O novo jogo dos tesouros: quando Wall Street descobriu que Bitcoin não é a única criptomoeda do pedaço
Edição #972 - Dia 09 de agosto de 2025
Em apenas 24 horas desta semana, três empresas anunciaram planos para acumular XRP como ativo de reserva estratégica. A Mill City Ventures está levantando US$ 450 milhões para comprar SUI, enquanto a CEA Industries quer criar um tesouro de US$1,2 bilhão em BNB. E a Bit Origin? Está mirando US$ 500 milhões em DOGE - sim, você leu direito, a moeda-meme do cachorrinho agora será ativo de tesouraria corporativa.
O que começou como uma aposta ousada de Michael Saylor com Bitcoin há cinco anos virou um manual de instrução para qualquer empresa listada em bolsa que queira ver suas ações subirem mais rápido do que uma altcoin em pleno bull market. Hoje, mais de 160 empresas públicas detêm cerca de 923,3 mil BTCs, avaliados em mais de US$ 100 bilhões. Mas aparentemente, isso não é mais suficiente. As companhias descobriram que existe vida além do Bitcoin e que ela pode ser ainda mais lucrativa.
Quer entender mais sobre empresas acumulando BTC. Leia nosso especial:
A SharpLink Gaming se tornou a maior detentora corporativa de ETH do mundo, com 280,7 mil tokens valendo cerca de US$ 840 milhões. A empresa levantou US$ 413 milhões vendendo ações e usou tudo para comprar Ethereum. Joseph Lubin, co-fundador da Ethereum, virou chairman da empresa, porque nada diz "estamos levando isso a sério" como ter o criador da moeda no board.
A DeFi Development Corp acumulou quase 1 milhão de SOL, tornando-se a maior detentora pública de Solana. O CEO Joseph Onorati deixou claro: não há planos de expandir para outras criptos "no futuro previsível". É SOL ou nada, uma estratégia que faria até maximalistas de Bitcoin franzir a testa.
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A corrida do ouro digital Se diversifica
O movimento começou discretamente, mas agora parece uma Black Friday cripto. A VivoPower levantou US$ 121 milhões com apoio de um príncipe saudita para se tornar a primeira empresa pública focada em XRP. Adam Traidman, ex-membro do board da Ripple, agora preside o conselho consultivo da empresa. "Ter estado envolvido com a Ripple desde seus anos formativos, me permitiu ver a força e a adaptabilidade do ecossistema XRPL", disse ele, provavelmente enquanto contava seus tokens.
Mas o verdadeiro show está no mercado de BNB. A CEA Industries quer levantar até US$ 1,25 bilhão para construir o maior tesouro corporativo do token da blockchain da Binance. David Namdar, co-fundador da Galaxy Digital, está liderando a iniciativa. A Windtree Therapeutics, uma empresa de biotecnologia, planeja levantar US$ 200 milhões para comprar mais BNB. Sim, uma empresa que deveria estar desenvolvendo remédios agora está mais interessada em acumular tokens.
E não para por aí. A Lion Group Holdings garantiu US$ 600 milhões para estabelecer um tesouro focado em Hyperliquid (HYPE), marcando uma das maiores implementações de tesouro cripto corporativo até hoje. A empresa também detém posições em Solana e SUI, porque aparentemente apostar em apenas uma altcoin é coisa do passado.
A corrida se estende até para tokens de IA. A Interactive Strength está levantando US$ 500 milhões para comprar tokens FET da Fetch.ai, criando o que afirma ser o primeiro tesouro corporativo de token focado em inteligência artificial. Uma fabricante de equipamentos de ginástica agora está mais interessada em agentes autônomos de IA do que em esteiras. As ações da empresa subiram 1.220% após o anúncio.
TAO Synergies (anteriormente Synaptogenix) foi ainda mais longe. A empresa mudou seu nome e ticker para TAOX para refletir sua obsessão com tokens TAO, da Bittensor. A empresa já comprou US$ 10 milhões em TAO e tem uma meta de US$ 100 milhões, mais de 20 vezes sua capitalização de mercado atual. "IA descentralizada e TAO me lembram a internet em 1996", disse James Altucher, estrategista de tesouraria da empresa.
O mais surpreendente? Até memecoins entraram no jogo institucional. A Bit Origin não está apenas comprando DOGE, está fazendo disso sua estratégia principal de tesouraria. É a primeira empresa listada em uma bolsa americana importante a fazer da Dogecoin seu principal ativo de reserva. As ações da empresa subiram 28% após o anúncio, provando que o mercado ainda tem apetite para ideias absurdas que dão certo.
Mas o prêmio de excentricidade vai para a C2 Blockchain, que está acumulando DOG•GO•TO•THE•MOON (sim, esse é o nome completo), uma memecoin nativa do ecossistema do Bitcoin. A empresa já detém mais de 207 milhões de tokens DOG, pretendendo dobrar a meta já ultrapassada de 200 milhões. Eles são chamados de "DOG MicroStrategy" por sua abordagem transparente de acumulação. Levi Jacobson, CEO da C2, justifica: "DOG representa uma nova fronteira dentro do ecossistema Bitcoin, uma convergência da segurança incomparável do Bitcoin com a crescente influência de ativos comunitários descentralizados."
