Justin Sun, a economia da atenção e a banana de US$ 6 milhões que moveu o mercado
Edição #773 - Dia 14 de dezembro de 2024
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Em um universo onde a volatilidade é a norma e a inovação tecnológica disputa espaço com a pura especulação, Justin Sun se destaca como uma figura que compreendeu algo fundamental: no mercado cripto, a atenção é o recurso mais escasso e valioso. Mais do que criar blockchains ou tokens, ele construiu um império baseado na habilidade de direcionar holofotes para as suas iniciativas, consolidando-se como um dos maiores manipuladores da economia da atenção no setor. Sun não é apenas um empreendedor, ele é um showman, responsável por promover narrativas que dominam o delicado equilíbrio entre visão e controvérsia.
Isso fica mais visível quando observamos o último evento promovido por Sun. Ele foi o responsável por comprar por US$ 6,2 milhões a obra de arte “Comedian”, de Maurizio Cattelan. Para quem não sabe, essa obra de arte é aquela em que o artista fixou uma banana na parede com uma fita adesiva. Em 2019, quando lançada, a obra foi vendida por US$ 120 mil. Agora, foi revendida para Sun por um valor 51 vezes maior. Mas as extravagâncias de Sun não ficaram apenas na compra milionária de uma banana transformada em arte. Após a compra inusitada, Sun montou um evento para… sim, comer a banana.
Assim, enquanto críticos de arte se encolhiam e o mundo cripto ria, Sun focou naquele que era seu principal objetivo: a atenção. E ela veio em enxurradas. Na mesma semana, o preço do token TRX disparou 80%, atingindo US$ 0,43 e elevando o valor de mercado da Tron para impressionantes US$ 36 bilhões, naquele que foi o maior valor de mercado da história do ativo.
O efeito memético de comer a banana de Sun foi muito além da valorização do token TRX, da Tron. Memecoins baseadas na blockchain registraram um crescimento explosivo, com tokens como o FoFar (FOFAR) subindo 240% em 24 horas. Até Sundog (SUNDOG) manteve mais de US$ 163 milhões em volume de negociação, com um valor de mercado de US$ 172 milhões. Comprar uma obra de arte comestível e ingerir uma dose reforçada de potássio não gerou apenas movimentação de mercado, mas fortaleceu a construção de um ecossistema por meio da arbitragem de atenção.
Mas quem é Justin Sun e porque faz sentido olhar para os seus movimentos? Os motivos são simples: em um mercado em que narrativas valem tanto quanto inovações (ou até mais), Sun domina a arte de transformar eventos aparentemente absurdos em catalisadores para movimentos bilionários. Por isso, nesta edição da Morning Jog, iremos entender quem é Justin Sun e como o ato de comer uma banana gerou bilhões de dólares.
Valor de mercado do token TRX, da Tron:
Fonte: CoinGecko
A jornada de Justin Sun
Para entender Sun, precisamos olhar além de suas ações excêntricas e examinar sua trajetória. Nascido em Xining, China, e formado em história pela Universidade de Pequim, Sun desenvolveu um olhar afiado para padrões culturais e para narrativas. O nascimento da Tron em 2017 foi emblemático para a abordagem de Sun. Pouco antes de o governo chinês proibir a realização de Ofertas Iniciais de Moedas (ICO) - meio mais comum de lançamento de projetos cripto no ciclo de 2017-18 -, ele realizou uma às pressas e arrecadou US$ 70 milhões. O movimento foi arriscado, mas Sun foi estratégico ao entender que o mercado cripto funciona ondas, sendo que deve ser surfado no pico e não na calmaria. E em 2017, estávamos no bull market, com dezenas de projetos levantados recursos com ICOs.
Posto isso, Sun levantou milhões para Tron não apenas por sua tecnologia. A Tron não é apenas uma blockchain. É uma plataforma que surgiu com a narrativa de democratizar o conteúdo digital e de criar um ecossistema em que criadores teriam controle total sobre suas produções. O discurso colou em investidores e entusiastas, por mais que tivessem inúmeras críticas sobre a centralização do projeto e da falta de inovação tecnológica em relação a outras redes, como a Ethereum.
Mas Sun foi em frente e não parou apenas na Tron. Um ano após o lançamento da blockchain, ele adquiriu o BitTorrent (famoso protocolo peer-to-peer de compartilhamento de arquivos) por US$ 140 milhões. O objetivo com o BitTorrent, não era apenas comprar uma empresa, mas sim de acrescentar ao seu portfólio um símbolo. O BitTorrent sempre foi visto como um sinônimo de compartilhamento descentralizado e no momento que Sun o integrou ao ecossistema da Tron, ele consolidou a narrativa em torno de si como um defensor da descentralização. Após isso, ele executou o lançamento do token BTT, que representa o BitTorrent e trouxe uma nova camada de utilidade ao protocolo, reforçando a habilidade de monetizar a atenção.
Narrativas precisam ser constantemente renovadas. Por isso, Sun deu um novo passo e comprou a Poloniex, uma exchange que surgiu em 2014. Ele teve problemas regulatórios com ela e teve que pagar US$ 10 milhões em multas para a SEC (agência reguladora dos mercados financeiros), nos EUA, mas a exchange expandiu a influência de Sun e mostrou sua estratégia: diversificação não apenas em termos de tecnologia, mas de atenção. Cada novo ativo ou plataforma que adquire é uma peça no quebra-cabeça maior de consolidar sua posição como um titã da economia cripto. Tanto que após essa aquisição, ele aceitou ser o representante permanente de Granada na Organização Mundial do Comércio (OMC), além de uma posição consultiva na HTX (antiga Huobi) e, mais recentemente, o papel de consultor do World Liberty Financial, projeto DeFi capitaneado por Donald Trump, presidente eleito dos EUA, no qual ele injetou uma substancial quantidade de dinheiro.
