Os 716 milhões de proprietários de cripto que (quase) ninguém vê
Edição #1080 - Dia 13 de dezembro de 2025
Setecentos e dezesseis milhões. É o número de pessoas que, segundo o relatório State of Crypto 2025 da a16z, possuíam algum tipo de ativo digital em agosto de 2025. Se fosse um país, seria o terceiro mais populoso do mundo, atrás apenas de Índia e China. Um crescimento de 7x desde 2021, quando esse número estava na casa dos 100 milhões.
Manchete perfeita, não? O tipo de número que faz apresentações de PowerPoint brilharem e investidores sorrirem. Mas, como toda boa história cripto, há uma reviravolta: menos de 10% desses 716 milhões realmente usam suas criptomoedas mensalmente. O resto? Bem, o resto é o que torna essa história muito mais interessante do que qualquer gráfico de adoção exponencial sugeriria.
A trajetória começa em janeiro de 2009, quando Satoshi Nakamoto minerou o primeiro bloco do Bitcoin, o famoso Genesis Block. Naquele momento, apenas um punhado de cypherpunks e entusiastas de criptografia sequer sabia que Bitcoin existia. A primeira transação comercial? Duas pizzas da Papa John’s por 10 mil BTC em 2010. O primeiro boom? 2017, quando 20% de todos os atuais proprietários compraram seus primeiros ativos digitais, empurrados pela histeria do ICO e pelo Bitcoin, rompendo os US$19 mil.
Desde então, a narrativa tem sido consistente: a adoção está explodindo. A Gemini reportou que 24% dos respondentes no Reino Unido, França, Estados Unidos e Singapura possuem cripto em 2025, contra 21% em 2024. Nos Estados Unidos especificamente, 28% dos adultos, cerca de 65 milhões de pessoas, são proprietários, praticamente dobrando desde 2021. A Turquia tem 25,6% de sua população conectada à internet possuindo cripto, enquanto os Emirados Árabes Unidos registram que um em cada três residentes possui ativos digitais.
Mas eis o detalhe que transforma esses números de celebração em interrogação.
A grande ilusão dos números
Das 350 milhões de carteiras criadas na Ethereum desde seu genesis, menos de 1% são endereços atualmente ativos. A média móvel simples de 30 dias de endereços ativos no ETH subiu de 400 mil em abril de 2024 para 460 mil em agosto de 2025, mas desde então caiu para abaixo de 420 mil. Na Solana, a história é ainda mais dramática: as carteiras ativas em tempo real caíram para 2,6 milhões em novembro de 2025, contra a média de mais de 5 milhões entre outubro e dezembro de 2024.
As carteiras de auto custódia contam uma história igualmente reveladora. A MetaMask, a carteira mais popular do mercado cripto, tem mais de 143 milhões de instalações. Usuários ativos mensais? Apenas 30 milhões, ou seja, uma taxa de ativação de 21%. A Trust Wallet é ainda pior: 200 milhões de instalações, mas apenas 17 milhões de MAUs, representando meros 8,5%. Só a Phantom, focada em Solana, consegue performance superior: 15 milhões de MAUs sobre 24 milhões de downloads.
Combine esses números e você chega a uma taxa de inatividade de 85% nas três maiores carteiras do mercado. Compare isso com o mundo fintech tradicional: Venmo e PayPal ativam entre 35-40% da sua base de usuários todo mês. Quando você tem centenas de milhões de instalações e apenas dezenas de milhões de usuários ativos, como a a16z observa elegantemente, “poderia apontar para um problema de produto, não um problema de crescimento”.
O debate sobre como medir adoção cripto não é novo. A Chainalysis desenvolveu o Global Crypto Adoption Index que não se baseia em números de carteiras, mas em três métricas ponderadas por paridade de poder de compra: valor total de cripto recebido, transações do varejo (abaixo de US$10 mil) e volume peer-to-peer (P2P). Entre o terceiro trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2022, esse índice mostrou um crescimento de 2.300%, o que é um número impressionante, mas que também evidencia como diferentes metodologias produzem narrativas radicalmente distintas.
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Quando stablecoins superam Visa e Mastercard (mas ninguém nota)
Enquanto o mercado discute Bitcoin a US$100 mil e ETFs institucionais, uma revolução silenciosa acontece: stablecoins processaram US$ 27,6 trilhões em volume de transferências em 2024, superando o volume combinado de Visa e Mastercard em 7,68%. Deixe esse número reverberar por um momento.
O mercado de stablecoins atingiu US$ 250 bilhões em capitalização em junho de 2025, com o USDT (Tether) mantendo 59,9% de participação e o USDC (Circle) com 25,5%. Entre julho de 2024 e julho de 2025, o volume anual de transações com stablecoins cresceu 83%, chegando a mais de US$ 4 trilhões. O USDT sozinho processa rotineiramente mais de US$ 20 bilhões em transações diárias.
A diferença? Stablecoins resolvem problemas reais, especialmente em mercados emergentes onde moedas locais são voláteis e acesso a dólares é restrito. E é aí que os números de adoção começam a fazer sentido de formas que as métricas tradicionais de “proprietários” não capturam.
