O império ainda respira: Binance, BNB e CZ após a queda
Edição #890 - Dia 3 de maio de 2025
Enquanto parte do mercado cripto tenta decifrar o próximo halving do Bitcoin ou especula sobre o ETF da semana, um outro enredo vem se desenrolando em silêncio, porém com profundidade: o futuro do império construído por Changpeng Zhao, o CZ. Hoje, a Binance, a BNB Chain e o próprio CZ vivem vidas paralelas, mas intimamente ligadas, como se o ecossistema tivesse passado de um modelo centralizado para uma narrativa multichain.
A Binance tenta provar que pode ser uma exchange global respeitável, mesmo após um tombo de US$ 4,3 bilhões em multas. A BNB Chain, por sua vez, acelera sem olhar para o retrovisor, implementando upgrades técnicos e conquistando market share em DeFi e infraestrutura. E CZ? Está mais quieto, mas nem por isso menos relevante: investe, assessora governos e constrói uma nova imagem pública, sem sujar as mãos com operação. Nesta edição de fim de semana da Morning Jog, fazemos uma radiografia completa dos três pilares desse ecossistema em reconstrução.
CZ: De titã ao exilado, e de volta como estratégico
Não se constrói uma fortuna de US$ 66 bilhões sendo comum. Tampouco se sobrevive ao colapso regulatório de sua própria criação sem um certo grau de resiliência (ou negação?). A saga pós-prisão de CZ é a versão descentralizada da velha fórmula do anti-herói: culpa, queda, expiação, retorno.
Sua primeira aparição pública, na Binance Blockchain Week em Dubai, teve direito a aplausos de pé. Nada mal para um ex-condenado por violação da Lei de Sigilo Bancário nos Estados Unidos. Em vez de pedir desculpas, CZ anunciou a Giggle Academy, iniciativa educacional voltada a adultos analfabetos e crianças fora da escola. Um gesto louvável e estratégico.
CZ em sua primeira aparição pública
Ele também passou a atuar como conselheiro do Conselho Cripto do Paquistão e investiu US$ 16 milhões na Sign, uma plataforma de airdrops. A mensagem? "Posso ter saído do comando, mas continuo no jogo."
E o jogo está se expandindo. Há rumores de que CZ está construindo uma nova holding para fomentar startups de infraestrutura e compliance na Ásia Central e Sudeste Asiático. Seria uma forma de moldar o próximo ciclo cripto longe dos holofotes, mas perto das decisões.
Binance: Um novo comando, a mesma dominância?
Com Richard Teng na chefia, a Binance ganhou um novo verniz. O ex-regulador assumiu a missão de manter a exchange relevante sem gerar surtos em agências de compliance. Até agora, tem funcionado: a Binance segue sendo a maior exchange do mundo com mais de 250 milhões de usuários.
Mas a transição não foi só simbólica. Depois de um acordo de US$ 4,3 bilhões com o Departamento de Justiça dos EUA, a empresa passou por reformas internas, auditorias e contratação de ex-funcionários do setor público. Não por virtude, mas por sobrevivência.
Ainda assim, a Binance continua sob fogo cruzado. Processos na França por lavagem de dinheiro e fraudes fiscais. Banimento da FCA no Reino Unido. Prisões de executivos na Nigéria. Ações regulatórias na Austrália. E uma cereja no bolo: um processo de US$ 1,8 bilhão movido pela falida FTX.
Apesar dos desafios, a Binance tem demonstrado resiliência. Recentemente lançou um programa de auto-revisão de listagens, abriu auditorias públicas trimestrais e aumentou o número de ativos auditáveis com provas de reservas. O objetivo é claro: parecer confiável o suficiente para continuar sendo indispensável.
Nos bastidores, fontes indicam que a corretora prepara um spin-off de sua operação institucional para competir com players como Coinbase Prime e Fireblocks. Seria uma tentativa de blindar sua presença no Ocidente e criar uma nova frente de expansão para além do varejo.
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BNB Chain: a independência silenciosa
Talvez o maior plot twist dessa saga seja a BNB Chain, que ao contrário da Binance, não precisou pedir desculpas a nenhum regulador. Ela preferiu seguir construindo. No 1º trimestre de 2025:
- US$ 70,8 mi em receita, crescimento de 58,1%;
- Volume de DEXs: US$ 2,3 bi por dia, crescimento de 79,3%;
- Transações entre carteiras: crescimento de 122,6%;
- Endereços ativos: 1,2 milhão, aumento de 26,4%.
