O homem que democratizou a internet agora quer centralizar seu futuro
Edição #1074 - Dia 6 de dezembro de 2025
Quando Marc Andreessen bloqueou Jack Dorsey no Twitter em dezembro de 2021, após o fundador da rede social criticar a Web3 como sendo controlada por VCs (venture capitals) e não “pelas pessoas”, o gesto foi mais eloquente que mil manifestos. O homem que criou o primeiro navegador de internet acessível ao público em 1993 — tornando-se aos 22 anos o rosto de uma revolução tecnológica — agora encontrava-se na defensiva, incapaz de lidar com dissidência sobre seu mais recente cavalo de batalha: o ecossistema cripto.
Dorsey havia tweetado: “Você não possui a ‘web3’. Os VCs e seus LPs possuem. Nunca escapará de seus incentivos. É uma entidade centralizada com um rótulo diferente.” (LPs ou Limited Partners são os investidores institucionais e indivíduos ricos que fornecem capital aos fundos de venture capital). A resposta de Andreessen? O bloqueio. A reação de Dorsey? “Estou oficialmente banido da Web3”, postou ele com um screenshot.
O episódio ilustra perfeitamente as contradições que definem Marc Andreessen em 2025. O mesmo homem que democratizou a internet agora é acusado de centralizar a próxima versão dela. O empresário que escreveu “É Hora de Construir” em 2020, criticando a paralisia regulatória e defendendo mais habitação na Califórnia, enviou uma carta em letras maiúsculas exigindo a remoção IMEDIATA de propostas de construção multifamiliar em Atherton, o CEP mais rico dos Estados Unidos, onde ele reside.
“O desenvolvimento multifamiliar... diminuirá MASSIVAMENTE os valores de nossas casas”, escreveram Andreessen e sua esposa Laura Arrillaga-Andreessen. A hipocrisia não passou despercebida. Como apontou a The Atlantic, Andreessen “entende intimamente os argumentos para o aumento da produção habitacional” porque ele mesmo os fez.
Do navegador ao império cripto
A trajetória de Andreessen é notável. Nascido em Wisconsin, o garoto que aprendeu BASIC em um computador emprestado da biblioteca acabou na Universidade de Illinois, onde em 1993 criou o Mosaic, o primeiro navegador que não exigia um PhD para operar. A inovação era simples: imagens exibidas em linha com texto. Mas mudou tudo. Em um ano, 2 milhões de pessoas baixaram o software. A internet deixou de ser um clube exclusivo de nerds para se tornar um fenômeno cultural.
Com Jim Clark, fundou a Netscape em 1994. Em agosto de 1995, o IPO (Initial Public Offering,) da empresa fez Andreessen valer US$ 58 milhões aos 24 anos. A ação abriu a US$ 71, mais que o dobro do preço de oferta, apesar da empresa ter zero lucros. Foi também o tiro de largada para a bolha das pontocom.
A Microsoft esmagou a Netscape controlando a plataforma. A lição foi sobre poder: se você não controla a plataforma, alguém controla seu suprimento de oxigênio. Em 1999, Andreessen e Ben Horowitz fundaram a Loudcloud, essencialmente construindo a AWS antes da AWS existir. Timing catastrófico: lançaram quando a bolha pontocom implodia. A ação caiu de US$ 6 para US$ 0,35. Renomeada Opsware, a empresa foi vendida para a HP em 2007 por US$ 1,6 bilhão.
Essa experiência importa porque distingue Andreessen dos fundadores que só conhecem trajetórias ascendentes. Ele sabe o que é quando o dinheiro acaba e o telefone para de tocar. Operou um navio afundando em um furacão. Isso lhe deu credibilidade como operador, não apenas visionário.
Em 2009, em meio aos destroços da crise financeira, Andreessen e Horowitz lançaram sua firma de venture capital com US$ 300 milhões. O timing era perfeito. Eles criaram o “Modelo de Agência”, inspirado em agências de talentos de Hollywood: centenas de funcionários oferecendo suporte operacional completo às companhias do portfólio (empresas investidas). Investiram no Facebook, Twitter, Airbnb, GitHub, Slack e Lyft. Seus fundos geraram retornos que os tornaram lendas, com estimativas de IRR (Internal Rate of Return, ou taxa interna de retorno, que mede a rentabilidade anualizada dos investimentos) de 50%.
Mas foi no mercado cripto que Andreessen se tornou o padrinho. Em 2013, começou a investir em Bitcoin. A a16z tornou-se a primeira empresa de VC blue-chip a lançar fundos cripto dedicados, eventualmente levantando mais de US$ 7,6 bilhões em quatro veículos. Investiram na Coinbase, Solana, Uniswap, OpenSea, ou seja, basicamente toda a camada de infraestrutura do cripto. DeFi (Decentralized Finance), NFTs (Non-Fungible Tokens), exchanges, blockchains, se era importante, a a16z estava lá.
A presença de Andreessen emprestou legitimidade crucial ao setor. Quando bancos estavam “debanking” (fechando contas bancárias de) startups cripto e reguladores ameaçavam proibições, sua presença sinalizou a outras instituições que isso era real, não criminoso.
