UniChain e o renascimento da tese dos SuperDapps
Edição #749 - Fechamento semanal - 16 de novembro de 2024
Estamos entrando na fase dos SuperDapps criptos! Na última semana, a Uniswap anunciou que lançará sua própria rede de segunda camada, a UniChain. Essa L2 da rede Ethereum irá dar mais controle para a Uniswap sobre o tráfego de todas as transações de sua corretora descentralizada (DEX). Mas mais que um movimento isolado, a criação da UniChain indica um caminho que se tornará cada vez mais comum para os maiores aplicativos descentralizados.
Como já mostramos em nossa tese de investimento, que pode ser lida aqui, as criptomoedas possuem um ciclo econômico e um ciclo de desenvolvimento tecnológico. Este, pode ser mais facilmente identificável dentro do contexto do ciclo de desenvolvimento das tecnologias da informação. Quando há o surgimento de uma nova tecnologia, ela geralmente reduz os custos de produção da tecnologia anterior na mesma medida em que passa a se tornar um padrão compartilhado na sociedade. Isso, por sua vez, incentiva um período de expansão de serviços ao consumidor, seja ele institucional ou de varejo.
A evolução da indústria da tecnologia da informação
Fonte: viden.vc
Assim, em um primeiro momento, surge uma nova tecnologia que permite o desenvolvimento de uma série de outras inovações que servem para melhorar o ambiente existente. É isso que ocorreu com o surgimento das blockchains, que são a infraestrutura que permite o desenvolvimento cripto. Mas neste instante inicial, há vários players que disputaram o espaço criando produtos (blockchains distintas), como foi o caso da Ethereum, Cosmos, Solana, Cardano, Polkadot, entre tantas outras. O momento seguinte do ciclo de tecnologia da informação é que essa produção tenha um padrão de código aberto que facilite o surgimento de aplicações que irão impactar algum ambiente da sociedade. Foi isso que ocorreu com o surgimento das finanças descentralizadas (DeFi).
Nesse contexto, é comum que os primeiros empreendedores de um novo setor criem novos modelos de negócios, que não podem ser afetados pelos produtos e serviços oferecidos anteriormente. Nesse caso, temos a Uniswap, lançada em 2018, que se solidificou como principal corretora descentralizada. Hoje, a Uniswap corresponde por 91,5% das transações feitas na rede Ethereum.
Total de transações por protocolo na rede Ethereum
Fonte: @intensodefi
Neste texto, usamos o exemplo da Uniswap, mas poderíamos pegar outros SuperDapps que estão surgindo, como Worldcoin e Pudgy Penguins. O Worldcoin, por exemplo, chegou a representar quase 40% das taxas geradas na Optimism, o que os levou a lançar sua própria cadeia de aplicativos, destacando ainda mais a tese dos super aplicativos descentralizados, que querem ter o poder de controlar a demanda (usuários e transações). Já a coleção de NFTs Pudgy Penguins, que possui uma marca forte, está construindo sua própria blockchain. Luca, o CEO e "pinguim-chefe", explicou que controlar o espaço de bloco sobre o qual sua distribuição é construída acaba sendo vantajoso para a acumulação de valor para a marca Pudgy e para o seu IP.
Olhando para o futuro, os aplicativos devem buscar criar novos tipos de fluxo de ordens, seja através da criação de novos ativos (como tokens e/ou memes), construindo aplicativos que criem nova utilidade para o usuário, como identidade (por exemplo, Worldcoin, ENS) ou elaborando melhores experiências para o consumidor, que sejam verticalmente integradas e suportem transações valiosas, como Farcaster, Solana Blinks, Telegram e seus aplicativos ou jogos onchain.