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A economia da atenção em ação: celebridades e manipulação de mercado
Justin Sun não se tornou uma figura tão polarizadora apenas por suas aquisições e projetos. Ele também é conhecido por suas estratégias controversas para manipular a economia da atenção. A SEC acusou Sun de pagar celebridades para promover seus tokens TRX e BTT sem divulgar essas parcerias. Nomes como Lindsay Lohan e Jake Paul foram ligados a essas campanhas, mostrando como Sun usou rostos conhecidos para amplificar suas narrativas.
Além disso, as acusações de "wash trading" — manipulação de volumes de negociação por meio de transações falsas — revelam outra faceta de sua estratégia. Ao criar a ilusão de alta liquidez e de interesse em seus tokens, Sun maximizou a visibilidade e a atratividade dos seus projetos. Para os críticos, essas táticas são antiéticas. Para seus defensores, são o reflexo de um mercado onde percepção e realidade estão em constante colisão.
Para entender Justin Sun, é essencial compreender como a economia da atenção molda o mercado cripto. No setor tradicional, o valor de uma empresa é medido por seus fundamentos. Em cripto, onde a maioria dos projetos ainda está em fases experimentais, o valor muitas vezes é determinado por narrativas. Quem controla a narrativa, controla o mercado.
A atenção funciona como um amplificador de valor. Quando investidores ou traders percebem que um projeto está no centro das atenções, eles se movimentam rapidamente para capturar ganhos potenciais. Sun é um mestre em criar esses momentos. Desde o airdrop de milhões de dólares em tokens até eventos como um almoço com Warren Buffett, ele sabe que, em um mercado hipercompetitivo, cada manchete conta.
Foi assim que na semana passada, Sun entrou no Hotel Peninsula, em Hong Kong, fez um discurso sobre sua recém-adquirida obra de arte "icônica" — literalmente uma banana presa à parede com fita adesiva — e então… a comeu. No momento em que mastigava a banana de US$ 6,2 milhões, Sun declarou: "É muito melhor do que outras bananas. É realmente muito boa".
O momento que Sun come a arte de US$ 6 milhões “The Comedian”:
Fonte: @AltcoinDaily
O investimento de mais de US$ 6 milhões na obra de arte comestível acabou sendo uma pechincha. O token TRX, da blockchain Tron, disparou mais de 80% em 24 horas, alcançando US$ 0,44, segundo o Coingecko. Assim, a sua mordida comprou atenção. Atenção que fez o valor da Tron alcançar US$ 36 bilhões de valor de mercado, entrando no top 10 dos maiores criptoativos do mercado. Mas o efeito borboleta não termina aí. De acordo com o TronScan, a Tron hoje tem mais de 275 milhões de usuários, que possuem mais de US$ 30 bilhões em valor total bloqueado (TVL).
Dados da rede Tron
Fonte: https://tronscan.org/
Dias antes de ingerir essa cara dose de potássio, Sun já havia investido US$ 30 milhões no projeto cripto de Trump: World Liberty Financial. Junto com esse investimento e a ingestão da banana, a Tron teve um impulso inesperado vindo da Coreia do Sul - que é um grande e ativo mercado cripto. Semana passada, o presidente Yoon Suk-yeol declarou lei marcial emergencial, algo inédito em mais de 40 anos. Embora tenha sido revogada cinco horas depois, o estrago – ou, no caso de Sun, a oportunidade – já estava feito.
Os maiores mercados de cripto do país, Upbit e Bithumb, relataram suspensões de serviço devido a uma atividade sem precedentes. Investidores, desesperados para mover seus ativos, recorreram ao token TRX, da Tron, como meio de transferência. Por quê? Porque o TRX é amplamente utilizado para movimentações entre exchanges, especialmente na Ásia. Junto com esses movimentos, surgiu o boato, não confirmado por Sun, mas bem aproveitado, sobre a inclusão da Tron entre os ativos de Grayscale. E assim, entre movimentos de consolidação, novas narrativas e eventos inesperados, Sun vai consolidando seu nome no cenário cripto.
Arte, cripto e o poder da narrativa
No mercado tradicional, o valor é construído sobre fundamentos. Em cripto, a percepção é o rei. Assim, aqui, a atenção não é apenas um subproduto, é o produto. Em um mundo em que a blockchain é vendida como a tecnologia que mudará o futuro, é a narrativa que molda o presente. Por isso, quando Sun mastigou a banana e declarou: “É muito melhor do que outras bananas”, ele não estava apenas criando um momento viral. Ele estava reafirmando sua habilidade de transformar qualquer coisa – até uma fruta – em capital social e financeiro.
E enquanto o mercado cripto continuar sendo movido por especulação e entusiasmo, figuras como Justin Sun sempre encontrarão um palco pronto para suas performances. Afinal, no teatro das criptomoedas, a atenção é a moeda que realmente importa.
As notícias mais importantes da semana
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A Binance anunciou uma parceria com o PicPay, permitindo que usuários utilizem o saldo do app para carregar contas na corretora e adquirir criptomoedas.
A Transfero, fintech de ativos digitais, comprou a Fuse Capital, gestora especializada em blockchain e tokenização.
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Um levantamento da Consensys revelou que 96% dos brasileiros conhecem criptomoedas, e 43% desses já investiram ou investem no setor.
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Stablecoins do dólar são o trunfo contra o Bitcoin. Stablecoins representam mais de 80% do volume de negociação cripto e são majoritariamente atreladas ao dólar.
A memecoin Floki lançou um cartão de débito para usuários de 31 países da Europa. Com bandeira Mastercard, o cartão permite pagamentos em BTC, ETH, USDC, USDT, BNB e FLOKI.
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