágeis. Hsiao-Wei Wang e Tomasz Stańczak, fundador da Nethermind, assumiram como co-diretores executivos, enquanto Aya Miyaguchi, que ocupava o cargo desde 2018, passou para a nova posição de presidente da fundação. Tim Beiko e Ansgar Dietrichs ficaram responsáveis por escalar a rede principal; Alex Stokes e Francesco D’Amato passaram a focar no blobspace; Barnabé Monnot e Josh Rudolf agora lideram as melhorias de UX..
Mas a controvérsia maior viria em outubro. Dois dias antes da fundação transferir 160 mil ETH (US$ 654 milhões) para uma carteira historicamente usada para liquidações, Péter Szilágyi, ex-líder de desenvolvimento e mantenedor do cliente Geth, renunciou. Em uma carta aberta que circulou apenas internamente em maio de 2024 mas foi publicada 18 meses depois, Szilágyi detalhou anos de frustração: o salário total de apenas US$ 625 mil ao longo de seis anos (período em que o market cap da Ethereum cresceu de zero para US$ 450 bilhões), falta de equity ou incentivos, além da percepção de que o sucesso na rede dependia mais de proximidade com a liderança do que de mérito técnico. Ele rejeitou uma oferta de US$ 5 milhões para transformar a Geth em uma empresa privada e deixou a fundação por completo, apontando que saiu para “sair em vez de transformar ideais em negócio”.
A situação expôs fissuras estruturais. Em setembro de 2024, a fundação havia prometido divulgar um relatório financeiro detalhado para acalmar preocupações da comunidade. Justin Drake, pesquisador da Ethereum, revelou em uma AMA (Ask Me Anything) que a carteira principal da fundação mantém cerca de US$ 650 milhões, o suficiente para dez anos de operações. Vitalik Buterin explicou no Reddit a estratégia orçamentária de gastar aproximadamente 15% dos fundos restantes por ano. Mas a transferência de outubro, 16 vezes maior que a última grande venda, reacendeu o debate sobre a viabilidade do modelo de fundações sem fins lucrativos para projetos de blockchain maduros. Miles Jennings, da a16z, argumentou que o modelo tornou-se um gatekeeper de controle centralizado devido a incentivos desalinhados e restrições operacionais.
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Fusaka e o horizonte: PeerDAS, blobs e o peso da herança
A Fusaka chega, portanto, em um momento delicado. Tecnologicamente sólida, politicamente frágil. O upgrade eleva o gas limit de 45 milhões para 150 milhões (um aumento de mais de 3x), o que significa maior capacidade de processar transações e contratos inteligentes por bloco. Mas o verdadeiro ganho está no PeerDAS: ao permitir que os validadores façam a amostragem de dados em vez de baixar blobs inteiros, a rede consegue escalar a disponibilidade de dados sem sobrecarregar nós individuais.
O impacto direto recai sobre as redes de segunda camada, que dependem da Ethereum para postar dados de rollup. Antes da Fusaka, a rede suportava 6 blobs por bloco (768 kilobytes); com a atualização e os subsequentes forks “Blob-Parameter-Only“, esse número deve escalar para 10, depois 15, e eventualmente 14 e 21 blobs, ampliando drasticamente o throughput de dados. Para rollups como Arbitrum, Optimism e Base — que já movimentam até 14 milhões de transações diárias —, isso significa taxas ainda menores e maior capacidade de crescimento.
A VanEck, gestora de ativos, destacou que a Fusaka será particularmente significativa para novos entrantes: a eficiência das mudanças facilita a operação de validadores pequenos, ao passo que grandes pools de staking não verão reduções proporcionais de custo. É uma atualização que democratiza o acesso sem sacrificar a segurança, pelo menos em teoria. A prática dependerá da execução e da velocidade com que o ecossistema de redes de segunda camada incorporará as melhorias.
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Vale contextualizar que a concorrência não dorme. A Solana, com TVL de US$ 13 bilhões e crescimento de 30% no trimestre, oferece taxas baixas e throughput alto nativamente. Bitcoin, com suas nascentes soluções de L2, avança em execução descentralizada. A Ethereum mantém vantagens em liquidez, base de desenvolvedores e infraestrutura consolidada, mas o custo da hesitação pode ser alto. Vitalik Buterin, em post de janeiro, defendeu que redes de segunda camada precisam “apoiar o valor do ETH” ao queimar ou stakear parte das suas taxas, um reconhecimento implícito de que o modelo rollup-centric dilui a captura de valor da rede principal.
Após Fusaka, o próximo upgrade, Glamsterdam, já está no radar para 2026. Discussões incluem reduzir o block time de 12 para 6 segundos (EIP-7782), o que dobraria o throughput. Mais adiante, Verkle Trees e full Danksharding prometem reestruturar como o estado da blockchain é armazenado e verificado, reduzindo requisitos de hardware e ampliando descentralização. O roadmap é ambicioso. A execução, como sempre, é o desafio.
Entre promessas técnicas e desafios humanos
A Ethereum segue como protagonista do ecossistema cripto, não por acidente, mas por escolhas deliberadas de priorizar segurança e descentralização sobre velocidade pura. Fusaka é mais um capítulo dessa história: não espere fogos de artifício, mas espere uma rede mais eficiente, custos menores para redes de segunda camada e uma base sólida para os próximos anos. O PeerDAS, em particular, pode ser lembrado como o ponto de inflexão que viabilizou a escalabilidade via rollups sem comprometer a proposta de valor original da Ethereum.
Mas a tecnologia não existe no vácuo. As turbulências internas da Ethereum Foundation, com demissões, salários controversos, transferências bilionárias e cartas de demissão que expõem fraturas ideológicas, são lembretes de que governança descentralizada é um desafio tão complexo quanto a engenharia de protocolos. A fundação precisará reconstruir a confiança enquanto entrega os upgrades. Não é uma tarefa simples.
Por ora, a comunidade aguarda o dia 3 de dezembro com expectativa pragmática. Se o upgrade Fusaka entregar o prometido, a Ethereum terá comprado tempo e espaço para continuar seu roadmap. Se tropeçar, seja tecnicamente, seja na comunicação com desenvolvedores e usuários, a narrativa de que “a Ethereum está lenta demais” ganhará ainda mais força. Afinal, no mercado cripto, a percepção de momentum importa quase tanto quanto os commits no GitHub. E a concorrência, como sempre, está apenas a um fork de distância.
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