Mas voltando a Uniswap e a UniChain, é importante ter em mente que a Uniswap foi inicialmente lançada como um protocolo de swap descentralizado (conversões simples) que permitia aos usuários negociar ativos de menor liquidez. Desse início, ela evoluiu para um gigante no setor cripto, se tornando uma aplicação voltada para o consumidor — verticalizando componentes-chave da sua estrutura — desde a expansão das capacidades da interface da DEX até a criação da sua carteira mobile.
Assim, o lançamento da UniChain é importante e relevante para o mundo cripto porque apresenta inúmeras implicações distintas, tais como:
1) a UniChain oferece um novo modelo de valorização do token Uni;
2) a Unichain irá migrar a atividade DeFi, tradicionalmente realizada na rede principal da Ethereum, para sua própria rede (canibalizando a rede principal);
3) a UniChain serve como grande exemplo da próxima grande tese do mercado, o surgimento dos SuperDapps, com a contínua comoditização do espaço de blocos das blockchains.
Quer entender mais todo esse processo, siga a leitura e vamos discutir.
Quer saber mais sobre a Uniswap? Leia nosso especial sobre a maior DEX do mundo cripto:
Uniswap cria um novo modelo de valorização do seu token
Historicamente, o token da Uniswap, UNI, atuou como um token de governança, com controle sobre a DAO da Uniswap, o que gerava a opção de aprovar uma taxa de uso do protocolo, o que permite que um valor seja cobrado nas operações feitas e redirecionada para o tesouro da DAO.
Agora, de acordo com o whitepaper da UniChain, é proposto que os detentores de tokens UNI possam contribuir para a segurança da rede UniChain. Em troca, eles serão recompensados com uma parte das taxas que atualmente vão para o tesouro da DAO, baseada no valor dos ativos que colocarem em staking. Isso significa que o UNI evoluirá de um simples token de governança com pouca utilidade para um token com valor direto, através das taxas cobradas dos usuários da rede. Mais importante ainda, a demanda pelo token UNI pode aumentar, pois haverá um número limitado de validadores, com investidores validando a rede e ganhando mais taxas de acordo com quantos tokens tenham no stake .
Por isso vale a pena entender a troca que a Uniswap está fazendo ao lançar a Unichain. Ao mover-se para sua própria blockchain de segunda camada, a Uniswap está sacrificando parte da composabilidade (aqui, entenda esse termo como a capacidade de um dApp navegar por diferentes redes) com o restante do ecossistema DeFi da Ethereum em favor de ganhar mais controle sobre o preenchimento do espaço de blocos (o local em que todas as transferências são registradas), melhorando assim a economia que o protocolo (e o aplicativo descentralizado) podem capturar.
Ao mover a liquidez e as negociações para a Unichain, o protocolo pode oferecer maior rendimento e capturar mais valor econômico global da sua própria blockchain. É importante deixar claro que protocolos como a Uniswap, quando operam na Ethereum, podem capturar taxas pelo uso do seu aplicativo. Mas com a Unichain, os detentores do token UNI também poderão capturar uma parte de toda a atividade econômica feita na rede, como empréstimos, swaps na DEXs ou em outras DEXs que não sejam a Uniswap, além de transferências de stablecoins. Ou seja, tudo que acontece na blockchain, já que cada transação será validada pelos validadores da Unichain.
A Uniswap fez seu dever de casa e viu o quanto isso tem sido lucrativo para a Coinbase e a Base, bem como para redes de rollups como Arbitrum e Optimism, que ganham milhões em taxas fazendo o mesmo. Agora, a Unichain buscará alavancar sua influência como uma potência DeFi para capturar uma atividade econômica transacional mais ampla que ocorrerá no seu próprio espaço de blocos.
Conforme muitas outras aplicações consideram lançar suas próprias blockchains, a Unichain apresenta um modelo replicável que realinha os incentivos para os detentores de tokens e permite que o protocolo capture mais valor econômico relacionado à blockchain.
