Brian Armstrong: o estrategista silencioso do mundo cripto
Edição #884 - Dia 26 de abril de 2025
No teatro caótico do mundo cripto, onde founders brigam com reguladores no X, constroem cidades-estado em planilhas do Google e duelam egos em podcasts, Brian Armstrong prefere o silêncio. Não que ele se esconda. Ao contrário, seus movimentos são calculados e frequentes. Mas enquanto outros tentam fazer história pela força, ele prefere reescrevê-la pelas bordas. Uma audiência no Congresso aqui, um post de blog ali, uma doação milionária acolá. O resultado? Um engenheiro de software que, em uma década, transformou uma startup em uma das maiores plataformas financeiras do mundo e que agora influencia as leis que vão definir o futuro das moedas digitais.
Mais do que CEO da Coinbase, Armstrong é hoje um arquiteto da política cripto. Seu estilo discreto esconde uma atuação meticulosa: ele tenta redesenhar a ponte entre o sistema tradicional e o universo descentralizado. E faz isso com as ferramentas que o mundo cripto geralmente despreza: lobby, regulamentação, e, sim, muita política. Ao contrário de figuras como Balaji, que querem romper com o status quo e criar um “network state”, Armstrong quer vencê-lo. Nas regras do jogo. Usando a máquina por dentro. É a história dele que iremos contar na edição de hoje da Morning Jog.
O berço da engenharia
A história começa em San Jose, Califórnia, onde Armstrong nasceu em 1983, filho de dois engenheiros. A lógica era o idioma da casa e ele se tornou fluente nessa linguagem rapidamente. Na adolescência, trocou a rebeldia pela programação. Fez graduação em ciência da computação e economia na Rice University, no Texas, em uma combinação que já sinalizava o que viria: algoritmos com lógica de mercado. Ainda na faculdade, fundou a UniversityTutor.com, uma plataforma de tutoria online. De quebra, aprendeu a gerenciar uma empresa remotamente durante uma temporada vivendo em Buenos Aires, na Argentina.
Foi ali, na capital argentina, que Armstrong sentiu o impacto da hiperinflação. Viu de perto como o dinheiro perde o valor, como o Estado pode falhar e como o Bitcoin poderia ser mais do que uma curiosidade acadêmica. Anos depois, essa experiência serviria como catalisador para entender o real potencial das criptomoedas.
De volta aos Estados Unidos, acumulou experiências técnicas de peso no seu currículo. Passou pela IBM, Deloitte, e, finalmente, Airbnb. Ali, trabalhou com pagamentos internacionais e combate a fraudes, lidando com transações em quase 200 países. E foi justamente a frustração com os gargalos do sistema financeiro global que o levou a um certo whitepaper, publicado em 2008, por um tal de Satoshi Nakamoto. Em 2010, ele leu o documento. Em 2011, começou a experimentar em código. Em 2012, decidiu que era hora de empreender.
Nasce a Coinbase
Com um projeto em mente, Armstrong se inscreveu no Y Combinator. Para acessar o programa, recebeu uma condição: encontrar um cofundador em três dias. Publicou um post no Hacker News. E encontrou Fred Ehrsam, um jovem trader da Goldman Sachs com a mesma obsessão por cripto. O entrosamento foi imediato e eles receberam US$ 150 mil de investimento e fundaram a Coinbase.
O produto inicial era simples: uma carteira de Bitcoin chamada “Toshi”. A missão, ambiciosa: tornar cripto acessível ao cidadão comum. Enquanto outros projetos focavam em programadores, Armstrong queria o usuário de iPhone. Ele priorizava design, experiência do usuário (UX) e segurança. Tudo precisava funcionar com um clique. A obsessão por simplicidade virou marca registrada.
A estratégia deu certo. Em 2018, a empresa foi avaliada em US$ 8 bilhões. Três anos depois, estreou na NASDAQ com um valuation momentâneo de US$ 100 bilhões, o que foi um marco para toda a indústria. Hoje, a Coinbase está presente em mais de 100 países e atende mais de 100 milhões de usuários.
Mas a ascensão não veio sem turbulência. A empresa enfrentou ataques hackers, instabilidades de mercado, críticas à centralização da corretora e, principalmente, teve inúmeros embates com reguladores. Armstrong respondeu com o que sabe fazer melhor: construir.
Quer receber nosso livro de forma gratuita? Gere seu link e recomende a Morning Jog para 5 amigos!
Neutralidade como ferramenta
Em setembro de 2020, em meio a uma onda de protestos sociais nos EUA, Armstrong decidiu colocar um limite. Publicou um post afirmando que a Coinbase seria uma empresa “focada em missão” e que não se envolveria com temas políticos ou sociais que não estivessem diretamente relacionados ao seu core business.
A decisão dividiu opiniões. Críticos disseram que era impossível ser “neutro” em uma indústria que lida com o dinheiro, a privacidade e a regulação. Mas Armstrong manteve o rumo. Para ele, a neutralidade era menos um princípio ético e mais uma estratégia operacional. Menos distrações gerava mais execução.
Do apolitismo ao poder político
Mas, ironicamente ou talvez inevitavelmente, o homem que quis blindar sua empresa da política tornou-se um dos maiores manipuladores políticos do setor cripto. Armstrong compreendeu o que muitos ainda resistem a aceitar: sem influência política, não há inovação sustentável. E decidiu entrar no jogo.