Na África Subsaariana, a região recebeu mais de US$ 205 bilhões em valor on-chain entre julho de 2024 e junho de 2025, um crescimento de 52% ano a ano. A Nigéria sozinha processou entre US$ 59 bilhões e US$ 92 bilhões em transações cripto, sendo que stablecoins representam aproximadamente 40% do mercado local. Por quê? Com a inflação acima de 24% e a naira, moeda local, perdendo três quartos de seu valor desde 2016, nigerianos usam USDT e USDC não por ideologia descentralizada, mas por necessidade econômica básica.
No Quênia, um piloto da Mercy Corps testou micropagamentos de US$ 5 do exterior para freelancers locais: usando stablecoins, as taxas caíram de 29% para 2%. Usuários economizaram mais e acessaram ganhos mais rápido, mesmo sem ter uma conta bancária. Na Nigéria, 25,9 milhões de pessoas (11,9% da população) usam stablecoins e o país recebeu US$ 19,5 bilhões em remessas em 2023, com cripto sendo a alternativa mais rápida e barata.
Na América Latina, a história é similar. O Brasil lidera a região com US$ 318 bilhões em volume de transações cripto, sendo mais de 90% em stablecoins. Na Argentina, onde a inflação anual atingiu 143% no final de 2024, cidadãos convertem poupanças para stablecoins em dólares para preservar valor. A região como um todo viu a adoção média aumentar para 15,2%, primariamente impulsionada por uma proteção contra a inflação.
Esses são os usuários ativos que as métricas de propriedade global não conseguem capturar adequadamente. Enquanto apenas 9,9% da população global de internet possui criptomoedas, em mercados específicos o uso diário é significativamente maior. Em El Salvador, 82% dos comerciantes pesquisados aceitam Bitcoin para pagamentos. Na Índia, cerca de 5,7 milhões de endereços de carteira interagiram com USDC em 2024, impulsionados principalmente por pagamentos freelance e pela gig economy.
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O futuro é dos que já estão aqui
Então, o que explica esse abismo entre propriedade e uso nos mercados desenvolvidos? A resposta está na fricção. Cripto é fácil de comprar, basta um app e um cartão de crédito. Mas usar? Aí a história muda. Seed phrases de 12 palavras que você não pode perder sob pena de ver seus ativos evaporarem. Bridging entre blockchains que exige assistir tutoriais no YouTube. Gas fees que podem custar mais que a própria transação. É o tipo de complexidade que faz um usuário experimentar uma vez, esbarrar na primeira dificuldade e nunca mais voltar.
A boa notícia é que a solução não requer esperar pelos próximos 100 milhões de usuários. Eles já estão aqui. O que falta é um motivo para retornar. Alguns exemplos mostram o caminho. No Farcaster, usuários mintam NFTs e votam em feeds sociais usando Frames, sem pop-ups separados de carteira ou dApps. Muitos bots do Telegram permitem swap de tokens, envio de tips e yield farming diretamente no chat. O On-chain Summer na Base trouxe onboarding sem gas fees para milhões através de páginas simples de mint.
E há ainda o elefante na sala: o ChatGPT. Com mais de 800 milhões de usuários ativos semanalmente, o produto da OpenAI ativa mais usuários por semana do que a maioria das blockchains consegue em um mês. Zero fricção, zero gas fees, zero complexidade. Se cripto conseguir emular essa experiência ao resolver, especialmente transformando carteiras em dispositivos invisíveis, os 716 milhões de carteiras podem finalmente começar a se comportar como 716 milhões de usuários.
O contexto regulatório também está mudando rapidamente. Com a aprovação de ETFs de Bitcoin nos EUA em janeiro de 2024 e ETFs de Ethereum em julho, além da administração Trump estabelecendo uma Reserva Estratégica de Bitcoin, o ambiente institucional nunca foi tão favorável. Empresas como Citigroup, Fidelity, JPMorgan, Mastercard, Morgan Stanley e Visa já oferecem ou planejam oferecer produtos cripto diretamente aos consumidores.
A aprovação do GENIUS Act nos EUA e a implementação do MiCA na Europa estão criando frameworks regulatórios que, pela primeira vez, oferecem clareza para as instituições. O Brasil implementou sua Lei de Ativos Virtuais e supervisão do Banco Central, enquanto a Nigéria lançou o Accelerated Regulatory Incubation Program em 2024, exigindo que todos os provedores de ativos virtuais se registrem.
O mercado projetado para 2030 é de US$7,98 trilhões, com previsões de que o número de usuários Bitcoin pode chegar a 1,1 bilhão, seguindo uma curva de adoção similar à da internet nos anos 90. Mas a ironia é que enquanto 99% da atividade com stablecoins é lícita e empresas como Stripe e Visa estão integrando USDC para reduzir as taxas de pagamento, a narrativa dominante ainda gira em torno de especulação e volatilidade.
A pergunta, portanto, não é “quando teremos 1 bilhão de proprietários?”. É “quando os 716 milhões que já existem vão realmente se tornar usuários?”. Porque no fim, números de propriedade são apenas vaidade. Uso ativo é o que importa. E entre essas duas métricas está o verdadeiro teste para saber se cripto é, de fato, o futuro das finanças ou apenas mais um banner de instalações no iPhone de alguém que comprou US$ 50 de Dogecoin em 2021 e esqueceu a senha da carteira.
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