Os fundos cripto da a16z: o império em números

Nota: Seed investments são investimentos na fase inicial de uma startup. Venture investments são investimentos em empresas já estabelecidas em crescimento. DAOs (Decentralized Autonomous Organizations) são organizações descentralizadas governadas por votação comunitária.

Nota: ROI (Return on Investment) indica quanto o investimento valorizou. Um ROI de 546x significa que o investimento multiplicou seu valor por 546 vezes. “Exit parcial” significa que a a16z vendeu parte de sua participação, mas ainda mantém ações.
A alegação de Dorsey era que a Andreessen Horowitz estava se envolvendo exatamente no tipo de centralização que afirmava se opor. Ao possuir participações massivas em protocolos “descentralizados” e usar esses tokens para votar em governança, eles eram efetivamente o banco central da nova internet.
Críticos começaram a investigar a mecânica: a alegação era que a Andreessen Horowitz investiria em um protocolo na fase seed por centavos por token, promoveria através de sua máquina de mídia massiva, veria listar na Coinbase (também uma companhia do portfólio da a16z) a preços inflacionados, e então venderia para investidores de varejo quando os cronogramas de vesting (períodos de bloqueio antes que tokens possam ser vendidos) desbloqueassem. Os VCs realizariam retornos de 1000x enquanto o varejo segurava a batata quente quando os preços caíssem.
Exemplo concreto: a a16z votou ‘não’ no fee switch da Uniswap, uma proposta que daria mais controle e receita aos detentores de tokens, ilustrando como seu ‘tecno-otimismo’ se alinha com a consolidação de poder ao invés de empoderar a descentralização.
Do manifesto tecno-otimista à mesa de Trump e ao controle de 2025
Em outubro de 2023, Andreessen publicou o “Manifesto Tecno-Otimista”, um documento de 5 mil palavras que parecia menos uma tese de negócios e mais uma declaração política. Identificou uma “coalizão dos desmoralizados”, incluindo reguladores e investidores ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), como inimigos da civilização. Argumentou que a tecnologia era a única fonte de crescimento e que qualquer restrição sobre ela era uma restrição à vida humana.
Críticos notaram paralelos perturbadores com o futurismo italiano do início do século XX, que celebrava velocidade e violência. O manifesto parecia menos otimismo e mais tecno-feudalismo, mostrando um mundo governado por reis-engenheiros, sem responsabilidade democrática.
Em 2024, a alienação de Andreessen do Partido Democrata estava completa. Sentiu que a administração Biden estava travando guerra contra a tecnologia através de regulação agressiva. Endossou Trump, doando US$ 2,5 milhões ao PAC (Comitê de Ação Política) pró-Trump Right for America. Mas foi além: doou US$ 33,5 milhões ao Fairshake, um grupo político pró-criptomoedas, mais de seis vezes o valor doado diretamente a Trump.
Após a vitória, Andreessen se envolveu com DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) de Musk, passando “metade de seu tempo em Mar-a-Lago” assessorando Trump sobre política tecnológica. Mirou especificamente agências que haviam investigado suas empresas que investiram: a CFPB (Consumer Financial Protection Bureau, órgão que multou a Dwolla em US$ 100 mil) e a SEC (Securities and Exchange Commission, que processou a Coinbase). Isso é captura regulatória em sua forma mais nua: um VC bilionário assessorando o governo a destruir os reguladores que supervisionam seus investimentos.
Em 2025, enquanto Musk se afastava, Andreessen expandiu sua influência. Em janeiro, Trump assinou ordens executivas pró-cripto no primeiro dia de mandato, revisando padrões contábeis para ativos digitais e criando um framework legal para apoiar empresas cripto. David Sacks, trabalhando próximo a Andreessen, redigiu essas ordens executivas. A a16z fechou seu escritório em Londres no mesmo mês para focar totalmente no mercado norte-americano, onde as políticas de Trump criavam o ambiente perfeito.
Sriram Krishnan, que deveria liderar as operações em Londres, entrou direto na administração Trump. Scott Kupor, sócio-gerente da Andreessen Horowitz, foi nomeado Diretor do Escritório de Gestão de Pessoal. Os tentáculos da a16z se espalharam por Washington.
A CFPB, que havia investigado oito empresas financiadas pela a16z desde 2016, foi esvaziada pela administração Trump. Uma delas, a Synapse Financial Technologies, foi processada em agosto por perder rastro de milhões de dólares de clientes, mas a ação resultou em pouca reparação: a empresa falida concordou em pagar uma multa de US$ 1. Literalmente, um dólar.
Em julho de 2025, a a16z liderou a maior rodada seed da história: US$ 2 bilhões para a startup de IA Thinking Machines Lab, avaliando a empresa em US$ 12 bilhões. Foi um sinal claro: com Trump no poder e reguladores domados, o dinheiro fluía sem obstáculos.