A tese dos SuperDapps
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Como fica a relação entre Unichain e a blockchain da Ethereum
A criação da Unichain tem implicações significativas para a rede principal da Ethereum. Hoje, mesmo com o crescimento de L2s como Arbitrum, Optimism e Base, a rede principal da Ethereum ainda representa uma abundância de atividades DeFi e a negociação de dezenas de bilhões em ativos, incluindo as stablecoins. É provável que a atividade DeFi da Ethereum migre para a Unichain à medida que esta passe a oferecer incentivos para os detentores de UNI, taxas para LPs (liquidity pools) e melhores preços para os usuários que fizerem swaps e outras atividades.
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Em contraponto, a Unichain tomou a decisão de que os validadores da Unichain façam o staking dos seus UNI na Ethereum, ao invés de na própria Unichain, o que potencialmente ajuda a reforçar a proposta de valor de segurança da rede de primeira camada da Ethereum.
Mesmo assim, em última análise, a Ethereum já tomou a decisão direcional de empurrar a atividade para fora da sua mainnet, em contraste com o que ocorre em blockchains como a Solana, que visam escalar ao máximo sua L1. No entanto, a maior proposta de valor da rede Ethereum é a força do seu ativo base, que ainda atua como token de gás para L2s, incluindo na Unichain, e representa um dos ativos mais líquidos da indústria, além de ser um instrumento-chave usado como garantia em protocolos DeFi.
Saiba como estão as coisas na Ethereum lendo nosso especial:
Super dApps irão tentar verticalizar até criar sua própria blockchain
O lançamento da Unichain reforça a tese de que as aplicações cripto podem capturar a maior parte do valor porque serão capazes de verticalizar outras partes das suas aplicações.
Acreditamos que essa será a tendência contínua dos novos dApps cripto: buscar verticalizar após atingir uma grande escala de usuários ou ter demanda por mais espaço de blocos. E a Uniswap não está sozinha nessa direção. Além do impacto da Worldcoin na Optimism, já mencionado aqui, há outras aplicações buscando criar sua própria blockchain. Na Solana, o provedor de oráculos Pyth representou 20% das transações da Solana, até que decidiu se mover para a sua própria SVM-L1.
Seguindo esta tese, veremos a maior parte do valor sendo capturada na camada de aplicativos, onde o controle de usuários e fluxo de ordens mantém os aplicativos em uma posição privilegiada. Esses aplicativos provavelmente estarão acoplados a protocolos e a aplicações onchain, de forma semelhante a como os aplicativos da Uniswap alavancam seu protocolo DEX onchain e, em breve, a Unichain.
Em última análise, esses aplicativos provavelmente serão acoplados a protocolos onchain, semelhantes aos de hoje, incluindo UniswapX e Uniswap Protocol, Warpcast e Farcaster, Worldcoin e Worldchain. Esses protocolos, especialmente aqueles onchain (como MakerDAO), ainda podem acumular valor significativo, mas os aplicativos provavelmente capturarão mais valor devido à sua proximidade com os usuários e componentes off-chain que proporcionam aos aplicativos barreiras de defesa mais robustas.
Por fim, ainda há um caminho para blockchains de primeira camada (como o Bitcoin, Ethereum, Solana, entre outros) atraírem valor significativo como ativos de reserva não soberanos. Esse caminho passa por ativos subjacentes (como o ETH) acumularem um valor imenso devido ao seu uso como commodity (para ser usado como gás, por exemplo), ativo de capital (como um gerador de rendimento) e valor como ativo de garantia altamente líquido em seus respectivos ecossistemas DeFi. Essas propriedades são o que compõem a maior parte do valor de um ativo L1.
A conclusão é que à medida que mais aplicações cripto lancem suas próprias blockchains e tenham seus próprios espaços de blocos em suas redes, eles poderão controlar a liquidez, os usuários e o fluxo de ordens. Nesse momento, o mundo cripto passará a valorizar as aplicações ao concluir inevitavelmente que — super aplicativos descentralizados são inevitáveis.
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