Dez anos da revolução e das contradições da Ethereum
Edição #967 - dia 02 de agosto de 2025
Há exatamente dez anos, no dia 30 de julho de 2015, um bloco genesis mudou para sempre o cenário das criptomoedas. A Ethereum nascia não apenas como mais uma blockchain, mas como uma plataforma que prometia transformar contratos em código e democratizar o acesso a serviços financeiros. Uma década depois, com mais de US$ 75 bilhões bloqueados em DeFi e uma redução de 99,95% no consumo energético após o Merge, a rede que começou sendo negociada a US$ 2,92 em agosto de 2015 se transformou na espinha dorsal de uma economia digital avaliada em centenas de bilhões de dólares.
O que começou como a frustração de Vitalik Buterin ao perder progresso em World of Warcraft evoluiu para uma infraestrutura que processa mais de 250 transações por segundo através de suas soluções Layer 2. Mas os números contam apenas parte da história: de uma capitalização inicial inferior a US$ 1 bilhão para o pico de mais de US$ 250 bilhões em abril de 2021, a jornada da Ethereum espelha as montanhas-russas do próprio mercado cripto e as contradições inerentes a uma tecnologia que promete descentralização enquanto luta contra forças centralizadoras.
A saga dos oito cofundadores é quase shakespeariana. Buterin, agora focado em tornar a Ethereum "tão simples quanto o Bitcoin" enquanto desenvolve conceitos como "Infofinance", permanece como o filósofo-rei do projeto. Joseph Lubin, cujo patrimônio é estimado em cerca de US$ 4,7 bilhões, transformou sua empresa, a ConsenSys, em um império que controla peças fundamentais da rede Ethereum, como a MetaMask e a Infura. Além disso, recentemente assumiu a presidência da SharpLink Gaming numa estratégia que já acumula mais de 188 mil ETH em tesouraria corporativa.
Gavin Wood, arquiteto da linguagem Solidity e da Ethereum Virtual Machine (EVM), partiu em 2016 para criar Polkadot, levando consigo não apenas expertise técnica mas também a crença de que a Ethereum havia se desviado do caminho da verdadeira descentralização. Charles Hoskinson seguiu trajetória similar com a Cardano após o infame "Red Wedding" de 2014 em Zug, Suíça, quando a decisão de tornar a Ethereum uma fundação sem fins lucrativos selou destinos e criou rivalidades que persistem até hoje.
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Da crise à oportunidade: os momentos definidores
O hack da The DAO em junho de 2016, que drenou US$ 60 milhões (cerca de 3,6 milhões de ETH), não foi apenas uma vulnerabilidade técnica, foi um teste existencial. A decisão de fazer um hard fork para reverter o hack, criando a Ethereum Classic, estabeleceu um precedente controverso que ainda assombra debates sobre imutabilidade. Mas como observou um insider, o colapso da DAO "criou a Ethereum como ela é hoje", forçando a comunidade a confrontar questões fundamentais sobre governança e valores.
Por sua vez, a crise dos CryptoKitties em dezembro de 2017 expôs brutalmente os limites da rede. O jogo de gatinhos digitais chegou a representar quase 12% de todas as transações, com alguns felinos virtuais sendo vendidos por mais de US$ 100 mil. A ironia de gatos pixelados quase derrubando o "computador mundial" catalisou o desenvolvimento urgente de soluções de escalabilidade que hoje sustentam todo o ecossistema.
Mas foi o boom das ICOs de 2017 e 2018 que verdadeiramente estabeleceu a Ethereum como uma plataforma dominante. Com US$ 6,3 bilhões levantados apenas nos primeiros três meses de 2018 — 118% a mais que todo o ano de 2017 — a rede se tornou o padrão de fato para lançamento de tokens. O preço do ETH disparou de cerca de US$ 10 em janeiro de 2017 para quase US$ 1,4 mil em janeiro de 2018, alimentado pela demanda insaciável por ETH para participar de ICOs. Projetos como EOS levantaram US$ 4 bilhões, estabelecendo recordes que permanecem até hoje.