Quer receber nosso livro de forma gratuita? Gere seu link e recomende a Morning Jog para 5 amigos!
2026: a próxima fronteira, dominar a regulação de IA
Se 2025 foi o ano em que Andreessen dominou a regulação cripto, 2026 promete ser o ano em que ele fará o mesmo com a inteligência artificial. Em novembro de 2025, lançou o “Leading The Future”, um super PAC com mais de US$ 100 milhões para garantir vitórias de políticos pró-IA nas eleições de meio termo de 2026.
O primeiro alvo? Alex Bores, membro da assembleia estadual de Nova York que co-patrocina o RAISE Act (Responsible AI Safety and Education), uma legislação estadual sobre segurança de IA. A mensagem é clara: quem tentar regular IA será eliminado politicamente.
Trump já sinalizou apoio à centralização federal da regulação. Postou em sua Truth Social: “Os EUA DEVEM ter um Padrão Federal único ao invés de um mosaico de 50 Regimes Regulatórios Estaduais.” Um rascunho de ordem executiva obtido pela WIRED criaria uma “Força-Tarefa de Litígio de IA” que processaria estados sobre leis de IA consideradas violadoras da lei federal.
A estratégia é idêntica à usada com cripto: remover qualquer resistência estadual ou local, centralizar a regulação em Washington (onde Andreessen tem acesso direto) e, então, garantir que essa regulação federal seja mínima ou inexistente.
🔥 Cartão cripto com melhor conversão do mercado? Sim. Cashback? Também. US$ 10 de bônus se gastar US$ 50? Claro. Ative o seu com o Picnic e leve tudo isso direto pra sua carteira. Solicite já o seu clicando aqui!
O futuro é construído por quem?
A influência de Andreessen é inegável. Com US$ 46 bilhões em AUM (Ativos Sob Gestão), a a16z é a maior firma de VC por volume de ativos gerenciados. Desde 2020, apoiou 32 unicórnios (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão), o que é mais do que qualquer outra firma.
Mas há um problema: o maior fundo cripto da a16z perdeu 40% no primeiro semestre de 2022. E apesar de ter levantado US$ 4,5 bilhões em 2022, a firma tem sido lenta em investir esse capital. A estratégia agora parece clara: se o mercado não está cooperando, mude as regras do jogo.
Marc Andreessen é extraordinariamente bom em identificar para onde o mundo está indo e se posicionar para lucrar com isso. Ele visualizou a web com o Mosaic. Comercializou-a com a Netscape. Industrializou o venture capital com a a16z. Legitimou o ecossistema cripto para instituições. Agora, em 2025, conseguiu algo ainda mais ambicioso: reescrever as regras do jogo em tempo real, com acesso direto ao poder executivo.
Mas seus pontos cegos são massivos. Ele defende descentralização enquanto consolida poder em mega-firmas. Prega construção mas a obstrui quando surge alguma inconveniência pessoalmente. A questão que permanece é simples: as pessoas que constroem o futuro também deveriam decidir as regras? Andreessen claramente acredita que sim. Está apostando bilhões nisso. E em 2025, com seus aliados controlando Washington e US$ 100 milhões garantindo que 2026 continue essa tendência, essa aposta está valendo muito a pena.
Mas o que acontece quando a coisa que ele está construindo quebra? Porque as coisas sempre quebram. A bolha pontocom estourou. A Netscape foi esmagada. A Loudcloud quase morreu. O mercado cripto caiu 40% em 2022. E quando o próximo crash vier, as pessoas machucadas pela falta de barreiras vão lembrar que Marc Andreessen passou anos tentando removê-las.
O homem que ficou famoso por tornar a internet fácil de usar passou a última década empurrando os limites da inovação e regulação. Se isso é visionário ou imprudente ainda é uma questão em aberto. Mas uma coisa é certa: em 2025, Andreessen não está apenas investindo no futuro do ecossistema cripto e da IA, ele está reescrevendo as regras que os governam. E para 2026, planeja garantir que ninguém possa voltar atrás.
Fale conosco
🖼️ Quer anunciar para mais de 27 mil pessoas? É só clicar aqui.
💵 Quer comprar uma cold wallet no único revendedor oficial do Brasil? Clique aqui.
Links recomendados
Fechamento diário do BTC

Mais preparado para lucrar no mercado cripto em 5 minutos!
Somos um jornal gratuito e diário, que tem por objetivo te trazer tudo que você precisa saber sobre Web3 para começar o seu dia bem e informado.
Entregamos notícias que são, de fato, relevantes sobre o mercado cripto no mundo. É claro que as notícias deste jornal não devem em nenhuma hipótese serem consideradas como recomendação de compra ou de investimento em criptoativos.
Chegamos direto na sua caixa de entrada do e-mail favorito, sempre às 06:00. Mas saiba que alguns servidores de e-mail são teimosos e atrasam…Outros são piores ainda e encaminham nosso jornal para o spam e/ou promoções. Se não nos encontrar na caixa de entrada, procure nessas duas.
É gratuito, mas pode viciar. Até amanhã!