O estado financeiro da blockchain BNB
Simultaneamente, a capitalização de mercado do BNB caiu 14,8%, reflexo de um mercado desaquecido. Mesmo assim, manteve-se como o quarto maior criptoativo (fora stablecoins). Em fevereiro, a rede executou o hard fork Pascal, que trouxe: 1) suporte a carteiras com EIP-7702; 2) criptografia BLS12-381; 3) transações em lote; 4) e abstração de gas.
O Pascal é apenas a primeira etapa. Em abril e junho, os forks Lorentz e Maxwell irão reduzir o intervalo de blocos para 1,5s e 0,75s, aumentando a escalabilidade. A BNB quer correr. Literalmente.
Por sua vez, outra mudança significativa foi nos MEVs (Máximo Valor Extraível). O MEV sempre foi o lado sombrio dos validadores. Mas a BNB Chain parece determinada a civilizá-los. A introdução da BEP-322 instituiu a separação entre propositor e construtor de bloco (PBS), criando um mercado de MEV mais transparente.
O destaque foi a criação da Good Will Alliance, uma coalizão de builders que adotaram filtros anti-sandwich. Resultado? Ataques caíram 90%.
DeFi: estável, mas renovado
O TVL da BNB Smart Chain caiu 1,2% em dólar, mas cresceu 14,7% em BNB. Os destaques são a KernelDAO, que subiu seu TVL 655%, passando de US$ 81,9 milhões para US$ 618 milhões. Enquanto isso, o slisBNB da ListaDAO tornou-se líder em staking líquido, com 97% do market share. E o foco em restaking alavancou iniciativas como Delegation Support, com recompensas de até 5%.
Enquanto isso, na BNB, o PancakeSwap continua sendo o rei da festa. O protocolo manteve 91,8% do volume das DEXs da BNB, com média de US$ 2,1 bilhões/dia. O SquadSwap apareceu como novidade com o modo WOW, mas abocanhou apenas 0,3% do mercado. A Pendle também cresceu (95%), mas ainda é irrelevante em tamanho de market share.
Outro mercado que cresce na blockchain é o de stablecoins. A capitalização total delas na BNB Chain chegou a US$ 7 bilhões, crescimento de 2,5%. Enquanto isso, o USDT lidera com US$ 5,2 bilhões, mas perdeu share (74% para 71%). Outras stables tiveram crescimento expressivo, como: USDC, com mais 7,6%, a USDX, com crescimento de 12,4%, a USDF, com mais 125%, e a FDUSD, com mais 132,9%.
A nova stablecoin USD1 entrou no jogo após o Gas-Free Carnival, iniciativa que zerou taxas de gas em transferências e saques via carteiras e exchanges parceiras. O resultado foi US$ 3 milhões em taxas.
Overview do ecossistema da BNB
Binance e o desafio da narrativa
Enquanto a BNB celebra marcos técnicos, a Binance tenta controlar a narrativa. A empresa intensificou seu envolvimento com órgãos multilaterais, passou a colaborar com a Interpol e estuda estabelecer um conselho global de governança com especialistas independentes, algo raro no setor.
Mais importante, tenta posicionar sua marca institucional como "infratora regenerada". O desafio? Fazer isso sem parecer oportunista. CZ, por sua vez, tem mantido distância formal, mas fontes próximas indicam que ele ainda é ouvido para decisões estratégicas, principalmente na Ásia. A separação entre ele e a Binance pode ser jurídica, mas não é necessariamente cultural.
O império virou rede
Talvez o maior feito de CZ não tenha sido construir a Binance, mas transformá-la em algo que sobrevive a ele. A BNB Chain opera como uma blockchain madura, tecnicamente ambiciosa e centrada em engajamento. A Binance, por sua vez, tenta se tornar uma corporação responsável, empurrada pelos tribunais, mas ainda com fôlego.
CZ está solto. A Binance segue em campo. A BNB roda a mil. Nada mal para um ecossistema que, até outro dia, enfrentava a perspectiva de colapso. Resta saber se o império não apenas respira, mas também evolui. Porque no fim das contas, a diferença entre um ressurgimento e um rebranding é apenas o tempo.
E esse, como sempre, roda em blocos.
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