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Yield, staking e a nova matemática corporativa
O que torna essas altcoins atraentes vai além da especulação. Ethereum e Solana oferecem algo que Bitcoin não pode: rendimento através de staking. A SharpLink já gerou 567 ETH em recompensas de staking desde que lançou sua estratégia em junho. A DeFi Development opera seus próprios validadores de Solana, gerando rendimento nativo.
É uma matemática sedutora: compre o token, faça stake, ganhe mais tokens, repita. A VivoPower está indo ainda mais longe, planejando implantar US$ 100 milhões em XRP através da blockchain Flare para gerar rendimento. TAO Synergies está fazendo stake de seus tokens TAO para ganhar de 8 a 12% ao ano. É DeFi encontrando finanças corporativas e Wall Street está adorando.
Mas nem tudo são flores, ou melhor, nem tudo são memes virando milhões. O mercado de altcoins é notoriamente mais volátil que Bitcoin. Quando o Bitcoin espirra, altcoins pegam pneumonia. E enquanto BTC tem o argumento de "ouro digital", qual é exatamente o caso de uso de longo prazo para ter milhões em DOGE ou DOG (Bitcoin) no balanço corporativo?
Há também a questão da liquidez. Bitcoin você vende quando quiser. Tente descarregar US$ 100 milhões em SUI de uma vez e veja o que acontece com o preço. E isso sem falar nos riscos regulatórios, a SEC pode ter dado uma trégua para Bitcoin, mas as altcoins ainda estão na mira.
O fenômeno também levanta questões sobre o que essas empresas realmente fazem. A Mill City Ventures era uma empresa de empréstimos. A VivoPower era do setor de energia sustentável. A Interactive Strength fabricava equipamentos de ginástica. Agora são basicamente fundos de investimento em cripto com ações negociadas em bolsa. É inovação financeira ou apenas o jeito mais complicado de comprar cripto?
Algumas empresas foram além e mudaram completamente suas identidades. TAO Synergies literalmente mudou seu nome de Synaptogenix (uma empresa farmacêutica) e seu ticker de SNPX para TAOX. C2 Blockchain criou até um site dedicado (C2DOG.com) para rastrear seus holdings de DOG coin em tempo real. É como se a identidade corporativa tradicional fosse apenas um detalhe inconveniente no caminho para se tornar um fundo de cripto glorificado.
Ainda assim, os números não mentem. Ações da SharpLink subiram 150% em 30 dias. Interactive Strength viu um aumento de 1.220% no preço das ações após anunciar planos para um tesouro em tokens de IA. O mercado está recompensando essas apostas - pelo menos por enquanto.
O que estamos testemunhando pode ser o início de uma nova era onde tesouros corporativos se parecem mais com portfólios de cripto diversificados do que com contas bancárias chatas. Ou pode ser o pico de uma bolha onde empresas desesperadas por relevância abraçam qualquer token que prometa fazer suas ações subirem.
Uma coisa é certa: o manual de Saylor não é mais exclusividade do Bitcoin. Cada criptoativo com uma comunidade ativa e alguns casos de uso agora tem sua própria versão de Strategy em formação. Se isso é evolução ou loucura, só o tempo dirá. Mas enquanto as ações continuarem subindo, espere ver mais empresas anunciando tesouros em tokens que você nem sabia que existiam.
Quer saber mais da estratégia de Michael Saylor. Leia o nosso especial:
A velocidade com que isso está acontecendo é impressionante. Segundo relatório da Animoca Brands Research, empresas que anunciam holdings de altcoins viram aumentos médios no preço das ações de 150% em um dia, 185% em uma semana e 226% em um mês. É o tipo de retorno que faria qualquer gestor de fundo salivar.
Mas há sinais preocupantes. Analistas do Charles Schwab alertam que a contabilidade mark-to-market para investimentos em cripto pode levar a uma volatilidade extrema nos balanços. O caso da Nano Labs é emblemático: a fabricante chinesa de chips anunciou um plano de US$ 1 bilhão para transformar BNB em ativo de tesouraria, com meta de deter até 10% do supply circulante.
O futuro promete ser ainda mais selvagem. Com a aprovação do Genius Act pelo presidente Donald Trump, estabelecendo um framework regulatório claro para ativos digitais, a SharpLink já celebra uma nova era. Empresas que antes hesitavam agora têm sinal verde regulatório. Prepare-se para ver tesouros corporativos em tokens que você nem sabia que existiam.
A ironia é deliciosa: o movimento que começou como uma rebelião contra o sistema financeiro tradicional agora é abraçado por esse mesmo sistema. Empresas listadas em bolsa estão usando os mesmos truques financeiros que criticavam - emissão de dívida, diluição acionária, engenharia financeira - mas agora para comprar tokens de cachorro e moedas de sapo.
É genialidade ou loucura coletiva? Talvez um pouco dos dois. Mas enquanto a música estiver tocando, ninguém quer parar de dançar. E com ETFs de altcoins no horizonte e instituições cada vez mais confortáveis com cripto, essa pode ser apenas a primeira onda.
Afinal, se uma empresa de biotecnologia pode pivotar para acumular BNB e ver suas ações dispararem, por que sua empresa de logística local não poderia se tornar a maior detentora corporativa de... bem, escolha sua altcoin favorita. O cassino está aberto, todo mundo quer jogar e a casa, por enquanto, está deixando todos ganharem.
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