Criou o super PAC Fairshake, que arrecadou quase US$ 100 milhões para apoiar candidatos favoráveis à cripto. Lançou o Stand With Crypto, uma plataforma para informar eleitores e ranquear políticos segundo sua posição em relação à indústria. Em 2024, celebrou a eleição de mais de 250 parlamentares pró-cripto. Chegou a ter reuniões com o então candidato (e atual presidente) Donald Trump para discutir o futuro das criptomoedas.
Seus alvos mais recentes? A regulamentação das stablecoins. Armstrong defende que os emissores possam pagar juros aos usuários, algo comum nos protocolos DeFi, mas que colide com a legislação norte-americana sobre valores mobiliários. Para ele, não há motivo para que um stablecoin lastreado em dólar, guardado com segurança, não possa render 4% por ano ao usuário, especialmente quando o sistema bancário tradicional oferece uma fração disso.
A proposta ainda enfrenta resistência no Congresso, mas é um exemplo claro da abordagem de Armstrong: não quebrar o sistema, mas reformá-lo.
SEC, Gensler e a batalha regulatória
Talvez o episódio mais emblemático do embate entre inovação e regulação tenha sido o processo movido pela SEC em 2023. A comissão, sob a presidência de Gary Gensler, acusou a Coinbase de operar como bolsa e corretora sem registro. A empresa gastou mais de US$ 50 milhões em defesa legal.
No início de 2025, sob a nova administração do governo norte-americano, a SEC arquivou o caso. Armstrong chamou o resultado de “validação enorme” e reforçou seu ponto: o setor precisa de regras claras, não de ameaças vagas. Sua mensagem tem sido consistente: cripto não quer escapar da lei, mas quer uma lei que faça sentido.
Para além da Coinbase
Apesar de ser a face da Coinbase, Armstrong é mais do que um CEO. É um investidor em tecnologia de longevidade (NewLimit), um defensor da ciência aberta (ResearchHub) e um filantropo engajado (GiveCrypto.org). Além disso, em 2018, assinou o Giving Pledge, prometendo doar a maior parte de sua fortuna.
Seus interesses vão do genoma à governança digital. Em entrevistas recentes, expressou apoio ao conceito de “Network States”, defendido por Balaji Srinivasan. Armstrong vê nos estados-nação estruturas em declínio e aposta em formas alternativas de organização, baseadas em blockchain, identidade digital e soberania local. É um paradoxo: o homem que negocia com o Congresso sonha com sua obsolescência.
Contradições e coerência
Esse paradoxo, no fundo, é a essência de Armstrong. Ele personifica a tensão entre o idealismo descentralizado do mundo cripto e a necessidade do pragmatismo institucional para adoção do ecossistema Web3. Assim, ele fica entre o “buidl” dos primeiros dias e o “governar” dos dias atuais. Entre um ecossistema que nasceu para subverter e um mercado que hoje precisa sobreviver.
Seus críticos apontam inconsistências: como pode um CEO que se diz apolítico investir dezenas de milhões em campanhas eleitorais? Como pode defender a regulação de stablecoins e, ao mesmo tempo, financiar pesquisas sobre estados digitais autônomos?
Mas talvez a resposta esteja na habilidade de viver e prosperar nessas contradições. Armstrong não está tentando resolver o dilema cripto. Ele está administrando-o. E nesse processo, moldando o futuro da indústria com mais eficácia do que muitos que gritam por revolução.
A importância do método
Em um universo que premia ousadia, Armstrong aposta na disciplina. Enquanto o setor se movimenta em ondas de hype, ele constrói estruturas. Enquanto fundadores buscam por notoriedade, ele busca estabilidade institucional. E essa escolha, embora menos vistosa, pode ser mais duradoura. O impacto de Armstrong talvez não seja sentido em frases de efeito, mas em mudanças legislativas. Em jurisprudência nas leis norte-americanas que se refletem em outras partes do globo. Em frameworks regulatórios. Assim, em milhões de usuários que, sem saber, estarão acessando o mundo cripto a partir da infraestrutura que ele construiu.
No fim, o que Brian Armstrong mostra é que o futuro do mundo cripto não será decidido apenas por códigos, mas também por influência, persistência e estratégia. E, nesse tabuleiro, ele não é apenas um jogador. É um player relevante e silencioso, que está manipulando, sem alarde, o próximo capítulo da história financeira mundial.
Fale conosco
🖼️ Quer anunciar para mais de 27 mil pessoas? É só clicar aqui.
💵 Quer comprar uma cold wallet no único revendedor oficial do Brasil? Clique aqui.
Links recomendados
Fechamento diário do BTC

Mais preparado para lucrar no mercado cripto em 5 minutos!
Somos um jornal gratuito e diário, que tem por objetivo te trazer tudo que você precisa saber sobre Web3 para começar o seu dia bem e informado.
Entregamos notícias que são, de fato, relevantes sobre o mercado cripto no mundo. É claro que as notícias deste jornal não devem em nenhuma hipótese serem consideradas como recomendação de compra ou de investimento em criptoativos.
Chegamos direto na sua caixa de entrada do e-mail favorito, sempre às 06:00. Mas saiba que alguns servidores de e-mail são teimosos e atrasam…Outros são piores ainda e encaminham nosso jornal para o spam e/ou promoções. Se não nos encontrar na caixa de entrada, procure nessas duas.
É gratuito, mas pode viciar. Até amanhã!