O DeFi Summer de 2020 redefiniu novamente as possibilidades. O valor total bloqueado saltou de US$ 700 milhões para US$ 15 bilhões em meses, com protocolos como Compound iniciando a mania de yield farming que viu tokens como YFI alcançar o valor unitário de US$ 43 mil. Mas o sucesso teve seu preço: as taxas de gas ultrapassaram US$ 15 por transação, criando um paradoxo cruel onde a plataforma que prometia democratizar as finanças se tornou inacessível para OS pequenos usuários.
O boom dos NFTs em 2021 levou essa contradição ao extremo. Com US$ 17,6 bilhões em vendas, projetos como CryptoPunks e Bored Ape Yacht Club se tornaram símbolos de status digital, com alguns exemplares sendo vendidos por milhões de dólares. A Ethereum havia se tornado simultaneamente a plataforma da inovação radical e do consumo conspícuo digital.
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A grande transformação e o dilema da escalabilidade
O Merge de setembro de 2022 representou um feito de engenharia sem precedentes. A transição para Proof of Stake (PoS), que reduziu o consumo energético em 99,95%, provou que uma blockchain estabelecida poderia passar por mudanças fundamentais sem interrupção. Vitalik Buterin celebrou: "E finalizamos! Feliz merge a todos". Mas a vitória técnica mascarou questões mais profundas sobre centralização, com críticos apontando que grandes exchanges e pools de staking agora controlam parcela significativa da validação da rede.
Hoje, o ecossistema de Layers 2 (L2) conta com mais de US$ 42 bilhões bloqueados e representa tanto uma solução quanto um novo desafio. Redes como Arbitrum, Optimism e Base processam milhões de transações diárias, mas levantam questões existenciais: essas redes estão aprimorando a Ethereum ou competindo com ela? A crescente independência das L2s, com seus próprios tokens e ecossistemas, cria um paradoxo onde o sucesso da escalabilidade pode diminuir a relevância da camada base.
O futuro segundo Vitalik: ambição e realismo
O roadmap foi atualizado por Buterin para 2025 e revela ambições monumentais temperadas por pragmatismo. A meta de alcançar 100 mil transações por segundo através de sharding e L2s coexiste com o reconhecimento de que a Ethereum precisa se tornar "tão simples quanto o Bitcoin". O foco em single-slot finality, que reduziria o tempo de finalização de 15 minutos para segundos e a implementação de Danksharding demonstram que a inovação técnica continua central.
Mas é na visão do "aceleracionismo descentralizado" que Buterin revela preocupações mais profundas. Sua proposta de limitar o gas por transação em 16.777.216 e o foco em interoperabilidade entre L1 e L2s sugerem uma tentativa de equilibrar crescimento com sustentabilidade. A política de apenas endossar L2s em "stage 1+" a partir de 2025 sinaliza padrões mais rigorosos, mas também concentração de influência.
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A legitimação institucional e seus paradoxos
A aprovação de ETFs de Ethereum pela SEC, incluindo produtos da Franklin Templeton e Hashdex, marca a entrada definitiva do mainstream financeiro na Ethereum. Com ETFs combinados de Bitcoin e Ethereum agora disponíveis, a promessa original de "ser seu próprio banco" coexiste ironicamente com produtos que abstraem completamente a custódia individual. Joseph Lubin pode rejeitar o título de "Mr. Saylor da ETH", mas corporações acumulando ETH em tesourarias bilionárias contam uma história diferente.
O futuro da Ethereum parece simultaneamente brilhante e contraditório. Enquanto upgrades como Pectra e Glamsterdam prometem melhorias técnicas, a questão fundamental permanece: a Ethereum está se tornando exatamente o tipo de sistema que foi criado para substituir? A evolução de um "computador mundial" para uma "camada de liquidação para soluções especializadas" pode ser maturidade ou capitulação é algo que apenas à próxima década dirá.
Enquanto a Torch NFT é queimada simbolicamente neste aniversário, é impossível ignorar que a Ethereum de hoje, com ETFs institucionais, tesourarias corporativas e dominância de grandes validadores, pouco se parece com a visão cypherpunk original. Mas talvez essa capacidade de adaptação, mesmo ao custo de alguns ideais, seja exatamente o que permitiu sua sobrevivência. Em um espaço onde projetos morrem diariamente, uma década de relevância contínua é, por si só, revolucionária. A questão é: revolução para quem?
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